Ninguém é bom em tudo #nasdaq100
Para
os leitores do Mosca essa frase não é novidade quando citei o momento de
minha vida em que cheguei a essa conclusão. Mas isso não tem importância agora,
pois a frase é auto explicativa.
Há
alguns meses fiz duras críticas ao CEO da MicroStrategy, quando em seu
relatório anual ele expôs a compra de bitcoin com o caixa da empresa loucura-loucura-loucura. Ontem surgiu um peso pesado que fez o mesmo
movimento: Elon Musk, considerado um gênio por ter começado do zero uma indústria
automobilística de carros movidos a bateria, a Tesla.
Me
recordo que ele quase quebrou há poucos anos. Os analistas começaram a ficar
céticos em relação a saúde financeira da companhia que, por gerar prejuízos
recorrentes, estava com sua sobrevivência comprometida por falta de caixa. Musk
conseguiu segurar no gogó, mas seu futuro ficou por um triz.
Um
artigo publicado de Liam Denning na Bloomberg coloca em questão sua decisão de
compra.
O relatório anual da Tesla Inc. revelou que a montadora de carros elétricos atualizou sua política de investimento no mês passado e, em seguida, comprou US$ 1,5 bilhão em bitcoin. Essa notícia adicionou cerca de US $ 5.000, ou 14%, para a cotação da criptomoeda segunda-feira de manhã, levando-a a sua máxima histórica. As ações da Tesla subiram cerca de 3%, adicionando cerca de US$ 11 bilhões em capitalização de mercado, porque — bem, provavelmente por causa disso. Sei lá.
Olhando por cima, parece uma vitória essa mudança na política de investimento, que só por ser divulgada adiciona centenas de milhões de dólares à carteira de uma empresa 1 — e bilhões a seu valor de mercado — em uma espécie de círculo virtuoso virtual. Normalmente, ninguém liga para essas coisas nos relatórios financeiros de uma empresa.
No
entanto, é difícil evitar a sensação de que é simplesmente desaconselhável misturar
as bolas desse jeito. É como se a Terra tivesse deslocado seu eixo em um
bilionésimo de grau ou o mercado de capitais estivesse perto de um portal para
outras dimensões.
A
explicação da Tesla para a mudança é relativamente direta: "Para
diversificar e maximizar ainda mais os retornos do dinheiro não necessário para
manter a liquidez operacional adequada." Até aí, tudo bem. Você deve ter
notado que dinheiro não rende muito hoje em dia. (O preço atual das ações da
Tesla pode refletir essa questão até certo ponto.) Além disso, as empresas
diversificam rotineiramente suas participações em caixa, especialmente se
operam em vários países.
Bitcoin
é tudo menos rotina, no entanto. Novo, apátrida, volátil, sujeito ao cibercrime
e à potencial regulação governamental, só vai ser moeda se você forçar muito
sua visão e entender direitinho como usar de verdade. É irrelevante o
comentário da Tesla de que espera começar a aceitar o bitcoin como pagamento brevemente;
para fazer isso, não é necessário acumulá-lo antecipadamente.
Por
outro lado, a menção casual de que a Tesla vai aceitar bitcoin como pagamento é
isca digital irresistível, o que ajuda a aumentar o valor dessa aposta de US $
1,5 bilhão. E é uma aposta. A Tesla está especulando com US$ 1,5 bilhão dos
cerca de US$ 19 bilhões que tinha no balanço no final de dezembro, dos quais
US$ 12 bilhões foram levantados com a venda de mais capital durante a frenética
alta do ano passado. Se alguém ainda precisava confirmar que a Tesla fez várias
ofertas ao mercado em 2020 simplesmente porque podia, é difícil pensar em anúncio
mais barulhento que esse.
Essa decisão levanta as questões habituais sobre a governança de Tesla. Além de sua natureza especulativa, o fato de que o CEO Elon Musk tem usado o Twitter de forma intensiva para falar de criptomoedas deveria fazer soar o alarme na sala da diretoria da Tesla, se é que existe. Não necessariamente por alguma irregularidade, mas dá para dizer que Musk já se deu mal por usar o Twitter. Dar às autoridades qualquer razão para investigar a Tesla é desaconselhável. Por exemplo, imagine como um regulador poderia interpretar este tweet, de um mês antes da aprovação da política de investimento “atualizada”:
A gente talvez pudesse argumentar que ter uma moeda "baboseira quase igual" a moeda fiduciária ajudaria a diversificar a exposição da Tesla no eixo das baboseiras, levando a uma média ponderada mais baixa do índice de baboseira ou algo assim. Não sou um diretor financeiro.
