Contas cambiais no limite
Ontem foram publicadas as contas cambias brasileiras e, como
vem acontecendo nos últimos 12 meses, o cenário “mudou 360º”, que é como eu
brinco quando algo melhorou muito. Como de costume vou analisar alguns pontos
deste relatório: O déficit no mês foi de US$ 2,5 bilhões, já em bases anuais
permaneceu estável em US$ 29,4 bilhões – equivalente a 1,67% do PIB.
A entrada de investimentos diretos em bases anuais sofreu
uma leve redução em relação ao mês anterior, passando de US$ 79,4 bilhões para
US$ 78 bilhões, mas que ainda é um nível elevado, dadas as condições externas e
o cenário político interno ainda com indefinições.
A pequena redução interanual do déficit é consequência do
desempenho das três principais contas: a Balança comercial apresentou um
superávit de US$ 3,8 bilhões, ante um resultado no mesmo mês do ano anterior de
US$ 3,8 bilhões, mesmo assim, o acumulado nos últimos 12 meses é da ordem de
US$ 40,0 bilhões. A Rosenberg trabalha com um superávit de R$ 55 bilhões para
2016; a Conta de serviços registrou leve alta atingindo US$ 3,6 bilhões
no mês e US$ 31,1 bilhões interanual, com variações pequenas em seus subitens; Conta
de rendas somaram US$ 2,9 bilhões no mês e US$ 40,1 bilhões em 12 meses,
com destaque para forte diminuição no envio de dividendos ao exterior.
O financiamento deste déficit ocorre na conta financeira. As
captações líquidas foram superiores em US$ 2,2 bilhões, o principal elemento
vem sendo os investimentos diretos que nesse mês foi de US$ 3,9 bilhões. No
item investimentos em carteira houve uma reversão nas saídas observadas nos
últimos meses com uma entrada de US$ 3,0 bilhões, majoritariamente pelo
ingresso na bolsa brasileira.
A taxa de rolagem do setor privado atingiu 120% do que
vencia em junho, com a emissão de vários títulos no exterior por empresa
brasileiras, onde se destaca a Petrobrás que vem buscando alongar sua dívida.
Já o hiato financeiro, diferença entre o déficit em transações correntes
(excluindo os recursos reinvestidos no país) e entrada líquida da conta
financeira, apresentou entrada líquida de US$ 4,9 bilhões. E por último, as
reservas cambias totalizaram US$ 376 bilhões, com pequena elevação neste item.
É importante destacar que, o nível de nossas reservas permaneceu intacto, ao
redor de US$ 370 bilhões mesmo nos piores momentos que passamos, o que se
deve dar o mérito ao antigo Presidente do BC, pelo menos neste quesito.
- David, se as contas
estão tão bem, o por que
de seu alerta?
Acompanhe meu raciocínio, o item que merece maior destaque na
mudança de patamar de nosso déficit é a balança comercial, ao atingir um
déficit de aproximadamente US$ 10 bilhões ao final de 2014, hoje encontra-se em
US$ 40 bilhões positivos, uma variação nada desprezível de US$ 50 bilhões. Se
no auge nosso déficit nas transações correntes atingiu US$ 105 bilhões e agora
encontra-se em US$ 30 bilhões, um decréscimo de US$ 75 bilhões a balança comercial
foi responsável por 2/3 dessa queda.
As principais razões da melhora da Balança comercial, deve-se
a expressiva desvalorização de nossa moeda agregada a queda vertiginosa de
nossas importações por conta da recessão. Olhando para frente, e como uma visão
não necessariamente tão otimista, é razoável supor que as importações subam. No
quesito câmbio, somente um cenário negativo externo poderia empurrar o dólar
para cima, o que teria outros impactos negativos em outras contas, como o investimento
direto. Assim é difícil visionar uma Balança Comercial muito superior
aos resultados atuais.
No investimento direto poderíamos ter algum alento, haja
visto que o governo pretende acelerar investimentos em infraestrutura, mas não
se pode negar que o nível dessa rubrica já é bastante alto. Na Conta de
serviços não se pode entrever grandes reduções, pois os compromissos já são
dados. Na Conta de rendas o mesmo se pode dizer, e ao contrário, o aumento de
lucros poderá elevar a remessa de dividendos.
Resta ainda o investimento em portfólio que pode ter uma
elevação com a saída de Dilma sacramentada, mas sempre é um recurso mais
especulativo que depende do que acontecer externamente, mas sem dúvida deverá
ajudar positivamente.
Assim eu imagino que estamos chegando no limite de queda do
déficit cambial, tenho que reconhecer que o nível ao redor de 1,7% do PIB, é
relativamente baixo e tranquilizador. O que quero chamar a atenção é que
atingiu seu limite, não tem mais leite desta vaquinha!
O FED terminou sua reunião com a publicação do comunicado.
Poucas mudanças em algumas palavras, afinal eles gostariam de estar na praia!
Hahaha ... O Tom me pareceu mais positivo e o mercado reagiu assim na primeira
hora, mas depois reverteu. Acho que os poucos trades que sobraram nas mesas de
operação liquidaram logo suas posições e foram para a praia. Amanhã comento
sobre o DXY, hoje vamos ver o real.
No post pokemon-go, fiz os seguintes comentários
sobre o dólar: ...” No momento a
tendência permanece de queda e teoricamente poderíamos entrar vendendo
novamente o dólar, porém seria uma posição de curto prazo, especulativa. No
gráfico acima apontei o nível de R$ 3,18 onde o movimento deve se acelerar. No
caso inverso, somente uma alta acima de R$ 3,45, comprometeria a queda”....
Desde então o dólar está contido, sem a mínima volatilidade. Bons tempos
aqueles do final de 2015, onde oscilações de 3% num dia significava estabilidade!
Como podem notar no gráfico abaixo, nestas quase duas semanas, o real oscilou
entre R$ 3,24 – R$ 3,30 míseros 1,8%.
Eu sei que os leitores não gostam do que e vou escrever,
gostariam de uma posição firme do Mosca,
mas parafraseando um desses leitores eu “lamento”, no curto prazo o que
marquei em cinza é o que pode acontecer. Acredito que será logo. Assim permaneço
com as mesmas recomendações acima.
A posição de swap vem diminuindo diariamente pelo BC, de uma forma lenta. Hoje se encontra ao redor de US$ 50 bilhões, menos da
metade de seu pico. Entretanto existe uma enorme diferença, entre antes e hoje. Enquanto no final do ano só existia o BC “vendido”
no dólar, através dos swaps, e o mercado todo comprado, hoje os investidores saíram
de sua posição comprada para vendida, o que de certa forma substitui o BC.
- David, e daí!
Ualll ... foi direto ao ponto! A diferença primeiro é que se
o dólar continuar caindo e o BC sair totalmente da sua posição de swap, o mercado
ficará sujeito as suas próprias forças, sem a intervenção da autoridade
monetária. A grande questão ocorrerá caso o dólar continue caindo e o BC zera
sua posição, o que o Ilan vai fazer? Entrar comprando dólares ou deixar que ele
caia mais e afete positivamente a inflação? Eu fico com a primeira opção, mas
por enquanto isso é “whishful tinking”.
O SP500 fechou a 2.166, com queda de 0,12%; o USDBRL a R$
3,2695, com queda de 0,20%; o EURUSD a 1,1053, com alta de 0,58%; e o ouro a
US$ 1.340, com alta de 1,58%.
Fique ligado!
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