Esqueceram de mim #bitcoin #S&P 500

Há momentos no mercado em que o investidor acorda e descobre que ficou sozinho em casa — exatamente como no filme em que o garoto é esquecido pela família e precisa improvisar para se defender. A diferença é que, no mercado, os “invasores” não são ladrões atrapalhados: são ondas de liquidez, manias especulativas e narrativas que desaparecem de um dia para o outro. E foi esse enredo que vimos se desenrolar no universo das criptomoedas nos últimos dias.

Quem acompanha o Mosca sabe da minha postura cética — não por preconceito, mas por constatação: desde o início, o preço do bitcoin depende de uma reposição infinita de novos compradores. Regulamentação, ETFs, promessas políticas… tudo isso ajuda, mas não resolve o ponto central. Não existe valor intrínseco. Quando a narrativa esfria, sobra apenas o silêncio — o mesmo silêncio do garoto do filme, percebendo que ninguém voltaria para buscá-lo tão cedo.

Nos últimos dias, a chamada “devastação cripto” tomou conta das manchetes. O bitcoin apagou todo o ganho do ano em um movimento seco, típico de mercados sem colchão de liquidez. Foi um mergulho brusco o suficiente para reabrir uma minitemporada de urso, fazendo o investidor reviver cenas de outras quedas violentas.

A derrocada ficou ainda mais evidente quando analistas apontaram que mais de US$ 600 bilhões evaporaram em poucas semanas — um colapso que “humilhou até os mais fiéis”. Quem já viveu crises muito mais profundas, como eu vivi na mesa de operações, não se surpreende. Já vi ativos mais sólidos derreterem com gatilhos menores. O curioso é observar gente experiente insistindo no mantra de que “o bitcoin sempre volta”. A fé, nesse caso, substitui a análise.

É nessa hora que entra a MicroStrategy, talvez o símbolo máximo dessa fé incondicional. A empresa deixou de ser uma companhia de software para virar um veículo de alavancagem emocional — um grande depósito da convicção de um único homem. Michael Saylor assumiu o papel de “último comprador”, aquele que aparece quando ninguém mais quer carregar o piano. E, na minha vida profissional, quando o comprador mais agressivo também é o mais alavancado, isso nunca é heroísmo: é sinal de que a música está prestes a parar.

                                                        Será confiável essas informações da MicroStrategy?

Enquanto investidores comuns fugiam, a MicroStrategy e seus seguidores tentavam reforçar o discurso de “oportunidade histórica”. Uma compra de US$ 800 milhões foi feita exatamente no olho do furacão. No ambiente de mesa onde trabalhei, movimentos assim quase sempre têm o mesmo propósito: defender preço, criar a impressão de força onde existe fragilidade.

Mas o mercado não compra encenação. Analistas apontaram que operadores profissionais estavam apostando em quedas ainda mais profundas, mirando US$ 80 mil — não como alta, mas como queda livre. “O medo tomou conta”, dizia o noticiário.

E a verdade é uma só: se o bitcoin entrar em um ciclo mais longo de baixa, a MicroStrategy fica vulnerável. Dívida elevada, colateral baseado num ativo volátil e um evangelista pressionado pelo próprio discurso formam um coquetel explosivo. No filme Esqueceram de mim, o garoto se salva pela astúcia. A MicroStrategy, ao contrário, parece trancada dentro da casa junto com o ladrão.

O que mais me chamou atenção, porém, foi a análise sobre a chamada “Bolha MAGA das Criptomoedas”, uma metáfora que expõe a conexão entre especulação e retórica identitária. Como sempre ocorre em bolhas, a crença substitui o fundamento, a emoção substitui o raciocínio.

E a correção não ficou restrita ao bitcoin: contagiou bolsas, derrubou setores de tecnologia e expôs o quanto parte do humor global estava ancorada em um ativo que, por definição, não deveria ter tamanho poder.

