Dólar ou real? #usdbrl

 


Eu comecei acompanhar os mercados internacionais me envolvendo nos negócios de câmbio quando trabalhava no Deutsche Bank, seguindo o economista-chefe de moedas, David Rosenberg, que valeu muito. Seus argumentos me convenceram que o dólar deveria se desvalorizar e embarquei firme nessa tese. Naquele momento, o euro valia 0,83 e o ouro U$ 250. Olhado de hoje parecia obvio que isso acontecesse, mas é sempre assim, ex-post tudo é mais fácil.

Para quem tem receio de tomar uma posição vendida a descoberto, o mercado de câmbio é ideal. Não que seja mais fácil ou seguro, pois sempre se compra uma moeda para vender outra. É por essa razão que escolhi o título de hoje.

Na semana passada, publiquei minha previsão para o euro o-dolar-vai-virar-po. Nela, minha estimativa é de queda para a moeda americana em relação à moeda única. A expectativa é a mesma para as outras moedas do G7. Mas será que vale o mesmo raciocínio em relação ao real, ou a situação política, negativa, vai prevalecer?

Se fizermos uma repartição das moedas emergentes entre as asiáticas e latinas, o movimento foi totalmente inverso este ano. No início do ano, quando os mercados reagiram de forma expressiva buscando refúgio, ambas caíram, embora as últimas de forma mais profunda. Logo após, as asiáticas iniciaram um movimento de recuperação enquanto as latinas continuaram caindo. Mesmo assim, como se nota no gráfico a seguir, esse distanciamento entre elas já vinha acontecendo nos últimos anos. Com a expectativa de queda do dólar existe um bom caminho de recuperação.


Outro fator que vem pesando sobre o real é a abrupta aceleração dos índices de inflação nos últimos meses. O BCB adotou uma política monetária frouxa em virtude da queda econômica causada pelo coronavírus, adotando um juro nominal de 2%, que resulta, dada a inflação projetada, numa taxa real negativa de pelo menos 2% a.a. Os mercados futuros começaram a projetar elevações da taxa SELIC a níveis muito superiores, acreditando que a alta da inflação não foi um evento esporádico de descompasso na cadeia produtiva. Alguns economistas, porém, não partilham dessa visão e projetam uma inflação mais comportada e ainda bem abaixo da meta estabelecida pelo BCB


Outro fator de conflito é a grande polêmica entre a equipe econômica e o Presidente Bolsonaro. Quando da eleição, uma boa parte do eleitorado optou por este candidato como se fosse uma moeda — pois na verdade, a intenção não fosse tanto “adquirir” Bolsonaro como principalmente “desfazer-se” de Haddad. Acontece que, como explicamos acima, ficaram “comprados” na moeda Bolsonaro — e o que estamos vivenciando de sua gestão não deveria surpreender face o seu retrospecto. O problema é que, ultimamente, o populismo tomou conta do presidente, ao notar que sua popularidade cresceu com o auxílio dos R$ 600.

O pacote fiscal adotado pelo governo brasileiro foi um dos maiores entre todos os países. Não sei se erraram na conta ou se o objetivo foi sustentar a economia a qualquer custo. Acontece que essa atitude criou um mal-estar entre os estrangeiros, que preveem para o curto prazo um déficit fiscal na casa dos 100% do PIB — um número mágico que indica descontrole!

O mercado aguarda uma atitude do governo mostrando intenção de controlar a dívida através da implementação de cortes nos gastos públicos. Como mostra a figura a seguir, espera-se que o montante disponibilizado ao estímulo econômico seja revertido em 2021.


- David, está voltando as origens voltando a ser fundamentalista?

Como a história que você conta, sobre os dois sócios cariocas, vai logo dizendo se é para comprar ou para vender?

Tem razão, vamos aos gráficos!

Uma visão de mais longo prazo aponta tendência de alta do dólar entre R$ 6,18 e R$ 6,50. Em seguida, um movimento de queda mais profundo, com um primeiro objetivo entre R$4,90 e R$4,10.


Mas existem alguns cenários alternativos: o primeiro, a ser mais bem explicado a seguir, ocorreria caso o movimento de queda em curso ultrapassasse o nível de R$ 4,37 — neste caso, a alta esperada descrita anteriormente não vai ocorrer.

Uma outra possibilidade seria a continuidade de alta acima dos níveis estabelecidos – R$ 6,50. Essa seria uma situação mais delicada onde o movimento direcional estaria em andamento. Como esse não é o cenário básico, deixo o assunto mais à frente caso ocorra.

No post quando-sair-da-festa, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “O dólar tentou por 2 vezes romper a barreira psicológica de R$ 5,00 sem sucesso. Isso não significa que os objetivos estão comprometidos, mas que ainda tem um tempo de maturação” ... ...” Em continuidade com os movimentos, parece que o objetivo ao redor de R$ 4,66/4,67 se consolida como o mais provável” ...


 O real sofreu uma queda ontem oriunda pelo temor do vírus modificado encontrado na Grã Bretanha, que, diga-se de passagem, vem agindo de forma negligente. Boris Johnson, companheiro de Trump na ideologia e no corte de cabelo, acabou não atuando de forma mais enérgica quando a segunda onda deflagrou em seu país. Agora, além das complicações de administrar o surto em andamento, não consegue chegar a um acordo de saída do bloco com a União Europeia.

A previsão de queda do dólar permanece a mesma, ao redor de R$ 4,66, podendo se estender ao nível de R$ 4,53. Abaixo desse nível, e principalmente debaixo de R$ 4,37, vou ficar desconfiado de que a queda mais profunda está em curso.


Nossa posição será mantida e o stop loss estabelecido ao nível de R$ 5,35, pois acima desse, a última alta do dólar poderá já estar em andamento.

- David, pelo amor de Deus, para cima para baixo e sei lá mais o que! Só faltou para o lado...

Imagino que você esteja meio confuso com minhas colocações, mas todas essas possibilidades estão abertas. Não sei se notou, mas estamos numa “macro” correção e, como você já deveria saber, correções são menos previsíveis. Te aconselho a continuar seguindo o Mosca.

O SP500 fechou a 3.687, com queda de 0,21%; o USDBRL a R$ 5,1561, com alta de 0,67%; o EURUSD a 1,2164, com queda de 0,65%; e o ouro a U$ 1.860, com queda de 0,84%.

Fique ligado!

Comentários