Sonho (pesadelo) X Realidade
Minha
saudosa terapeuta ensinou como identificar se um sonho é simplesmente um sonho
ou vai se tornar uma realidade. Isso ocorreu em algum momento que eu tinha
alguma visão sobre o futuro. Sua resposta foi bem simples: acompanhe os fatos e
compare com seu sonho.
Na
área de investimentos, acredito que o benefício que a análise técnica me trouxe
se encaixa muito bem nesses casos. Na última quarta-feira, durante a reunião da
Rosenberg, alguns participantes externaram sua preocupação com os elevados
níveis das bolsas internacionais quando se usa a métrica de P/L. Em sua
avaliação, uma correção deveria ser eminente. Como macaco velho que sou, essa
observação me levou a concluir que estavam sem posição, mas não ao ponto de ter
apostado contra, no máximo compraram uma opção de venda.
Quando
fiz a minha apresentação, disse que continuava comprado, com receio de uma
possível correção, mas também existe a possibilidade de novas altas. Por essa
razão, estava ajustando os stop loss, mas ainda posicionado.
Toda
essa introdução me leva ao assunto de hoje, que resumo numa pergunta: Quem há
18 meses podia imaginar que as bolsas dobrariam de valor?
Michael
Regan e outra comentam na Bloomberg com um título sugestivo:
O
impossível é agora lugar comum.
Apesar
do suprimento aparentemente interminável de poder cerebral e tecnologia de ponta
que é colocado para trabalhar nos mercados
financeiros, às vezes parece que ninguém sabe de nada.
Essa
talvez seja a lição aprendida mais difícil
de digerir — ou pelo menos reforçada
— do último ano e meio, durante a qual o mercado
de ações dos EUA dobrou no ritmo mais rápido
desde 1932: A sabedoria acumulada de Wall Street pode ser um ativo em
depreciação acelerada.
"Se
alguém tivesse me dito em março
do ano passado, quando o Covid mostrou sua cara feia pela primeira vez, que 18
meses depois teríamos casos tão numerosos, mas que o mercado
teria dobrado durante esse período de 18 meses, eu teria rido deles, ",
diz Steve Chiavarone, gerente de portfólio da Federada
Hermes Inc.
Portanto,
uma das lições cruciais deste período
para Chiavarone é sempre ter alguma humildade. "Mesmo
que você tivesse previsto o vírus,
você não necessariamente acertou o mercado",
diz ele. "Mesmo que você tivesse previsto um resultado eleitoral,
você não necessariamente acertou o mercado."
Há muitas evidências que mostram o quanto as previsões da era pandêmica erraram o alvo. Embora seja comum que as empresas superem as previsões publicadas pelos analistas de Wall Street, os ganhos entre as ações do S&P 500 superaram suas estimativas em uma média de mais de 19% nos últimos cinco trimestres. Antes da pandemia, elas estavam superando as estimativas em cerca de 3%. A incompatibilidade significava que, quando o mercado estava pessimista em seu pior momento em março de 2020, um dos conceitos fundamentais de valorização das ações — o nível de um índice em relação aos ganhos projetados de suas empresas — fez com que as ações dos EUA parecessem cerca de 20% mais caras do que elas se revelaram.
Talvez
isso ajude a explicar por que os investidores continuam puxando para cima as
ações sem ligar para métricas tradicionais de avaliação que, em muitos casos,
mostram de forma ostensiva que as ações estão caras como nunca. Ainda assim,
não há um consenso do “novo anormal” onde os investidores possam ancorar suas
expectativas. Entre os estrategistas dos bancos de Wall Street pesquisados pela
Bloomberg, a maior estimativa de fim de ano para o S&P 500 é de 4.825 e a
menor é de 3.800 — um spread de quase 27%.
Mesmo
os veteranos da indústria que passaram positivamente durante a
bolha pontocom e a crise financeira global, ficaram chocados e abalados pelo
que aconteceu durante uma pandemia que matou quase 4,5 milhões
de pessoas em todo o mundo — por enquanto.
