É para comprar ou para vender? #SP500
A matéria de economia talvez seja uma das únicas que depende
de modelos matemáticos em conjunto com o comportamento humano, longe de ser uma
ciência exata. Para nós, com uma formação mais analítica e mais associada ao
espírito de trader (ou melhor, especulador), muita explicação não combina.
Talvez o melhor exemplo que eu já descrevi aqui foi dos dois
jovens sócios de uma corretora carioca, e um deles foi escolhido para trabalhar
no Banco Central. Na conversa telefônica, depois de 90 dias no cargo, o trader
que ficou, após uma extensa explicação de seu sócio sobre o estado da economia,
foi direto: "irrrrmão, é para comprar ou para vender?"
Os mercados resolveram apostar que, com 100% de certeza,
haverá um corte de juros de 25 pontos em setembro e, quiçá, 50 pontos. Essas
certezas, para mim, que sou macaco velho, são perigosas. Nos últimos dias, um
sem-número de teorias surgiu para justificar essa ação, e o tom na grande
maioria era que, se assim não fizer, o Fed estaria arriscando levar a economia
americana para a recessão — como se 25 pontos em relação a 5,5% fizessem muita
diferença.
Dentre todos os indicadores citados nessas narrativas,
existe um, e somente um, que não deixa dúvida: a inflação. Podem estar certos,
e com essa equipe do Fed, se a inflação não der sinal de que está no rumo do
objetivo do Fed de 2% a.a., ele não vai baixar os juros. Na verdade, não
precisa cravar; basta mostrar que caminha para lá. Agora, se ao contrário,
mostrar sinal de alta, o caldo entorna. John Authers comenta na Bloomberg nesse
sentido, e seu título vai ao encontro da minha ideia: A inflação é mais importante
do que qualquer outra coisa e, como amanhã será publicado o CPI de julho, o
mercado apostou com favoritismo máximo que vai no sentido de queda. Hoje foi
publicado o PPI — preços ao produtor — e veio um pouco abaixo do esperado, em
2,2% a.a., mas o dado importante é o de amanhã.
A calma que retornou aos mercados pode ser perturbada por um
reposicionamento violento se uma surpresa no Índice de Preços ao Consumidor
(CPI) ameaçar os cortes de juros.
Desde a divulgação dos últimos números de inflação ao
consumidor dos EUA há um mês, o cenário político mudou radicalmente e os
mercados globais enfrentaram seu maior susto desde a pandemia. Por isso, pode
ser difícil lembrar que os números da inflação que serão divulgados na
quarta-feira ainda importam muito. Para os mercados, eles provavelmente
importam mais do que qualquer outra coisa.
Para ter uma ideia, veja como o índice Russell 2000 de ações
de pequenas empresas se comportou no último ano. Não é coincidência que todas
as grandes reviravoltas — com exceção da queda da semana passada — ocorreram em
dias em que dados surpreendentes do CPI foram divulgados:
A inflação importa para o mercado de ações principalmente por seu impacto nas taxas de juros e na política monetária. Taxas de juros mais baixas significam que os lucros futuros podem ser descontados a uma taxa menor. Portanto, não é surpresa que o Russell tenha sido prejudicado por números de inflação desconfortavelmente altos (indicando que os cortes nas taxas não viriam rapidamente) e tenha subido com números surpreendentemente baixos.
As expectativas de taxas de juros, por sua vez, chegaram a
um ponto interessante. A função Bloomberg World Interest Rate Probabilities
agora consegue gerar previsões implícitas para a taxa básica do Fed até o
início de 2027. Ela mostra uma grande confiança de que o próximo ano, ou algo
assim, será dedicado a um afrouxamento significativo, que verá a taxa noturna
cair pelo menos dois pontos percentuais.
Isso seria uma grande mudança, e um número de inflação mais alto nesta semana abalaria a certeza atual. Mas talvez o mais interessante seja que, pelo menos por enquanto, o mercado de futuros de fed funds vê o ciclo de cortes de taxas terminando e atingindo o fundo acima de 3%. Desde que Paul Volcker deixou o cargo de presidente do Federal Reserve em 1987, o nível mais baixo da taxa de fed funds efetiva em cada ciclo sempre esteve abaixo de 3% (um nível que só foi alcançado durante o primeiro grande ciclo de cortes de Alan Greenspan no início dos anos 1990). Portanto, mesmo que os mercados comprem a ideia de que o Fed terá que cortar em breve, eles também parecem convencidos pela teoria de que as taxas muito baixas das últimas três décadas foram uma aberração e que a norma para a política monetária será mais rígida no futuro. Isso presumivelmente anda de mãos dadas com taxas de inflação ligeiramente mais altas.
Se os mercados de juros parecem convencidos de uma queda cíclica iminente nas taxas, eles parecem igualmente convencidos, pelo menos por enquanto, de uma elevação secular. A normalidade após a bolha pontocom, a Crise Financeira Global e a pandemia, eles parecem acreditar, está voltando.
