AS 3 categorias #usdbrl
Com exceção da complicada batalha entre os políticos e a equipe econômica sobre o orçamento nacional e o crescente abandono do Presidente Bolsonaro por parte dos investidores - como a entrevista de Luis Stuhlberger ao Estadão neste final de semana, pouca coisa aconteceu. No cenário internacional, agora que o enorme navio de contêineres que bloqueava o Canal de Suez há seis dias foi libertado e está se movendo para um ponto de ancoragem ao norte, abrindo o caminho para a hidrovia crítica e encerrando dias de atraso na oferta global, resta pouca coisa a ser destacado.
Voltamos
à preocupação principal do mercado — esta sim, polarizando opiniões. Uma
publicação de Mohamed El Erian na Bloomberg divide as opiniões dos economistas
sobre a inflação futura em três categorias: transitória, irritante e
preocupante.
Um
debate econômico que vem esquentando há algumas semanas nos mercados e no mundo
acadêmico fez uma aparição notável no Congresso na semana passada, quando
legisladores questionaram o presidente do Federal Reserve Jerome
Powell e a secretária do Tesouro Janet Yellen sobre a inflação. Isso é
compreensível, dado que as respostas sobre a escala, o escopo e a duração de um
possível aumento da inflação têm implicações que vão muito além do bem-estar
econômico e das fronteiras do país.
Economistas
dividem-se em três campos quando se trata de inflação mais alta, que não está
na tela do radar em nenhum sentido significativo há mais de uma década. O
primeiro campo, que parece incluir tanto Powell quanto Yellen, considera
qualquer aumento da inflação basicamente transitório, com poucas, repercussões importantes,
se houver. O segundo acha que poderia ser um fenômeno mais duradouro, cujas
consequências potencialmente mais amplas e arriscadas seriam, no entanto,
temporárias e reversíveis. O terceiro teme que uma inflação mais alta possa ser
um problema mais durável e profundo, com efeitos domésticos e internacionais
multifacetados.
Os
três campos concordam que, estatisticamente, os EUA viverão uma notável
retomada na taxa de inflação. Isso se deve aos "efeitos-base", comparando
com um número anormalmente baixo em um período anterior; neste caso
especificamente, as leituras que se seguiram ao bloqueio relacionado ao Covid
há um ano estavam particularmente reprimidas.
Se
ficarem apenas na anomalia estatística, as taxas de inflação mais altas devem
ter consequências mínimas no curto prazo e nenhuma ao longo do tempo. É aqui
que o primeiro campo perde o interesse no debate sobre a inflação; ele não a
considera nenhum desafio, nem para os planos fiscais do governo Biden, nem para
o prosseguimento das políticas ultra expansionistas do Fed.
Os
outros dois campos acham que os efeitos-base serão amplificados em breve pelo
que, na antiga literatura da inflação, era conhecido como inflação de demanda.
Aqui, um boom da demanda pública e privada supera a capacidade de resposta do
lado da oferta, pressionando os preços para cima. Já há sinais iniciais de
gargalos de oferta e custos de transporte mais altos, a maioria dos quais
apareceram antes do bloqueio da semana passada no Canal de Suez, que agora está
perturbando as cadeias de suprimentos de forma mais significativa e, mais uma
vez, destaca sua falta de resiliência.
A
combinação dos efeitos-base e da demanda provavelmente manteria por alguns
meses a taxa de inflação acima da meta do Federal Reserve de 2%, após anos de resultados
abaixo da meta. O terceiro campo acha que a perspectiva ou o surgimento de tal
resultado, por sua vez, alteraria as expectativas inflacionárias e
comportamentos relacionados, adicionando um elemento de "pressão de
custos" à dinâmica inflacionária. Isso seria apoiado por mudanças
estruturais nos campos de produção e trabalho, incluindo intensificação da
concentração corporativa, desglobalização, movimentação interrompida de pessoas
e mais desencontros de talentos.
Buscando
proteger seus lucros de custos de insumos mais altos e encorajadas pela menor
concorrência interna e externa, as empresas optariam por aumentos de preços
preventivos. Enquanto isso, os assalariados também procurariam se proteger,
lembrando a "resistência pelo salário real" de algumas décadas atrás.
O
cenário do terceiro campo, com a possibilidade de uma dinâmica de
autoalimentação que manteria a inflação alta e crescente, representaria riscos
maiores para o bem-estar econômico e social de longo prazo do país. O impulso
do governo Biden para remodelar a economia — um dos principais fatores na
transição, pela intervenção fiscal, do alívio para a recuperação — correria o
risco de ser adiado, senão abandonado. Isso aumentaria, sobre a sociedade
americana, a influência regressiva da inflação que, ao impor um fardo
desproporcional aos segmentos menos afortunados, pioraria uma já preocupante
combinação de desigualdade na renda, na riqueza e na oportunidade. E tudo isso
estaria acontecendo rumo às eleições de meio de mandato de 2022.
