"Worst case scenario"

Há dois anos o petróleo estava a US$ 100 o barril, e naquele momento a maioria das análises projetavam uma continuidade destes níveis. Alguns mais otimistas apontavam para preços superiores a estes, dado a crescente demanda da China. Um ano depois, os preços se encontravam por volta dos US$ 50, uma queda nada desprezível de 50%. Naquele momento, o argumento voltava-se para a nova oferta de óleo ocasionada pelos projetos americanos de extração oil shale. E agora as cotações estão em US$ 26,5, uma queda adicional de 50%.

- David, matei a charada, no próximo ano o petróleo estará em US$ 13. Sou bom de matemática! Hahaha...
Se projetar o preço futuro de mercados fosse tão simples assim, os leitores não precisariam do Mosca, bastava um pouco de lógica.

No ramo de investimento, tanto em ativo real como financeiro, é de praxe calcular qual seria o prejuízo se algo der errado, o Worst case scenario". A técnica de cálculo pode ser complexa dependendo do caso, mas o que importa é simples, o que acontece com seu investimento se o preço, ao invés de estar no nível que justificou sua decisão, estiver em Y. A fixação desta variável pode ser um simples "chute", como já presenciei inúmeras vezes em minha vida: "quanto pode cair no máximo, 15%?", ou através de estatísticas mais complexas. Mas no final, o que importa é saber se o mercado levar o preço para Y, o que acontece? posso quebrar?

Vários livros e artigos já foram escritos sobre o tema, porém o mais famoso chama-se Black Swan, escrito pelo professor e também investidor, Nassim Taleb. Recomendo sua leitura.

Agora vamos retornar no tempo e imaginar que há dois anos uma empresa de extração de petróleo, ou mesmo um investidor que quisesse apostar na alta do petróleo decidissem fazê-lo. Qual teria sido o seu preço Y para o ano seguinte? Muito poucos teriam usado os US$ 50. Agora se o horizonte fosse dois anos, duvido que alguém pensaria em US$ 26,5.

Não precisa ser um grande expert em finanças para concluir que ambos perderam dinheiro. Agora existe uma grande diferença entre o primeiro caso - a empresa de extração de petróleo, e o segundo caso - o investidor apostando na alta, este último pode sair quando o petróleo chegou ao seu preço Y e o primeiro vai ter que terminar seu negócio, caso seu custo seja superior ao preço Y.

Está é a situação atual de inúmeras empresas de petróleo. Existe uma diferença importante neste ramo, o custo de extração é muito diferente entre si. Por exemplo, o óleo extraído nos países árabes demandam investimentos iniciais elevados, porém têm custos de extração baixos, enquanto o shale oil é o inverso, baixo investimento e custo elevado. Com esta situação, entende-se porque a Arábia Saudita não quis reduzir sua produção.

Nesta madrugada uma nova onda de quedas nas bolsas ocorreu ao redor do planeta, e hoje a bola da vez foi o petróleo, que atingiu novas mínimas.

William White, Presidente da OECD, declarou que o sistema financeiro tornou-se perigosamente instável e irá testar uma avalanche de quebras, onde será testado a estabilidade social e política. Alerta que a munição dos bancos centrais já foram usadas:... "As dívidas continuaram a crescer nestes últimos oito anos e alcançaram níveis tais, em qualquer parte do mundo, que passam a ser uma causa potencial de dano"... ..."Ficará claro na próxima recessão que muitas destas dívidas nunca serão pagas, e isso será desconfortável para muitas pessoas, que pensam que possuem ativos que valem alguma coisa"... Como exemplo, ele apresenta a evolução da dívida na China.

BAML China total debt to gdp
- David, você quer estragar meu dia?
Não, de modo algum, só quero alertar para que tenha muito cuidado.

Sobre o raciocínio acima, podemos tirar duas conclusões: 1) O futuro é incerto, mesmo que isso seja desconfortável de assumir, ninguém sabe qual é o preço Y; 2) Sempre tenha um stoploss e use-o, não seja leniente - não caia nas fantasiosas frases: "Ah, já caiu muito, quanto pode cair mais", "vou esperar recuperar para vender", e etc... Não segure uma faca caindo.

Antes de entrar na análise de mercado, queria comentar o comunicado do BCB de ontem, sobre os juros: - Que papelão! Para não ficar mal com a Presidenta, Alexandre Tombini arrumou uma desculpa esfarrapada para fazer o que a Dilma lhe pediu. Acontece que o mercado é vivo e entendeu tudo que aconteceu. Da próxima vez é melhor ser mais criativo, pois usar a projeção do FMI para não subir os juros, é fraca! Não preciso dizer que a política monetária passou novamente para as mãos da Presidenta, e o track record é desastroso.

No post ouro, fiz as projeções de longo prazo para o ouro com dois cenários que denominei de "Renasce o pop-star", e "Metal comum", disse também: ...Tenho uma preferência mínima por um dos cenários, mas prefiro não revelar, assim fico livre para tomar qualquer direção....

Como o longo prazo começa no curto prazo, vamos focar mais neste último a fim de identificar para onde caminha o metal. O nível de queda que poderá iniciar um novo movimento de baixa é US$ 1.050. No início de dezembro último, o ouro chegou a mínima de US$ 1.045 e em seguida retornou, ou seja, esta tentativa foi abortada. Tentou novamente no meio do mês e não conseguiu romper. Depois disso subiu.
O movimento do ouro encontra-se dividido no curto prazo por duas correntes do mercado, a primeira que acredita que o metal é um porto seguro neste momento de insegurança financeira; e o segundo que o ouro é um metal e assim deveria cair como todos os outros. Nós do Mosca preferimos ficar assistindo este embate e estabelecer níveis para agir.

Na alta acima de US$ 1.110 provavelmente vou arriscar uma compra, e se ultrapassar US$ 1.190 um movimento maior poderá estar acontecendo. Já ao contrário, se cair abaixo de US$ 1.045 vamos às vendas. Conclusão: Let´s the market speak!

O SP500 oscilou muito hoje, depois de ter caído 3,80% durante o dia fechou a 1.8953, com queda de 1,17%; o USDBRL também oscilou durante o dia, porém seu fechamento foi de R$ 4,0956, com alta de 0,85% - ainda estamos dentro do trade de venda; o EURUSD a 1,0894, com queda de 0,10%; e o ouro a US$ 1.100, com alta de 1,26%.
Fique ligado!

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