A leitura do Mosca

Do ponto de vista do Mosca — e aqui falo diretamente ao leitor — este episódio reforça algo que repito há anos: mercados que dependem de narrativa acabam presos a ela. Quando a narrativa evapora, sobra a realidade. E a realidade, nesta fase, é dura:

- não há fluxo institucional para sustentar preços esticados;
- não há fundamentos econômicos sólidos que expliquem as cotações;
- há excesso de alavancagem transformando qualquer correção em avalanche.

Na minha vida profissional, já vi de tudo: bolhas em emergentes, crises cambiais, euforia irracional com tecnologia. Vi fundos gigantes ruírem por acreditarem que podiam ser maiores que o mercado. Vi clientes brilhantes perderem fortunas porque acreditaram no “dessa vez é diferente”. Por isso o Mosca insiste: não existe ativo imune à matemática.

E, da mesma forma que no filme, as criptomoedas só são lembradas quando o prejuízo aparece. Entraram compradores que nem sabiam bem o motivo —achavam “jovial” dizer num call que compraram bitcoin para “proteger caixa”. Hoje, muitos desses precisarão explicar o que farão sem o caixa que protegeram.

Quanto ao mercado mais obscuro, aquele que usa cripto para ocultar recursos, encontrou nas stablecoins um caminho mais conveniente. Afinal, quem vive à margem não quer especular com dinheiro — já arrisca demais no próprio negócio. Sobram os especuladores tradicionais, que compram usando o argumento da diversificação, mas no fundo só querem dar um belisco.

Na minha visão, não só não entraram novos compradores — saíram os velhos. E, se eu pudesse dar um conselho a Michael Saylor, seria direto: encontre uma nova narrativa, e rápido.

 

Análise Técnica

No post “ bitcoin-sem-argumentos” fiz os seguintes comentários sobre o bitcoin: “ considero que foi completada a onda 3 azul de maior grau. Dessa forma, espera-se uma correção entre 84,9 mil e 71,8 mil, sendo essa última faixa a mais provável”


Fiz uma análise de mais longo prazo e caso minhas assunções estejam corretas, se pode esperar uma queda entre 75,3 mil/ 61,5 mil / 47, 7 mil. Notem que o gráfico abaixo tem escala mensal o que significa que vai demorar muitos meses para terminar.


No post “decisão-meio-meio” fiz os seguintes comentários sobre o S&P 500: “Observando o gráfico agora, restam algumas dúvidas que permanecem abertas:

– A onda (4) vermelha terminou ou ainda está em andamento?
– A onda (4) vermelha terminou e teremos novas altas?
– Existirão quedas maiores à frente?”


No gráfico acima delimitei as áreas que buscavam responder as dúvidas apresentadas. Passada uma semana parece que a onda (4) vermelha não terminou e ainda existem novas quedas a frente. Abaixo aponto os possíveis níveis de reversão 6.640 / 6.556 (mais provável) / 6.474. quero enfatizar que pelo fechamento de ontem ainda existe possibilidade de a bolsa começar a alta a partir de agora, mas considero pouco provável que aconteça.


- Xiiii David, o negócio está feio por todo lado.

Nas bolsas não aconteceu nada de muito grave por enquanto, o problema maior é nos ativos sem valor intrínseco. Mas friso o seguinte, se por acaso o S&P 500 cair abaixo do último patamar citado acima, o tão esperado “Christmas rally” que sugere alta das bolsas no Natal e final de ano vai ter que ser postergado para o próximo ano.

O S&P 500 fechou a 6.617, com queda de 0,83%; o USDBRL a R$ 5,3217, com queda de 0,14%; o EURUSD a € 1,1579, com queda de 0,11%; e o ouro a U$ 4.067, com alta de 0,55%.

Fique ligado!

Comentários

  1. O golpe do Saylor é perfeito! Se for bem sucedido, no final, ao invés dele ter que vender os bitcoin para embolsar os lucros, ele só precisa vender as ações da Strategy (de fato ele nunca vai vender bitcoin!s). Se errado, ele joga todo o risco para os emprestadores do dinheiro.

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  2. a dúvida é se ele consegue vender suas ações sem que o mercado perceba ... o mais provável é ele quebrar e sair com parte de seu patrimônio, os acionistas que dividam os bitcoins entre si

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