Contra o fluxo não tem argumento # juros de 10 anos
Num
determinado momento da minha vida profissional, eu trabalhei na Planibanc, que
era uma corretora de valores embora tivesse nome de banco. Essa empresa tinha
uma composição de pessoas físicas com 30% — um deles o ex-diretor do Banco Central,
Luis Carlos Mendonça de Barros — e
pessoas jurídicas de peso na época — Grupo Votorantim, Pão de Açúcar, Brasmotor
e Bardella.
Até
então, minha especialidade era renda fixa, e eu tinha pouco conhecimento de
bolsa de valores, onde aprendi muito com o diretor dessa área Emir Nicolau
Capez.
O
ambiente era ótimo, todos os diretores engenheiros, e cada um na sua
especialidade. Com a qualidade desses sócios, não havia problema com crédito,
bastava imaginar alguma operação interessante que conseguíamos tomar empréstimo
com taxas baixas.
Em
fevereiro de 1986, o governo lançou um programa de congelamento de preços e
baixou violentamente a taxa de juros — lógico que não iria dar certo, mas podia
durar um tempo. As operações de renda fixa ficaram sem graça, então me envolvi
na bolsa com operações de financiamento de índice Ibovespa, além do mundo das
opções. Meu companheiro de bolsa era uma pessoa com senso de humor apurado, o
ambiente de trabalho parecia de brincadeira, com operações sérias.
A
bolsa começou a subir de forma importante, ultrapassando os fundamentos da
época. Não faltavam artigos de jornal — não havia internet, muito menos celular
— que colocassem a alta em xeque. Eu ficava receoso pois não entendia do
assunto, mas meu parceiro tinha uma frase que guardei para toda vida: Contra o fluxo
não há argumento. E assim surfamos essa onda de forma esplêndida, mas
enxergamos que não ia dar certo antes do mercado.
Por
que essa passagem tem importância agora? Percebo que as vozes que diziam que a
bolsa está cara, formando uma bolha que vai estourar, começam a diminuir— um
artigo aqui, outro ali. Mais recentemente, o receio é com a inflação e como
pode ser danosa à bolsa. Tirando esses dois assuntos, não sobra mais nada muito
interessante para publicar.
Diariamente
realizo uma pesquisa intensa sobre as várias fontes de informações, e noto um
ou outro artigo de interesse sobre comportamento humano aplicado a
investimentos, mas os outros “sem graça”. O que está acontecendo então, por que
os investidores não ouviram todas essas ameaças — e não são poucas — e tiraram
seus recursos da bolsa? A resposta que eu encontro é: contra o fluxo não há argumentos!
Vou
comentar um artigo de Michael Batnick sobre a rotação que vem ocorrendo na
bolsa americana nos últimos meses. Notem como tenho me referido a esse
articulista — por dois motivos: escreve sobre assuntos interessantes, e os
outros artigos não estão apresentando nada de relevante,
Depois
de anos e anos de Growth (*) superando Value (**), o pêndulo
finalmente está balançando para o outro lado.
(*)
As ações de Growth são conhecidas por gerar receita e fluxo de caixa ou
lucros mais rápido do que a média da indústria. Por esta razão tem preços mais
elevados em relação aos fundamentos.
(**) As ações Value tendem a ser negociadas a um
preço mais baixo em relação aos seus fundamentos, como dividendos, ganhos e
vendas, tornando-as atraentes para investidores com horizontes de tempo mais
longos.
Comprar
ações baratas é ótimo em teoria, mas manter ações baratas à medida que ficam
mais baratas é excruciante. 2020 foi o pior ano
de todos os tempos para o Value, encerrando uma década desafiadora.
Isso levou o spread de valorização
entre as ações
Growth e Value para o maior nível de todos os tempos.
Todos sabiam que as ações baratas estavam estatisticamente mais baratas do que nunca. Quantos artigos do tipo "Morreu o Value?" houve no ano passado? Eis a visão de consenso, apenas alguns meses atrás:
"Ações
baratas são baratas por uma razão. O que você prefere ter neste momento, ações
de financeiras ou de tecnologia?"
Todos
enxergávamos a mesma coisa. No entanto, ninguém conseguia identificar um
catalisador convincente que poderia fazer as coisas irem para o outro lado. É
sempre difícil imaginar um futuro diferente do passado recente.
Mas
agora que o Value está destruindo o Tech, só se fala de catalisadores.
É incrível ver como o preço muda a narrativa. E para ser claro, eu não quero
dizer “haha, seus idiotas, vocês estão inventando histórias. Preço é a única
história que importa.” Eu preciso de uma boa história como todo mundo.
