Powell: "You have a problem" #IBOVESPA
Donald Trump não deu nem chance para dúvida: foi uma vitória
de cabo a rabo. Embora o Congresso ainda não esteja completamente definido, é
provável que seja majoritariamente republicano. Como comentei ontem, de nada adiantaram
as rezas de Xi Jinping, que terá que enfrentar seu desafeto na Casa Branca —
Trump, ansioso para aumentar as tarifas dos produtos chineses para até 60%, uma
alíquota que mais parece de um país emergente que desenvolvido. Jan Hatzius,
economista da Goldman Sachs, publicou um resumo sobre o que pode significar o
novo governo.
RESUMO: Donald Trump conquistou a Casa Branca, e os
republicanos obtiveram uma maioria maior do que o esperado no Senado. A
previsão para a Câmara ainda está incerta, mas tende para uma maioria
republicana muito estreita, resultando em uma vitória republicana geral. Isso
provavelmente levará a uma expansão fiscal modesta, aumento de tarifas focadas
principalmente na China e menores níveis de imigração líquida.
PONTOS PRINCIPAIS:
1. Donald Trump venceu a eleição presidencial e deve
conquistar 312 votos eleitorais. No Senado, duas cadeiras ocupadas por
democratas (Ohio e Virgínia Ocidental) foram ganhas pelos republicanos,
garantindo-lhes a maioria. Estima-se que os republicanos terão pelo menos 52
cadeiras no Senado, com potencial de alcançar 56 cadeiras, dependendo dos
resultados.
2. Na Câmara, a previsão ainda é incerta, mas favorece os
republicanos. Até agora, a mídia relatou duas mudanças de cadeiras, uma antes
ocupada pelos democratas e outra pelos republicanos. Às 2h da manhã do dia 6 de
novembro, a margem na Câmara parecia semelhante à composição atual de 221
republicanos e 214 democratas (excluindo vacâncias), com possível ganho líquido
para os democratas, mas possivelmente insuficiente para alcançar a maioria.
Mercados de previsão apontam 90% de chance de uma vitória republicana total.
Com várias corridas decisivas na Califórnia, onde a contagem de votos pode
levar dias, o resultado final pode não ficar claro até o final desta semana ou,
possivelmente, na próxima.
3. Caso os republicanos obtenham uma maioria estreita na
Câmara, isso permitirá a extensão completa dos cortes de impostos de 2017, que
expiram no final de 2025, incluindo a reinstalação de alguns incentivos para
investimento empresarial. Espera-se que os republicanos no Congresso apoiem
cortes adicionais modestos, para acomodar algumas das propostas de campanha de
Trump. No entanto, essas propostas devem ser reduzidas, focando principalmente
em impostos de renda individual. Em caso de vitória completa dos republicanos,
também esperamos um aumento modesto nos gastos federais, especialmente na
defesa. No entanto, a margem estreita na Câmara pode representar um obstáculo
para cortes em outras áreas do orçamento. Por outro lado, no cenário de uma
maioria estreita dos democratas na Câmara, esperamos maior restrição fiscal.
4. Quanto às tarifas, espera-se que Trump imponha tarifas
adicionais de cerca de 20% sobre importações da China. Embora uma tarifa ampla
de 10-20% não seja nossa principal expectativa, há uma possibilidade de 40% de
que ela seja implementada. Acredita-se que as tarifas sobre automóveis também
estarão em foco, sendo aplicadas principalmente sobre importações da União
Europeia, mas podem ser ampliadas. Essa combinação de políticas tarifárias
provavelmente impulsionaria a inflação do núcleo PCE em até 40 pontos base e
resultaria em uma leve retração no PIB.
5. Sobre a imigração, espera-se que uma nova administração
Trump reduza a imigração para cerca de 750 mil pessoas por ano, um pouco abaixo
da média pré-pandemia de 1 milhão. Caso os democratas consigam uma maioria
estreita na Câmara, a imigração cairia menos, para cerca de 1,25 milhão ao ano,
devido ao menor financiamento para fiscalização.
6. Em termos de regulação, uma nova administração Trump
provavelmente adotaria uma abordagem mais leve em políticas de energia,
finanças e trabalho. No entanto, é esperado que o escrutínio sobre o setor de
tecnologia continue.
O Fed inicia sua reunião de política monetária hoje, mas só
deve anunciar o resultado amanhã. Sem dúvida, a eleição de Trump será tema de
discussão, pois o rumo que o governo deve tomar terá implicações para o Fed. A
expectativa é uma queda de 25 pontos, e até acredito que não haverá
alternativa. Embora esta reunião não traga previsões para o futuro, o mercado
estará atento a possíveis mudanças de rumo. Nick Timiraos comentou no Wall
Street Journal as quatro questões principais a serem encaradas pelo Fed, que
resumo a seguir:
O Federal Reserve deve cortar as taxas de juros em um quarto
de ponto percentual na reunião que se encerra nesta quinta-feira. A grande
questão é quantos cortes adicionais serão necessários para sustentar um mercado
de trabalho sólido sem reverter as recentes quedas na inflação. A seguir, os
principais pontos debatidos pelos dirigentes do Fed.
