Senta que o leão é manso #usdbrl

 


Os leitores do Mosca sabem que minha atenção é redobrada no quesito inflação. Tanto é verdade que passou a ser o tema deste ano. Tenho visto ultimamente vários indicadores que apontam para inflações mais elevadas em praticamente todos os países.

Os principais motivos até gora são as altas expressivas em diversas commodities e um certo descompasso na indústria, ocasionado pela interrupção abruta que ocorreu em 2020, quando diversos países literalmente pararam suas produções.

Os bancos centrais têm veementemente negado qualquer intenção de alterar suas políticas expansionistas, pois ainda estão muito receosos com os efeitos da Covid-19. Quando perguntados sobre essas evidências de alta na inflação, dizem que são temporárias e não veem nenhum problema se a inflação ficar acima da meta de 2% a.a., no caso do EUA. Usando uma frase coloquial, “senta que o leão é manso”.

O Mosca é agnóstico nesse sentido — por isso usou o “In” ou “De” como tema para 2021.

Em artigo publicado na Bloomberg, Richard Cookson escreve que o Fed, por ter criado a maior bolha financeira da história que forçará uma reformulação fundamental da política monetária.

Os problemas enfrentados pelo novo presidente dos EUA Joe Biden seriam formidáveis para qualquer um. Há o cisma político que não será curado por apelos otimistas pela unidade. Há também o desafio hercúleo de impedir o Covid de matar muitas pessoas mais. No topo de sua lista, e mais cedo ou mais tarde, ele terá de lidar com as consequências da maior bolha financeira da história dos EUA. Por que a maior? Porque engloba não apenas ações, mas praticamente todos os outros ativos financeiros também. E você pode agradecer ao Banco Central por ela.

As consequências de um Fed que incentivou os investidores a comprar ativos horrivelmente super valorizados serão tão difíceis quanto sair do padrão-ouro no início dos anos 1970 ou combater a inflação descontrolada no início da década de 1980. Exigirá um ato de vontade política e uma reformulação completa da política monetária. É improvável que Janet Yellen, uma ex-presidente do Fed, ajude na função de Secretária do Tesouro. Ela pertence a uma grande linhagem de chefes do banco central, desde Alan Greenspan, que reagiram a cada crise da última década cortando as taxas de juros e expandindo maciçamente o balanço do Fed.

Por atender todas as vezes ao chamado de socorro da maneira como fez, o Federal Reserve criou as condições para a bolha atual — e para a próxima crise.

Esse jogo acabou. Poucos notaram na semana passada, em meio aos abundantes comentários sobre a festança com a GameStop, a publicação de dados mostrando uma alta na medida preferida do Fed para a inflação ao consumidor. Nos últimos 12 meses, as o núcleo das despesas de consumo pessoal subiu 1,5%, acima do esperado 1,3%. Admito que isso ainda é baixo, mas é provável que vá muito mais longe. O Fed está monetizando grande parte do déficit do governo; a quantidade monstruosa de dinheiro que ele criou está começando a sair do sistema bancário; há severas restrições de fornecimento tanto na fabricação quanto nos serviços; e a Ásia está pegando fogo.

Os gráficos abaixo são reveladores. Sean Wolpert, do Rubicon Fund Management, comparou as pressões de preços nas duas pesquisas do ISM (manufatura e não manufatura) com a CPI subsequente. Mesmo sem uma recuperação acentuada da demanda, a inflação já está subindo, e essas duas pesquisas são uma boa previsão de onde ela irá a seguir.


O rápido aumento da inflação eventualmente forçará o Fed a controlar sua política monetária frouxa. Mas ele vai se mover, como admite, muito lentamente; na minha interpretação, lentamente demais. É absolutamente certo que os mercados vão se agitar muito mais cedo que o Banco Central.

Banqueiros centrais em todo o mundo parecem ser as únicas pessoas que não enxergam sinais de excesso selvagem onde quer que olhem. A maioria dos investimentos certamente perderá dinheiro nos próximos anos. Sobre as medidas que importam — você sabe, as que realmente preveem retornos — o mercado de ações dos EUA está tão caro quanto em 1929, 2001 e a época que resultou na Crise Financeira Global.

Todas as bolhas do mercado de ações acompanham de perto o rápido crescimento do crédito, e esta última não é exceção. A dívida das empresas não-financeiras, em relação ao produto interno bruto, tem disparado nos últimos anos. Parte da razão no ano passado, é claro, foi a rápida queda do PIB, embora o Fed também tenha desempenhado sua parte comprando bilhões de dólares em dívida corporativa.

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Pelo menos, quando os mercados de ações caíam no passado, os investidores podiam investir seu dinheiro em títulos públicos pelos juros oferecidos. No início da década de 1990, só para lembrar, os juros dos títulos japoneses de 10 anos tocaram brevemente nos 8%. Já não existem coisas exóticas como taxas de juros na Europa ou no Japão, graças aos seus respectivos bancos centrais. Os juros de 1,1% dos títulos americanos de 10 anos também parecem ridiculamente baixos.

