O Xerife de ativos
A expansão monetária em excesso cria uma serie de distorções nos
mercados. Esse é o caminho traçado no mundo hoje. Não existe praticamente
nenhuma economia que não se tenha aventurado numa expansão monetária em
conjunto com uma fiscal. Como sempre tem que ter um motivo, a Covid-19 caiu
como uma luva nesse sentido. Afinal, era para o bem de todos os habitantes de
um país.
Não estou dizendo que não se devia fazer, parecia não haver outra
solução para combater a interrupção total das economias mundiais. Mas o
questionamento é mais antigo, pois esse processo de injeções maciças começou em
2008 depois da GFC – Great Financial Crisis.
Se, por um lado, vivemos num momento com excesso de mão de obra e capital,
aliado a uma revolução digital que tem um viés deflacionário, o mesmo não
acontece com os ativos, que são a válvula de escape desse oceano de liquidez.
O índice de preços não mede a inflação de ativos, somente a de bens e
serviços, mas seus efeitos são sentidos pela população em geral, principalmente
no mercado imobiliário — uma pessoa pode viver sem ter uma carteira de ações ou
títulos, mas não sem um imóvel.
Alguns meses atrás, fiquei perplexo com a atitude do governo alemão que
decidiu colocar um teto nos preços dos aluguéis, principalmente na cidade de
Berlim, que hoje é considerada o “Vale do Silício” da Europa. Como a população
é de jovens, e a alta dos preços dos imóveis foi espetacular, começou uma série
de manifestações por parte desse grupo. Achei um absurdo do ponto de vista
econômico.
Um passo mais ousado foi proposto pelo governo da Nova Zelândia para que
o seu Banco Central incluísse os preços dos imóveis em seus objetivos. A
Gavekal por meio de seu sócio Louis Vincent Gave, comentou sobre esse passo
ousado.
As pessoas tendem a se concentrar na Nova Zelândia, ou
porque se preocupam profundamente com ovelhas, ou por amarem o rugby ou por
estarem entusiasmados com a política monetária. No lado monetário, o Reserve
Bank da Nova Zelândia foi um precursor por ser o primeiro banco central a argumentar com
sucesso que promoveria melhores resultados econômicos se fosse independente das
diretrizes do governo. E com o sucesso dessa liberdade, o RBNZ inspirou movimentos semelhantes na Austrália,
Canadá, Reino Unido e outros.
Em vez de aumentar a independência do Banco Central, hoje a moda passa pela necessidade de fundir ministérios da fazenda com bancos centrais. E, pelo menos nos EUA, mesmo que tal "fusão" ainda não tenha ocorrido totalmente, o palco parece estar definido para deixar rodar uma porta giratória entre as duas instituições. A este respeito, a nomeação de Janet Yellen, ex-presidente do Federal Reserve, para a Secretaria do Tesouro é um passo nesse sentido.
No entanto, apesar de um ambiente mudado, o RBNZ ainda
parece quebrar mais
barreiras. Na terça-feira, o ministro das finanças Grant Robertson propôs incluir o preço dos
imóveis no controle da inflação. Não são favas contadas, pois como disse Robertson:
"Com um longo período de baixas taxas de juros, e algum tempo antes da oferta de imóveis atender a demanda, agora
é a hora de considerar como o Banco Central pode contribuir para um mercado
imobiliário estável. No entanto, eu quero deixar claro que não estou propondo nenhuma
mudança no mandato ou na independência do Banco Central."
Ainda assim, do mesmo modo que a ideia de independência do Banco Central começou na Nova Zelândia, pode ser que tenha chegado o momento político para a ideia de estender o mandato dos bancos centrais. Para mostrar este ponto, o gráfico abaixo à esquerda traça a inflação e preços médios dos imóveis nos EUA. Uma divergência semelhante seria vista nas economias da Nova Zelândia, Austrália, Reino Unido, Hong Kong, China, Suécia, Singapura, Canadá, França e Suíça. É desnecessário dizer que essa divergência provavelmente contribuiu para o crescente descontentamento político, pois por um lado os jovens estão sendo informados de que não há inflação e por isso os salários não precisam subir, enquanto, por outro lado, o custo do aluguel continua subindo e a esperança de um dia ter um lugar para morar vai sendo cada vez mais adiada.
A esse respeito, a proposta do ministro das finanças da Nova Zelândia tem uma certa esperteza: como os preços dos imóveis ficam cada vez mais inacessíveis (sem dúvida porque as taxas de juros estão muito baixas) e a questão começa a ter um peso político (proprietários não querem perder patrimônio, e os mais jovens estão desesperados à procura de moradia), por que não passar o problema para o Banco Central? Afinal, embora os políticos não gozem do maior respeito, os diretores de bancos centrais de alguma forma conseguiram manter seu status de "sumo sacerdote".
