O que pode dar errado? #usdbrl

 


Quando você resolve fazer algum investimento e chega à conclusão de que nada pode dar errado, fique certo de que passou do campo racional para o emocional. Sempre pode acontecer alguma coisa que pode dar errado. Isso parece óbvio, mas quando se está envolvido, a desculpa “este caso é diferente” passa a ser um conforto inexistente.

Na semana passada, ocorreu um estouro nos mercados internacionais, quando a Family Office Archegos perdeu quase a totalidade de seus U$ 10 bilhões. Como ocorreu isso? Um artigo de Tyler Durden (pseudônimo de Daniel Ivandjiiski) no site Zero Hedge descreve em detalhes a operação que levou a Archegos à bancarrota. Selecionei alguns trechos.

A Archegos estava acumulando posições em suas diversas participações: ao contrário da maioria dos outros investidores, o fundo não chegava realmente a possuir as ações subjacentes ou mesmo opções sobre as ações, mas na verdade operava comprando swaps de ações conhecidos como Total Return Swaps (TRS) ou Certificados de Diferença (CFD). Semelhante ao Credit Default Swaps, os TRS expunham a Archegos à margem de variação diária sobre as ações subjacentes, e como tal, enquanto o fundo se beneficiaria economicamente das altas no preço das ações subjacentes (e, inversamente, seria atingido por quedas de preços e forçado a colocar mais dinheiro como margem a qualquer dia que o preço das ações caísse) ele nunca seria o verdadeiro proprietário registrado das ações subjacentes. Em vez disso, as ações “compradas” da Archegos eram "propriedade" de seu corretor principal, a mesma entidade que permitiu que ela comprasse TRS em primeiro lugar. Como tal, a Archegos também nunca precisou cumprir nenhum requisito de divulgação, o que permitiu que ela operasse de modo inteiramente oculto mesmo estando em total conformidade com os requisitos de divulgação da SEC — já que não tinha posição na ação subjacente, a Archegos não tinha que divulgá-la. Simples e brilhante.

Esta parte é importante porque foi a falta de uma documentação de propriedade rastreável até a Archegos que permitiu toda essa vigarice...e a chocante alavancagem que o fundo aplicou em sua carteira. Além disso, ciente de que quase não havia como verificar suas verdadeiras posições em alguma ação, a Archegos passou a ter posições quase idênticas não em uma ou duas corretoras, mas em oito (o número final ainda está sendo determinado, estão aparecendo várias outras).

Como relata a Bloomberg, enquanto grande parte do mundo investidor assistia estupefata e calada à disparada de uma empresa de "mídia antiga" — a ViacomCBS — que subiu quase 300% em semanas, tornou-se a ação com melhor desempenho no S&P500 e levou os investidores a especular que as ações estavam desvalorizadas, ou eram iguais à GameStop, ou um alvo de aquisição, um punhado de executivos das principais empresas de Wall Street estavam cientes do que estava por trás do movimento: era a Archegos Capital Management, que estava construindo uma posição maciça na ViacomCBS e um punhado de outras ações... usando a alavancagem generosamente oferecida pelos próprios bancos que tecnicamente possuíam essas ações!



Infelizmente para a Archegos (e suas corretoras), o impulso de alta terminou com um estrondo no dia 22/03, quando a Viacom anunciou, com seu papel negociado a US $ 100, uma venda de US$ 3 bilhões de ações que derrubou os preços, seguindo-se uma rodada de rebaixamentos pelos analistas, que jogaram as ações mais para baixo. Foi nesse ponto que a Archegos passou a encarar dezenas de bilhões em chamadas de margem de suas corretoras para seus TRS.



O Morgan Stanley e a Goldman começaram prontamente a despejar no mercado blocos de ações da Viacom de propriedade indireta da Archegos. Ao fazê-lo, iniciaram uma liquidação de chamadas de margem, na qual aqueles que vendessem primeiro — como Goldman, Morgan Stanley e Deutsche — evitariam perdas maciças, enquanto aqueles que esperassem, como Nomura e Credit Suisse... não o fariam. Na verdade, já sabíamos que o Nomura, o maior banco de investimento do Japão, disse que suas perdas poderiam atingir US$ 2 bilhões, enquanto as perdas no Credit Suisse, de acordo com o FT, poderiam chegar a US$ 4 bilhões.

