Gênios também falham #USDBRL #S&P500

 



O comentário de hoje é sobre uma figura sui generis no mundo das finanças: Warren Buffett. Acredito que seja de conhecimento dos leitores o histórico do lendário investidor que alcançou um retorno expressivo com a Berkshire Hathaway, assumindo seu controle em 1965. Sua filosofia se baseia na compra de empresas sólidas a preços razoáveis – baratos. Recentemente, ele decidiu vender uma grande parte das ações em seu portfólio, o que o deixou com um caixa enorme. Spencer Jakab comenta no Wall Street Journal: será que Buffett sabe de algo que nós desconhecemos?

Quando o investidor mais seguido do mundo não se sente confortável para investir, deveríamos nos preocupar?

Buffett, que brinca que seu período favorito para manter uma ação é "para sempre", ainda mantém investimentos substanciais em empresas americanas. No entanto, ele nunca retirou tanto dinheiro do mercado como agora – impressionantes US$ 325 bilhões em caixa e equivalentes, principalmente em títulos do Tesouro.

Para entender o tamanho dessa reserva, considere que ela permitiria à Berkshire assinar um cheque, com troco, para comprar quase todas as 25 maiores empresas americanas listadas, incluindo ícones como Walt Disney, Goldman Sachs, Pfizer, General Electric e AT&T. Além de permitir que os dividendos e juros se acumulem no balanço, o conglomerado vendeu agressivamente duas de suas maiores participações, Apple e Bank of America, nos últimos meses. E, pela primeira vez em seis anos, parou de comprar mais ações da empresa que conhece melhor – a própria Berkshire Hathaway.

Isso significa que investidores comuns deveriam ser cautelosos com o mercado? Talvez, mas isso diz ainda mais sobre a própria Berkshire.

Buffett e seu falecido sócio Charlie Munger não superaram o mercado em 140 vezes sendo “market timers”. Uma das frases mais famosas de Munger é sua primeira regra de capitalização: "Nunca a interrompa desnecessariamente." Investidores que acompanham de perto a Berkshire e esperam que um pouco de sua "mágica" passe para seus portfólios prestam muita atenção no que ela compra e vende, mas muito menos no momento dessas operações.





Ainda assim, o sempre otimista e paciente Buffett já se mostrou cauteloso antes. Ele fechou sua bem-sucedida parceria em 1969, afirmando que os mercados estavam muito inflacionados, e acumulou caixa nos anos que antecederam a crise financeira global – dinheiro que ele utilizou oportunamente.

"Ele está ciente de que os mercados oscilam e chegam a extremos", diz Adam J. Mead, gestor de investimentos em New Hampshire e especialista em Buffett, autor de The Complete Financial History of Berkshire Hathaway.

O fato de os valores das ações estarem elevados não significa que estão prestes a despencar ou que estamos à beira de um mercado em baixa. Em vez disso, vale olhar o que as avaliações atuais indicam sobre os retornos nos próximos anos, que incluirão períodos bons e ruins. Recentemente, o estrategista David Kostin, do Goldman Sachs, previu que o retorno do S&P 500 na próxima década será, em média, de apenas 3% ao ano – menos de um terço do ritmo pós-guerra.

A previsão de Kostin gerou impacto num momento de alta confiança dos investidores, mas é consistente com outras projeções. O gigante de investimentos Vanguard previu recentemente um retorno anual entre 3% e 5% para ações de grandes empresas americanas e entre 0,1% e 2,1% para ações de crescimento ao longo de uma década. E o índice de preço sobre lucro ajustado ciclicamente, do Prof. Robert Shiller, sugere um retorno médio de cerca de 0,5% ao ano após a inflação – semelhante à projeção de Kostin.

Há ainda o mais simples "Indicador Buffett", que o Oráculo de Omaha uma vez chamou de "provavelmente a melhor medida isolada de onde estão as avaliações em qualquer momento". Existem variações, mas, basicamente, é uma relação entre todas as ações listadas e o tamanho da economia americana. Tomando o Wilshire 5000 Index como proxy, o indicador está agora em torno de 200%, o que o deixa mais esticado do que no auge da bolha da tecnologia.

Com os títulos do Tesouro rendendo mais do que o retorno prospectivo das ações, pode parecer que Buffett retirou o máximo possível, já que não há potencial de ganho nas ações arriscadas. Mas ele declarou publicamente que adoraria gastar esse dinheiro.

"O que realmente gostaríamos de fazer é comprar grandes empresas", disse ele na reunião anual de 2023 da Berkshire. "Se pudéssemos comprar uma empresa por US$ 50 bilhões, US$ 75 bilhões, US$ 100 bilhões, poderíamos fazer isso."

Então, isso poderia significar que Buffett vê valor em manter recursos para a próxima crise ou para uma valorização excessiva do mercado? Sim, mas ele não está dizendo, e investidores individuais têm mais opções do que ele. Em primeiro lugar, não precisamos pagar um prêmio de 20% ou mais sobre o preço de mercado para investir em uma empresa, como a Berkshire faria em uma aquisição. Também podemos navegar em águas muito mais rasas e em mercados menores. Por exemplo, as projeções de dez anos da Vanguard para ações de mercados desenvolvidos fora dos EUA variam de 7% a 9% ao ano, e de 5% a 7% para ações de pequenas empresas americanas. Exceto por uma aposta lucrativa em empresas japonesas nos últimos anos, Buffett manteve seu dinheiro principalmente nos EUA e provavelmente continuará assim.

Mudanças na Berkshire são inevitáveis, porém – e não apenas porque o executivo de 94 anos está se aproximando do fim de sua notável carreira. Buffett não hesitou em retornar capital aos acionistas, quase exclusivamente por recompra de ações, mas claramente considera até mesmo suas próprias ações caras para isso.