E para ser justo, os bancos
centrais podem precisar de uma linha direta com "os poderes do Alto" em
futuro próximo se eles tiverem de manter (i) a estabilidade geral nos preços, (ii)
a estabilidade no preço dos imóveis e
(iii) um crescimento econômico decente que preserve o pleno emprego. Ou essa linha
direta para os poderes do Alto, ou um computador que, como sugeriu Milton Friedman,
simplesmente produza um crescimento de massa monetária igual ao crescimento
estrutural do PIB!
Se é por aí, a transição pode ser dolorosa para os investidores em títulos, ações e imóveis — todos precificados para uma expansão de dinheiro em ritmo mais rápido que o do PIB. Afinal, nos últimos cinco anos, O M2 dos EUA cresceu 54,4% enquanto seu PIB apenas 6,3%. Se houver uma decisão de voltar atrás, essa é uma liquidez excessiva no sistema.
Não sei como seria exequível um controle desses. É muito diferente de um banco central “vigiar” as taxas de juros através das negociações de títulos, onde atua na compra e venda e consegue colocar a taxa onde quiser, pelo menos por um tempo. No caso dos imóveis, o que poderiam oferecer para controlar os preços, o prédio do Banco Central? Hahaha ...
Essas
medidas parecem de governos socialistas, cujo objetivo é estabelecer os preços
segundo seus interesses. Um intervencionismo amplo se apodera de governos ditos
liberais para acomodar as suas alquimias financeiras sem prejudicar seus
principais eleitores, o povo! Para contestar essa ideia, dirão que é
temporário, mas, como dizia Milton Friedman, “nada é tão permanente quanto um
programa temporário do governo”! Os BCs estão virando o xerife dos ativos.
No post quer-adivinhar-o-futuro, fiz os seguintes comentários sobre o Nasadq100: ... “O Nasdaq100 chegou a mínima de 10.957 na semana passada e a partir daí já subiu 10% em 3 dias, nada mal! Esse movimento nos permite elevar o stoploss para 11.300, garantindo que não haverá perda” ...
Alguns dias se passaram e fiz algumas atualizações no gráfico.
Resposta: No primeiro gráfico eu tinha
previsto que o movimento (A, B, C) em azul, teria terminado em novembro, enquanto
no segundo o término dessa sequência teria ocorrido no final de setembro.
- David, ninguém do lado de cá entende
de seus gráficos cheios de letras, retas e números! Que diferença faz?
Sua afirmação é leviana pois deve ter
alguns leitores que entendem, mas imagino que deve ser a minoria (eu acho). Por
sinal, para quem entende de análise gráfica e principalmente de Elliot Wave, me
indique nos comentários. Respondendo a sua pergunta, não faz muita diferença no
curto prazo, mas mais à frente, altera o nível máximo a ser atingido.
Para que minhas premissas sejam
alcançadas, é fundamental que o Nasdaq100 ultrapasse a máxima atingida em
setembro de 12.400. Se isso ocorrer, cálculo que o próximo nível a ser atingido
seria de 14.200, depois 15.600 e por último 17.000. Como uma serie de idas e
vindas, até chegar lá.
A partir de agora, deveria ocorrer a
parte mais forte do movimento, sem refresco para quem quer entrar, isso até os
14.200.
Outra mudança que efetuei é em relação
ao gráfico publicado. Embora comporte menos dados, ficou mais clara a leitura.
- David, um esclarecimento em relação
aos gráficos. O que significa os retângulos pequenos com diversas cores, e por
que alguns tem preço e outros não?
Essa é uma das facilidades do software
que estou usando, permite verificar se os movimentos estão dentro das regras de
Elliot Wave, bem como as medidas que confirmam ou rejeitam a contagem usada.
Numa escala decrescente: verde, azul, branco, amarelo e preto, indicam o “mais”
provável para o “menos” provável de ocorrer, um determinado nível. Confluências
de medidas feitas com critérios diferentes confirmam mais ainda.
Eu adotei uma regra: para movimentos
que já passaram deixo os retângulos sem os preços, e para movimentos futuros
com os preços. Agora podem entender por que uso para projeções predominantemente
os retângulos verdes, e sabem também que, não necessariamente terminaram nesse
ponto, é só o mais provável.
O SP500 não teve negócios; o USDBRL
fechou a R$ 5,3324, com alta de 0,18%; o EURUSD a € 1,1913,
sem alteração; e o ouro a U$ 1.810, com alta de 0,29%.
Fique ligado!
Eu acho justo. Hoje os BCs não tem possuem o menor compromisso com os efeito secundários de suas decisões. Na verdade, nem os primários. Qual a responsabilização que os presidentes ou diretores dos BCs possuem? Nenhum. Hoje o FED garante a previdência dos mais velhos, impedindo a queda no valor dos ativos e dificulta a vida dos mais jovens que não conseguem ter um imóvel ou daqueles que não conseguem investir e não fazem parte da festa dos ativos. Há socialismo maior do que compra dividas privadas com dinheiro que deveria ser público? Garantindo a fortuna de Jeff Bezos ou, pior, do Elson Musk?
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