Quanto mais pode cair?




"Quanto mais pode cair?" Está é uma frase muito ouvida nos meios financeiros, quando algum ativo cai muito. Quem diz essa frase raciocina que, esta é uma grande oportunidade de compra, e não deve ser perdida. Uma análise mais cuidadosa do conteúdo e do apelo emocional, percebe-se que a única razão por traz é que esse ativo caiu mais do que se poderia imaginar.

Minha resposta normalmente nestas situações, é que o máximo que se pode perder é todo o capital investido, algo também bastante improvável, mas que tem o objetivo de provocar uma reação contrária.

A conclusão é que o fato de ter caído muito, não significa que não possa cair mais!

Um ex-colega da época que trabalhei no Banco Tendência, me relatou uma operação que realizou no mercado de juros japonês.
- David, os juros no Japão estão em 0,75% a.a., comprei calls de juros - aposta que vão subir - para daqui a um ano, pagando um prêmio baixo, afinal, quanto mais eles podem cair?

Naquela época, ao redor de 1995, o acompanhamento dos mercados internacionais resumia-se a USA, e muito pouco os outros países. Eu não tinha a menor ideia do que acontecia no Japão, e o máximo que sabia era que a bolsa tinha sofrido uma grande queda a no final de 1989. Mas eu entendi o apelo desse meu colega, afinal abaixo de 0% era impossível.

Passados vinte anos, essa premissa caiu por água abaixo, primeiro foi o Banco Central da Suíça, que ao tentar segurar no muque sua moeda, fixando uma taxa de conversão do franco suíço ao euro, teve que abandonar depois de ter comprado uma quantidade enorme de euros. Adotou logo em seguida uma remuneração negativa nos depósitos. Depois foi o Super Mário no ECB, além da Suécia, Noruega e Dinamarca.

Ontem foi a vez do Banco do Japão que adotou a mesma política de remunerar os recursos com taxa negativa de -0,10% a.a. Remunerar não, penalizar! O pior é que seu Presidente,  Haruhiko Koroda, deu uma declaração a agência Reuters no dia 21/01/2016 dizendo que não iria adotar juros negativos!
Diria que, ou ele deu uma "operada" no mercado, ou algum coisa aconteceu para mudar de ideia. Mas, diferentemente do nosso Presidente do BC, Alexandre Tombini, não foi conversar com ninguém, nem publicou no site do BOJ!

Quando eu comecei na área financeira, o mundo estava no pico de uma era inflacionária, o problema de maneira geral era evitar que um surto de inflação descontrolada tomasse conta da economia, tinha-se memória das hiperinflações vividas no passado. Não passava na cabeça de ninguém, inclusive dos gestores de política monetária, que algum dia os juros seriam negativos. Além do mais, isso viola os princípios do livro texto de economia onde terra, capital e trabalho, devem ser remunerados.

A reação imediata foi a esperada, a bolsa do Japão subiu de imediato 3%, depois chegou a cair 1%,  e finalmente fechou em alta de 2,80%.


Já  a moeda teve um movimento inicial de alta do dólar - queda do yen, para 121,33, e depois uma retração para 120,45, com alta do dólar de 1,6%.

Conhecendo este meu ex-colega, sei que não é teimoso, e ao perder o prêmio de sua operação, buscou entender o porquê dos juros tão baixos. Agora, se fosse um investidor que usasse a lógica pura, e assumindo que algum dia os juros teriam que subir, provavelmente estaria hoje, literalmente "sem calças"!

Como o assunto du jour é juros, meus comentários serão sobre os juros dos títulos de 10 anos americanos. No post banco-incentiva-o-descanso, fiz os seguintes alertas: ...No curto prazo os níveis de 2,00% e principalmente 1,90% a.a., expõe os juros a movimento de queda...

Depois da ação desta madrugada no Japão, os juros no mundo caíram, menos aqui é lógico. Não poderia ser diferente nos USA, uma vez que, é melhor investir recebendo juros de 2% a.a. em dólares do que 0,11% a.a. em Yens, para um prazo de 10 anos.
O nível de juros aproxima-se perigosamente do nível de 1,90% que, se rompido, expõe a uma área de alerta máximo, pois abaixo de 1,75% vêm logo a seguir a mínima atingida a um ano de 1,65%. Só para sua informação, pois muita água tem que rolar antes disso, se a queda ultrapassar este último patamar, pode-se esperar uma quedas até o intervalo compreendido entre 1,1% a.a. - 0,6% a.a., de acordo com o que publiquei no post juros-de-10-anos

Eu não posso deixar de pensar que esses níveis cheiram a um ambiente deflacionário, é inegável. Os BC´s estão fazendo o possível e impossível para evitar, mas parece que não estão conseguindo vencer a batalha. A cada movimento como esse último do BOJ, a credibilidade diminuiu, até um dia que perdem a credibilidade. 

Quanto ao câmbio, é notório que já vivemos um clima de guerra cambial, e 1929 começou da mesma forma.

Quanto mais os juros podem cair? Hahaha...

Com a alta expressiva do Bovespa hoje de 4,23% , fechando a 40.265, sugiro alterar o stoploss do trade de compra para 38.000 - última atualização ocorreu no post um-oásis-no-deserto, transformando essa operação em risco zero.

O SP500 fechou a 1.940, com alta de 2,48%; o USDBRL a R$ 3,9973 on sale! Hahaha...com queda de 1,75%; o EURUSD a 1,0832, com queda de 0,95%; o ouro a US$ 1.117, com alta de 0,25%.
Fique ligado!

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