Tempos muito modernos #usdbrl
Acredito
que os leitores já ouviram falar do famoso filme Tempos Modernos estrelado
pelo gênio do cinema mudo Charles Chaplin. Um operário de uma linha de
montagem, que testou uma "máquina revolucionária" para evitar a hora
do almoço, é levado à loucura pela "monotonia frenética" do seu
trabalho.
De
forma distinta o Mosca acredita que estamos de uma certa forma diferente
do filme, em Tempos Modernos, muito modernos!
Para
descrever sobre esse assunto vou trazer dois artigos. Incialmente Kaushik Basu,
ex-economista do Banco Mundial e extensa carreira acadêmica nos EUA escreveu no
Project Syndicate sob título A Economia pode continuar?
À
medida que a tecnologia avança e o meio ambiente muda, algumas das principais
premissas que sustentam o pensamento econômico tradicional se tornarão
obsoletas. Para reverter a perda de confiança do público na disciplina, os
economistas devem voltar a fazer o que tornou o campo tão valioso em primeiro
lugar.
A
economia tem a virtude de acomodar aqueles imersos em matemática abstrusa e
métodos axiomáticos (Léon Walras, John Nash e Kenneth Arrow) ao lado daqueles que
mergulham nos problemas do mundo sem recorrer a símbolos (Adam Smith, Thomas
Schelling e Gunnar Myrdal). Mas uma tela tão vasta tende a deixar espaço para
pinceladas errôneas. E em tempos profundamente incertos como o presente, quando
o mundo está sendo convulsionado pela pandemia COVID-19, mudanças climáticas e
a revolução digital 1, é fácil entender por que muitos
leitores leigos ficariam exasperados com pronunciamentos de
"economistas". Como pode o não-especialista separar o trigo do joio?
1
Sinto-me
honrado em saber que um economista de renome usa a mesma nomenclatura que o Mosca
para descrever o momento atual.
Esse
sentimento de inquietação deve provocar introspecção dentro da disciplina.
Mesmo que a crítica seja injustificada, um pouco de autoexame não pode
prejudicar. Na verdade, eu diria que muitos economistas tradicionais não
percebem que apreender a realidade e elaborar uma política sólida não pode ser
puramente uma questão de dados e empirismo. Por mais que coletamos, organizemos
e analisemos cuidadosamente nossos dados, os insights que ganhamos devem ser
usados em conjunto com o
senso comum e a intuição.
Da
mesma perspectiva, alguém que vê suas próprias
previsões como expressões
de ciência pura é tão
perigoso quanto alguém que é guiado pela superstição.
Não
há
como prever com certeza o que acontecerá amanhã. Quando falamos sobre o futuro, não
temos outra escolha a não ser usar nossa intuição para decidir quando podemos
extrapolar de dados passados e quando não podemos. Esperamos que nós, como
espécie, tenhamos evoluído uma intuição que é pelo tenha certa confiabilidade.
Um
problema adicional é que a mistura necessária de ciência exata
e intuição ou julgamento tende a diferir entre as especialidades econômicas. Em
alguns ramos, como a estruturação de leilões, a economia está próxima da
engenharia, enquanto nas áreas de política monetária e fiscal, depende
fortemente da percepção e do julgamento. Quando pessoas de fora extrapolam o
desempenho de um ramo para fazer inferências sobre outro ramo, os erros podem se
acumular rapidamente.
Além
dessas questões filosóficas, a teoria econômica também requer um novo olhar. É
claro que o aumento de conhecimento baseado em dados (através de big data ou
ensaios de controle randomizados) é extremamente importante. Precisamos de
dados para ajudar a detectar padrões ocultos, nem que seja só para reforçar
nossa intuição. Ainda assim, a crescente propensão a considerar esses
resultados como determinantes universais é preocupante.
A economia não seria a disciplina valiosa e excitante
que é hoje se não fosse por grandes achados
teóricos como a visão seminal de Smith de que a ordem pode emergir
organicamente sem a necessidade de direção dos primeiros-ministros ou do Estado
(Leviatã). "Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do
padeiro, que esperamos nosso jantar, mas de seu respeito ao seu próprio
interesse", observouSmith.
Mas uma ressalva é necessária aqui. Enquanto a observação influente de Smith
era que a "mão invisível" pode proporcionar a ordem, a
visão neoliberal de que a mão
invisível sempre o faz é
uma farsa. Não é preciso ler mais teoria para entender
isso; O
Julgamento de Franz Kafka oferece
representações arrepiantes de como o mal pode ser perpetrado sem um
perpetrador.
Outra
razão para voltar à
teoria agora é que o chão está
se mexendo sob nossos pés. A economia dominante sempre se baseou em
suposições explícitas e implícitas.