Uma maneira pela qual a incursão na criptomoeda certamente ajudou na segunda-feira foi tirar os holofotes de algumas notícias menos atraentes. A Tesla foi recentemente convocada por reguladores chineses para responder a reclamações sobre questões de qualidade e segurança com seus carros. A China é crucial para a Tesla porque, como o relatório financeiro também revelou, a receita trimestral da empresa no mercado doméstico foi ainda menor do que dois anos antes:
Tendo testemunhado a Gamestonk, certamente todos sabíamos que estava chegando essa intersecção da empresa de carros mais especulativa do mundo com a "moeda" mais especulativa do mundo. A Tesla vende ações porque pode e depois usa parte dos lucros para comprar bitcoin porque pode. É simples — e desconcertante — assim.
Fui
procurar a impressão dos resultados da Tesla. A publicação foi para baixo ao
relatar um Lucro/ação = $ 0,24 quando o esperado era de $ 0,63, uma surpresa de
-62%. Se calcular o P/L da companhia, é superior a 800.
Tenho
a impressão de que endeusaram tanto Musk que o sucesso subiu a sua cabeça, e
ele acredita que virou Midas, pois passa boa parte do seu tempo publicando no
Twitter.
Antes
de tecer meus comentários finais, não é compreensível que um CEO, que estava à
beira da falência e sentiu no cangote o que é não ter caixa, decida colocar boa
parte do dinheiro que captou numa jogada arriscada em bitcoin. Mesmo assumindo
a volatilidade da moeda digital, ele argumentou que não existem alternativas
atrativas para o excedente de caixa e que pretende aceitar o bitcoin na venda
de seus produtos. Me desculpe, Sr. Musk, mas os dois motivos não justificam
esse movimento!
Quando
estava pensando no assunto desse post, pensei se a raiva — talvez a inveja —
não seria o motivo da minha indignação. Afinal, se o preço do bitcoin está em
alta, mais e mais pessoas estão achando motivos para alocar seus recursos. Sem
dúvida, se usasse a análise técnica para acompanhar esse ativo, teria sugerido a
compra.
Já
passei por diversas bolhas na minha carreira profissional e sei que remar
contra, quando uma avalanche vem em sentido contrário, é a melhor forma de
perder dinheiro por conta da sua opinião — isso eu não faço, não! Por outro
lado, como vou entrar num ativo em que eu não acredito?
Um
argumento forte para a compra do bitcoin seria se todas as moedas estivessem no
caminho de virar pó — nesse momento, entenderia sua alocação. Mas não acho que
seja esse o motivo, pelo menos por enquanto, pois o ouro mal se mexe do lugar.
Gostaria
de repetir que ativos que não produzem nada e não têm nenhuma utilidade
produtiva precisam subir de preço sempre para que sejam bem sucedidos. Agora,
se o dólar estivesse virando pó, esse argumento não valeria, pois se o bitcoin
fosse a moeda corrente de troca, não se mediria sua oscilação sobre o dólar —
ao contrário, o bitcoin passaria a ser o benchmark. Será que iremos caminhar
nesse sentido? Se é o caso, estamos a milhares de quilômetros de distância.
Sobre
estar sentindo raiva ou inveja, seria ingenuidade dizer que não, mas não
acredito que seja o fator dominante (talvez um pouquinho). Deixo o julgamento aos
leitores...
No post all-in-na-vacina, fiz os seguintes comentários sobre o Nasdaq100: ...” O gráfico acima aponta o que espero do nasdaq100 caso a correção maior se concretize. Incialmente, tudo indica que o índice deve atingir novas máximas nos próximos dias, com objetivo entre 14.400 e 14.600” ... ...” Para um julgamento mais neutro, o ideal é ficar de lado, observando sem posição” ...
Embora tenha colocado os objetivos acima para o eventual término da alta, existem níveis inferiores, revelados no gráfico a seguir, que precisam ser ultrapassados, e podem indicar o final.
Fico
tranquilo de adotar qualquer estratégia daqui em diante, pois enfatizei ad
nauseam que a bolsa pode continuar a alta sem que haja a correção que estou
imaginando.
Por outro lado, essa indecisão deveria ser resolvida nos próximos dias.
O objetivo intermediário citado acima se encontra entre 13.800/13.950, aproximadamente 1% dos preços atuais.
Não
tenho muito mais a acrescentar, só restando aguardar — esses momentos são
difíceis, principalmente se a bolsa continuar subindo.
O gráfico a seguir não deixa a menor dúvida de como houve canalização de recursos para o mercado acionário neste início de ano. Notem também que os valores mais expressivos foram para os setores: energia, industrial e temático.
Como o assunto que circula nos noticiários é sobre uma possível bolha nas bolsas, resolvi publicar essa ilustração comparando 1929 e segmentando o SP500 nos setores: rádio, fonógrafos e instrumentos musicais – Humm achei meio suspeito; a bolha do Nasdaq no ano 2000, e as FANG+ - não sei o que é o plus!
O SP500 fechou a 3.911, com queda de 0,11%; o USDBRL a R$ 5,3781, com alta de 0,23%; o € 1,2119, com alta de 0,59%; e o ouro a U$ 1.836, com alta de 0,36%.
Fique
ligado!
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