O mercado brasileiro passou por uma situação muito semelhante em 1989. Naji Nahas, conhecido megainvestidor, resolveu fazer uma aposta milionária na Companhia Vale do Rio Doce. Para montar sua posição, atuou no mercado à vista e na compra de contratos futuros de índice Ibovespa. Como não tinha dinheiro suficiente para seus desejos, ia aos bancos e oferecia taxas polpudas para que estes financiassem suas compras. Essas operações ficaram conhecidas como “D0”, onde o banco pagava as compras nas bolsas e ficava com as ações em garantia — alguma semelhança com a Archegos? No final, só muda o nome dos contratos.

A festa acabou aqui quando o Presidente do Conselho da Bovespa pediu que os bancos encerrassem essas operações de crédito. Além de ter que liquidar compulsoriamente os contratos da Bovespa e BMF, com um esquema de limites diários de queda, a Bolsa do Rio de Janeiro não aguentou e quebrou.

Bill Hwang, dono da Archegos, que já tinha um histórico nada maravilhoso — foi condenado pela SEC a pagar U$ 44 milhões por inside trading em 2012, além de ser proibido de operar em Hong Kong por 4 anos —, conseguiu seduzir os bancos sempre da mesma forma, pagando juros polpudos.

Em ambos os casos, esses investidores “românticos” imaginam que o mercado está errado e que é uma questão de tempo para que perceba sua estupidez; dessa forma, resolvem alavancar suas fortunas com o intuito de multiplicar seu patrimônio rapidamente. Nas suas cabeças, se demorar um certo tempo não tem problema, pois tanto no caso Naji como agora no caso Hwang, os juros estavam baixos — naquela época, a inflação era muito elevada no Brasil, terminando o ano de 1989 em 1.232%. Com elevada velocidade de aumento da inflação, os juros não acompanhavam a alta de preços e originavam uma taxa real negativa.

Acho que o Naji poderia exigir direitos autorais nesse esquema. Certamente, pelo volume total de U$ 110 bilhões a que chegou o total da ações detidas por Hwang, um mero 1% de comissão já garantiria uma boa nota — mas agora acredito que seja tarde demais, pouco deve ter sobrado.

No momento inicial, quando tudo andava de acordo com o planejado em ambos os casos, o que poderia dar errado?

No post as-3-categorias, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” No gráfico acima, demarquei os objetivos da queda caso meu cenário explícito se concretize, incialmente R$ 5,27 e, caso não se sustente, R$ 5,12 (retângulo em azul). Para lembrar os leitores, trabalho com a alta do dólar, cujo objetivo visto de hoje se situa ao redor de R$ 6,85”...

Eu estava aguardando um melhor momento para entrar com um trade de venda e o mesmo aconteceu na última quarta-feira conforme relatei no post trabalhando-do-banheiro: ...” estou incluindo um trade de venda de dólar executado hoje na abertura a R$ 5,77 com stoploss a R$ 5,81” ...



Não teria muito a acrescentar, hoje o mercado está devolvendo parte da alta ocorrida na última quinta-feira antes do feriado. Para que nossa posição ganhe tração é importante que o dólar recue abaixo de R$ 5,60.



Acredito que os leitores estão acompanhando o expressivo aumento de juros nos mercados futuros brasileiro. Por exemplo, a seguir o gráfico do DI para 2028 aponta para uma taxa de 9,10% a.a. Somente para termos de comparação, o Di se encontra hoje ao redor de 2,75%.



Por questões estatísticas, a inflação em bases anuais para os próximos meses deverá ser bem elevada, porém não se pode esquecer que no ano passado nesses meses tivemos deflação. A seguir, veja a projeção da inflação elaborada pelo IBGE e Banco Central.



Uma boa parte da inflação vivida nos últimos meses é oriunda de principalmente 3 fatores: alta do dólar, alta do preço das commodities e descasamento da cadeia produtiva originada pela pandemia. Por outro lado, o nível de desemprego é ainda muito elevado, o que não justificaria um aperto monetário nesse momento. Mas o mercado pediu, e o BCB atendeu.

Quero chamar a atenção que existe um prêmio enorme nos títulos pré-fixados, que de certa forma já embutem um cenário de muitas elevações da taxa SELIC. Será que não vale uma aposta pequena?

O SP500 fechou 4077, com alta de 1,44%; o USDBRL a R$ 5,6744, com queda de 0,55%; o EURUSD a 1,1809, com alta de 0,40%; e o ouro a U$ 1.727, sem variação.

Fique ligado!

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