Mesmo
El Erian, conhecido por se posicionar sobre diversos assuntos, parece não optar
por nenhuma das categorias que usou nesse artigo. Me parece uma posição
prudente, dado o elevado grau de incerteza sobre essa variável econômica.
Como eu havia mencionado na última sexta-feira, os dados de inflação capturados pelo PCE, medida usada pelo Fed, classificam-na como transitória, e mesmo segmentada entre as principais categorias — serviços, bens duráveis e bens não duráveis — não gera maior preocupação.
O
Fed, porém, não se limita a acompanhar somente esse indicador. Um outro, que é
observado de perto denominado de Trimmed Mean PCE (*), calculado pelo
Fed de Dallas, mostra uma trajetória em surpreendente desaceleração recente.
(*) A taxa de inflação média aparada do PCE é calculada observando-se as
mudanças de preço para cada componente individual do PCE. As alterações de
preços individuais são organizadas em ordem crescente do preço que mais
diminuiu para o preço que mais aumentou. A partir desta lista de preços
organizada, uma determinada seção ou parte das observações mais extremas são "cortadas",
ou seja, eliminadas. Em seguida, a taxa de inflação é finalmente calculada como
uma média ponderada da lista de observação final aparada.
O método Dallas Trimmed Mean é sensível às variações de preços de curto prazo que afetam o núcleo da inflação. Isso o torna uma medida muito precisa para estimar ou rastrear as variações de preços de longo prazo que afetam o núcleo da inflação.
O Mosca também permanece de observador atento nesse assunto.
No post até-eu, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...” Por enquanto, o dólar vem se comportando de acordo com minha premissa, tendo terminado a primeira “ida” rumando agora para a “vinda”. Essa alta deveria culminar como apontado no gráfico a seguir entre R$ 5,71/R$ 5,78, que quando terminada deveria levar aos patamares citados acima” ...
Passados uma semana e o dólar se encontra na região superior do intervalo explicitado acima. Antes de propor qualquer trade, duas publicações chamaram minha atenção: a primeira mostra uma comparação do real vis-à-vis as outras moedas emergentes, sob duas óticas, uma em relação a média de 2019 e outra desde 1 novembro (não entendi a escolha dessa data pelo autor).
Em
relação à primeira, o real foi disparado a pior moeda.
A segunda é relativa ao investimento direto de estrangeiros no Brasil. O resultado de fevereiro foi de U$ 9,0 bilhões, muito acima da expectativa e um dos maiores dessa série histórica. No passado, quando ocorria uma situação semelhante, eu tendia a desmerecer os estrangeiros com pensamentos “esse pessoal não entende de Brasil, não sabem o que acontece por aqui”. Com esse viés, esperava que o fluxo teria uma forte reversão em breve, o que acabava não acontecendo na maioria das vezes.
É surpreendente esse resultado. As notícias aqui não estão nada animadoras, com a situação de caos no atendimento hospitalar acrescida às atitudes do presidente, bem como as recentes resoluções do STF. Mas as decisões dos estrangeiros visam o longo prazo. A situação cambial brasileira não mereceria um câmbio tão desvalorizado.
-
David, e as eleições em 2022, em quem você vai votar: Lula ou Bolsonaro? Não
seria esse o motivo?
Bem
provável essa preocupação está pressionando a moeda, mas até 2022 muita água
vai rolar, não acho que se possa traçar um quadro com tamanha chance de 90%,
como Stuhlberger colocou para o 2º turno.
Voltando
a análise técnica do dólar, o nível atual seria uma boa oportunidade para uma
posição vendida. Em situações como essa, existem 2 formas de atuar: na
primeira, vende-se quando chega o nível, operando contra a tendência; na
segunda, espera-se o primeiro sinal da reversão e aí sim coloca-se o trade.
Naturalmente, a segunda tem a vantagem de atuar com mais evidências, mas a desvantagem
de um nível provavelmente menor que a primeira.
Vejamos o gráfico atualizado.
No gráfico acima, demarquei os objetivos da queda caso meu cenário explícito se concretize, incialmente R$ 5,27 e, caso não se sustente, R$ 5,12 (retângulo em azul). Para lembrar os leitores, trabalho com a alta do dólar, cujo objetivo visto de hoje se situa ao redor de R$ 6,85.
Vou
optar pela segunda estratégia, a de aguardar um melhor momento. Embora as evidências
técnicas não apontem para uma alta do dólar a partir de agora, mas com a
premissa de novas altas no futuro, prefiro um caminho mais seguro. Acompanhem o
Mosca, pois este poderá surgir a qualquer momento.
O
SP500 fechou a 3.971, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,7644, com alta de 0,14%; o
EURUSD a € 1,1763, com queda de 0,25%; e o ouro a U$
1.711, com queda de 1,19%.
Fique ligado!
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