Sob tensão

 

Como venho comentando ultimamente, o risco maior que os ativos correm é a inflação. Por mais que a grande maioria dos economistas reafirmem que essa possibilidade está fora do radar por muito tempo, eu tenho dúvidas. Às vezes me vejo literalmente sonhando com essa hipótese — é mais pesadelo do que sonho.

Eu procuro ler os artigos publicados que levantam essa hipótese a fim de saber seus pontos de vista. Um recente publicado pela Bloomberg por Richard Cookson é um bom exemplo.

Pode parecer estranho estar preocupado com a inflação em meio a uma recessão global, uma pandemia e enormes tumultos políticos nos EUA, mas tenho fortes suspeitas de que está prestes a acontecer em breve e de forma brusca. A rapidez com que isso aconteça vai depender da rapidez com que o mundo desenvolvido se recuperará nos próximos meses, mas as pressões estão aumentando. Como tem sido o caso por muitos anos, a inflação global tem o carimbo “Made in Asia” em todo lugar. Desta vez, porém, isso provavelmente será agravado por restrições de oferta muito maiores na economia.

Primeiro, um pouco de humildade. Prever a inflação é muito difícil. Geralmente, a melhor previsão é a inflação corrente. Os bancos centrais não têm sido bons em prever a inflação nem em criá-la. Isso porque, em essência, a economia clássica pressupõe em grande parte que, sendo todas as coisas iguais, o aumento da oferta de dinheiro empurra a inflação para cima. No entanto, depois de anos de corte de taxas, flexibilização quantitativa e assim por diante, a única coisa que subiu foram os preços dos ativos. O que subiu não foi o preço das maçãs, mas, digamos, o da maçã da Apple Inc...

Claramente, então, nem todas as coisas são iguais. Modelos econômicos supunham que a rapidez com que o dinheiro muda de mãos (sua velocidade, no jargão) era estável e previsível. Em vez disso, ela despencou. É por isso que erraram todos que previram um aumento maciço da inflação como resultado do QE dos bancos centrais. A velocidade pode até aumentar — qualquer palpite serve — mas isso não nos diria muito sobre o que vai acontecer nos próximos dois anos, pois é mais um indicador de longo prazo. E há muitos sinais de que a inflação está subindo.

Pense na seguinte hipótese. Se você tivesse sabido que a economia dos países desenvolvidos sofreria um fechamento geral, o que você esperaria que acontecesse com os preços dos bens negociados? Provavelmente, você esperaria que eles despencassem. Mas, como mostra o gráfico abaixo, eles nem caíram tanto quanto na recessão industrial de 2015, sem falar da crise financeira global.

Os preços estão subindo fortemente, em parte porque o crescimento asiático está bombando. Os preços de exportação chineses subiram ano após ano. Excluindo o petróleo, os preços das commodities industriais também estão agora mais altos do que eram no final do ano passado. Mesmo que nada se mova entre agora e o final da primavera de 2021, as comparações ano a ano começarão a parecer muito significativas — já que os preços desta primavera estavam em seu ponto baixo. Essas tendências já estão se fazendo sentir no mundo desenvolvido. Os preços de importação dos EUA, por exemplo, estão subindo fortemente. Os preços dos bens duráveis estão em queda. Há sinais de que a inflação dos serviços também está subindo.

No entanto, grande parte do mundo desenvolvido ainda está no meio de uma pandemia, o que modera a demanda. Quando a vacina chegar ou o vírus se esvaziar, a demanda vai aumentar de forma rápida. O que acontecerá com os preços quando isso acontecer? Tenho sérias suspeitas de que muita capacidade de fabricação foi perdida. Tanto internamente quanto internacionalmente, o transporte está ao mesmo tempo mais difícil e mais caro. A moda dos investimentos em ESG provavelmente também significou menos investimento em coisas que você extrai ou deixa escorrer.

Supondo que tudo isso leva muito tempo para começar a fazer efeito, seria de se esperar que essas restrições durassem. O mesmo provavelmente se aplica aos serviços. Muitas empresas já quebraram e muitas outras provavelmente irão para o mesmo caminho. Houve, então, severas perdas para a oferta potencial das economias. Tudo isso significa que o caminho de menor resistência, quando a demanda aumentar, serão preços mais altos.