Por exemplo, os livros didáticos nos dizem que a eficiência do comércio e do
câmbio depende de preferências individuais que satisfaçam a diminuição da
utilidade marginal, a tecnologia sendo convexa, e assim por diante. Mas eles
não se preocupam em mencionar que as pessoas também precisam ser capazes de se
comunicar. Essa condição é dada como certa, assim como muitas normas
comportamentais que são cruciais para o bom funcionamento de um mercado.
Mas
à medida que a tecnologia avança e o meio ambiente muda, algumas normas e
suposições implícitas evoluirão, às vezes com efeitos devastadores sobre a
economia. Em nosso mundo de mídias sociais e pronunciamentos públicos, o
significado do que dizemos está começando a mudar. Com a globalização, também
temos pessoas com normas diferentes operando na mesma economia e mercado. Nossa
teoria está mal equipada para analisar, muito menos regular, tais mercados.
Para entender esses desenvolvimentos, precisamos do tipo de grandes avanços
teóricos que trouxeram a disciplina para onde ela está hoje. Não estou
equiparando a teoria com a matemática. Nem a prosa de Schelling nem a pesquisa
do ganhador do Nobel Elinor Ostrom
tinham
muita matemática, mas isso não
os impediu de lidar com alguns dos problemas mais fundamentais do mundo.
O
risco que os economistas enfrentam agora é que o chão está
mudando mais rápido do que nosso entendimento. Devemos apelar
para a imaginação científica da economia para enfrentar o desafio e examinar
não apenas o estado do mundo, mas o estado da disciplina.
Não poderia concordar mais com Basu, com uma grande
diferença: ele tem uma robusta base econômica que sustenta seus argumentos,
enquanto o Mosca se baseia em dados empíricos, mas nós percebemos que a
extrapolação do passado para fazer previsões nesse momento podem levar a
conclusões errôneas, como vemos ocorrer.
Outro artigo que chamou minha atenção é de Barry
Ritholtz, em seu blog cujo tema é bem atual, principalmente no Brasil: Hora
de parar de acreditar na besteira do déficit
O que você faz se você tem uma filosofia comprovadamente errada por meio
século?
Eu não quero dizer um
pouco fora, ou teoricamente distorcida, mas errada de forma verificável,
factual e quantificável? Você admite o erro e muda de curso? Ou você dobra a
aposta e continua repetindo a mesma bobagem, esperando que talvez em outro meio
século possa ser comprovado?
O que nos leva aos modelos da moralidade fiscal
puritana, dos combatentes do déficit.
Eles têm repetido os
mesmos argumentos, dia sim e dia também, toda a minha vida adulta. Eles emitem
alertas assustadores sobre os déficits do
governo, e ainda assim nenhuma das coisas sobre a qual eles advertem se tornam
realidade.
Nos dizem (repetidamente, o tempo todo) que se
permitirmos que o governo federal gaste, um desfile de horrores nos espera,
incluindo:
• O excesso de
gastos federais vai expulsar o Capital Privado, sufocando a inovação e a nova
formação de empresas;
• Os custos dos
empréstimos dos EUA
dispararão, tornando a dívida impossível de gerenciar;
• O dólar americano será devastado e será radicalmente desvalorizado em relação a todas as outras moedas;
• Tudo isso
causará inflação desenfreada, elevando preços a níveis não vistos antes;
• Os déficits atuarão como um
empecilho para a economia global;
Foram 50 anos ouvindo isso — e nada disso se provou verdadeiro. Então, eu estou denunciando essa besteira – e você
também deveria.
Todos os atores envolvidos na histeria do déficit em Washington — funcionários eleitos, assessores,
economistas, a mídia e até mesmo eleitores — todos fingem falar muito sério a respeito. NENHUM
DESSES EVENTOS OCORREU. É de enlouquecer.
Talvez os déficits comecem a
importar em algum momento, mas não temos ideia de
qual é esse ponto, e não estamos nem perto. Lembra-se que nos disseram que
um índice de PIB
para dívida acima de
90% era problemático? Esse absurdo foi desmascarado. Não que queiramos
ser como o Japão, mas a relação Dívida Pública/PIB é de 275%; nos EUA, é de 102%. No
Japão, nada de ruim ocorreu com o Iene, ou o capital privado ou os custos de
empréstimos. O Japão ainda pode tomar emprestado tudo o que quiser, e
a taxas muito baixas inclusive.
O sucesso do pessoal anti-déficit resultou no
seguinte :
-uma fraca recuperação pós-GFC (com temores de deflação) levando a um
crescimento menor por uma década. Compare
isso com a economia pós-Covid que tem
sido tão forte, (e a
inflação uma preocupação) — por causa de
todo estímulo fiscal
financiado pelo déficit da Lei
CARES.
