Bitcoin sem argumentos #IBOVESPA #Bitcoin
Antes de entrar no tema central, vale registrar uma cena curiosa da entrevista recente de Fernando Haddad à Bloomberg. O ministro das Finanças, com a habitual confiança de quem acredita dominar a narrativa, afirmou que o Brasil “está ótimo” e que quem previa o dólar a R$ 7 “se deu mal”. Fiquei me perguntando se ele estaria falando comigo — afinal, venho alertando há tempos sobre o desequilíbrio fiscal e a principalmente a análise técnica. Que fique claro: o Mosca não tem lado político, tem lado financeiro. Meu compromisso é com o bolso e com os gráficos. O ministro, no entanto, parece confundir causalidade com desejo: disse que o déficit cresce por causa dos juros altos, quando, na verdade, são os gastos que pressionam as taxas. E ainda completou dizendo que não haveria problema se a inflação demorasse mais a cair, desde que os juros caíssem. Um raciocínio digno de um manual de política monetária imaginária.
Enquanto isso, os mercados andaram agitados. As ações de tecnologia devolveram
parte dos ganhos recentes, e as criptomoedas desabaram. A cada correção aparece
um “culpado” de plantão, e dessa vez o personagem do dia foi Michael Burry, o
mesmo que apostou contra o mercado imobiliário em 2008 e virou filme de
Hollywood. Segundo a Bloomberg e a Yardeni Research, Burry abriu posições
vendidas contra Nvidia e Palantir, duas estrelas da inteligência artificial com
múltiplos de preço sobre lucro acima de 80. A notícia caiu como gasolina em
brasa num mercado já nervoso: investidores realizaram lucros, principalmente em
papéis ligados à IA, que hoje representam 45% do valor de mercado do S&P
500 e 38% dos lucros corporativos.
Yardeni lembra que o momento atual não é uma bolha do tamanho dos anos 1990 — há mais lucros reais sustentando os preços —, mas há ar demais no balão. Ele pode não estourar, mas vai esvaziar aos poucos. O que se viu nos últimos dias foi justamente isso: uma lufada de realidade entrando em um mercado embalado por expectativas quase messiânicas em torno da IA. E Burry, mesmo que não acerte novamente o “grande colapso”, serviu como catalisador do medo.
A Palantir, por exemplo, divulgou receita recorde e aumento de projeções, mas suas ações caíram logo depois. O que explica esse paradoxo é o excesso de fé: quando o mercado exige perfeição e ela não vem, qualquer deslize vira pretexto para fuga. Já a Nvidia, depois de multiplicar seu valor de mercado em poucos anos, entrou na fase em que os investidores começam a duvidar de tudo — inclusive dos lucros que ela mesma gera. É o ponto em que o otimismo encontra o teto da realidade.
Mas o episódio mais emblemático não foi no mercado de ações — foi no das criptomoedas. Segundo a Bloomberg, grandes investidores (“baleias”) despejaram cerca de US$ 45 bilhões em Bitcoin, derrubando a cotação. Outros relatórios mostram que os ETFs de cripto enfrentam agora seu “ponto de dor” na faixa dos US$ 89.600, o nível médio de entrada dos fundos de varejo. Em outras palavras, os pequenos investidores estão encurralados: vender é assumir prejuízo, manter é acreditar no milagre.
Diante disso, volto ao título deste post: o Bitcoin ficou sem argumentos. Todas as promessas que o sustentaram foram desmontadas pelo tempo. Não é moeda — nenhum país o adota como meio de troca de forma significativa. Não é reserva de valor — sua volatilidade o torna inabitável para quem busca estabilidade. Não é proteção contra inflação — os títulos americanos de 10 anos rendem 4% ao ano, enquanto o Bitcoin caiu mais de 30% desde o pico. Não é tecnologia — o blockchain continua sendo uma solução à procura de um problema. E, principalmente, não é escassez — porque o que é abundante em um mercado de especulação é a ilusão.
