A ilusão das previsões



Hoje começo a preparar as previsões do Mosca para 2019. Um dos temas que devem polarizar no próximo ano será a política monetária americana. O Fed tem projetado de forma sistemática sua intenção de elevar os juros a um nível de 3,5% a.a. Enquanto os juros estavam em um digito, isso não era uma preocupação, mas agora que está mais próximo (para dizer a verdade não tão próximo assim), agregado a preocupação de uma possível recessão, tem polarizado os economistas, e porque não, os membros do Fed.

Do ponto de vista da autoridade monetária, e segundo as informações do último Comitê, a alta de dezembro próximo está garantida, sendo assim, faltariam mais três. Já alguns economistas projetam mais quatro altas, enquanto o mercado trabalha com uma probabilidade de 70% de mais uma.

Talvez para nós brasileiros esse preciosismo parece exagerado, não parece fazer muita diferença entre +/- 0,25%. Mas nesse caso, não é bem assim, pois como os dados econômicos são bastante robustos, um deslize pode ser suficiente para que a inflação se acelere mais que o desejado.

Observando os argumentos dos dois lados, consigo aceitar os motivos de cada um, o que indica que o cenário é bastante incerto no futuro próximo. Desta forma, se alguém pudesse antever qual será a taxa de juros no final de 2019, eu poderia traçar um possível cenário econômico compatível. Como isso não é possível, vamos observar “quem dá menos”, se o mercado, o Fed ou os economistas.

Um artigo publicado na Bloomberg, por Baryy Ritholtz, faz um relato das previsões feitas para 2018. Tirem suas próprias conclusões.

Esta é a época do ano para cálculos anuais e previsões de estrategistas e analistas, ilustrando pouco mais do que eles sabem. Ao agradar seus empregadores, mostram que seus poderes de prognóstico são inexistentes. E, no entanto, cheios de bravata e confiança, explicam que ações comprar, quando a recessão vai aparecer, o que o Federal Reserve vai fazer, e quando o mercado está indo para o vinagre.

Estas previsões são, na maior parte, exercícios de futilidade.

Mas primeiro, um lembrete: o problema com as previsões vai além de sua mera falta de precisão. A crítica é com as falhas cognitivas e filosóficas subjacentes que estão associadas a toda a indústria de previsão: a falta de humildade, a suposição de um conjunto de habilidades claramente não em evidência e, o mais danoso de todos, uma falha em reconhecer a aleatoriedade do mundo em geral.

Mais insidiosas são as previsões destinadas a separar os otários de seus dólares.

Então, para lembrá-lo por que você deveria estar ignorando as previsões de 2019, vamos considerar algumas das previsões mais notórias de 2018:

Bitcoin: O espectro de previsões correu do sublime para o criminoso negligente, para o totalmente insano. Ficou tão ruim que um site foi criado para rastrear todas as profecias do bitcoin.


A previsão de 2018 da Fundstrat para o bitcoin em US $ 25.000, foi reduzida no mês passado para US $ 15.000. (A criptomoeda recentemente é negociada a cerca de US $ 3.650). Por mais idiota que pareça, ela foi modesta em comparação com o resto. Michael Novogratz previu que “US $ 40.000 eram possíveis até o final de 2018. ” Kay Van-Petersen, do Saxo Bank, previu que o Bitcoin subiria para US $ 50.000 a US $ 100.000 até o final deste ano. John McAfee, o excêntrico empreendedor de tecnologia, previu um Bitcoin à US $ 1 milhão até 2020. Analisando a criptografia na Internet, Tim Draper dobra a McAfee, chegando a US $ 2 milhões.

Todos estes são notáveis ​​não apenas por estarem errados, mas por sua absoluta imprudência.

Ouro: Antes de todos os céticos com o dólar migrarem para o bitcoin, o metal precioso era onde se fazia as previsões que falhavam. Peter Schiff tem previsto que o ouro atingiria US $ 5.000 a onça desde pelo menos 2010, com base em sua previsão de um enorme aumento na inflação. Nenhum dos dois ocorreu.

