A farra dos bancos centrais


Os bancos centrais ao redor do mundo têm adotado políticas monetárias de juros baixos ou negativos e vêm alocando os recursos provenientes de sua intervenção em ativos de risco.

Bancos centrais da Suíça, e até os da África do Sul, estão investindo uma parte importante de suas intervenções em ações, títulos de companhias e outros ativos mais arriscados. Abandonando sua prática tradicional de investir essencialmente em títulos super garantidos de governos como os do EUA. Mas, neste momento, que o crescimento global, os juros e retornos potenciais em muitos ativos é extremamente baixo, muitos dos bancos centrais estão cada vez mais focados em maximizar seus retornos.

Para se ter uma ideia desse fluxo, em 2009 o SNB – Banco Central Suíço – detinha 9% de seus ativos em ações. Agora, esse percentual já se encontra em 20%, incluindo investimentos de US$1,7 bilhão na Apple, US$ 1,08 bilhão na Exxon e US$ 1,2 bilhão na Microsoft.

Em uma pesquisa recente realizada pela Invesco com os gestores de diversos bancos centrais, uma porção significativa de 80% respondeu que investirão mais em ações e 43% em bonds corporativos. Segundo alguns analistas, essa ação tem impactos significativos para os mercados e a economia global. Além disso, estão contratando profissionais mais especializados para implementar essa estratégia.


Ao mesmo tempo, o esforço para investir fundos das reservas de uma forma mais ampla significa que mais mercados estarão sujeitos ao que alguns críticos descrevem como a distorção dos bancos centrais, uma vez que, compradores dessa magnitude, insensíveis aos níveis, aumentam a possibilidade de elevar os preços e reduzir a perspectiva de retornos para os outros participantes do mercado.

Talvez o BOJ – Banco Central do Japão – esteja em uma fase avançada nesse quesito. Com intervenções incessantes no mercado financeiro através da injeção de yens, tem um problema crescente do que fazer com a contrapartida. Por exemplo, veja a seguir a posição desse banco central no mercado acionário japonês, onde sozinho detêm 70% de todos os ETFs emitidos!


No caso do FED, uma questão foi colocada. Depois de oito anos após o lançamento de seu primeiro programa de compra de bonds para salvar a economia americana, questiona-se quando e como esse estoque enorme de US$ 4,5 trilhões começara a diminuir. É uma decisão muito delicada e perigosa, pois suas consequências são conhecidas – elevação dos juros longos – mas não qual seria sua dimensão.

 
Embora esse assunto foi levantado por alguns membros do FED. James Bullard, Presidente do FED de St. Louis, manifestou sua preferência em usar esse estoque em combinação com a elevação dos juros. Outros membros são de mesma opinião. Porém, 2017 será um ano “diferente” também no FED, com o mandato da Professora Yellen terminado no início de 2018, em conjuntura com a imprevisibilidade do Presidente Trump, é bem provável que essa discussão seja postergada para 2018. A não ser que Trump, em lembrança de seus tempos do programa “The Apprentice”, diga literalmente para Yellen: “You are fired!”. Duvidam? Hahaha ...

Além dos bancos centrais dos países desenvolvidos, os bancos centrais dos países emergentes também aumentaram suas reservas; em parte pelas lições das crises do passado, quando alguns países foram forçados a desvalorizações expressivas de suas moedas pois os mercados se voltaram contra eles. Agora, essas reservas elevadas pressionam os gestores desses bancos centrais a diversificar.

Existem basicamente dois tipos de razões para acumulo dessas reservas, um deseja emitir sua própria moeda para evitar uma valorização da mesma, como é o caso do banco central da Suíça, o outro, onde compreende os países menos desenvolvidos, onde se encontram as maiores reservas –, tende a imprimir sua moeda para comprar ativos estrangeiros. Desta forma, poupam para momentos difíceis, mas tem como contrapartida, uma desvalorização de sua moeda no presente.

O grande questionamento é: qual a razão dessa diversificação por mais risco se a autoridade monetária não deveria almejar retorno? Talvez seja a forma de justificar suas intervenções mostrando que não perdem dinheiro.

A verdade é que eles estão atuando como hedge funds gigantes, com uma enorme vantagem: não precisam publicar sua cota periodicamente. Por outro lado, também não ficam bilionários. Mas essa realidade me parece temerosa, pois se a inflação subir e tiverem que reverter, comprando de volta sua moeda para evitar uma desvalorização desordenada, quem irá comprar está montanha de ativos de risco?

Esse movimento de compra de moeda local e venda de dólares já está acontecendo na China. Por enquanto, dos quase US$ 3 trilhões de reservas existentes, os US$ 800 bilhões que foram consumidos, acredito que boa parte foi possível pela venda de ativos líquidos – títulos do governo americano. Mas, como acontece num hedge fund que experimenta saques, os últimos é que pagarão o pato, que, neste caso, acarretaria uma desvalorização maciça do yuan.

Algum dia essa farra dos bancos centrais terá que acabar. Eu só espero que não seja de forma desordenada, porque a história mostra o contrário.

No post de final de ano SP500-céu-azul, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” O SP500, ao romper a resistência de 2.200, abriu caminho para novas altas, conforme mencionei no post a-ilógica-financeira. O gráfico a seguir, com preços trimestrais, verifica-se claramente que após 2009 a bolsa está num canal de alta que nunca foi violado (linhas verdes). O próximo objetivo é 2.500 e se ultrapassado, irá rumo ao 2.950” ... É indiscutível meu tom positivo para a bolsa americana.

Mas, porque não estamos comprados? A resposta foi dada no post a-ilógica-financeira: “Um cálculo aproximado de risco retorno me leva a um ganho potencial de aproximadamente 5% - de 2.240 para 2.350, e uma perda no stoploss de aproximadamente 2% - de 2.240 para 2.200. Há de se considerar também um potencial ganho adicional caso o índice atinja 2.450 (9,3%). Não parece ruim, porém vou deixar em suas mãos, pois, como comentei ontem, vou estar ausente por um tempo” ...

Hoje, nos encontramos mais ou menos na mesma situação acima. Com o SP500 a 2.265, ainda não sou compelido a me posicionar, embora acredite que o mercado seja de alta. O próximo gráfico fornece uma visão de médio prazo e o objetivo de 2.500, apontado no post de final de ano, parece estar no radar.


Já no curto prazo, parece que a bolsa está consolidando para uma nova alta. No gráfico a seguir aponto as 2 possibilidades que imagino.


Caso ocorra a hipótese 1 – azul –, desejo boa sorte aos comprados e vou esperar uma outra ocasião; caso ocorra a hipótese 2 - verde –, posso me envolver mais adiante.


Muitos analistas ficaram mais receosos nos últimos dias e estão recomendando cautela ou mesmo a saída da bolsa. Meus dados técnicos não indicam nada que perturbe a trajetória ascendente. Let the market speak!

O SP500 fechou a 2.280, com alta de 0,66%; o USDBRL a R$ 3,1710, com alta de 0,26%; o EURUSD a 1,0732, com baixa de 0,29%; e o ouro a US$ 1.209, com queda de 0,63%.
Fique ligado!

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