A Berkshire também atingiu um tamanho em que não pode mais replicar seu histórico de longo prazo de empregar seus lucros e superar o mercado com folga. Será necessário devolver dinheiro aos acionistas de alguma forma – provavelmente através de dividendos, segundo Mead. Eventualmente, torna-se necessário interromper a capitalização.

O modelo usado por Buffett é claro: ele prefere comprar empresas que estejam baratas, o que exclui as "Magníficas Sete" e outras empresas de tecnologia, compradas a múltiplos muito elevados. Também não pode investir em empresas cujo tamanho seja incompatível com o patrimônio da Berkshire, pois ou teria que comprar sua totalidade ou sua participação seria pequena demais para justificar.

Talvez Buffett enfrente um dilema atual. As empresas de tecnologia estão caras para seus padrões – ele comprou a participação na Apple em 2016, quando o P/L estava entre 10 e 12. Foi uma maneira de entrar nesse segmento por meio de uma empresa com marca indiscutível e forte lealdade dos consumidores da Apple. Ele poderia então observar outras empresas "sem carteirinha" e que, por isso, estão baratas, mas é possível que perceba um risco de sobrevivência futuro devido à IA.

Essa situação não é novidade para ele nos últimos tempos. Se sua ação for observada nos últimos 30 anos e comparada com o índice S&P 500, o gráfico abaixo mostra claramente sua outperformance.





Contudo, se a mesma comparação for feita em um período menor, de dois anos, a diferença em relação ao S&P 500 é mínima, indicando que seu modelo enfrenta desafios atualmente.

 




 Ninguém sabe o que acontecerá no futuro – nem nós, nem ele. Sua decisão de venda ocorreu antes da eleição presidencial, o que para ele tem importância relativa. Ele poderia ter mantido suas posições principais em Apple e Bank of America e deixado o mercado elevar ainda mais suas cotações, o que de fato ocorreu. Mas suponho que os preços no momento da venda atingiram seu parâmetro de liquidação.

O que pode ocorrer nos próximos meses? Existem três cenários: a) a bolsa continua subindo – neste caso, as ações da Berkshire perderão para o S&P 500; b) a bolsa cai, permitindo que ele compre ações que considerar adequadas (desde que a queda seja substantiva); c) a bolsa oscila entre uma alta ou queda de 10% – neste caso, será um sofrimento, mas a diferença de performance entre ele e o índice será pequena.

Posso afirmar com certeza que os mercados não seguem apenas em linha reta; há quedas, como indica a Teoria de Elliot Wave, que sigo. Contudo, há uma questão crucial: em que nível de P/L essas oscilações ocorrerão e quais empresas predominarão no futuro?

Tudo na vida (ou quase tudo) torna-se obsoleto. Mudanças são necessárias para a sobrevivência de qualquer negócio. A grande dúvida que fica: será que o modelo de Buffett tornou-se obsoleto, o que resultaria em retornos mais próximos da renda fixa, caso mantenha a postura atual? Ninguém sabe, mas sabemos que gênios também falham.

Amanhã será publicado o índice de inflação americano (CPI). A expectativa é de uma elevação mínima. Percebo que o mercado teme qualquer diminuta alta em relação aos níveis anteriores; o fantasma dos anos 70, que comentei diversas vezes, permanece. A previsão para amanhã é de uma pequena alta, algo que em situações normais passaria despercebido. Vamos ver a reação.

Hoje, acrescento comentários sobre o dólar. No post "", fiz as seguintes observações: “O dólar quase alcançou o objetivo traçado, com a máxima em R$ 5,7849, e está recuando hoje de manhã. Parece que a onda 4 vermelha está em curso. Se for o caso, pode-se esperar um recuo para R$ 5,60 (queda de 3,4%) a R$ 5,44 (queda de 6,1%) a partir dos níveis atuais, conforme destacado no retângulo”.

 



Uma retração inicial de 4% ocorreu na semana passada com o entusiasmo em relação aos cortes prometidos pelo governo, mas até agora nada foi concretizado. Para aumentar a certeza em minha contagem, anotei os níveis relevantes: acima de R$ 5,82, a onda 5 azul pode se estender um pouco mais; abaixo de R$ 5,63, a chance de meu cenário se concretizar aumenta.




Não deixo de enfatizar que, segundo meu modelo, a onda de maior grau, vermelha, é uma diagonal, muito difícil de navegar, exigindo entradas oportunísticas em momentos de risco-retorno compensador.

Quanto ao S&P 500, fiz os seguintes comentários no post "rezando literalmente": “O recuo da semana passada colocou a estratégia em xeque, pois foi maior que o esperado. Ela deve ser completamente eliminada? Não, apenas se recuar abaixo de 5.653”.




Sempre que ocorre uma máxima, a contagem precisa ser revista; quando essa máxima é histórica, surgem novas possibilidades. Esse novo espaço pode ser ocupado com mais altas, que podem ser pequenas, médias ou grandes, dependendo da análise dos pontos anteriores. Nessas situações, é preciso ter muito cuidado para não se embriagar pelo sucesso e assumir a opção mais altista.

Vou adotar a contagem menos altista, embora ela não se enquadre exatamente “by the books”. Nesta contagem, houve uma extensão da onda (v) verde, que deveria finalizar entre 6.001 – já pode ter finalizado / 6.076 / 6.157 / 6.198, no máximo.

 



O SP500 fechou a 5.984, com queda de 0,29%; o USDBRL a R$ 5,7545, sem variação; o EURUSD a € 1,0624, com queda de 0,26%; e o ouro a U$ 2.600, com queda de 0,76%.

Fique ligado!

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