Bom demais para ser real #SP500
Na
semana passada morreu Bernie Madoff. O empresário deu no mercado financeiro o
maior golpe de que tenho conhecimento. Em 2008, quando foi descoberto, o volume
total de fundos que administrava era de U$ 50 bilhões, dos quais os detentores
só conseguiram recuperar uma fração depois de alguns anos.
Vale
a pena contar uma passagem da minha vida em relação a esse investimento.
O executivo de um grande banco me apresentou numa visita a oportunidade de investimento nesse fundo. Comentou que era um hedge fund com uma longa história de retornos incríveis, uma média de 10% a.a. com baixa volatilidade e quase nenhum mês negativo.
Eu passei os olhos nessa tabela e fiquei intrigado com a pequena quantidade de retornos negativos além dos positivos estarem contidos dentro de um intervalo pequeno de variação. Perguntei a esse executivo como Madoff conseguia obter esses retornos. Recebi a seguinte resposta “Ele tem uma estratégia incrível que não revela, ‘secreta’. O princípio é a compra e venda de opções durante o dia, zerando no final com lucro, não correndo risco”.
Imediatamente
me veio à memória a imagem da mesa de operações da Merrill Lynch quando fui
visitá-los. Um espaço enorme com tantos operadores lado a lado que eu não
conseguia enxergar seu fim. Era um espaço de pé direto espantoso. No andar de
cima, através de vidros, se via a dimensão da sala de operações. Pelo que
tinham me informado, havia 1.000 operadores no local. Aí pensei: como é que esse
cara, com meia dúzia de funcionários, tinha uma estratégia secreta, sem que nenhum
daqueles operadores soubesse?
Tudo
me soou estranho, mas como poderia eu duvidar, se o banco que estava oferecendo
o fundo havia supostamente feito uma diligência na empresa de Madoff? Afinal,
se eu tinha essa dúvida, esse banco deveria ter também.
Eu
respondi ao executivo “não sei o que esse cara faz para ganhar dinheiro sem
risco, mas minha experiência diz que não faz sentido”. Decidi ficar fora.
Quando
estourou o caso, notei que a grande maioria dos meus amigos tinha investido
nesse fundo, com exceção de três, que como eu, eram gestores de hedge funds.
Valeu alguma coisa o conhecimento desse negócio, mas também entendo que era
muito sedutor para quem não é do ramo.
Graças a um estudo acadêmico aprofundado da Fairfield
Sentry, um dos veículos de investimento de Madoff, foi possível extrair seus
retornos de investimento mensais de 1990 a 2008, com 215 meses de dados de
retorno. Os números mostram um histórico (falso) notável. De acordo com os
dados, o pior mês de Madoff de todos os 215 foi um retorno de -0,64%, com 198
meses relatando um retorno positivo para os investidores.
A partir desses dados, um investimento de $ 100 com
Bernie no fundo Fairfield Sentry em 1990 teria se transformado em quase $ 600
em 2008 — um bom retorno, que teria sido aparentemente alcançado com uma
quantidade incrível de consistência e muito pouca volatilidade.
Em retrospetiva, é fácil dizer que os retornos de Madoff pareciam "bons demais para ser verdade" — mais de 90% dos meses no verde parece um pouco absurdo — mas na época não era fácil de detectar. Madoff fez afirmações ousadas sobre sua hoje infame estratégia de conversão split-strike, que consiste em "uma posição de capital comprada mais uma opção de venda longa e uma opção de compra vendida". Se isso o confunde, não se preocupe, e isso explica por que tantas pessoas — incluindo celebridades e alguns investidores sofisticados — não tinham ideia de que estavam investindo no maior esquema Ponzi do mundo.
Por que estou postando esse evento? Para alertar os leitores que quando vocês se depararem com algum investimento, ou mesmo estratégias que se dizem infalíveis, desconfiem. Posso afirmar com 100% de certeza que absolutamente tudo tem risco e nada é infalível.
Em relação às mudanças que ocorrem na economia, fiquei impressionado com a ilustração apontando a evolução do número de empregados da Amazon. Só no ano passado agregou 500 mil funcionários, um aumento de quase 40% de toda sua equipe. Se alguém tinha alguma dúvida da penetração dessa forma de venda, turbinada pela pandemia, esse resultado é inquestionável.
No post fed-1-x-0-mercado, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” O gráfico, numa janela menor que a publicada acima, aponta para objetivos mais detalhados, como se pode notar e destacado nos retângulos em verde. Um deles se aproxima a 4.150, onde depois de atingido deveria dar lugar a uma pequena correção, momento interessante para entrar no mercado, para quem está fora” ...
A máxima ultrapassou levemente o nível apontado acima se situando em 4.190 na última sexta-feira. Como acredito que os leitores já sabem, esses níveis sempre estão sujeitos a ajustes. Hoje o mercado está tendo uma correção mais acentuada e talvez o ponto de entrada citado acima esteja ocorrendo.
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Opa, David! Vamos entrar?
Desculpe te frustrar, mas precisamos de mais algumas evidências. Preste atenção no gráfico a seguir.
A linha azul tem uma sequência que, se confirmado, deveria levar o índice a 4.290. Agora note a linha amarela: depois de atingido esse nível de 4.290, uma correção deve ter curso, levando o SP500 de volta ao nível de 4.100, para em seguida atingir 4.380.
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David, entendi, vou programar meu robô para fazer todos esses trades.
Você
pode fazer, mas não é o que o Mosca vai sugerir.
O
leitor pode se perguntar por que não sugiro agora o trade de compra. A resposta
é que não sei se minha hipótese acima está correta, ou na verdade, ao invés da
correção que ocorre agora é: a (iv) azul ou (IV) amarela — isso faz toda a diferença.
Como
ficarei sabendo? Com o desenrolar do mercado no fechamento. Caso feche abaixo
da mínima atingida durante o dia 4.118, aumenta a chance de estarmos na
correção em amarelo, e contrariamente, se houver uma boa recuperação vou
observar o que ocorre amanhã.
Então
meu amigo, vai continuar com sua ordem pelo robô?
Amanhã
não haverá publicação do Mosca.
O
SP500 fechou a 4.134, com queda de 0,68%; o USDBRL a R$ 5,5687, com alta de 0,41%;
o EURUSD a € 1,2034, sem variação; e o ouro a U$ 1.777,
com alta de 0,47%.
Fique
ligado!
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