Os sem nota #USDBRL

 


Já imaginou se, na época em que estávamos na escola, não houvesse notas? Como poderia ser feita a avaliação de um aluno? O critério seria subjetivo do professor e acabaria por causar muitas injustiças. Se o professor gostasse de você e você tivesse uma compreensão razoável da matéria, provavelmente seria aprovado; e, vice-versa, se ele não fosse com a sua cara, poderia ser reprovado, mesmo tendo um entendimento igual ao de outros alunos. Ainda bem que não era assim e existe um modelo que independe de julgamento subjetivo.

O mesmo não acontece com os bancos centrais. Os analistas fazem seus julgamentos baseados em critérios que, por princípio, são subjetivos, mesmo que associem dados e informações para chegar às suas conclusões.

Hoje decidi fazer algo inédito. Na Bloomberg, foram publicados dois artigos, um por John Authers e outro por Nir Kaissar, que expressaram opiniões distintas sobre a avaliação do Fed. A seguir, apresento os principais argumentos negativos e positivos para o mesmo banco central.

 

Críticas ao Federal Reserve: Perspectiva de John Authers

1. Riscos de Inflação e Bolhas Econômicas: John Authers levanta a preocupação de que a política de afrouxamento monetário do Fed, com a impressão massiva de dinheiro e a manutenção de taxas de juros extremamente baixas, pode alimentar uma inflação significativa no futuro. Ele compara essa situação à "chuva monetária" de Milton Friedman, argumentando que o excesso de liquidez não apenas impulsiona os preços dos ativos financeiros, criando bolhas, mas também pode eventualmente levar a um aumento generalizado nos preços de bens e serviços, prejudicando consumidores e investidores.



2. Perda de Credibilidade e Confiança: Authers aponta que, ao persistir em uma política monetária excessivamente expansionista, o Fed corre o risco de perder credibilidade perante os mercados financeiros e o público em geral. Se os agentes econômicos começarem a acreditar que o Fed não conseguirá controlar a inflação, ou que está mais focado em evitar recessões de curto prazo do que em garantir a estabilidade de preços a longo prazo, isso poderia desestabilizar ainda mais os mercados.

3. Aumento da Desigualdade: Outra crítica levantada por Authers é o impacto desproporcional das políticas do Fed na desigualdade econômica. A manutenção de taxas de juros baixas tende a beneficiar investidores e proprietários de ativos, uma vez que os preços dos ativos financeiros são impulsionados. No entanto, a população de baixa renda, que depende mais de salários do que de ganhos de capital, não se beneficia na mesma medida. Isso, segundo Authers, pode agravar a desigualdade social e econômica, criando um ambiente de maior tensão social.

4. Riscos para a Estabilidade Financeira: Authers também sugere que as políticas do Fed podem estar encorajando comportamentos de risco excessivo entre investidores. A busca por rendimentos mais elevados em um ambiente de juros baixos pode levar a uma alocação excessiva de capital em ativos arriscados, aumentando a vulnerabilidade do sistema financeiro a choques inesperados. Caso ocorra uma correção significativa, isso poderia desencadear uma crise financeira.

5. Limitações de Política no Futuro: Finalmente, Authers argumenta que, ao esgotar suas ferramentas tradicionais para estimular a economia, o Fed se coloca em uma posição vulnerável para enfrentar futuras crises. Com as taxas de juros já próximas de zero, o banco central teria menos margem de manobra para cortar taxas ou implementar medidas de flexibilização quantitativa de maneira eficaz, limitando sua capacidade de resposta em situações de emergência econômica.




Otimismo em Relação ao Federal Reserve: Perspectiva de Nir Kaissar

1. Estabilidade e Crescimento Econômico: Nir Kaissar, por sua vez, argumenta que as políticas do Fed foram fundamentais para assegurar a estabilidade econômica durante períodos de incerteza, como a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19. Ele acredita que, sem a intervenção decisiva do Fed, os EUA poderiam ter enfrentado uma recessão mais profunda e duradoura, com impactos negativos mais severos sobre o emprego e o crescimento econômico.

2. Flexibilidade e Adaptação: Kaissar elogia a capacidade do Fed de adaptar suas políticas conforme as condições econômicas mudam. Ele destaca que o banco central demonstrou uma abordagem pragmática, ajustando taxas de juros e programas de compra de ativos em resposta a sinais de recuperação ou deterioração econômica. Essa flexibilidade, segundo ele, é uma prova da eficácia do Fed em manter a economia no caminho certo.

