Desconfiança #usdbrl

 


Na última sexta-feira, o presidente do Fed Jerome Powell fez uma apresentação no Simpósio de Jackson Hole que satisfez o mercado. Enfatizou que vai retirar os estímulos, mas aumento de juros só bem mais à frente. O mercado precifica agora que o primeiro movimento seria em fevereiro de 2023, seguido de outra alta em setembro do mesmo ano.



Parece que os investidores estão satisfeitos com essas premissas, pelo menos por enquanto. Mas nem todos pensam da mesma forma, como diz Mohamed El-Erian em seu artigo na Bloomberg.

O discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sexta-feira, no fórum anual de Jackson Hole, foi consistente com sua abordagem muito gradual e altamente cautelosa para as mudanças políticas — uma abordagem que os mercados financeiros adoram, pois implica um período mais longo de liquidez muito frouxa, que alimenta preços cada vez mais altos de ativos. A verdadeira questão, no entanto, é se o discurso acabará fora de sintonia com os desenvolvimentos econômicos e financeiros reais em seu desenrolar ao longo do restante deste ano e além.‎

‎Ao abster-se de falar alguma novidade ou fornecer detalhes operacionais de qualquer evolução na política — ambos teriam inevitavelmente sinalizado maior rigidez —, Powell deu aos investidores mais razões para levar ações e títulos a níveis mais altos.

‎Os economistas, no entanto, pareciam menos convencidos com a argumentação, pela perspectiva declarada e pelo que implica para a lenta evolução política do Fed de que os mercados tanto gostam. Mais preocupados com a natureza dupla do risco de inflação e o potencial para um erro político, alguns teriam preferido um sinal mais firme sobre uma redução iminente das compras de ativos em larga escala pelo Fed, algo que eu tenho argumentado não ser apenas necessário para o bem-estar econômico e estabilidade financeira de longo prazo, mas também por estar atrasado.‎

Powell, em seu discurso, parecia consciente não apenas dos últimos eventos concretos que poderiam guiar a ação do Fed, mas também da mudança, altamente visível e acelerada, para uma visão mais rígida por parte de um número crescente de membros do FOMC. Especificamente, ao avaliar os recentes desenvolvimentos econômicos em relação ao duplo mandato formal do Fed (estabilidade de preços e emprego), ele observou que ‎‎o teste de "progresso substancial" do Fed sobre a recuperação econômica foi cumprido no que diz respeito à inflação, e que "também houve um claro progresso em direção ao emprego máximo".‎

‎Como essas observações implicariam que ele estava inclinado a um calendário mais curto do que o mesmo favorecia há apenas algumas semanas, Powell rapidamente embrulhou essa avaliação econômica em um duplo pacote mais moderado do que os mercados esperavam.‎

Primeiro, Powell fez questão de separar a redução das compras da alta de taxas de juros que normalmente se seguiria. Ele afirmou que "o tempo e o ritmo da próxima redução nas compras de ativos não se destinarão a sinalizar diretamente o momento da alta da taxa de juros, para a qual definimos um teste diferente e substancialmente mais rigoroso".‎

‎Segundo, além de se abster de fornecer detalhes sobre o tempo e acelerar um possível programa de redução de compras, ele embutiu nesse seu futuro anúncio um pouco do que espera — acho eu — ser uma ambiguidade construtiva. Isso incluiu sua afirmação de que "temos muito terreno a cobrir para alcançar o máximo de emprego, e o tempo dirá se chegamos a 2% de inflação em uma base sustentável".‎

‎Esta mensagem é claramente destinada a evitar as bruscas variações que se seguiram ao primeiro anúncio em 2013, sob o então presidente do Fed Ben Bernanke, e a própria experiência de Powell no quarto trimestre de 2018.



No entanto, há uma boa razão para questionar a caracterização da política do Fed como "bem-posicionada". Por exemplo:

  • ‎As cinco razões de Powell para apoiar seu frequente argumento de que o recente aumento dos preços é provavelmente transitório mal aliviam as preocupações atuais sobre uma dinâmica de inflação que já está comprovada e, a julgar pelos dados de sexta-feira, continua a ser mais intensa e mais persistente do que o Fed espera. ‎
  • ‎Sua falha em mencionar a inflação da moradia e do aluguel ‎ ‎deixou de lado uma parte importante‎‎ da história da inflação em andamento, que tem significativas implicações econômicas, sociais e políticas. ‎
  • ‎As perspectivas de Powell para a economia não parecem suficientemente refletir a avaliação das pressões de baixo para cima sobre o custo que a maioria das empresas estão sofrendo e que vários presidentes regionais do Fed citaram em suas próprias avaliações sobre as perspectivas econômicas e seu apelo coletivo por uma redução antecipada. ‎
  • ‎Após uma leitura histórica equilibrada das reações políticas à inflação mais alta, a caracterização de Powell do risco atual de um potencial erro político parece ter um viés excessivo quanto a uma reação exagerada à inflação. Quando muito, o Fed está bem longe desse risco, dado que ainda está mantendo a postura política super estimulante que adotou há mais de um ano, no auge das interrupções do Covid na economia e nos mercados. ‎
  • ‎Finalmente, embora correto ao apontar para as incertezas associadas à variante delta, Powell se esquivou de discutir a considerável e crescente dissociação entre as finanças e a economia real.‎

‎Os investidores continuarão contentes com o benefício da dúvida dado a Powell;‎‎ ‎‎afinal, sua abordagem política abriu caminho para o aumento da riqueza financeira. Economistas, porém, estão mais divididos. O impacto benéfico na economia das compras maciças de ativos do Fed é limitado, se houver, enquanto os riscos para a economia e o sistema financeiro continuam aumentando

Continuo a acreditar que há uma justa preocupação com um erro de política monetária que poderia prejudicar o bem-estar econômico futuro e a estabilidade financeira, com repercussões sociais, institucionais e políticas adversas.‎‎ Espero que minhas preocupações não se verifiquem, mas infelizmente, tanto os números quanto a análise sugerem o contrário.