As
pessoas têm apontado para o aumento das taxas de juros como a agulha que furou
a bolha das ações caras do Growth. E se isso for só parte da história? O
mercado pode estar precificando um boom, e paradoxalmente, é o crescimento que vai
derrubar as ações de Growth.
Joe Weisenthal escreveu um
post hoje onde ele disse, e eu estou parafraseando, que a razão pela qual as
ações de tecnologia se saíram tão bem na última década é que não era fácil
achar ações de Growth. Portanto, não havia preço caro para as empresas
que estavam crescendo 20%. Mas se estamos prestes a entrar em um boom de gastos
e um boom do PIB, então por que pagar 100x vendas pela Zoom quando você pode
pagar menos de 2x vendas pela Delta?
Ontem
eu fiz a seguinte pergunta no Twitter. Eu não deveria ter usado a Zoom porque
eu realmente quis dizer ações de Growth, mas aqui estava minha pergunta.
Vou registrar que tenho quase certeza de que a segunda hipótese é a mais provável. Vamos dizer que tenho 70% de confiança (tanto assim que eu tenho montado posições nos últimos dias em algumas dessas ações mais infladas). Mas 30% de mim pode prever que vamos olhar para trás e dizer "que m**da estávamos pensando?" 160 bilhões de dólares pelo Zoom? US$ 70 bilhões pela Spotify?
Talvez
as ações de Growth estejam se esgotando porque o mercado está
antecipando taxas mais altas e uma economia em expansão. Ou talvez simplesmente
acordemos um dia e decidimos que tínhamos ido longe demais.
A
verdade é que os investidores não precisam de um catalisador para mudar o que
sentem. Uma mudança na narrativa é o catalisador mais poderoso de todos.
Aqui
está minha opinião sobre as ações de Growth. As empresas que continuam a
superar as expectativas vão se sair incrivelmente bem. Aqueles que ficarem para
trás vão morrer. Eu sei que isso não é nenhum achado, mas é fácil perder de
vista que esses números piscando na tela realmente representam uma participação
acionária na empresa. Acredito que os vencedores aqui, como Shopify e Square,
continuarão a crescer nos próximos anos. Se eu estiver errado e este for o fim
da história do Growth, então eu perderei dinheiro, e a vida continuará.
Concordo
muito com os argumentos sobre as ações de Growth como ele denomina. Acredito
que estamos entrando num mercado de alta, e o que se observou nesses meses é
que a vacina criou esperança para que as empresas “perdedoras” da pandemia
subissem de forma expressiva, mas a revolução tecnológica que estamos
vivenciando não deve parar — ao contrário, deverá se acelerar.
Agora
quem vai sobreviver e quem vai se sobressair não sabemos, só o tempo dirá.
O próximo gráfico aponta como a alta da bolsa está se dando de forma saudável, notem o percentual elevado de companhias que estão nas máximas das últimas 52 semanas.
O leitor poderá se perguntar quanto tempo isso vai durar. Ninguém tem a resposta, mas parece não ser logo. A análise técnica é a ferramenta que uso para me guiar.
No post http://acertmaximas-tambem-refletem-minimas, fiz os seguintes comentários sobre os juros: ...”as taxas de 10 anos atingiram a máxima de 1,33%, ficando muito próximas do limite mencionado acima. A mudança definitiva ocorre a 1,5% a.a., mas já acima de 1,4% as chances aumentam consideravelmente” ...
As taxas ultrapassaram o limite de 1,5% a.a.. Sendo assim, a tendência de baixa que eu tinha — mas na qual não apostava — fica eliminada no curto prazo. No gráfico a seguir, traço uma possível trajetória para o curto prazo. De imediato, o juro poderia atingir 1,4% a.a., para depois rumar para algo ao redor de 2,0% a.a.
As posições nos mercados de derivativos estão enormes, os traders estão apostando na alta dos juros com um volume extremo. Sabemos que nessas situações é possível uma realização por qualquer motivo.
Do
ponto de vista dos fundamentos, não acredito que 2% a.a. seja algo assustador —
afinal, com a economia entrando nos eixos, não vejo por que a taxa teria que
ficar tão baixa. Inclusive, no tempo, deveria ultrapassar esse nível — o que
importa aqui é a velocidade, bem como a inflação.
O
SP500 fechou a 3.939, com alta de 1,04%; o USDBRL a R$ 5,5422, com queda de
2,31%; o EURUSD a € 1,1987, com alta de 0,53%; e o ouro
a U$ 1.723, com queda de 0,12%.
Fique
ligado!
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