Simplicidade #SP500
Quando
ficamos mais velhos (o que é o meu caso!), tendemos a buscar simplificar a vida
— afinal, já não temos o mesmo ímpeto de mudar o mundo. Mas essa atitude nem
sempre nos leva a decisões piores, e em muitos casos ocorre o inverso.
Um
artigo de John Authers na Bloomberg publicou um estudo feito pela Nomura
Holdings, ressaltando que os CEOs que usam linguagens complexas na divulgação
de resultados produzem piores retornos.
Estamos
acostumados a analisar números na área de investimentos. Com a melhoria da
tecnologia para analisar a linguagem, o Big Data agora nos permite começar a analisar
palavras também, e isso acaba sendo muito útil. Se você quer que alguém
invista, argumente em linguagem clara. E para quem está pensando em investir,
se alguém que apresenta um projeto não consegue explicar sua oferta em discurso
simples, isso é um sinal para não investir.
Esta
é a descoberta fascinante da pesquisa dos analistas da Nomura Holdings Inc., sobre
as apresentações de resultados das empresas. (A linguagem nos 10-Ks é sempre
cuidadosamente examinada e escrita pelo comitê. Tais documentos tendem a ser
escritos em prosa ruim e complicada. Mas quando os executivos estão falando em
uma apresentação, eles têm a liberdade de proporcionar suas ideias de uma
maneira direta e simples.)
Os resultados são dramáticos. Os pesquisadores analisaram a linguagem usada pelos executivos em suas apresentações, para todas as empresas do índice Russell 1000, e os dividiram em 10 grupos de 100. Desde 2014, as 100 empresas cujos executivos utilizaram a linguagem mais complexa tiveram um retorno médio de 9,45% ao ano. As empresas do decil de língua mais simples retornaram 15,4% ao ano. Os resultados são robustos quando controlados para volatilidade, com o decil de linguagem simples tendo uma relação Sharpe muito maior:
O que pode estar por trás disso? Em parte, é porque se você tem algo a esconder tenderá a se refugiar em palavras mais longas e frases mais complicadas. Isso ajudará a esconder seu significado. Como o julgamento de Elizabeth Holmes, que dirigiu a fracassada startup de testes de sangue Theranos, está nas notícias, é instrutivo olhar para esta citação de um agora infame perfil dela por Ken Auletta para o New Yorker, publicado em 2014, antes dos problemas com sua tecnologia terem sido revelados:
O
que exatamente acontece nas máquinas é
tratado como um segredo de Estado, e a descrição
de Holmes do processo foi comicamente vaga: "Uma química é realizada para
que ocorra uma reação química e gere um sinal da interação química com a
amostra, que é traduzida em um resultado, que é então revisado por pessoal de
laboratório certificado." Ela acrescentou que, graças à
"miniaturização e automação, somos capazes de lidar com essas minúsculas
amostras".
Quando
as pessoas começam a enrolar desse jeito em apresentações
de resultados, então não deve surpreender que suas ações tenham
desempenho ruim nos preços. O inverso vale para a clareza. Aqueles que sabem
exatamente o que querem fazer provavelmente serão capazes de expressá-lo
claramente, e então fazê-lo. Nada disso se aplica aos parágrafos controlados
pelos advogados nos relatórios publicados. Como diz Joseph Mezrich, da Nomura:
"Não é exagerado supor que as apresentações orais transmitam impressões
mais claras do que os 10-Ks produzidos pelo comitê, sobre importantes
características da empresa, como a clareza de visão da administração."
A
pesquisa se baseia no índice de legibilidade de Gunning. Este índice
aumenta com mais palavras de três sílabas ou mais sinais de pontuação,
e assim por diante. O processo produz um número que indica quantos anos de educação
formal uma pessoa precisa para ser capaz de entender o texto.
O site http://gunning-fog-index.com/ tem um ótimo recurso que permite
copiar um texto qualquer e achar seu índice. Qualquer um que escreva um discurso faria
bem de verificar seu número. Para dar alguns exemplos, experimentei um trecho
da Crítica
da Razão Pura de Immanuel Kant (a mais
difícil peça de filosofia que já
tentei ler na faculdade), e ela recebeu uma nota de 19,5 (além
do nível de pós-graduação
universitária); o texto do Sr. Tickle, o primeiro dos livros Mr.
Men de Roger Hargreaves, pontua em 6.7; e o discurso inaugural de Donald Trump deu
11,7. A citação de Elizabeth Holmes a Ken Auletta marcou um impressionante 28.