3. Controle da Inflação: Embora as preocupações com a inflação sejam válidas, Kaissar acredita que o Fed possui as ferramentas necessárias para controlá-la, caso ela comece a subir de forma preocupante. Ele cita a capacidade do banco central de aumentar rapidamente as taxas de juros ou reduzir seu balanço patrimonial como medidas eficazes para esfriar uma economia superaquecida. Portanto, ele vê a preocupação com a inflação como um exagero, considerando a capacidade do Fed de agir rapidamente.




4. Impacto Positivo nos Mercados de Trabalho: Kaissar também aponta que as políticas do Fed têm um impacto positivo direto no mercado de trabalho. Ao manter as condições de financiamento favoráveis, o Fed facilita o acesso ao crédito para empresas, promovendo investimentos e criação de empregos. Ele argumenta que, em um contexto de crescente automação e mudanças estruturais, a intervenção do Fed é crucial para manter baixos os níveis de desemprego e apoiar a economia de forma ampla.

5. Gestão de Expectativas: Finalmente, Kaissar elogia a comunicação transparente do Fed com os mercados e o público. Ele acredita que, ao fornecer orientações claras e previsíveis sobre suas intenções políticas, o Fed ajuda a ancorar as expectativas inflacionárias e reduz a incerteza. Essa comunicação eficaz é vista como uma ferramenta poderosa para garantir a estabilidade econômica e evitar reações exageradas dos mercados a mudanças de política.

 

Conclusão do Mosca

Então, ficou confuso? Natural. Os argumentos a favor e contra partem de hipóteses sobre o futuro e é possível pintar o quadro que se deseja. Diria que Authers já tem uma opinião negativa, expressa em várias de suas publicações, e, resumidamente, acredita que o estímulo monetário proporcionado pelo Fed durante a pandemia foi exagerado, e essa conta deverá ser paga um dia.

Já Kaissar acredita que era essencial a criação de estímulos naquele momento e que o Fed foi competente em trazer a inflação para baixo com uma política monetária mais austera, sem ter causado transtornos na atividade econômica.

Posso quase garantir que o leitor que acompanha a economia americana acabou tendo um viés para um desses argumentos. Esse viés acaba tendo relação com as posições detidas: quem está comprado na bolsa gostou mais de Kaissar, e quem está esperando o momento de entrar preferiu a posição de Authers, sem falar das posições financeiras deles mesmos.

Embora desnecessário, é bom enfatizar que ambos são analistas de um respeitado meio de comunicação econômico e analisam a mesma entidade.

- David, legal. Qual conclusão se pode tirar?

Meu amigo, você não está esperando que eu diga qual lado estou. O objetivo de hoje é mostrar que se pode dourar a pílula da forma que mais convém, seja pelo ego ou pelo bolso. Essas são as situações de entidades “sem nota”, onde os bancos centrais se enquadram. O analista acaba atribuindo um julgamento.

Esses são os obstáculos do fundamentalismo.

No post  a-verdade-sempre-aparece, fiz os seguintes comentários sobre o dólar: "Se a onda 2 verde ainda está em voga — e só será eliminada abaixo de R$ 5,2911, mas a probabilidade de estar correta vai diminuindo. Em todo caso, o stop loss abaixo de R$ 5,2911 seria o trigger".




 A onda 2 verde foi no limite — R$ 5,3755 da invalidação, sem que isso ocorresse — R$ 5,3696. Tenho a mesma confiança? Não.

No passado, eu tinha alertado que a onda (5) azul — final desse movimento — era da forma diagonal. Conforme foi evoluindo, deixei essa opção de lado e acabei apresentando outras formas, mas não me “apaixonei” por nenhuma delas, razão de não ter sugerido trade mesmo tendo uma visão de alta. Se tivesse, não seríamos bem-sucedidos. Resolvi voltar à opção diagonal. Razão? Parece que é a melhor que se encaixa neste momento.





Sob esse ponto de vista, o dólar estaria na fase inicial da onda (4) azul, que deveria levar o dólar ao redor de R$ 5,20. Só depois o movimento de alta se iniciaria, cujo objetivo seria entre R$ 6,33 / R$ 6,34, não em linha reta, mas também completando um ABC. Necessário frisar que, diferentemente de uma onda “normal”, onde a onda (4) azul não poderia tocar nesse nível, na diagonal é obrigatório que vá abaixo. Por essa razão, a diagonal é tão difícil de operar.

O SP500 fechou a 5.6161, com queda de 0,31%; o USDBRL a R$ 5,4977, com alta de 0,22%; o EURUSD a € 1,1159, com queda de 0,28%; e o ouro a U$ 2.518, com alta de 0,32%.

Fique ligado!

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