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A reaçãoA A reação dos bancos centrais é fundamental. Eles nos disseram que deixarão as economias aquecidas. O que eles estão realmente dizendo é que nada do que fizeram fez a menor diferença para a inflação global e não sabem por quê. Ainda assim, vamos acreditar no que dizem. O que significaria na prática? Eles evitariam elevar as taxas de curto prazo ou segurariam as taxas de longo prazo com o endividamento do governo provavelmente enorme? Qualquer uma dessas decisões, na prática, afrouxaria a política monetária baixando o juro real com a economia — e a inflação — em forte crescimento. É difícil acreditar nisso, e os países que nada fizessem provavelmente observariam a desvalorização de suas moedas, empurrando assim a inflação importada para cima.

Desconfio que detentores privados de títulos de longo prazo não vão esperar que os bancos centrais mudem de ideia, sabendo que estes aumentarão as taxas em algum momento. O risco é assimétrico. Os rendimentos dos títulos estão incrivelmente baixos e mais cedo ou mais tarde eles vão subir, possivelmente rápido: Há muita alavancagem na renda fixa, e os títulos de baixíssimo rendimento cairão de preço muito mais do que aqueles que realmente pagam uma taxa de juros decente.

Os mais velhos devem lembrar-se da carnificina de 1994 no mercado de títulos. Em algum momento, eu esperaria que as curvas de rendimento se inclinassem fortemente em relação aos níveis de hoje. Parece sensato evitar títulos governamentais e corporativos mais longos e manter papeis mais curtos.

Há anos que os bancos centrais reprimem a volatilidade e as taxas nos mercados de dívida. Isso está prestes a se tornar muito mais difícil.

O raciocínio traçado nesse artigo elenca situações possíveis, e já se nota a elevação de preços, principalmente em alimentos. Por outro lado, também pressupõe que a queda de oferta, com o fechamento de empresas, será permanente. Será que é isso que vai ocorrer, ou novas empresas e as existentes aumentarão sua capacidade produtiva?

Sobre a alta das commodities, um estudo antigo que tive a oportunidade de ler dizia que o aumento das comodities é refletido nos produtos em 7% — ou seja, um aumento médio de 20% no cobre faria os produtos relacionados subirem 1,4%. Não parece muito. Esse mesmo estudo reforçava que os salários são o elemento de maior impacto nos preços, e nesse ponto não parece existir escassez.

Sobre os bancos centrais, estou de acordo com sua ideia, e acredito, que se um cenário desses se desenrolar, eles tenderão a postergar suas ações e os títulos irão sofrer da forma descrita.

Em todo caso, vale o registro desses argumentos e o Mosca está alerta em relação a esse risco. Vamos viver sob tensão por um bom tempo.

No post minha-mae-mandou, diz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” o movimento do dólar está seguindo os parâmetros esperados dentro da teoria de Elliot Wave, onde a onda 4 (em laranja) parece ter terminado, dando sequência ao movimento de queda, Para que essa afirmação se torne mais convincente, é necessário que o dólar negocie abaixo de R$ 5,30”...

Na última semana, o dólar chegou a negociar abaixo de R$ 5,30 por pouco tempo, retornando aos níveis da última segunda-feira. Algumas outras possibilidades se abrem de forma um pouco diferente das que eu havia imaginado. Como costumo dizer, correções são imprevisíveis, colocando em xeque a possibilidade do término da onda 4 (em laranja).

Estabeleci um novo nível de stop loss apontado no gráfico acima a R$ 5,53. Caso o dólar negocie acima desse nível, não posso afirmar que a queda imaginada é impossível, mas não me sentiria confortável com as posições. Dependendo, poderemos entrar mais tarde.

Para poder fazer a afirmação mais contundente de novas altas, somente acima de R$ 5,80, o que está ainda distante de hoje.

Imaginando que esta onda 4 seja um triângulo, vou ter que ajustar os níveis de queda esperados, mas isso somente ocorreria depois que o dólar estivesse abaixo de R$ 5,22.

Uma boa análise técnica tem que levar em consideração os movimentos que se sucedem. Se seguem a ideia do analista, deve-se ir em frente, calculando os possíveis pontos a serem atingidos; caso contrário, uma reavaliação deve ser feita, considerando a possibilidade de o movimento continuar no sentido proposto, ou, ao contrário, se alguma violação obrigar a uma nova reflexão. Ou seja, um processo dinâmico sem torcida, de tal forma a não “forçar” a ideia original, assumindo níveis pouco prováveis.

O SP500 fechou a 3.577, com alta de 0,56%; o USDBRL a R$ 5,4390, com alta de 1,10%; o EURUSD a 1,1840, com queda de 0,10%; e o ouro a U$ 1.834, comk queda de 1,90%.

Fique ligado!

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