Sinal de perigo



Depois de ontem, com alta generalizada das bolsas mundiais, algumas nuvens surgiram no horizonte, muito mais cedo que as comentadas no post de ontem. Alguns analistas estão sugerindo para seus clientes que aproveitem a alta para reduzir suas posições em bolsa, outros mencionam dúvidas específicas do acordo como, o fato que Trump deixou seus conselheiros lutando na segunda-feira para explicar um acordo comercial que ele alegou ter contratado com a China, para reduzir as tarifas sobre as exportações de carros dos EUA. Este acordo não existe no papel e não foi confirmado por Pequim, lançando alguma sombra sobre o otimismo. A queda do mercado hoje, expressa o ceticismo desse acordo.

Mas aconteceu um movimento no mercado de títulos que podem causar uma certa apreensão, a diferença de juros entre os títulos de 10 anos e 2 anos. Já escrevi algumas vezes sobre esse assunto e recomendo a leitura de dois posts: veja-bem,  profundezas-em-finanças. Quando a curva fica invertida, ou seja, os juros dos títulos mais longos são inferiores aos mais curtos, a história mostra que uma recessão se sucede.

Nesta segunda feira os juros dos títulos de 10 anos caíram abaixo de 3%. Essa queda reduziu a diferença entre os rendimentos do Tesouro de 10 anos e de dois anos para cerca de 0,16 ponto percentual - a diferença mais pequena desde 2007 e um sinal de que muitos investidores estão precificando um crescimento mais lento à frente. Quando a medição é entre os títulos de 5 anos contra o de 2 anos, essa diferença já se encontra em 0% (hoje ficou levemente negativa), conforme gráfico a seguir.


Também mencionei que, a posição de contratos apostando que os juros iriam subir, se encontrava em recorde histórico. Na ilustração abaixo, se nota uma redução drástica dessas posições, sendo esse o motivo principal do recuo das taxas de juros.


As mensagens contraditórias dos mercados na segunda-feira levaram alguns observadores a dizer que provavelmente não haverá muito alívio como a volatilidade que abalou os investidores neste outono e levou alguns a questionar a durabilidade do mercado altista de nove anos de ações.

Com ou sem uma resolução comercial, o crescimento global e doméstico parece estar diminuindo. E embora as ações tenham subido na semana passada, baseada por apostas de que o Federal Reserve aumentaria as taxas mais lentamente do que o inicialmente esperado, muitos dizem que a trajetória do banco central permanece incerta. Essa redução pode ser observada nos mercados futuros que implicam agora um aumento pelo Fed de 0,30% para o próximo ano.


É muito difícil contestar a história e dizer que desta vez será diferente, caso a curva inverta. O mais provável é que uma recessão se aproxima. Assim, esse movimento é preocupante e deve servir como um possível alerta.

A Gavekal não enxerga com tanta preocupação. Seus argumentos são:

Uma curva flat não sinaliza uma recessão. Faz sentido que a curva de juros se inverta antes de uma recessão. Em algum ponto, em todos os ciclos, os investidores começam a pensar que o escopo para mais aumentos de juros no futuro é limitado. Esta conclusão leva ao achatamento da curva de juros (como vemos nos EUA hoje). Até agora, não há problema. No entanto, em algum momento depois disso - talvez meses ou mesmo anos depois - os investidores em títulos começam a ver sinais de uma recessão no horizonte. Nesse ponto, o mercado começa a precificar, mas cortes de juros. Quando isso acontece, a curva de juros inverte, com rendimentos em notas do tesouro (se 2, 5 ou 10 anos de duração) todos caindo abaixo das taxas curtas. Hoje, com a curva ainda está positivamente inclinada, mesmo que modestamente, não deveria preocupar.

Enquanto a inversão da curva de juros tem sido confiável indicador de recessões, não causa recessões. Recessões são causadas por taxas de juros muito altas. Mais especificamente, quando a taxa de juro real se aproxima, ou fica acima, da taxa esperada de retorno do capital, neste caso, o crescimento sofre.

São argumentos válidos, mas não eliminam o sinal de perigo que o mercado de bonds está dando. Se essa diferença não ir para o território negativo, tudo bem, tudo isso pode ser positivo, mas se isso acontecer, é bom ficar atento.

No post o-conservadorismo-foi-vitorioso, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” Esse seria o cenário mais construtivo para a nossa posição. Como anotei acima, uma queda abaixo de 82 mil, coloca o Ibovespa rumo a busca dos 70 mil pontos novamente, antes que uma nova tentativa de alta aconteça” ... ...” Venho insistentemente apontando que a bolsa não apresenta uma configuração confiável, com movimentos diferentes dos que se poderia esperar, sem, contudo, violar nenhum princípio. Pode ser que, daqui algum tempo, tudo isso estará desapercebido não passando de “anomalias” aceitáveis de mercado, ou não, um aviso que minha leitura não estava correta” ...


Depois de ter atingido uma máxima ontem em 91.242, o fechamento não foi tão promissor, colocando a bolsa abaixo da máxima anterior. Essa pequena penetração pode ter sido um bom candidato para um false break. Numa análise mais detalhada, fiquei reticente, devo ou não subir o stoploss? A razão disse que sim, pois se a bolsa que quer subir, não deveria tocar no nível de 87 mil, enquanto a “torcida”, poderia me influenciar a deixar o stoploss nos 82 mil. Vocês já imaginam qual foi minha decisão. Subir o stoploss!


Para quem conhece a teoria de Elliot Wave vai entender a razão de eu ter ajustado o stoploss. Para quem não entende, e confia no Mosca, basta usar esse nível. A chance de uma retração se eleva bastante caso esse nível seja rompido. Desta forma, prefiro não ter posições, caso aconteça.

Posso dizer que me incomoda o consenso entre os bancos, com orientações a seus clientes, para a compra agressiva da bolsa brasileira. Prognósticos de 110 mil pontos é um objetivo quase comum. De outro lado, os estrangeiros estão muito mais céticos, pois, além do cenário incerto nos mercados internacionais, tem dúvidas se esse novo governo conseguirá implantar tudo que pretende.

Não que o Mosca não acredita nesses níveis, consigo projetar resultados até superiores a esse, porem a bolsa tem que fazer sua lição de casa, e passar dos 90 mil pontos, com folga. Como eu havia antevisto, não seria, e não está sendo fácil!

O SP500 fechou a 2.700, com queda de 3,21%; o USDBRL a R$ 3,8513, com alta de 0,27%; o EURUSD a 1,1336, com queda de 0,13%; e o ouro a U$ 1.238, com alta de 0,59%.

Fique ligado!

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