A China desafia até a matemática #EURUSD

 


Não é novidade para ninguém o modelo adotado pela China para crescer. Resumidamente: aprender a produzir (e a copiar!), implantar fábricas, buscar qualidade nos produtos e exportar, gerando superávit comercial, a base de suas reservas internacionais. Com esse modelo, saiu de uma economia que estava fora das 10 maiores em 1970 para a segunda maior já em 2010. Seu PIB passou de U$ 92 bilhões em 1970 para U$ 175 trilhões em 2023 — um crescimento estilo Nvidia (maiores comentários amanhã).

Para conseguir tal feito, foram necessários investimentos não só em fábricas, mas também em infraestrutura, além de mover milhões de pessoas do campo para trabalhar nas novas indústrias. Estava tudo indo bem até que Donald Trump resolveu dar um basta em 2018, impondo novas tarifas. Biden, por sua vez, mais preocupado com segurança, impôs outras restrições sem remover as de Trump.

Essa queda marginal nas vendas poderia ser absorvida internamente para solucionar o excedente, mas, como os leitores do Mosca já sabem, o chinês é um poupador nato.

Levando para o lado micro, se você tem uma fábrica que produz uma determinada quantidade de produtos e sua demanda cai definitivamente, se quiser sobreviver, tem que se adequar à nova demanda, reduzindo a produção, o pessoal e as instalações. Se for bem planejado, é possível evitar recorrer a recuperações judiciais. Naturalmente, parto do pressuposto de que essa nova demanda não afetará sua margem de forma significativa, como, por exemplo, ser obrigado a baixar os preços. Se isso acontecer, talvez sua fábrica se torne inviável.

No caso da China, esse processo de ajuste nem pode ser considerado, pois o problema não seria apenas prejuízos financeiros, mas também o que fazer com o pessoal desempregado. E, se existe um temor (pavor) entre os governantes chineses, são as agitações populares. Com 1,3 bilhão de habitantes, isso é como riscar um fósforo num depósito de dinamite. A saída é encontrar “novos” clientes, o que vem sendo feito recentemente com países emergentes e, principalmente, com a Rússia. Greg Ip comenta no Wall Street Journal sobre a existência de um buraco na economia global, garantindo que a China entre em conflito com outros países.

A economia da China é incomum. Enquanto os consumidores contribuem com 50% a 75% do produto interno bruto em outras grandes economias, na China eles representam apenas 40%. Investimentos, como em imóveis, infraestrutura e fábricas, e exportações fornecem a maior parte do restante.

Ultimamente, esse baixo consumo se tornou um vento contrário para o crescimento da China, porque o investimento em imóveis, que antes era um componente importante da demanda, entrou em colapso.

Isso não é apenas um problema para a China; é um problema para o mundo inteiro. O que as empresas chinesas não conseguem vender para os consumidores chineses, elas exportam. O resultado: um superávit comercial anual de quase $900 bilhões, ou 0,8% do produto interno bruto global. Esse superávit efetivamente requer que outros países mantenham déficits comerciais.

O superávit da China, há muito tempo um ponto sensível nos EUA, está se tornando cada vez mais um problema em outros lugares também. Enquanto o saldo comercial de 12 meses da China com os EUA aumentou $49 bilhões desde 2019, subiu $72 bilhões com a União Europeia, $74 bilhões com o Japão e as economias recém-industrializadas da Ásia, e cerca de $240 bilhões com o resto do mundo, de acordo com dados compilados por Brad Setser do Conselho de Relações Exteriores.

Logan Wright, chefe de pesquisa da China na Rhodium Group, uma empresa de pesquisa dos EUA, disse que a China representa apenas 13% do consumo mundial, mas 28% do seu investimento. Esse investimento só faz sentido se a China tirar participação de mercado de outros países, tornando seus próprios investimentos em manufatura inviáveis, ele disse.