Jim Rickards, ex-conselheiro da Long-Term Capital Management, chegou a uma meta de preço de US $ 10.000. Para ser justo, ele disse que a mesma coisa aconteceria até o final de 2017. Jim Rogers superou todo mundo, declarando em agosto que “o ouro poderia se transformar numa bolha”. Não aconteceu. Mas o sol ainda tem mais 5 bilhões de anos de hidrogênio, então talvez um dia isso possa acontecer.
Mercados: As previsões de ações normalmente vêm de estrategistas de empresas maiores, cobrindo uma faixa modesta de um pouco otimistas para um pouco pessimistas. O risco da sua carreira tende a manter os estrategistas de ações mais circunspectos do que o público de bitcoin e ouro. Normalmente, essas previsões são para retornos contínuos ou crescimento sólido, ou suavidade e correções modestas - mas isso é antes de chegarmos aos valores discrepantes.

Há muitos para serem notados, mas talvez o ofensor mais notável seja o ex-diretor do Orçamento da Casa Branca de Reagan, David Stockman. Ele tem sido mais do que eternamente pessimista - ele previu um crash no mercado em 2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019. O mesmo, deveria observar a regra de ouro: se você fizer o mesmo call por muitos anos, mesmo que eventualmente se torne realidade, você não tem nenhum crédito por isso.

Mesmo os guardiões oficiais da economia - bancos centrais - não fazem melhor.

O conselho quando você vê uma previsão: Marque-a em um calendário ou lembrete (eu uso o aplicativo Followupthen.com), em seguida, voltar a ele um ano depois. Isso permite que você revise o quão bom ou ruim foi. É um ótimo exercício de responsabilidade.

Na maioria das vezes, os resultados revelam por que gastar muito tempo prestando atenção - ou fazendo - previsões é, na maioria das vezes, um esforço desperdiçado.

Esse analista está totalmente alinhado com o Mosca!

Vou começar fazendo a previsão do SP500 para 2019. O leitor poderia achar que sou hipócrita, pois depois de tudo o que foi dito acima, como o Mosca se mete a fazer previsões? A diferença que essas previsões contemplam cenários divergentes, não é a mesma coisa.

Não é nada fácil esse call! Vamos inicialmente relembrar o que o Mosca previu para 2018. No post trump-surfando-onda-da-bolsa-de-valores fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” como se pode verificar, nesse trimestre, o SP500 abandou aquela reta e segue agora em direção aos 2.900. Essa é a referência feita no ano anterior. No caso de a correção começar a partir de 2.900, poderá durar anos, e deveria levar o índice para 2.500 ou 2.200” ...


O ano de 2019 poderá conter dois extremos opostos. Meu cenário mais provável seria uma queda que está em curso até o nível de 2.500, para em seguida voltar a subir onde atingiria 3.150 ( 26%), ou preferencialmente 3.550 ( 42%). Altas nada desprezíveis.

Para se aproveitar desse movimento, sugeri um trade de venda caso o SP500 atinja 2.840. Porém, o grande ganho viria da alta que se sucederia.


O cenário menos provável seria se, a queda de curto prazo ao invés de parar no nível de 2.500 continue. Nesse caso, a queda inicial é projetada para 2.200 ( 20%) ou ainda 2.000 ( 32%), todos os dois calculados foram feitos usando o nível atual de 2.650.


- David, 7 anos se passaram e você ainda continua com o modelo que, se não subir então vai cair!
Puxa você ainda não se acostumou, já estava na hora. Vai ser assim para sempre, isso é análise técnica: com abertura sem viés!

- Está bem. Nesse segundo caso, e se não parar no nível de 2.000?
Nesse caso, estamos a caminho de uma hipercorreção na melhor das hipóteses, ou na pior um crash. Não gostaria de entrar neste tema agora pois só confundiria a cabeça dos leitores, e não é meu cenário básico. Entretanto, vou ter “dicas” se essa opção se tornar mais factível conforme o mercado evolui.

O que posso sim dizer é que, a trajetória de alta do SP500 está madura, nessas situações é obrigatório ficar aberto para uma eventual reversão. O que não se deve é, ou ficar fora do mercado ( por receio), ou pior, entrar na venda. Parece que essa hora ainda não chegou.

O SP500 fechou em 2.636, sem variação; o USDBRL a R$ 3,9039, com queda de 0,35%; o EURUSD a 1,1319, com queda de 0,30%; e o ouro a U$ 1.242, com queda de 0,16%.

Fique ligado!

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