Nunca dependa muito de um cliente
Durante minha vida profissional, já presencie inúmeras
guinadas no comércio exterior. Na verdade, antes do Governo Collor era
praticamente impossível importar algum bem; as alíquotas eram extremamente
elevadas além dos entraves burocráticos. Esse mesmo governo implementou a maior
abertura comercial da história e, desde então, permanecemos com essa política.
Agora, pergunte se os empresários brasileiros ficaram felizes? Tenho vários
amigos do setor têxtil que lamentam constantemente a concorrência chinesa.
Os EUA sempre foi, até então, um país que incentiva o
aumento do comércio exterior; sua estratégia era a de importar produtos de
pouco valor agregado e exportar principalmente serviços de alta tecnologia. E a
China passou a ser seu maior parceiro comercial. Vários acordos entre grupos de
países foram firmados, porém a estratégia era sempre nesse sentido. No caso
mexicano, que é baseado sobre o acordo do NAFTA, a relação era mais vantajosa
para esse país, pois, pela sua proximidade, inúmeras empresas principalmente do
setor automobilístico aproveitaram para construir fábricas que poderiam se
aproveitar do baixo custo da sua mão de obra. O gráfico a seguir não deixa
dúvida.
Ainda em relação ao México, sua balança comercial é
positiva, visto que, sendo um país emergente, não demanda tantos serviços dos
americanos. Entretanto, a situação pode ficar horrível, pois uma recessão no
México poderá ter consequências nos EUA – inclusive trazendo mais imigrantes
mexicanos, que o muro está tentando prevenir. A cadeia de fornecedores para as
fábricas mexicanas é extremamente complexa e pode resultar em perturbações e
aumento de preços em áreas inesperadas.
Das promessas feitas por Trump, em relação ao comércio
exterior, ele escolheu o país vizinho para começar. Quem tinha dúvidas se seu discurso
era somente uma jogada de marketing, deve estar refazendo sua crença. Disse que
vai construir o muro e para financiar vai instituir uma taxa de importação para
todos os produtos mexicanos de 20%, já que o México se recusa a pagar.
O gráfico a seguir mostra que o grande problema do
deslocamento da mão de obra não se deve ao México mais sim a China quando aderiu ao WTO. Trump
escolheu o primeiro para atacar pois acredita que terá ótimas condições
de negociação, dado a fragilidade e dependência do México. Ele sabe que com os
chineses o jogo será bem diferente.
Se essa ação tomada por Trump for estendida a todos seus
parceiros com os quais tem déficit comercial, onde os principais são: China,
Alemanha e México, haverá no curto prazo um deslocamento de preços dos produtos
que são trocados entre esses países. Uma forma imediata de compensar essa
alíquota seria a desvalorização da moeda desses países. Das 3 nações apontados,
somente o peso mexicano se desvalorizou significativamente.
Nos dois próximos gráficos podemos verificar o movimento
contrário entre o peso mexicano e o real. Segundo esse método o peso mexicano
está subvalorizado enquanto o real sobre valorizado.
A seguir, o real encontra-se em situação inversa, dado a
recente valorização de nossa moeda, impulsionada por fatores internos e também
externos. Desta forma, em termos relativos, os produtos brasileiros ficaram
muito caro para os mexicanos enquanto os produtos mexicanos ficaram muito
barato para os brasileiros. Esse é um subproduto da guerra travada pelos EUA
com o México.
Se Trump resolver levar a ferro e fogo suas promessas de
impor tarifas aos países que “roubaram” os empregos dos americanos, pode-se
esperar uma elevação da volatilidade nos mercados de câmbio, pois é por onde se
pode ter um alívio dos futuros aumentos de alíquotas de importação. Ou seja, é
pelo câmbio que os exportadores poderão manter parte de suas margens.
Agora, e se esses países resolveram adotar a mesma política
e aumentar suas alíquotas de importação para os produtos americanos? Dependendo
da importância e da elasticidade desses produtos, poderá haver um movimento
cambial em sentido contrário. Meio confuso, não é? Bastante, mas essa é a
personalidade de Trump, uma pessoa levada pela emoção e que, independente de quaisquer
consequências, quer ganhar a batalha.
Se essa política míope de acreditar que agindo assim irá
aumentar o emprego nos EUA, o que não necessariamente é verdade, uma coisa é
clara, a inflação vai subir ao redor do mundo, e não era essa a inflação que os
bancos centrais estão querendo.
Os países que mergulharam de cabeça em projetos para buscar
a expansão de suas exportações baseada em fundamentos válidos do ponto de vista
econômico, a regra simples que deveriam seguir é a de não depender de um só
cliente, nesse caso, de um só país. A China se apercebeu disso e nos últimos
anos diversificou bastante seus mercados, inclusive, hoje, a Europa é mais
importante que os EUA.
No post jogando-na-defesa, fiz os seguintes comentários
sobre o euro: ...”
No momento não tenho nada a sugerir, e apenas indicativamente, se o euro
ultrapassar 1,09, o processo de queda será postergado. Por outro lado, uma
queda abaixo de 1,05 deverá desta vez levar o euro para a paridade, ou quem
sabe, abaixo disso” .... Desde essa última atualização, a
moeda única vem subindo de forma lenta.
Eu destaquei esse último movimento de alta que é típico de
uma correção “chata”, dá 2 passos para frente e 1 a 1 ½ passo para trás,
ficando difícil qualquer estratégia ganhadora. Os níveis apontados no gráfico
merecem uma tentativa de trade.
Proponho a venda de ½ a 1,0825 e a outra metade a 1,0935, com um stoploss a 1,105.
É uma tentativa sem um alto grau de convicção,
principalmente no stoploss, que
deveria ser colocado no nível de 1,13. Mas,
não estou disposto a arriscar tanto. Por outro lado, pode ser que nem chegue lá.
Caso esse último cenário aconteça, não vou ter nenhum problema de vender o euro
a níveis inferiores; mas claro, terei um grau de convicção maior.
O SP500 fechou a 2,294, sem variação; o USDBRL a 3,14, com queda de 1,18%; o EURUSD a 1,0694, com alta de 0,13%; e o ouro a US$ 1.191, com alta de 0,23%.
Fique ligado!
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