Fora 100% do CDI



Me recordo que há alguns anos era comum negociar com o gerente de banco a remuneração das aplicações indexadas ao CDI. Longas discussões entre o cliente e a mesa de operações do banco para ganhar um pontinho a mais, conseguindo em alguns casos, a almejada taxa de 100% do CDI. Ao “arrancar” essa taxa do banco, tinha-se a sensação de ter fechado o melhor negócio da vida, era inclusive tema de conversas entre amigos.

Quando as taxas de juros eram de 2 dígitos, até fazia sentido essa discussão, 5% do CDI representava uma taxa adicional de 1,00% a.a., muito superior à taxa de administração cobrada pelos fundos desta categoria. Lógico que existiam, e até deva existir, fundos que cobravam mais que isso, porém eram destinados ao varejo.

Para fins ilustrativos, o gráfico a seguir mostra a série histórica da taxa SELIC que guarda correlação com a taxa DI. Como se pode notar, quando começou a ser anunciada pelo banco central, oriunda da implantação do regime de metas inflacionarias em 1999, o nível era enorme, superior a 20% a.a.




É verdade que, a inflação se posicionou acima da meta na maior parte do tempo, em alguns momentos marginalmente, em outros mais expressivos, onde se destaca o início do governo Lula e mais recentemente, a grande barbeiragem feita por Dilma em 2014. Porém, desde de 2017, tem ficado abaixo da meta estabelecida.



Eu consigo entender que os investidores ficaram acostumados a comparar seus retornos tendo como base o CDI, não que isso não deva ser feito, mas a forma de expressar tem que se mudar. Ainda hoje noto comparações do tipo: ... “meu fundo multimercado foi muito bem, rendeu 120% CDI” ... ou ...”Comprei um debenture incentivada (sem cobrança de imposto de renda) que rende 103% CDI, equivalente a um outro investimento que rende 120% bruto do CDI” ... Esses dois investimentos não me impressionam, o primeiro por estar implícito um risco de mercado que pode afetar a rentabilidade de maneira superior a esse adicional, e o segundo por estar implícito um risco de crédito, onde visiono opções mais vantajosas.

Montei uma tabela a seguir que ajuda a entender meu ponto de vista. Vou me limitar a comparar o segundo caso, situação mais comum entre as opções de investimento. Na tabela a seguir estão calculadas as taxas liquidas considerando uma alíquota de imposto de renda de 15% - para prazos superiores a 2 anos. Na tabela CDI simulo alguns cenários usando a taxa SELIC como parâmetro, enquanto nas debentures incentivadas, cujo rendimento está atrelado ao IPCA, um juro de 4,5% a.a., nível que se encontra atualmente em papéis de prazo mais longo – acima de 7 anos.


Destaquei os níveis que considero mais prováveis para a Taxa SELIC e a previsão do IPCA para 2019. A diferença de retorno entre ambas é muito expressiva - superior a 50% entre a segunda e a primeira. Tudo isso, considerando que a taxa SELIC não caia dos níveis atuais, o que o Mosca considera possível.

Mas baseado em que, o Mosca tem uma visão tão dispare em relação ao mercado, que acredita que a taxa SELIC terá que subir? Na inflação! A resposta parece ser lacônica, porém não é esse meu intuito, e sim reforçar o que já venho postado há um bom tempo, que o Brasil não tem mais inflação.

Ontem foi publicado o IPCA -15 do mês de janeiro cuja inflação ficou em 0,30%, abaixo da expectativa do mercado, e a mais baixa variação para esse mês na série histórica. Na tabela a seguir produzida pela Rosenberg, gosto sempre de destacar dois itens, que considero importante: preços livres e Difusão. O primeiro, de forma consistente, tem ficado abaixo da meta, enquanto o segundo, comportadamente ao redor de 50%.


A projeção do IPCA para 2019 elaborada pela Rosenberg é de 4% a.a., nível esse que prevalece nos últimos dois anos. A elevação da inflação, que se pode notar no gráfico abaixo no período de 2014 e 2015, é consequência das besteiras que a Dilma fez anteriormente, acreditando que “tabelar” preços administrados era tranquilo.


- David, e como eu deveria comparar meus investimentos?
Estava de férias? Hahahaha ... continue usando os mesmos parâmetros, porém meça de forma nominal ao invés de percentual. Assim, se a taxa SELIC é 6,5%, e você obteve um retorno de 8,0%, essa aplicação rendeu 1,5% acima. Se quiser comparar com a inflação supondo que seja de 4% a.a., o seu juro real é de 4%.

Agora não se engane mais com investimentos que rendem 102%, 105% ou mesmo 110% do CDI, é muito pouco, provavelmente não compensa o risco. A partir de agora peça para te informar da forma acima. Fora 100% do CDI! Hahaha ...

No post o-ouro-sai-da-reserva, fiz os seguintes comentários: ...” No cenário “quem dá menos”, o ouro estaria a caminho da alta, de forma mais direta, ou até, levemente tortuosa, conforme traçado a seguir. Independente do caso, em algum momento o nível de U$ 1.400 (↑ 12%) seria rompido. Um primeiro objetivo aconteceria ao redor de U$ 1.500 (↑ 20%) /U$ 1.550 (↑ 25%)” .... Este é o cenário que parece mais provável no momento.


O metal resolveu quebrar meu galho e subir U$ 40 dólares nessas últimas 5 semanas. Nada espetacular, mas para quem estava jogado às traças foi bom. Porém, mesmo assim, não mudo nada do que venho postando sobre o ouro. Está indefinido!



Enquanto o nível de U$ 1.240 não for violado, acredito que o ouro possa testar a área apontada no retângulo U$ 1.350 – U$ 1.370. Agora, se vai ultrapassar ou não, é a questão. Muito pouco a fazer nesse mercado, por enquanto!

O SP500 fechou a 2.642, com alta de 0,14%; o USDBRL a R$ 3,7716, com alta de 0,19%; o EURUSD a 1,1306, com queda de 0,65%; e o ouro a U$ 1.280, com queda de 0,12%.

Fique ligado!

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