– A desigualdade
de riqueza tem piorado cada vez mais, pois temos confiado mais em estímulos
monetários, o que parece ajudar os ricos mais do que as camadas econômicas mais
baixas;
- Tornou a América menos
competitiva economicamente com as nações que gastam em
sua infraestrutura;
-A oportunidade de refinanciar a dívida americana com títulos baratos e de longo prazo - 30 ou 50 anos de títulos do Tesouro - é perdida por causa dos falsos falcões do déficit. Perversamente, eles tornam os custos
do governo mais caros, não mais baratos.
E os gastos deficitários estão disponíveis para financiar guerras para sempre ou cortes
de impostos. É quase como se
aqueles que cantam o evangelho anti-déficit não acreditassem em suas próprias bobagens.
Há um meio do
caminho entre déficits zero de
um lado e teóricos monetários modernos do outro. Podemos consertar nossa
infraestrutura, estender a banda larga a todos em todo o país, até mesmo
trabalhar para moderar as mudanças climáticas — e a economia continuará muito
bem, obrigado.
No mínimo, podemos
pelo menos aumentar as exigências para esses sempre errados? Aqueles que
estiveram consistentemente errados sobre os perigos dos déficits por tanto tempo não deveriam mais ter o benefício da dúvida. Quando sua
filosofia principal ou uma crença fundamental de
sua ideologia provou estar errada - e você se recusa a admitir erro ou mudança
- então é hora de todos os outros denunciarem sua besteira!
Esse artigo mais parece um desabafo compreensível – afinal, é intuitivo que dividias elevadas de governo podem gerar problemas futuros. É sabido que os governos gastam mal o dinheiro público, mas o evento da Covid-19 mostrou que sua atuação foi importante para evitar uma catástrofe que, observada de hoje, se poderia ser evitada sem grandes custos à sociedade.
Mas eu insisto que a grande contribuição, de certa
forma imperceptível com ampla atuação, é a revolução digital. Como comentou Lambranho
Fersen, CEO da G2D enquanto no passado, as decisões empresariais eram tomadas
em cima de “feeling”, dando margem a erros muito superiores aos atuais, as
decisões são hoje baseadas em quantidade enorme de dados coletados e
processados através da Inteligência Artificial, diminuindo consideravelmente o
achismo. E ainda segundo suas palavras “vivemos num mundo fantástico, cujo
benefício aos consumidores com preços cada vez mais baixos fazem prever um
futuro melhor”. Tempos muito modernos!
No post desconfiança, fiz os seguintes
comentários sobre o dólar: ... “ nesse cenário o
objetivo seria mantido ao redor de R$ 6,18, conforme o gráfico a seguir – notem as linhas pontilhadas desse último movimento que indicam
essa opção” ... ...” Observe que indiquei uma área entre R$ 4,88/R$ 5,0354, o
que isso significa? Significa que o dólar, ao invés de manter a trajetória
anotada acima, continuaria em queda. Se isso ocorrer, abre a possibilidade” ...
Durante a última semana não foi possível concluir se o cenário básico está em andamento, mas também não se consegue eliminá-lo, pois como se nota no gráfico a seguir, as condições dessa hipótese continuam validas. Desta forma, mantenho a hipótese traçada acima.
O Brasil vive uma dicotomia em termos econômicos, do lado político uma situação tornada muito conflituosa pelo presidente Bolsonaro tem colocado dúvidas sobre a sustentabilidade de nossa dívida interna, originando elevação nos prêmios de risco dos títulos longos; por outro lado, a situação cambial não poderia ser mais confortável, com a manutenção das reservas internacionais intactas e um fluxo crescente de entradas, como se pode verificar as seguir.
Em algum momento deverá existir uma congruência, ou os gringos revertem o fluxo tirando os dólares do país, ou os títulos longos deverão cair. Façam suas apostas.
Antes de terminar não posso deixar de comentar o
momento rídiculo vivido ontem no jogo entre Brasil X Argentina. Uma soma de
erros culminou com uma atitude corajosa da Anvisa que entrou em campo para
“expulsar” os Hermanos, que de forma esperta, queriam dar um bypass nas
autoridades sanitárias.
A CBF merece um cartão vermelho definitivo, como
pode ela se comprometer a aceitar algo que não era de sua esfera? Agora a AFA, associação
argentina de futebol foi um nojo, deveria ter pedido desculpas e colocar em campo
quem poderia lá estar. Não se pode também eximir os jogadores de culpa, falso
testemunho é crime - ou acharam que podia dar uma de milongueiros!
Para terminar, a FIFA está com a bola no pé, mas se
não decidir por um WO, qualquer outra decisão colocara a lei em segundo plano.
Vamos aguardar. Todo esse evento mostra a cultura enraizada de se dar um
jeitinho ou a Lei de Gérson, ambos destruidores do nosso futuro.
As bolsas nos EUA estiveram fechadas; o USDBRL fechou
a R$ 5,1703, com queda de 0,39%; o EURUSD a € 1,1868,
com queda de 0,12%; e o ouro a U$ 1.823, com queda de 0,17%.
Fique ligado!
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