Julian
Emanuel, estrategista-chefe de ações e derivativos da corretora BTIG, que tem um currículo
de 30 anos em Wall Street, diz que acreditava já ter visto de tudo em termos de
mercados antes da pandemia. No entanto, ele agora está perplexo. Não apenas com
a euforia no mercado de ações, mas também com um mercado de títulos que parece
estar ignorando o que os livros didáticos — e a história — dizem que deveria
estar fazendo.
Emanuel
ressalta que os preços ao produtor estão
subindo ao ritmo mais elevado dos últimos 13 anos e que a economia dos EUA deve
se expandir a uma taxa anual de 6,2% — quase o triplo do
crescimento na década anterior à
pandemia. Era de se esperar que os títulos fossem vendidos agressivamente neste
ambiente, para produzir rendimentos que possam acompanhar tanto a inflação
quanto as oportunidades de investimento disponíveis em um ambiente de alto
crescimento. "Em que mundo você poderia imaginar que os rendimentos de 10
anos seriam mais próximos de 1,2%?", diz ele. "O absolutamente
impossível é literalmente lugar-comum agora."
Isso
o leva a outra importante lição: a dinâmica do público
investidor importa tanto quanto os fundamentos das empresas e economias que são
o objeto de toda a análise.
Nos
últimos
anos, os caprichos dos investidores individuais não foram considerados uma
grande influência sobre o destino da maioria das ações
ou do mercado como um todo. Isso mudou durante a pandemia, por causa de uma
confluência de eventos: uma guerra de preços entre corretoras no final de 2019
reduziu o custo de operar para literalmente zero, bem na hora em que o
confinamento criou um excedente de tempo e dinheiro para que os americanos se arriscassem
no mercado.
O
número
de ações negociadas pelos clientes das principais
corretoras de varejo subiu de 700 milhões por dia antes da pandemia para 2,9 bilhões
no início deste ano, representando até
um quarto do volume do mercado, de acordo com a Bloomberg Intelligence. As
opções de varejo negociadas mais do que dobraram. Alimentadas por vozes
influentes no Reddit e outras mídias sociais, as novas hordas de day traders
frequentemente subiam o preço das ações de empresas à beira da falência declaradas
mortas por gestores profissionais de recursos.
Essa
nova leva de traders individuais é diferente de qualquer coisa que Emanuel já
viu no passado. "O público investidor tornou-se uma força
por si só", diz ele. "Se você ignorar o público investidor, vai
fazê-lo por sua conta e risco."
É claro que uma das forças
mais antigas também tem trabalhado duro: o Federal Reserve,
que dobrou sua distribuição para US $ 8,3 trilhões comprando títulos do
tesouro e hipotecários durante a pandemia, ajudando a
sustentar os preços desses ativos, mantendo as taxas de juros baixas e fazendo
as ações parecerem atraentes. Para Paul Nolte, gerente de portfólio da Gestão
de Investimentos Kingsview, uma vantagem
fundamental é que, como na Europa e no Japão,
o banco central dos EUA vai influenciar mais os mercados daqui para frente. A
abordagem delicada que o Banco Central está tomando para reduzir suas compras de
títulos mostra que "eles não podem seriamente aumentar as taxas por causa
da quantidade de dívida que temos", diz ele.
Para
Peter Mallouk, uma lição principal da era Covid é
nunca perder de vista o quadro geral, focando muito nos detalhes. "No
último ano, a história foi muito simples", diz o diretor executivo da Planejamento
Criativo, que tem cerca de US $
90 bilhões em ativos sob gestão.
"Podemos falar sobre um milhão de coisas, mas a única coisa que importa é
o Covid — sua taxa de mortalidade e nossa capacidade de lidar com isso. Todas
as outras histórias são realmente uma derivada."
