Rezando literalmente para todos os santos #S&P500

 


Hoje é dia (ou noite) de grandes emoções. A votação americana começa hoje, embora 70 milhões de eleitores já tenham votado antecipadamente – imagine se isso fosse possível aqui, que zona seria! Dependendo de quem assumir a Casa Branca, o rumo da economia pode mudar significativamente. Sendo assim, é razoável esperar um certo estresse, que pode impactar as posições. O Mosca foi “stopado” em sua posição de bolsa e permanece em “stand by”.

Acho curioso que alguns leitores torcem quando público o resultado acumulado semanalmente. Até o momento, as sugestões resultaram em um retorno de 26,93% no ano, e esses leitores clamam pelos 30%, como se pudéssemos fazer um trade milagroso para somar os 3% restantes. Gostaria de lembrar a esses leitores que o retorno é uma consequência, e não uma causa, e podem ter certeza de que o Mosca está sempre em busca de oportunidades. É importante também lembrar que o resultado pode regredir, caso algum trade não seja bem-sucedido.

Voltando às eleições, os investidores estão apreensivos com o desfecho, mas, se algo ocorrer fora das expectativas, basta zerar a posição. Agora, imagine o que se passa com Xi Jinping, presidente da China. Se Kamala Harris vencer, há uma certa continuidade; já se for Trump, Xi sabe que vem um pacotão de tarifas de importação para produtos chineses – justo agora que ele está tentando recuperar a economia do país.

Lingling Wei comenta no Wall Street Journal que, embora o mercado espere mais estímulos, o governo chinês não planeja lançar nada significativo, pelo menos não neste ano.

Com poucas informações sobre como Pequim pretende estimular sua economia em meio à desaceleração, alguns investidores especularam que a eleição presidencial nos EUA poderia impulsionar a tão aguardada “bazuca” para os mercados.

No entanto, segundo fontes envolvidas nas discussões políticas, isso é mera ilusão: uma “bazuca” não está a caminho – pelo menos, não este ano.

As expectativas por uma ação de estímulo mais ousada cresceram quando uma importante sessão legislativa chinesa foi adiada para esta semana. Alguns investidores e analistas interpretaram isso como um sinal de que o líder chinês, Xi Jinping, poderia estar aguardando o resultado das eleições nos EUA para, então, ajustar seu plano de estímulo – especialmente se Donald Trump, que prometeu amplas tarifas sobre produtos chineses, aparentar ter chances de retornar à Casa Branca.

As mesmas fontes explicam que o adiamento foi causado por questões de agenda de alguns participantes da reunião legislativa.

Embora a postura dos EUA em relação à China nos próximos quatro anos provavelmente impacte a trajetória econômica do país, elas afirmam que os principais elementos do pacote de estímulo para este ano já estão definidos, aguardando apenas aprovação formal na reunião legislativa.

Ainda assim, Pequim observa atentamente o impacto potencial da eleição americana sobre o sentimento de mercado na China. As autoridades planejam sinalizar, após a sessão legislativa, que novas medidas de apoio ao crescimento estão a caminho e que um conjunto de medidas incrementais pode ser ampliado, dependendo dos riscos à economia chinesa.

Por exemplo, se Trump vencer e cumprir suas promessas tarifárias, a China poderá buscar impulsionar o que chama de “demanda efetiva” interna, elevando os gastos governamentais em setores como manufatura avançada e outros projetos cruciais para a competitividade do país, conforme a visão de Xi.

Essa estratégia pode antagonizar ainda mais o Ocidente, que já tenta conter a expansão chinesa na manufatura. A política chinesa tem inundado os mercados com veículos elétricos de baixo custo e outros produtos.

Desde que a liderança chinesa realizou uma mudança repentina no final de setembro, favorecendo um suporte mais amplo à economia, os investidores têm ficado incertos quanto à amplitude do estímulo. Uma série de coletivas decepcionantes de diversas agências econômicas não ajudou. Segundo as fontes, a mensagem confusa deve-se ao receio dos altos funcionários de expor vulnerabilidades na agenda econômica de Xi.