El-Erian tem sido um crítico veemente do Fed, e não poderia deixar de ser diferente neste momento. O Mosca tem uma visão agnóstica em relação a esse assunto, preferindo uma postura mais “ver para reagir”. Os argumentos elencados nesse artigo, porém, são apropriados.

O grande X das questões poderia se resumir em dois: a inflação observada nos itens específicos irá transbordar para o restante da economia? A taxa de desemprego ainda tem uma forte relação com a inflação - Em outras palavras, é possível se observar níveis de inflação mais elevados mesmo que a taxa de desemprego não esteja nas mínimas?

Sobre a primeira dúvida, por enquanto parece que a alta de preços está limitada aos itens que se encontram escassos no momento por diversas razões. O gráfico a seguir oferece uma boa dimensão nesse sentido.



Sobre a segunda, acredito que apenas a realidade poderá responder, sendo, portanto, mais uma hipótese do que algo possível de se verificar ex ante.

Em todo caso, a taxa de juros dos títulos de 10 anos parece bastante baixa. Antes de um exercício realizado com várias hipóteses, vale ressaltar que o juro de um papel longo deve contemplar um nível de inflação esperado acrescido de uma taxa real de juros, que deve ser mais elevada quanto maior o nível da atividade. Eu suponho que um nível “ideal” em condições normais de temperatura e pressão deveria estar na casa dos 2,5% a.a.

Na tabela fiz os seguintes cálculos: Supondo o juro atual em 1,3% a.a., e imaginando que a taxa de juros permaneça em 0% por um determinado período (1, 2, 3 etc. anos), qual taxa sobra no período seguinte? Em outras palavras, se eu adquiro o título hoje ao invés de ficar com os recursos rendendo 0%, e supondo que a taxa em algum momento devesse estar em 2,5% a.a., qual o prazo de equilíbrio?

 O que essa tabela nos diz é que o juro teria que permanecer em 0% por 4 anos e 10 meses, para que fosse mais interessante comprar que permanecer a 0%, na verdade empataria caso o juro naquele momento estivesse em 2,5%. Essa conta simplificada teria um potencial benefício adicional, pois esse papel na época teria 5 anos a vencer, o que se pode supor que teria uma taxa inferior a 2,5% a.a.

Mas com tudo isso, acho que é um mau negócio, é bem provável que o Fed se movimente antes de 4 anos.

O leitor poderia se perguntar então, por que estaria tão baixo o juro? Acredito que parte é função das compras feita pelo Fed, e pelos outros bancos centrais pois esses últimos permitem arbitragem dos papeis americanos cobertos com outras moedas.

No post as-commodities-estão-sinalizando-algo?, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: ...”  Estou trabalhando com um primeiro objetivo localizado entre R$ 5,56/R$ 5,76” ... Esse trade foi estopado durante a semana. Elaborei uma análise mais detalhada que vou explicar mais à frente. Porém, antes, gostaria também de acrescentar o outro comentário do post acima: ...” caso minhas premissas estejam corretas e o dólar atinja os níveis estimados, o que acontecer depois disso será de extrema importância. De acordo com meu cenário, eu esperaria um movimento importante de queda do dólar” ...



A primeira hipótese segue o que originalmente eu tinha projetado, a de que o dólar seguisses até o nível projetado. Entretanto, ao invés da forma padrão segundo Elliot Wave que corresponde a 5 ondas, existe uma outra configuração denominada de ending diagonal, cuja grande diferença é que essas ondas se dividem em 3 sub ondas. Não quero entrar no detalhe, já que uma boa parte dos leitores ficaria confuso.

O mais importante é que nesse cenário o objetivo seria mantido ao redor de R$ 6,18, conforme o gráfico a seguir – notem as linhas pontilhadas desse último movimento que indicam essa opção.



Observe que indiquei uma área entre R$ 4,88/R$ 5,0354, o que isso significa? Significa que o dólar, ao invés de manter a trajetória anotada acima, continuaria em queda. Se isso ocorrer, abre a possibilidade registrada a seguir.

A onda 5 pode assumir um caso excepcional onde termina antes e assume a denominação de “truncada”. Nessa situação, o movimento de queda se inicia antes dos níveis calculados pelos modelos.

No gráfico a seguir, destaco o local onde pode ter ocorrido esse movimento truncado em amarelo.



- David, qual você acha ser o mais provável?

Do ponto de vista econômico que o Brasil está vivendo, me parece mais provável a primeira alternativa, pois seria improvável uma queda do dólar com tantos questionamentos. Mas observando o movimento que ocorreu depois de março deste ano, observo uma queda em 5 ondas, uma correção em 3 ondas  como no livro texto.

Neste momento, com essas incertezas, prefiro apenas observar.

O SP500 fechou a 5.528, com alta de 0,43%; o USDBRL a R$ 5,1854, com queda de 0,25%; o EURUSD a 1,1797, sem variação; e o ouro a U$ 1.809, com queda de 0,39%.

Fique ligado!

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