Bond 3017 - Uma Odisseia no Espaço


Você devem estar se perguntando qual a razão do título. O que poderia significar Bond 3017 – Uma odisseia no espaço? Uma empresa de energia dinamarquesa – Orsted, emitiu um título com vencimento em 3017, esse papel tem 1.000 anos de prazo! A quem poderia interessar investir num título como esse? Naturalmente não é uma pessoa física, só poderia ser para especuladores ou fundos de pensão.

Antes de começar a avaliar em que grupo poderia se encaixar os compradores, essa emissão de € 500 milhões recebeu ofertas de € 2,4 bilhões, quase 5 vezes mais! Vejamos quais foram as suas condições: a taxa foi de 2,25% a.a. e existe uma call para 2024. Para quem não está familiarizado com esse conceito, a call garante ao emissor o direto de recomprar esse título naquela data com um preço um pouquinho superior ao preço de emissão.

Com um vencimento tão longo, equivalente a perpetuidade, uma oscilação pequena que seja da taxa de juros tem um impacto enorme no preço. Interessante que não é simétrico, por exemplo, se a taxa de juros a ser negociado no mercado para esse bond, estiver em 3,25% a.a., o impacto seria de uma queda de 30% em relação ao preço inicial. Se por outro lado a taxa cair para 1,25% a.a., o seu preço sobe 80%.

Será que algum especulador estaria interessado em comprar um título tão arriscado? Se esse investidor acredita que Mario Draghi vai se aposentar no BCE, e que manteria os juros negativos ad infinitum, talvez surgisse demanda para comprar a juros menores. Assim, esses especuladores poderiam auferir um bom lucro. Mas mesmo assim, num cenário tão maravilhoso, esse título poderá ser recomprado em 2024 pela empresa emissora, e caso isso aconteça, o lucro seria muito menor. Assim, acredito ser pouco provável que esses “gênios das finanças” entrariam num jogo tão arriscado.

Sobraram os fundos de pensão que por terem compromissos de longo prazo, um título como esses poderia ter interesse. Mas 1.000 anos, quem pode fazer alguma previsão? Como normalmente esses gestores são os melhores da área aliado do fato que não estarão no resgate, melhor um juro de 2,25% que zero. Se a taxa subir podem argumentar “ levamos a resgate”. Tudo isso sem falar no risco de crédito de uma empresa cujo principal ativo é energia eólica.

Hoje em dia, o sistema capitalista, que tem o seu tripé baseado no Capital, Trabalho e Propriedade, está sob judice. Os três elementos existem em abundancia excessiva atualmente. Os helicópteros usados pela maior parte dos bancos centrais inundaram o mundo de liquidez, fazendo com que, emissões como acima sejam colocadas com facilidade. Veja, não questiona a emissão de títulos perpétuos, já existem há muito tempo, agora nessas taxas e com uma call a favor do emissor é inacreditável.  No item trabalho, os robôs caminham a passos largos para substituir os seres humanos. As Propriedades ficam cada vez menos necessárias, por exemplo, com as vendas on line crescendo em taxas elevadas estão extinguindo as lojas, sem falar na utilização de bens ociosos que são alugados por períodos curtos (Uber, Air BNB), para demandas especificas, todas elas com efeitos deflacionários.

 Nem adianta me perguntar como isso vai terminar, à primeira vista não parece bem, mas é inegável que esse novo mundo implica em juros menores, salários em queda e imóveis menos necessários (aqui não é generalizado). Mas tudo isso é muito positivo para o lucro das empresas, mas nem todas, algumas irão sumir, e muitas novas serão criadas.

Achei essa charge sugestiva. Veja o que Trump perguntou ao líder Chinês quando foram visitar a muralha da China. Esse presidente que os americanos foram arrumar foi o maior blefe da história. Agora só falta ser reeleito nas próximas eleições! 

No post inflação-em-alta, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 10 anos: ...” nosso trade parecia caminhar no sentido certo, porém o nível de 2,42% foi violado, só que desta vez para baixo. No momento se encontra a 2,34%, próximo de nosso stoploss” ... ...” agora não temos muita margem de manobra, ou o mercado vira e volta a subir, ou provavelmente seremos stopados. Se isso acabar acontecendo, não significa que os juros caiam abaixo de 2%, como eu estava esperando alguns meses atrás”... ...” notem que em 4 situações distintas o mercado buscou romper essa região – 2,40%/2,42%” ...


Novamente os juros ameaçaram romper o nível de 2,42% e recuaram em seguida. Agora não são 4 vezes, mas sim 5! Por outro lado, as quedas recentes têm sido a níveis superiores as anteriores, como anotado no gráfico abaixo.


Como apontei, a resolução final está próxima, acredito que até o Natal no máximo, o mercado nos dirá se os juros estão mirando para 2,65% a.a. ou mais, ou se as forças que comandam a queda, conforme descrevi no post riscos-frente, empurram os juros na busca de novas mínimas. É verdade que nessa última hipótese, muita agua vai rolar antes que isso aconteça.

Olhando de hoje até parece difícil imaginar os juros a 2% a.a., por exemplo, recebi um relatório do Deutsche Bank onde o analista faz a seguinte previsão: ...” Our Fed view is unchanged: we expect the next rate increase in December, followed by three hikes in 2018 and four in 2019” (texto sublinhado pelo Mosca). Se eles estiverem corretos e considerando que os juros se encontram em 1,25%, essas premissas levariam o FED funds a terminar o ano em 1,5% a.a., e somando tudo, no final de 2019, teríamos um juro de 3,25% a.a. Como os juros dos títulos de 10 anos poderiam estar a 2% a.a.? Difícil de aceitar, mas isso só seria possível se o mercado acredita que vem uma mega recessão mais adiante, ou os gestores europeus e japoneses “precisam” de um título que paga qualquer juro. Parece que a segunda hipótese é mais factível, haja visto os compradores dos “Bonds 3017 – Uma Odisseia no espaço! ” Hahaha ...


O SP500 fechou a 2.578, com queda de 0,26%; o USDBRL a R$ 3,2573, com queda de 0,51%; o EURUSD a € 1,1793, com queda alta de 0,20%; e o ouro a U$ 1.294, com alta de 1,25%.


Fique ligado!

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