Os detalhes vagos do apoio prometido por Pequim a municípios, bancos e incorporadoras deixaram os investidores sem muita base para expectativas sólidas, o que dificulta os esforços de Xi para revitalizar o mercado de ações, uma motivação central para sua guinada econômica.

Isso não quer dizer que as medidas de estímulo, como cortes nas taxas de juros desde setembro, não tenham tido efeito. O mercado imobiliário, que enfrenta uma crise sem precedentes há mais de três anos, melhorou, com vendas e receitas de imóveis em grandes cidades se recuperando no último mês. “A questão é quão sustentável pode ser essa recuperação”, escreveu Larry Hu, economista da China no Macquarie, em um novo relatório, ressaltando a confiança ainda baixa dos consumidores.

Pequim está especialmente preocupada com um possível retorno de Trump, segundo pessoas próximas à liderança. Se Harris for eleita e suas políticas espelharem a abordagem dura, mas mais direcionada e previsível de Biden em relação à China, isso seria considerado o “menor dos males” para os líderes chineses.

A declaração do vencedor após a eleição de 5 de novembro pode demorar dias, ou até mais, um complicador adicional para Pequim, que pretende apresentar mais detalhes sobre seu estímulo logo após a reunião legislativa, em 8 de novembro.

O desfecho da eleição pode até mesmo ofuscar o anúncio de estímulo de Pequim, dificultando para Xi obter a resposta positiva dos mercados que ele busca. Para os investidores, a incerteza sobre o resultado eleitoral provavelmente tornará a avaliação da eficácia do estímulo chinês ainda mais complicada.

Muitos economistas têm instado a liderança chinesa a redirecionar o foco das fábricas para aumentar o poder de compra dos consumidores. Contudo, tal mudança estratégica, segundo as fontes, não está no radar imediato.

As medidas que a China poderá tomar em resposta ao resultado das eleições provavelmente serão limitadas. Ting Lu, economista-chefe para a China no Nomura, prevê que o apoio fiscal geral da China, medido pelo endividamento do governo, será de 2% a 3% do PIB do país nos próximos anos. Em caso de vitória de Trump, o apoio poderia se aproximar de 3%; com Harris, ficaria mais próximo de 2%.

Pequim frequentemente exalta sua capacidade de “seguir seu próprio caminho”, e uma política cada vez mais voltada para o mercado interno tem isolado a China do Ocidente, liderado pelos EUA. Mas a especulação do mercado sobre o impacto dos EUA nas decisões de Pequim destaca que o mercado chinês é tão suscetível às oscilações americanas quanto o restante do mundo.

Um comentário de John Authers na Bloomberg lança uma grande dúvida sobre o aumento do consumo interno. Em comparação com o Japão, ele aponta para uma característica que surgiu após a Covid.

A China há muito busca fazer a mesma transição que o Japão, voltando-se para o consumidor doméstico e afastando-se da dependência de construção e exportações. No entanto, a confiança do consumidor ainda parece estar no fundo do poço após os rígidos bloqueios do Covid-Zero. Don Rissmiller, da Strategas Research Partners, mostra que o estímulo anunciado antes do recente feriado da Semana Dourada teve quase nenhum efeito:

 



Essa é uma questão séria, que pode se agravar com a intensificação das hostilidades comerciais. Não a perca de vista. Mas, por enquanto, este comentário de Donnelly, da Spectra Markets, resume tudo que você precisa saber:

“Essas questões macroeconômicas globais não importam muito agora. Sim, a China tampou o vazamento na banheira, mas se recusa a enchê-la. Sim, a Europa está um pouco menos ruim, mas ainda está ruim. E o que realmente importa agora é a eleição. A boa notícia é que devemos saber o resultado das eleições dos EUA antes do final deste ano.”

O Deutsche Bank apresentou informações que destacam a importância dessas eleições para a China.