O que talvez seja surpreendente é que os consumidores estão
agora superando seus medos de inflação. Na segunda-feira, foi publicada a
pesquisa regular do Fed de Nova York sobre expectativas de consumidores, que é
muito observada pelos formuladores de políticas do Comitê Federal de Mercado
Aberto. Os números para a inflação de três anos foram muito surpreendentes; as
expectativas mais baixas desde o início da pesquisa em 2013, com a queda mais
acentuada entre aqueles cuja educação terminou no ensino médio ou antes (que
geralmente sofrem mais danos com a inflação do que outros).
Conclusão
Tudo isso é consistente com um mundo em que o Fed reassume decisivamente o controle e promove uma aterrissagem suave com a qual todos possam se sentir confortáveis. Como mais ou menos ninguém parece verdadeiramente esperar esse resultado em seus corações, julgando pelos comentários vindos de todos os lados, os riscos implícitos de surpresas são reais.
Isso nos leva aos números do CPI de quarta-feira (que seguem
os dados de preços ao produtor na terça-feira). Economistas entrevistados pela
Bloomberg esperam outra ligeira queda para o número principal, enquanto o
índice geral (menos importante para a política monetária) será aproximadamente
estável.
Se confirmado, espera-se que os mercados continuem a se acalmar após sua recente convulsão. Poderia ser difícil de se lidar com uma surpresa para cima. Um corte de juros no próximo mês está atualmente precificado como uma certeza. Diminuíram as conversas prevalentes na semana passada sobre um corte entre as reuniões , mas um afrouxamento em setembro ainda está precificado como uma certeza, com um grande corte de 50 pontos-base visto como uma chance de 50/50.
Investidores estão tão certos
de que o Federal Reserve está pronto para fazer cortes agressivos nas taxas de
juros que, se o CPI de julho divulgado nesta quarta-feira vier mais alto do que
o esperado, os mercados podem enfrentar um choque desagradável. Embora um corte
em setembro seja o cenário base, o perigo é que um aumento na inflação na
quarta-feira pode desencadear um ajuste violento de posições.
Ele também descartou como "pensamento positivo" os
argumentos de que o enfraquecimento do mercado de trabalho garantiria um corte
em setembro, independentemente da inflação. O sentimento já oscilou várias
vezes este ano sobre a chance de cortes de taxas. Esta não é uma previsão, mas
há tempo para que mude novamente. (Isso vale, aliás, para a campanha eleitoral
dos EUA.)
Os dados expostos por Authers não deixam dúvida da convicção
do mercado em relação à inflação: é para baixo e ponto! Neste momento, valem
mais os dados reais, pois a convicção é tão elevada que não devem existir
apostas contrárias. Mas vale lembrar aqui o que eu disse no início do post:
economia não é uma ciência exata e, por mais que o sócio da corretora tenha
respondido "nesse caso, é para vender a inflação", o risco fica com o
sócio trader.
No post fazer-o-quê fiz os seguintes comentários sobre o S&P500: "A queda em curso levaria a bolsa até o nível aproximado de 5.000 para, em seguida, iniciar um movimento de alta cujo objetivo seria em 6.440. As outras opções vou deixar em stand by até que fique mais claro."
Passada uma semana, a bolsa continuou subindo de forma discreta — cuidado ao comparar o gráfico acima com o a seguir, visto que o primeiro tem janela semanal. Neste momento, fiquei em dúvida se a onda (iv) laranja já terminou (destacada abaixo). Coloquei um aviso ao nível de 5.386. Porém, mais importante seria ultrapassar os níveis de 5.448 / 5.548.
O volume de recursos direcionados ao setor de tecnologia não para! Mesmo com todas as considerações recentes de perigo: preço elevado; dúvida sobre a eficácia da IA; queda do juro beneficiando as pequenas e médias (que estariam na bacia das almas) e tudo mais, o investidor continua acreditando neste setor e, como dizia meu ex-sócio Emir Capez: "contra o fluxo, não tem argumentos". A opção de entrar na bolsa continua válida.
Como comentei no texto, está tudo precificado para a perfeição, basta vir um número bom de CPI amanhã que provavelmente a festa continua. Também acredito que esse dado deve ser bom pelas fontes que sigo. Por último, porém não mesmo importante existe sempre a chance de subir no boato e cair no fato.
O que fazer? Não vou entrar pois o principal motivo seria
pegar um “precinho bom” se der tudo certo. Como vai ficar amanhã: se for pelo
canal positivo decido quando entrar e qual preço, mas com maior segurança; se não
der certo, vou ter que refazer as ondas de curto prazo.
- David, esse episódio mais parece um secção de terapia!
Quero lembrar seu princípio básico do bolso, não me interessa suas divagações.
Parece mesmo! Hahaha ... eu só publiquei para que saibam
como raciocinar em momentos de indecisão e elencar os motivos para um lado e
para outro.
O SP500 fechou a 5.434, com alta de 1,69%; o USDBRL a R$
5,4493, com queda de 0,89%; o EURUSD a € 1,0995, com alta de 0,58%; e o ouro a
U$ 2.466, com queda de 0,24%.
Fique ligado!
Na minha visão, a aposta no CPI é assimétrica. Numero muito forte deve impactar a bolsa para baixo, numero muito fraco idem. A única opção para o mercado é o dado vim neutro (pequena alta ou zero), onde a avaliação de direção do mercado vai ser postergada para o próximo CPI/PCE e para o dado de emprego.
ResponderExcluiro CPI gabaritou como comento hoje.
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