"O modelo de crescimento da China depende, neste ponto, de uma abordagem mais combativa com o resto do mundo", disse ele.

 



Enquanto muitos países em desenvolvimento confiaram em investimentos e exportações para impulsionar o crescimento inicial, a China é uma exceção, tanto por seu baixo consumo quanto por seu tamanho absoluto. Em um relatório, a Rhodium estima que, se a participação do consumo da China fosse igual à da União Europeia ou do Japão, seu gasto anual com consumo doméstico seria de $9 trilhões em vez de $6,7 trilhões. Essa diferença de $2,3 trilhões — aproximadamente o PIB da Itália — equivale a um buraco de 2% na demanda global.

As fontes desse subconsumo estão profundamente enraizadas nos sistemas fiscais da China e em suas escolhas políticas.

As rendas chinesas são altamente desiguais, e, porque os ricos gastam menos de sua renda do que os pobres, isso automaticamente deprime o consumo. A Rhodium cita dados que indicam que os 10% mais ricos das famílias tinham 69% das economias totais, enquanto um terço tinha taxas de poupança negativas.

Outros países abordam essas disparidades tributando mais os ricos e aumentando o poder de compra das classes baixa e média por meio de transferências de dinheiro e investimentos em saúde pública e educação. A China faz muito menos disso. Apenas 8% de sua receita tributária vem de impostos de renda pessoal, em comparação com 38% provenientes de impostos sobre valor agregado, semelhantes aos impostos sobre vendas, que pesam muito mais sobre as famílias de baixa renda, estima a Rhodium.

A China também gasta menos em saúde e educação do que as principais economias de mercado, forçando as famílias pobres e de renda média a gastar mais de sua renda disponível em ambos.

Enquanto isso, salários e taxas de juros reprimidos deprimem a renda e os gastos das famílias, enquanto aumentam os lucros das empresas estatais. A autoridade tributária limitada dos governos locais os obriga a arrecadar receitas vendendo propriedades para manufatura e infraestrutura, o que infla ainda mais o investimento.

Há uma década, os principais formuladores de políticas chineses compartilhavam a perspectiva dos economistas ocidentais de que, no nível macro, a China precisava reequilibrar de investimentos para consumo. Em 2013, o Partido Comunista no poder declarou que o crescimento passaria a depender das forças de mercado e dos consumidores.

O presidente Xi Jinping acabou indo na direção oposta; o consumo permaneceu fraco enquanto o controle estatal sobre a economia cresceu. Ele substituiu reformadores por aliados mais preocupados com metas específicas do setor do que com o crescimento geral.

O princípio fundamental por trás do comércio é a vantagem comparativa: os países se especializam no que fazem de melhor e, em seguida, exportam em troca de importações. Xi rejeita esse princípio. Em busca de "independência e autoconfiança", ele quer que a China produza o máximo possível e importe o mínimo necessário.

Mesmo visando produtos avançados, como veículos elétricos e semicondutores, a China se recusa a ceder participação de mercado em produtos de menor valor. Xi instruiu seus burocratas a "estabelecer o novo antes de quebrar o antigo", segundo relatos.

Como resultado, a Rhodium argumenta que "a China oferece menos oportunidades como mercado de exportação para países emergentes, enquanto compete diretamente com eles no espaço de baixa e média tecnologia".

Países que antes viam a China como cliente agora veem um concorrente. "Muitas empresas chinesas estão fabricando bens intermediários, que principalmente exportamos", disse Rhee Chang-yong, governador do Banco da Coreia, no ano passado. "O apoio de uma década do boom econômico chinês desapareceu."

Ironicamente, os funcionários estrangeiros têm tendido a ver os EUA como a maior ameaça ao sistema de comércio mundial desde que o presidente Donald Trump, em 2018, impôs tarifas altas à China e tarifas mais específicas a outros parceiros comerciais. Ele prometeu expandir essas tarifas se for eleito novamente.