É provavelmente uma ideia ainda pior que investidores comprem dívida corporativa, especialmente emissões de menor qualidade de crédito. Os spreads da dívida de empresas em relação aos títulos públicos também são extremamente baixos, o que significa que os rendimentos da dívida corporativa estão em mínimas históricas. Os juros dos créditos classificados como CCC ou menos — o pior nível antes da inadimplência — nunca estiveram menores.

Se os investidores estão prestes a enfrentar uma crise, a Casa Branca e o Fed também estão. Não seria preciso muito movimento do Fed para perturbar os mercados, daí seu desejo de se mover com cuidado. Por outro lado, não fazer nada também é problemático do ponto de vista político. A inflação é regressiva: machuca muito mais as pessoas pobres do que as ricas. Isso não parece um modelo de justiça social.

Pessoas razoáveis podem discordar, mas acho que descobriremos nos próximos três meses o tamanho do buraco cavado pelo Fed para si, para os mercados e para os Estados Unidos.

Acho esses argumentos bastante plausíveis. Alguns gráficos têm me deixado bastante intrigado, como os níveis de inflação embutida nos mercados de títulos. Qualquer um deles está subindo sem parar, atingindo o nível mais elevado dos últimos anos e acima do objetivo do Fed - 2,4% a.a., conforme o gráfico a seguir.



O que me preocupa mais é a trajetória ininterrupta que vem ocorrendo. Por outro lado, na minha avaliação, o mercado de trabalho não se encontra bem. Como havia mencionado, não estão sendo criados novos postos de trabalho, até porque ainda existem setores que não se recuperaram; e estruturalmente, menos mão de obra será necessária. A projeção a seguir, elaborada pela Oxford Economics, indica que somente entre o 2º e o 3º trimestres de 2022 atingiremos o mesmo nível de emprego pré-covid, o que ainda é bem melhor que na Grande Recessão de 2008/2009.



Por tudo isso, devemos ficar muito atentos nos próximos meses.

No post http://aceo-acerto-por-sorte, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “Mas o dólar se afastou da marca inferior de R$ 5,19 e se encontra muito próximo do nível de R$ 5,52, nos deixando em dúvida se estaria pronto para dar continuidade ao movimento de queda” ... ... “Embora o dólar esteja dentro do permitido no cenário proposto, subiu bem acima do que seria esperado. Isso deixa essa opção mais “fraca” e vulnerável a outra configuração” ...



Na última semana, o dólar negociou dentro de uma faixa mais restrita, não indicando para onde esperar seu próximo movimento de curto prazo.

No gráfico a seguir, indiquei com uma flecha vermelha, uma reta suporte que está dando sustentação à moeda americana, fazendo que cada pequena retração aconteça em níveis superiores à anterior. Essa característica em análise técnica indica que deva subir e ultrapassar o nível apontado com R$ 5,5131.



Se essa situação ocorrer, poderíamos esperar uma alta compreendida entre R$ 5,62/R$ 5,72, abrindo a possibilidade da formação de um triangulo. Se for esse o caso, pode esquecer o dólar a R$ 4,80 — na melhor das hipóteses, chegaria ao redor de R$ 5,10.

Todas essas colocações, porém, são hipóteses que não estão ainda baseadas em evidências técnicas — foram apontadas apenas para que os leitores saibam as inúmeras possibilidades abertas.

O real sempre apresentou uma boa correlação com os preços de commodities, ou seja, o real subia sempre que estas se valorizavam no mercado internacional. Essa correlação foi desfeita recentemente. Na opinião do Mosca, os principais motivos foram: a elevação da dívida pública por conta da pandemia e, mais importante, a falta de comprometimento por parte do governo em buscar equacionar essa alta.



O banco central terá um ano difícil em termos de rolagem da dívida pública, tanto por conta do elevado volume de vencimento neste ano como pela indefinição por parte do governo sobre o controle dos gastos públicos.



O SP500 fechou a 3.915, com alta de 0,74%; o USDBRL a R$ 5,3590, com queda de 0,21%; o EURUSD a 1,2048, sem variação; e o ouro a U$ 1.830, com alta de 1,01%.

Fique ligado!

Comentários

  1. A bolha está tão grande que a Tesla está captando dinheiro no mercado de ações para investir em Bitcoin. o FED está em uma armadilha, criada por ele mesmo. No Brasil, o descolamento do valor da taxa de juros já está tão grande que está causando um certo nível de agitação social e dificultando a própria política econômica do governo (visto a dificuldade que a Petrobras com sua política de preços e dificuldade em rolar a dívida pública). Com o orçamento das famílias apertado pela inflação (alimentos, transporte, moradia e etc), o crescimento via consumo fica a cada dia menor. O que mais me incomoda, tanto no Brasil quanto nos EUA, é que vale a pena sacrificar a economia real apenas para manter o mercado de ações em níveis recordes.

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    1. Sobre a Tesla escrevi no post da ultima terça-feira, também acho um absurdo total. Mais alguns argumentos do período que estamos vivendo no post de ontem - não é auto propaganda! Hahaha ..., mas ambos versa sobre os pontos que comentou. Em relação ao trade off que coloca sacrificar x ações em alta, acredito que esse ultimo é subproduto da politica adotada, não parecendo ter relação necessariamente com o sacrifício.

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