O Último dos Moicanos #USDBRL

 


Resumo:

A política única do Banco do Japão (BOJ) de manter taxas de juros negativas posicionou o país como um outlier global, catalisando operações de carry trade lucrativas. Essas operações, especialmente eficazes ao emprestar em ienes para investir em ativos de maior rendimento como o peso mexicano, renderam mais do que investimentos tradicionais no S&P 500 desde 2020. O sucesso dessa estratégia destaca a importância das políticas monetárias na influência dos fluxos de investimento e na valorização de moedas.

No entanto, a sustentabilidade desses ganhos está em questão, com expectativas de mudanças na política do BOJ. O mercado de swaps antecipa cortes nas taxas mexicanas de até 320 pontos base nos próximos 24 meses, um sinal de potenciais ajustes nas dinâmicas de carry trade. Essa perspectiva sugere um momento crítico para os investidores reconsiderarem suas posições e avaliarem os riscos associados a uma volatilidade crescente e a uma possível reorientação das políticas monetárias.

A relação entre as políticas monetárias do Japão e da China também revela uma complexidade geopolítica e econômica, onde as manobras do iene afetam as ambições internacionais do yuan. A estratégia da China para fortalecer sua moeda em face à competitividade japonesa reflete uma batalha maior pelo domínio econômico e influência nos mercados emergentes, ilustrando as ramificações amplas das políticas monetárias nacionais.

A análise técnica destacada sugere a compra do dólar caso ultrapasse consistentemente R$ 5,0180, com um stop loss em R$ 4,9190 e um objetivo inicial de R$ 5,33, indicando uma abordagem cautelosa e disciplinada em resposta às flutuações do mercado.

 

Se você for ao Google para saber o que significa “O Último dos Moicanos “A morte de Uncas, que justifica o título do livro, simbolizaria o "último dos moicanos" — na época em que foi escrito o livro, se acreditava que os moicanos estivessem em vias de extinção. Desde então, a expressão "o último dos moicanos" passou a significar “o último de uma espécie rara e valiosa”. Com este conceito, podemos dar esse título ao Japão por ser o único banco central do mundo a praticar juros de 0%. Tudo indica que esse oásis está para acabar quando o Banco Central do Japão se reunir esta semana.

John Authers escreve na Bloomberg sobre a operação que mais rendeu desde a pandemia, batendo o retorno do SP500.

As taxas de juros teimosamente negativas mantidas pelo Banco do Japão (BOJ) têm sido uma bênção para qualquer pessoa que opere um carry trade — a tática de tomar empréstimos em uma moeda com taxas baixas e investir em outra onde se pode obter um retorno melhor. As taxas negativas no Japão significam que, tecnicamente, você é pago para retirar dinheiro do país e colocá-lo em outro lugar. Enquanto um carry trade estiver funcionando bem, o fluxo de fundos do país de baixa taxa para o de alta taxa tende a fortalecer a moeda deste último, tornando o trade ainda mais lucrativo. Tais operações prosperam quando a volatilidade é baixa e as moedas e taxas de juros são estáveis. Mudanças repentinas podem ser desastrosas.

Desde o início de 2020, notavelmente, um carry trade de tomar empréstimos em ienes e investir no peso mexicano rendeu um lucro muito maior até do que um investimento no S&P 500:



Ambos os lados do trade precisam se manter para que isso funcione. As taxas mexicanas estão acima de 11%, e, ao contrário de outros bancos centrais da América Latina, o corte ainda não começou. Isso ajuda a explicar o sucesso fenomenal do carry trade. No entanto, a inflação está quase em 4% e muito abaixo do seu pico. A única direção plausível para as taxas mexicanas é para baixo. Alguns até acreditam que um corte poderia vir tão cedo quanto quinta-feira; caso contrário, a próxima reunião envolveria cortes na véspera da eleição presidencial de junho. A Win Thin, da Brown Brothers Harriman, relata que o mercado de swaps está precificando aproximadamente 175 pontos base de cortes nos próximos 12 meses, seguidos por outros 145 pontos base nos 12 meses subsequentes. Isso parece razoável:



Juntando os últimos relatórios sobre o BOJ com um provável alívio pelo México, parece ser uma boa ideia realizar lucros. No entanto, o carry trade continua atingindo novos máximos. Parte disso pode estar sendo causada pela descrença de que Charlie Brown vai ter a permissão de chutar a bola de futebol; mas há um grande risco de que os operadores de carry trade se encontrem caídos de costas e olhando para o céu.