À medida que nos aproximamos do dia da eleição nos EUA, o impacto mais decisivo do resultado provavelmente será sobre o comércio global. Se Trump vencer e realmente implementar tarifas de 60% sobre a China e, digamos, 10% sobre importações do restante do mundo, isso terá, sem dúvida, grandes consequências para o sistema de comércio global. Obviamente, no momento não sabemos até que ponto isso poderia ser utilizado como uma ferramenta de negociação e com que rapidez seria implementado. No entanto, dado o tom da campanha de Trump, é altamente provável que essa política seja aplicada de alguma forma.

 



Embora uma tarifa de 60% represente um choque absoluto maior para a China, é relevante destacar como a composição das importações dos EUA mudou desde a primeira guerra comercial. O primeiro gráfico do valioso conjunto de gráficos pré-eleitorais de Brett Ryan ilustra essa mudança. O segundo gráfico, de nosso economista chinês Yi Xiong, extraído de “10 Gráficos sobre o Impacto da Guerra Comercial EUA-China”, mostra que as importações americanas da China caíram de cerca de 9% do PIB chinês em 2010 para aproximadamente 3% atualmente. Yi acredita que esse percentual pode cair ainda mais, para perto de 1,5%, caso seja implementada uma tarifa universal de 60%. Entretanto, ele considera que a maior preocupação para a China seria se o comércio global sofresse como resultado de uma estratégia tarifária mais ampla dos EUA. Nesse caso, as exportações chinesas para outros países também seriam provavelmente impactadas negativamente.

Dado o cenário atual, há aproximadamente 50% de probabilidade de que este seja um “Chart of the Day” útil ou irrelevante para você manter em mente nos próximos meses.

Xi Jinping não quer mostrar nenhum sinal de fraqueza, uma estratégia que ele sempre adota. Mas duvido que não esteja preocupado com um possível governo Trump, afinal, os EUA ainda são um player importante para suas exportações e para o acesso a novas tecnologias – ainda mais nesse momento delicado para a economia chinesa. Como não há muito a fazer, resta rezar para todos os santos, ocidentais e orientais, ou qualquer outro que possa tirar Trump do seu caminho.

No post não-aposte-contra-o-dólar comentei sobre o S&P 500: “os gráficos ainda estão indefinidos. Quero destacar uma área onde o modelo pode se confirmar. Observem o retângulo e quantas idas e vindas ocorrerão. Não será fácil navegar.”

 



O recuo da semana passada colocou a estratégia acima em xeque, pois foi maior do que o esperado. Então, deve ser eliminada completamente? Não, apenas se recuar abaixo de 5.653. Com o fechamento de ontem, já não está tão distante. Parece razoável assumir que estamos em uma onda 5 de uma onda 5 de maior grau, o que sempre traz o risco de acabar antes, como em uma dança das cadeiras em que a música para de repente, e você fica sem lugar.

E se o nível acima for rompido? Estudei essa possibilidade e identifiquei duas contagens possíveis, sendo a que exponho abaixo a mais provável. Nesse caso, estaríamos entrando na onda 4 azul do gráfico abaixo. A queda se desenrolaria nos próximos 3 a 4 meses, podendo atingir os níveis de 5.306 (-6,7%) ou 4.980 (-13%), sendo este último o mais provável. Contudo, tudo isso ainda é muito preliminar e será ajustado conforme o mercado evoluir.




Pela reação do mercado, uma vitória de Trump parece, a princípio, mais favorável para a bolsa do que a de seu oponente. Se for esse o caso, e diferentemente de Xi Jinping, estaríamos “rezando por todos os santos” para Trump vencer – não pelo candidato em si, mas pelo compromisso do bolso. Como diria um ex-colega de profissão: “o mundo se divide em dois grupos: os comprados e os vendidos – de um lado, os investidores; do outro, quem não está nem aí!” Hahaha ...

O S&P500 fechou a 5.782, com alta de 1,23%; o USDBRL a R$ 5,7491, com queda de 0,73%; o EURUSD a € 1,0925, com alta de 0,44%; e o ouro a U$ 2.743, com alta de 0,25%.

Fique ligado!

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