Riscos a frente?
No post juros-101, fiz uma breve explanação sobre os conceitos da curva de juros. Para quem
não está familiarizado sugiro uma releitura, pois vou partir de algumas
considerações lá definidas.
Simplificando, a curva de juros mede o spread entre os juros
de curto e a de longo prazo. É a compensação extra que os investidores exigem
para que seu dinheiro fique por um período prolongado.
O maior mercado de títulos do mundo está dando um sinal de
que os investidores não podem ignorar. Quanto mais a tendência persistir, mais
provável que seus efeitos possam se espalhar para os resultados dos bancos e
para a economia real, ao mesmo tempo em que limitaria a capacidade do FED de
responder quando esses riscos emergirem.
Para ter uma ideia de quão dramática essa tendência tem
sido, abaixo encontra-se uma serie de dados referente as curvas de juros
relativos ao início de 2017. Os resultados mais recentes apontam para os níveis
mais baixos em uma década.
Diferença entre os juros de 2 anos– 10 Anos: 72 pontos
contra 125 pontos (início de 2017)
Diferença entre os juros de 2 anos – 30 Anos: 119 pontos
contra 187
Diferença entre os juros de 5 anos – 10 Anos: 33 pontos
contra 52
Diferença entre os juros de 5 anos – 30 Anos: 80 pontos
contra 114
Todo mundo tem sua teoria favorita para o porquê isso está
acontecendo e o que isso significa para a economia e os mercados, e todos eles
provavelmente desempenham um papel, então aqui está o detalhamento de cada um:
A Culpa é do FED
A razão mais simples para o achatamento vem ao observar
separadamente sobre o que está acontecendo com taxas de curto prazo, as mais
sensíveis às expectativas da política do FED, e os rendimentos a longo prazo,
que levam em consideração as perspectivas de inflação e crescimento econômico.
Depois de anos inerte, com medo de interromper a recuperação
econômica, o FED finalmente cumpriu seu plano em 2017. O rendimento dos títulos
de 2 anos está no seu mais alto nível desde 2008, já que os investidores se
preparam para uma alta de taxas em dezembro e começam a aumentar as
expectativas de novos aumentos no próximo ano.
Com os rendimentos de curto prazo subindo, a curva
historicamente tende a se achatar, à medida que as taxas de longo prazo
aumentam mais lentamente. Mas desde o início de 2017, os rendimentos de 10 anos
e 30 anos diminuíram. E o culpado por trás disso parece ser uma inflação
“teimosa” que permanece em níveis muito baixos.
Mesmo com um robusto crescimento do emprego dos EUA, e o
desemprego no nível mais baixo desde 2000, o indicador preferido de inflação do
FED encontra-se em apenas 1,6% a.a.
Tudo isso aumenta o espectro do que alguns chamam de
"erro de política" potencial do Fed.
A conclusão é que o FED criou uma reputação de combater a
inflação. Isso significa que os investidores devem esperar uma faixa de
rendimento mais baixa para os juros de 10 anos e 30 anos, do que poderiam ter
de outra forma.
Oferta e Demanda
Outro fator que pressiona os rendimentos de longo prazo são
os compradores compulsórios, tanto nos EUA quanto em outros países.
Os gestores de ativos e passivos, como companhias de seguros
e fundos de pensão, estão sempre buscando investimentos de longo prazo, e os
títulos do Tesouro de 30 anos estão entre uma das melhores maneiras de obtê-lo.
Combinando essa demanda com o aumento da demanda de fundos passivos de renda
fixa, como Vanguard e BlackRock, justificam uma procura sustentada nos títulos
de longo prazo.
Se isso não bastasse, o Tesouro americano anunciou
recentemente que quer concentrar a maior emissão com prazo mais curto, como os
títulos de 2 anos e 5 anos. Isso cria escassez relativa na curva longa, e um
prémio na extremidade curta para absorver essa oferta extra.
Condução do ECB
Para alguns analistas, aqueles que olham apenas nos Estados
Unidos para entender a curva de juros, estão perdendo o cenário mais amplo.
O mercado de títulos globais ainda está repleto por compras
do banco central, principalmente do Banco do Japão e do Banco Central Europeu.
E ao longo dos últimos anos, o rendimento diferencial entre os títulos do
Tesouro americano e alemão de 10 anos, se elevou, criando uma oportunidade para
investidores estrangeiros em adicionar dívidas dos EUA.
O BCE, liderado por Mario Draghi, anunciou no mês passado
que planeja continuar comprando títulos até setembro de 2018, embora seja a
metade do ritmo atual de janeiro. Também continuará a reinvestir o produto da
dívida vencida por um período prolongado. A taxa principal de refinanciamento
do banco foi fixada em zero desde o início de 2016, originando rendimentos
negativos em trilhões de dólares de dívida da Alemanha.
Guia da História
Se alguém levar o passado como modelo, o mercado está
enviando um aviso sobre as perspectivas econômicas. As curvas de juros são as
mais flats em uma década, e não é
coincidência que há cerca de dez anos marcou o início de uma recessão que durou
18 meses. A curva de juros mostrou-se um indicador confiável de retração
econômica iminente quando se inverte, quando as taxas curtas são supeirores as
taxas de longo prazo.
Lacy Hunt, economista chefe da Hoisington Investment
Management, acredita que existe uma boa chance da curva se inverter, no prazo
de um ano, se o FED continuar diminuindo seu estoque de títulos. Ele diz que a
política de aperto provocada pela retirada de liquidez pelo FED, provavelmente
irá restringir o crescimento do crédito, e reduzir o excesso de reservas,
diminuindo a economia e reprimindo a inflação.
A tendência de achatamento pode ser um sinal de alerta, pois
não foi o que aconteceu nas outras situações onde a economia entrou numa fase
de crescimento mais robusto. Pode ser que um dos quatro motivos listados acima
seja o responsável por esse achatamento, se for um dos 3 primeiros não é um
sintoma de preocupação, porém se for o quarto, uma continuidade na queda do
diferencial de juros é preocupante. Como não saberemos o motivo, caso aconteça
uma recessão no futuro, deve-se acompanhar essa variável com diligencia, bem
como outros indicadores econômicos nesse sentido.
No post bolsonaro-x-lula-sem-opção, fiz os seguintes comentários sobre
o Ibovespa: ...” não tenho razões para
mudar de ideia, a de que a bolsa está numa correção, e quando terminada deve
entrar num novo movimento de alta. Mas também não ficarei confortável com
quedas além dos 71.000 e principalmente abaixo de 69.000, onde coloquei o
stoploss” ... ...” Caso essa última hipótese aconteça ainda não poderia mudar
definitivamente minha previsão de alta, isso só iria acontecer abaixo de 64.000”
...
O mercado acabou fechando hoje abaixo de 71.000, o que
completou nossa segunda ordem. Anotei uma região de observação compreendida
entre 69.000 – nosso stoploss - e 64.000. Nesse intervalo permanecermos sem
posições, pois a correção poderia avançar nesse terreno, mas não é comum.
Abaixo de 64.000, alguma coisa mais séria aconteceu, prefiro deixar para
analisar caso ocorra.
O SP500 fechou a 2.578, com queda de 0,23%; o USDBRL a R$
3,3127, com alta de 1,02%; o EURUSD a € 1,1796, com alta de 1,12%; e o ouro a
U$ 1.280, com alta de 0,23%.
Fique ligado!
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