Europa sempre no vácuo #SP500
Costumo
andar de bike na Marginal Pinheiros aos finais de semana. Normalmente o vento
não atrapalha, mas quando tem vento contra não é agradável. Aprendi a pegar o
vácuo da bike à frente, é uma beleza, não se sente a resistência. Às vezes,
enganosamente, se tem vontade de ultrapassar seu parceiro, e basta colocar a
bike no sentido da ultrapassagem para sentir a desaceleração originária do
vento contra — rapidinho eu retorno. A conclusão é simples: melhor andar no
vácuo.
Pouco
tenho comentado sobra a Europa, motivos não faltam. Desde a criação do Mosca,
mais frequente que não, tenho externado muito ceticismo. Uma região quase
que estagnada, e por sorte (ou competência!) a maior economia da região é a
Alemanha, uma das únicas a se destacar. A França, segunda colocada nesse
quesito, vai confirmando minha teoria de muitas décadas de que sua maior
qualidade se baseia nas construções antigas e nas obras de arte. Como costumava
cutucar os franceses na época em que trabalhei no Banco Francês e Brasileiro,
dizia que esse país viraria um Grande Museu, mas dos bons! Hahaha ... Já a
Itália, país maravilhoso por sua gastronomia e turismo, tem em seu povo a maior
inclinação para a Dolce Vita, colocando sua competitividade em níveis
muito inferiores aos necessários nos dias de hoje.
Para
piorar muito, inventaram de criar uma moeda única que equivale mais ou menos a
um câmbio fixo e faz com que essas diferenças só aumentem. Um câmbio one
size fits all não é a melhor solução dadas essas características.
Nessas
épocas de pandemia, onde várias economias estão imprimindo crescimento
expressivo, a Europa deu sinal de vida. Um artigo de Marcus Ashworth na
Bloomberg relata o que está ocorrendo nessa região em termos de economia.
Até
agora neste ano, o centro das atenções da recuperação da pandemia tem sido
monopolizado pelos EUA e, até certo ponto, até mesmo pelo Reino Unido. Mas saiam
da frente, suas economias de língua inglesa! Pode ser a hora da tartaruga
europeia alcançar as lebres.
As pesquisas com gerentes de compras são provavelmente os melhores instantâneos em tempo real de como uma economia está se saindo. Embora a leitura dos índices produza uma imagem nada exata, fornece um guia decente para a direção da viagem. Os que foram publicados na segunda-feira para os principais países desenvolvidos — em uma base preliminar para agosto —mostraram uma oscilação notável entre o sólido crescimento da área do euro (apesar de um pico de queda na indústria alemã) e as estrelas em declínio das recuperações econômicas americanas e britânicas. Os setores de serviços de ambas sofreram uma queda desagradável este mês devido à falta de pessoal e a problemas de logística generalizados. A glicose na veia do grande estímulo fiscal pode estar se dissipando rapidamente.
A Europa está se segurando por razões interessantes. Em primeiro lugar, embora o programa de vacinas da União Europeia tenha sofrido um início problemático, ele se recuperou fortemente e um grande progresso foi alcançado, permitindo a reabertura da economia em geral. Em segundo lugar, o tão esperado fundo de recuperação NextGenerationEU de € 800 bilhões (US $ 940 bilhões) está apenas começando a fazer efeito, com subsídios de bilhões de dólares transferidos para os países mais necessitados. A Itália recebeu sua primeira dose de € 25 bilhões em meados de agosto. Em terceiro lugar, devido à força implacável do dólar, a economia da área do euro com foco nas exportações ganhou algum alívio para que a recuperação se firmasse adequadamente, sem o vento contrário de uma moeda excessivamente forte.
Há outro fator também: o que acontecerá se o Fed peitar a parada e começar a reduzir seu vasto programa de compra de títulos QE este ano, só para desencadear outra reação nervosa do mercado. Pode ser que a gente descubra mais no simpósio anual de Jackson Hole do Federal Reserve esta semana — ou não. Mas com a Europa ficando significativamente para trás em sua recuperação pandêmica — e em um estado muito mais fraco, entrando em crise com vários países à beira da recessão — os riscos de o estímulo ser retirado prematuramente são muito mais agudos.
Mesmo
assim, a presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, agiu
rapidamente para imunizar o bloco contra esses riscos ao máximo possível. No
início deste verão, ela instituiu uma revisão abrangente do arsenal monetário
do BCE e uma simplificação de sua meta de inflação de 2%. Isso dará ao conselho
governamental muito mais flexibilidade para lidar com as adversidades se as
condições se tornarem adversas novamente. Sua reunião de 9 de setembro, sem
dúvida, terá alguns comentários animados de membros mais restritivos, mas eles
permanecem em minoria.