No entanto, as tarifas de Trump devem ser vistas como uma reação à busca da China por uma política comercial claramente predatória, que se mostrou resistente às regras comerciais existentes.

Ainda assim, nenhum país sozinho pode resolver o problema. Assim como um dique desvia as águas de uma enchente, as tarifas dos EUA desviaram as exportações chinesas para outros mercados.




Esses outros países agora estão tomando medidas. México, Chile, Indonésia e Turquia anunciaram ou disseram que estão considerando tarifas sobre a China neste ano. Esta semana, o Canadá anunciou novas tarifas acentuadas sobre veículos elétricos, aço e alumínio chineses, alinhando-se com as já anunciadas pelos EUA.

No entanto, o mundo até agora não tem uma solução unificada para o subconsumo chinês, porque a China se recusa a aceitar que isso seja um problema.

Xi rejeitou o apoio fiscal às famílias como "assistencialismo" que gera preguiça. Em abril, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, reclamou que o "fraco consumo das famílias e o excesso de investimentos empresariais" da China estavam ameaçando empregos nos EUA. A agência estatal de notícias Xinhua chamou isso de pretexto para protecionismo. No início deste mês, o Fundo Monetário Internacional aconselhou Pequim a gastar 5,5% do PIB ao longo de quatro anos comprando casas inacabadas. Pequim recusou educadamente.

Com a China que não se mexe, é certo que mais atritos surgirão, e um já frágil sistema de comércio mundial será levado ao ponto de ruptura.

O material é rico em informações que detalham as razões da falta de consumo, bem como quantifica a situação. Como no exemplo que fiz no início, só existem duas formas de resolver o excesso de capacidade instalada: buscar novos clientes — que, no caso de um país, poderia significar crescimento mundial e/ou direcionar o excedente para outros países; ou fechar fábricas e demitir. Se nenhuma das duas opções ocorrer, podemos esperar um quadro deflacionário em bens produzidos na China, bem como a existência de diversos negócios zumbis. Agora, desafiar a matemática não é uma solução viável.

Do ponto de vista dos investimentos estrangeiros, houve um otimismo no início deste ano. Os principais motivos naquele momento foram algumas medidas tomadas pelo governo para incentivar a economia e também porque os ativos estavam com preços atraentes. No entanto, com o passar do tempo, a retirada de recursos voltou ao patamar anterior, atingindo novos recordes, acompanhada pela queda na bolsa, como mostra o gráfico a seguir.



 

No post copia-cola, fiz os seguintes comentários sobre o euro: ...” O euro atingiu a máxima de €1,1049, se aproximando do stop loss de €1,1139. Já, por via das dúvidas, criei um cenário alternativo que contemplaria uma alta em andamento até €1,2340.”

 


 

A moeda única acabou rompendo o nível de €1,1139, o que vai enfraquecendo minha estratégia. Existe um nível máximo aceitável de €1,1275. O que aconteceria nesse caso? Indiquei com os símbolos em amarelo as duas alterações: primeiro, a onda (B) azul seria deslocada para onde se encontra a onda (a) laranja; segundo, estaríamos num movimento de alta que deve levar o euro a €1,2350.




- Hahahaha... David, nessa você errou feio! 

 Um minuto! Ainda não joguei a toalha. Como comentei acima — não sabe ler?! Mas minha tese ficou mais fraca. E quanto você perdeu? Na única entrada que fiz, ainda ganhei um troco de 0,46%. Quantas vezes tenho que repetir que o compromisso é só com o bolso, nada mais? E antes que você me pergunte, se ocorrer o rompimento, já antevejo uma oportunidade. Se o euro vai cair ou subir, não estou nem aí, mas estou sim atento às oportunidades.

O SP500 fechou a 5.591, sem alteração; o USDBRL a R$ 5,6286, com alta de 1,12%; o EURUSD a € 1,1077, com queda de 0,39%; e o ouro a U$ 2.521, com alta de 0,76%.

Fique ligado!

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