Uma
das subtramas mais importantes da pandemia para Mallouk: "Todo mundo, por
causa de Covid, recebeu cheques." Proprietários de pequenas
empresas receberam empréstimos do Programa de Proteção
aos Salários. Algumas grandes corporações receberam auxílios ainda maiores. Os
indivíduos receberam cheques. Aqueles que perderam empregos receberam
benefícios de desemprego maiores. "E o que fazer com isso? Sair e comprar
coisas", diz Mallouk.
A
economia e o mercado ainda estão tentando entender essa história
muito básica, que para Mallouk explica algumas das
manias de investimento mais selvagens da era Covid, como os NFTs, as criptomoedas
e as ações de meme.
Ele
diz que o mercado vai se resolver em algum momento, com a diminuição de todo
esse excesso de dinheiro: "Ainda não chegamos lá. Mas é isso que está por
vir, e esse é o quadro geral que realmente impulsiona tudo."
Como se pode notar, cada um dos elementos que
contribuíram para esse artigo tem uma explicação. Não podia ser diferente, pois
como vocês já devem saber, é melhor alguma explicação que nenhuma. Mas o que
realmente ocorreu foi que as previsões na grande maioria estavam totalmente
erradas.
Para trabalhar no mercado financeiro você tem que
ter uma opinião sobre o futuro. Sem isso não saberá o que fazer, ou vai tomar
alguma decisão sem saber por quê. Essa é a parte em que o profissional com uma
boa escola e adquirindo experiência vai se sentir seguro para dar sugestões de
investimento. Agora, difícil é mudar de opinião sem que haja uma razão explícita
— ou ao contrário, como no caso da Covid, em que alta da bolsa começou a ficar
inexplicável no início.
Tudo isso é verdadeiro para quem usa os fundamentos.
Para quem usa os gráficos, porém, a decisão é de acordo com o que o mercado
está apostando. E como estamos aqui para ganharmos dinheiro e não para estarmos
certos, não existe problema nenhum em mudar radicalmente de posição.
No caso do Mosca, fiquei sem posição
até o meio do ano passado, tentando entender os sinais do mercado, que no
começo eram confusos — além de ser impossível não sofrer influência do environment
—, mas fui suficientemente prudente para não apostar contra. Ao redor de
agosto/setembro, entendi que os mercados estavam querendo subir e embarcamos
nessa tese, na qual estamos até hoje. Durante todo esse período, não faltaram
relatórios contrários, mas continuei firme até o mercado dizer o contrário.
A análise técnica trabalha com a realidade e não
com as projeções!
No post dicas-do-engraxate, fiz os seguintes
comentários sobre a nasdaq100: ...” estamos
nos aproximando do momento em que uma correção deverá ocorrer. Os leitores já
devem estrar cansados dos meus avisos, porém acredito que se deva ter toda
cautela proximamente. A área destacada no gráfico a seguir é a mais provável
para ocorrer a reversão” ...
Pode até ser que, a alta imaginada terminou pela proximidade do nível projetado – 15.750 X máxima atingida 15.696. A partir de agora toda atenção será necessária.
Para que os leitores possam entender os critérios que vou usar, delimitei uma área em verde no gráfico. Imagino duas possibilidades:
1) Continuidade: Se a bolsa,
ao invés do cenário básico, estiver num movimento de alta mais intenso, a
correção deveria estar limitada a essa região, além de se configurar com um
movimento em 3 ondas.
2) Cenário base: Uma onda
de vendas deve ocorrer de tal forma que ultrapasse a base do retângulo e
principalmente em 5 ondas.
Tenho
duas observações importantes a acrescentar: o gráfico acima tem janela de 1
hora pois é o movimento curto que queremos acompanhar; tudo o que relatei acima
supõe que a alta ocorreu, o que pode não ser o caso. Nessa última hipótese,
teria que “empurrar” mais para cima os pontos, porém, o raciocínio seria igual
o explicado acima, porém, com outros parâmetros.
Let the market speak!
O SP500 fechou a 4.535, sem variação; o USDBRL a R$ 5,1958, com alta de 0,31%; o EURUSD a € 1,1875, sem variação; e o ouro a U$ 1.827, com alta de 0,99%.
Fique
ligado!
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