É
claro que parte do vento veio da recuperação nos Estados Unidos. Os analistas
do Goldman Sachs Group Inc. revisaram as estimativas de crescimento para baixo
nos EUA no terceiro trimestre, de 9% para 5,5%. A previsão para o ano inteiro
foi reduzida de 6,4% para 6%; a estimativa de 2022 foi aumentada apenas
marginalmente. Um padrão semelhante está sendo observado no Reino Unido, onde o
crescimento de 4,8% no segundo trimestre provavelmente cairá para cerca da
metade deste trimestre; o crescimento no segundo semestre pode decepcionar
ainda mais.
Mas
as estimativas europeias devem ser revisadas um pouco mais para cima, como mostra
a pesquisa mensal da Bloomberg com 50 economistas europeus. A Comissão da UE
revisou em julho sua expectativa de crescimento este ano para 4,8% e 4,4% para
2022, embora também possam ser revisadas nos próximos meses. Embora o motor
usual para o crescimento europeu — a indústria alemã — esteja lutando com o
resto do mundo industrial contra a escassez de chips e uma desaceleração na
demanda da China.
As
ações europeias estão acompanhando de perto os ganhos dos EUA neste ano por um
bom motivo; elas também estão superando fortemente os mercados de ações do
Reino Unido e da Ásia. Resta muita vida na recuperação da área do euro. Não descarte
a tartaruga.
Já
vimos esse filme antes. Diversas vezes a Europa esboça uma reação para alguns
trimestres depois se provar um voo de galinha, como se diz no jargão de
mercado. Outra característica que se mostrou recorrente é a defasagem em
relação aos EUA — em todas as vezes que esse último inicia um ciclo a Europa
reage alguns meses depois.
Como
na bike, a Europa está sempre no vácuo, independente se tem vento a favor ou
contra, como se não tivesse forças para um voo próprio, de liderança. Acredito
que desta vez não será diferente, e caso os EUA desacelerem de forma maior que
o esperado, o mesmo irá acontecer na Europa depois de alguns meses. Se não
fosse pela Alemanha, a moeda única já teria se esborrachado, talvez a única
forma dos outros países permanecerem competitivos. Mas temos boas notícias — se
as restrições da pandemia forem retiradas, poderão novamente faturar no caixa
dos museus!
No
post zero-cost, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “Neste estágio começa a ficar mais difícil estabelecer os
objetivos eu trabalho ao redor de 4.500. Por cautela, vou atualizar o stop
loss para o nível de entrada a 4.370” ...
Os leitores podem imaginar que a análise técnica é falha na indicação de objetivos, pois devem notar mudanças frequentes desses objetivos. Até entendo que fiquem com essa impressão.
Quem
acompanha o Mosca há mais tempo percebeu uma mudança importante. Quando
usava o outro software, os cenários eram mais estáticos e dessa forma os
objetivos mais estáveis; com esse novo (velho!) software, o cenário se torna
mais dinâmico, acarretando essa percepção de menor assertividade.
A
possibilidade facilitada de avaliar um ativo em qualquer janela possibilita avaliar
qual objetivo é mais adequado. Isso também pode acarretar mais indecisão — sempre
o maior detalhe pode atrapalhar. Mas sem dúvida a probabilidade de acerto se
eleva.
Em
todo caso, acredito que estamos com um bom grau de assertividade e peço para
que os leitores acompanhem essas mudanças sem que isso indique menos presteza.
Vamos que vamos!
Segundo
a visão atual, e condicionada à contagem mais provável, o SP500 deveria ter seu
momento de decisão no decorrer de setembro. O objetivo seria ao redor de 4.730/4.770,
conforme gráfico abaixo.
A imprensa mundial reportou as decisões do governo da China em relação a diversas empresas listadas em bolsa, sem explicar os motivos, o seria de se esperar. Os investidores ficaram preocupados com essa intromissão e alguns resolveram vender suas ações. O gráfico a seguir mostra a performance da bolsa americana em comparação com a chinesa desde 2019. Se existe algo que os investidores detestam, é o governo colocando a mão na cumbuca das empresas.
O SP500 fechou a 4.486, com alta de 0,15%; o USDBRL a R$ 5,2463, com queda de 2,49%; o EURUSD a € 1,1754, sem variação; e o ouro a U$ 1.802, com queda de 0,13%.
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