1. Impacto das Eleições na Política Econômica: O resultado
eleitoral pode alterar a demanda econômica e a inflação, justificando possíveis
mudanças na política do Fed. A influência dependerá das decisões de Trump, como
ajustes em impostos, tarifas e imigração. Caso os republicanos controlem o
Congresso, economistas do Fed podem começar a revisar suas projeções já em
dezembro.
2. Apreensão com o Mercado de Trabalho: Após uma leve alta
na taxa de desemprego e desaceleração no crescimento de empregos, havia temores
de que o Fed pudesse ter mantido taxas elevadas por muito tempo. Embora esses
receios tenham diminuído, fatores como clima e greves impedem previsões precisas.
3. Rumo da Inflação: A inflação desacelerou, com o índice
preferido do Fed subindo 2,1% em setembro. A queda da inflação permitiu ao Fed
iniciar cortes nas taxas, mas alguns membros podem sugerir um ritmo mais lento
de cortes caso o progresso da inflação estacione.
4. Nível "Normal" das Taxas de Juros: O Fed busca
um nível “normal” para as taxas após um período de aumentos rápidos.
Historicamente, a taxa neutra era em torno de 4%, mas, após a crise de 2008-09,
situou-se mais próxima de 2%. No entanto, Jerome Powell sugeriu que o nível
neutro atual provavelmente é superior, e o debate sobre o ponto final das taxas
deve ganhar urgência.
Essas questões sublinham as dificuldades do Fed em fornecer
orientações definitivas, com incertezas tanto na economia quanto no cenário
político influenciando suas decisões.
Uma coisa é o discurso de campanha; outra, são as medidas
que efetivamente serão implementadas. Essa dúvida prevalecerá nas próximas
semanas, enquanto se forma a equipe econômica. Além disso, existe uma questão
mais delicada: durante o mandato anterior de Trump, que escolheu Powell para o
Fed, houve muitos arranca-rabos entre eles em relação à taxa de juros
praticada. É bom lembrar que, naquela época, os juros eram bem inferiores aos
atuais.
O mandato de Powell termina em maio de 2026, e é muito
provável que ele seja substituído. Surge, no entanto, outra dúvida: será que
ele pedirá demissão antes do término? Meu ex-sócio e ex-presidente do BCB,
Ibrahim Eris, dizia que assumir um cargo no governo é imediato, mas sair não é
tão fácil assim, é preciso que surja uma oportunidade. Ficaremos com essa
dúvida.
Diferentemente da frase proferida pelo comandante da missão
Apollo 13: “Houston, we have a problem”, para a base, Powell não tem a quem
recorrer e vai ter que se contentar com uma adaptação: “You have a problem”!
Hahaha… Por último, o BCB se reúne hoje, e se existia alguma dúvida sobre as
altas de juros implícitas no mercado futuro, essa dúvida não deve mais existir.
No post sempre-tem-vendidos fiz os seguintes
comentários sobre o IBOVESPA: “eu não sei a extensão da queda que se iniciou
desde setembro deste ano, quando atingiu a máxima de 137,3 mil. Mostrei algumas
das hipóteses nas últimas semanas: pode ser 127,7 mil (gráfico atual); 121,1
mil; ou 99,7 mil, e pode ser ainda pior”.
A bolsa abriu em queda superior a 1%, o que coloca em xeque a alta desta semana. Como comentei acima, existem alguns níveis a serem observados e o primeiro deles, a 127,7 mil, deve ser testado proximamente. Se não resistir, terei que usar outro cenário. Enquanto a bolsa nos EUA acordou otimista, o mesmo não aconteceu por aqui.
Existe uma possibilidade de que a onda (c) vermelha e (C)
laranja tenha terminado conforme o símbolo vermelho. Acho pouco provável,
mas...
Como comentei no post de ontem rezando-literalmente-para-todos-os fiz os seguintes comentários sobre o S&P500: “uma vitória de Trump
parece, a princípio, mais favorável para a bolsa do que a de seu oponente. Se
for esse o caso, e diferentemente de Xi Jinping, estaríamos “rezando por todos
os santos” para Trump vencer – não pelo candidato em si, mas pelo compromisso
do bolso” . Fique receoso antes da abertura mas decidi fazer um aposta na
bolsa comprando com stop loss 5.800. Um call que participei comentando
que boa parte dos institucionais siaram das suas posições antes das eleições.
O SP500 fechou a 5.929, com alta de 2,53%; o USDBRL a R$ 5,6754, com queda de 1,33%; o EURUSD a € 1,0735, com queda de 1,78%; e o ouro a U$ 2.661, com queda de 3%.
Fique ligado!
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