 

China Vs. Japão

Se houver algum beneficiário de taxas japonesas mais altas, será a China. Louis-Vincent Gave, da Gavekal, explica o porquê:

A política principal de Xi Jinping é substituir o setor imobiliário como o principal motor de crescimento por indústria e tecnologia. Para a China, o mercado óbvio para seus produtos — carros, trens, turbinas, painéis solares, usinas de energia — tem que ser outros mercados emergentes. E o maior concorrente da China neste empreendimento é o Japão.

Isso significa que um iene japonês fraco em comparação com o yuan é um problema real para as ambições chinesas. Em 2015, a China fez uma desvalorização surpresa que abalou os mercados mundiais por meses depois que sua moeda atingiu uma nova máxima contra o iene:




O yuan esteve acima dessas máximas recentemente, mas como está fraco contra outras moedas, é difícil para a China adotar muita ação. Em uma base efetiva real, levando em conta diferentes taxas de inflação de preços ao consumidor e produtor em diferentes países, o último grande pico para o yuan contra o iene ocorreu quando estava forte de forma ampla. A situação agora é totalmente diferente:

 



Era notório que a China queria uma moeda fraca após entrar na Organização Mundial do Comércio em 2001. À medida que crescia, isso ajudava a fazer preços de exportação menores que os de outros países. Agora, Gave sugere que a China tem interesse em manter uma moeda forte. Dessa forma, é mais fácil convencer os outros a “desdolarizar”, ou usar o yuan em vez do dólar americano. Mas, para citar Gave, “Defender uma moeda forte quando sua economia está fraca, a moeda do seu maior concorrente — Japão — é ainda mais fraca, e seu objetivo é crescer subindo na cadeia de valor industrial seria o mesmo que cometer suicídio econômico.” Por outro lado, se o iene começasse a subir, a perspectiva para a China melhoraria “dramaticamente”. Nesse ponto, política, geopolítica e mercados financeiros todos apontariam para um yuan mais forte e mercados de capitais chineses mais fortes. Isso pode ser um exagero, mas taxas positivas no Japão definitivamente seriam boas notícias para a China.

Sobre a operação de carry trade, eu tenho uma filosofia antiga em situações semelhantes que seria: se comprar A e vender B é um bom negócio, mas comprar C e vender B também é, e assim por diante, é o B que está errado. Authers escolheu o peso mexicano para seu raciocínio por ser essa a moeda que ficou com um dos juros mais elevados nesse período e se valorizou.

Em relação ao raciocínio sobre o yuan tenho minhas ressalvas. É sabido que a Gavekal vem insistentemente sugerindo que o dólar vai perder seus status de moeda universal e sugerindo que o yuan será um dos candidatos para substitui-lo. Essa ideia sua está por aí faz um bom tempo e por enquanto ocorreu o contrário. Não sei se estão torcendo ou teimando, mas a cada situação que pode de certa forma melhorar as condições chinesas, eles reforçam sua tese.

Quando entrei no mundo das moedas do G10, era consenso que existiam duas moedas consideradas porto seguro: o franco suiço e o yen japonês. Se algo de muito ruim estivesse para acontecer, o manual do mercado indicava que se comprasse essas duas moedas. Isso funcionou por muito tempo e agora não mais. Primeiro, o mercado não se assusta mais com guerras e outras ocorrências minimizando esses hedges; segundo, tanto o franco suiço como o yen viraram moedas normais guiadas por fundamentos de seus países de origem. Quis pontuar essa fato para reforçar que nada perdura para sempre, do tipo receita de bolo!

No post "todo-mundo-erra" fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ... “ Uma alta consistente acima de R$ 5,0180 sugere a compra do dólar, com um stop loss a R$ 4,9190. O objetivo inicial seria R$ 5,33” ...

 


Depois de ter passado a semana próximo do rompimento destacado acima hoje pela manhã o dólar está testando o limite de R$ 5,0180 colocado pelo Mosca para iniciar um trade. Tudo indica que irá ocorrer, o mais interessante é que não aconteceu nada de importante para tanto – Lula falando mais alguma besteira, receio de estourar o déficit, ou qualquer assunto que esquenta o ambiente. Desta forma, se acontecer o rompimento será mais consistente.

 



- Puxa David, por que não entra logo?

Porque se existe algo que busco sempre seguir é a disciplina. É humano querer se vangloriar por ter sido um dos únicos a não sugerir a venda do dólar e poder dizer: eu acertei! Mas de nada vale se não resultar em lucro aos leitores. Vamos aguardar o rompimento de forma consistente, pois se não ocorrer é bem possível que irão ocorrer quedas e não altas do dólar no curto prazo.

Acabei não publicando o relatório de resultados da semana passada, o que estou fazendo hoje.



O SP500 fechou a 5.149, com alta de 0,63%; o USDBRL a R$ 5,0259, com alta de 0,62%; o EURUSD a € 1,0868, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 2.159, com alta de 0,19%.

Fique ligado!

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