Já escrevi aqui que o Bitcoin caiu porque não devia ter subido. Ele foi inflado por uma narrativa pseudo-libertária que hoje serve mais como desculpa para marketing de corretoras do que como ideal econômico. O que restou foi uma espécie de seita digital: seus seguidores acreditam que estão desafiando o sistema, mas na prática o reforçam — porque dependem de bancos, exchanges e fundos que funcionam dentro da mesma estrutura que dizem combater.
A ironia é que, no exato momento em que o Bitcoin sangra, o ouro — o ativo que ele prometeu substituir — ultrapassou US$ 4.000 a onça, segundo a Yardeni, e deve consolidar-se nesse patamar até 2026. O ouro é velho, pesado e sem glamour tecnológico, mas continua cumprindo o papel de refúgio.
Enquanto isso, os mercados tradicionais seguem desafiando os profetas do apocalipse. A economia americana não entrou em recessão, o consumo continua firme e o dólar se mantém forte. Ou seja, a tese da “fuga para o Bitcoin” como proteção contra a decadência do Ocidente se desfez.
É curioso observar que o discurso cripto, que nasceu para contestar o poder das instituições, agora depende de sua validação. Hoje, o que move o preço do Bitcoin não é a adesão ideológica, mas o fluxo de ETFs regulados pela SEC. O suposto bastião da liberdade virou refém das mesmas regras de compliance que dizia desprezar.
No fim das contas, o que sustenta o mercado não é a fé, mas o lucro. Quando a fé desaparece, o preço revela a verdade — e ela costuma ser incômoda. A história se repete não porque os ciclos sejam idênticos, mas porque o ser humano insiste em acreditar que dessa vez será diferente. O Bitcoin é apenas o mais recente capítulo dessa velha ilusão: o sonho de enriquecer sem produzir nada.
Análise Técnica
Começando com o bitcoin, no post “especulação - disfarçada”, comentei: “O
bitcoin permaneceu algum tempo nas máximas e, se tudo der certo, deve atingir
os níveis anotados acima, confirmados mais ou menos pelo gráfico abaixo. Fiquem
atentos, pois ondas 5,5,5 podem ser mais curtas.”
Os níveis apontados no gráfico acima (considerando que essa postagem foi em 9 de julho) eram 131,7 mil / 167,4 mil, e a máxima atingida foi de 126,2 mil. Como já destaquei, ondas 5 podem, sim, ser menores — e foi exatamente o que ocorreu.
Agora, o que se pode projetar daqui em diante?
Na contagem atual, considero que foi completada a onda 3 azul de maior grau. Dessa forma, espera-se uma correção entre 84,9 mil e 71,8 mil, sendo essa última faixa a mais provável.
Mesmo com a precariedade do instrumento gráfico utilizado, os níveis projetados se mostraram bastante razoáveis.
No post “o-dilema-frente”, escrevi sobre o Ibovespa: “A bolsa brasileira acabou assumindo um novo rumo, o que se mostrou estar errado na minha análise. Não vou colocar a culpa no sistema novamente, mas que ele é ruim, não resta dúvida. O que pode ter acontecido é que a onda 5 azul vai terminar mais acima, em 149,6 mil ou 156,1 mil, conforme destaquei com os símbolos.”
A bolsa vem subindo diariamente, sem descanso. Essa configuração se assemelha mais a uma onda 3 do que a uma onda 5, o que coloca minha contagem em observação. Por ora, vou mantê-la.
Se estiver correta, ou a onda 5 azul já se encerrou e estamos próximos de uma correção, ou ainda há espaço até 155,8 mil.
O S&P 500 fechou a 6.796, com alta de 0,37%; o USDBRL a R$ 5,3593, com queda de 0,74%; o EURUSD a € 1,1488, sem alteração; e o ouro a U$ 3.983, com alta de 1,33%. Fique ligado!
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