A
faixa da linguagem usada nas apresentações de resultados não varia tanto como
de Trump a Kant, mas ainda assim é ampla. De acordo com Mezrich, o décimo
percentil de apresentações correspondia à legibilidade de nível júnior do
ensino médio (16 anos), enquanto as falas do percentil 90 correspondem à
legibilidade do segundo ano da faculdade. Se sua linguagem é tão difícil de
seguir como a de Immanuel Kant, não surpreende que as pessoas não comprem suas
ações. Isso é verdade, não importa o desempenho da sua empresa. Para citar Mezrich:
O
que é surpreendente sobre os
resultados com base na complexidade linguística das apresentações é que eles independem
do conteúdo da mensagem dos gestores. Empresas com apresentações que usam
linguagem simples geram maiores retornos subsequentes nas ações do que empresas
com apresentações que usam linguagem mais complexa, independentemente do
conteúdo. O que importa é o estilo em que o conteúdo é comunicado.
Outro
ponto é que, embora também seja bom ser breve, a
linguagem simples e a brevidade não andam necessariamente juntas. O jargão
profissional se desenvolve em grande parte para nos permitir comunicar ideias
complexas rapidamente com outras pessoas que também entendem essas ideias.
Assim, uma linguagem mais simples tende a acompanhar comunicações mais longas,
pelo menos em termos de frases. A relação é quase perfeita:
A brevidade é boa, e é difícil de alcançar. Winston Churchill uma vez se desculpou por fazer um longo discurso, dizendo que ele não tinha tido tempo para escrever um curto. Mas o mais importante é falar de forma simples. Se você demorar mais para se expressar, mas usar esse tempo para ficar mais claro, vai dar tudo certo. E se um executivo parecer estar te enrolando, não toque em suas ações.
O
leitor pode se perguntar qual a razão deste artigo, se o Mosca não usa
análise fundamentalista para suas decisões. O objetivo na verdade é enfatizar a
simplicidade como forma de se comunicar: quanto mais complexa a explanação,
menor a chance de sucesso.
As
vezes sou criticado por ser muito crítico ou rude em meus comentários — parece
que essa é a melhor forma se alguém deseja contribuir e não enrolar o outro!
No
post intromissão-na-lei-da-oferta, fiz os seguintes comentários sobre o
SP500: ...” O mercado segue
de forma ininterrupta atingindo máximas históricas dia após dia. Venho
insistindo ultimamente que existem dois caminhos no curto prazo para a bolsa
americana, a primeira da qual é meu cenário base, estaríamos próximos – ou já foi atingida - o momento que se sucedera uma
correção; ou de outro modo estaria dentro de um movimento de alta onde se
espera pequenas correções, e níveis finais muito superiores ao atual” ...
Finalmente ocorreu ontem a correção que eu estava esperando. Como seria de se esperar, nossas posições foram liquidadas. Muito bem, e agora como será? Ainda é cedo para saber a real extensão dessa correção, mas é bem provável que ainda haverá novas quedas.
A
beleza de Elliot Wave — se você confia, é que existem alguns pontos de
interesse que te ajudam a decifrar o provável de acontecer. Nesse momento,
existem dois cenários, uma correção que ficaria contida no intervalo entre
4.500/4.200, e outra em que a queda poderia atingir 3.800 no mínimo, podendo
ser maior.
Indiquei
no gráfico a seguir essas duas possibilidades, a primeira dentro do retângulo e
a segunda traçada com linha azul.
Peço aos leitores não levar a ferro e fogo esses intervalos, pois ainda dependem do curso a seguir; o objetivo é dar uma ordem de grandeza.
Como
podemos saber em qual dos dois? O SP500 encontra-se agora em 4.380, se o índice
subir acima de 4.435 nessa recuperação que se iniciou desde ontem, a queda será
mais amena e deve estar dentro do retângulo; agora, se por outro lado uma nova
mínima ocorrer na sequência, atingindo ao redor da letra (a) em azul, então é
mais provável o segundo caso.
Em
ambos os casos, ainda deverão ocorrer novas baixas e é bem provável que eu
sugira um trade de venda — depois de muito tempo! Notando que se trata de um
trade oportunista, pois até o momento trabalho com novas altas à frente.
O SP500 fechou a 4.354, sem variação; o USDBRL a R$ 5,2702, com queda de 1,03%; o EURUSD a 1,1728, sem variação; e o ouro a U$ 1.774, com alta de 0,62%.
Fique ligado!
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