A verdade sempre aparece #USDBRL

 


Um dos grandes defeitos do Lula (tem vários) é achar que é bom de papo e que consegue mudar a opinião de quem quer que seja no estilo botequim. Acontece que as pessoas não são ingênuas e, conhecendo sua forma de ser, estão preparadas. Quando assumiu, resolveu ser o salvador da Pátria e se lançou como a pessoa que iria acabar com a Guerra da Ucrânia: "Deixa comigo que sou amigo do Putin e dobro o Zelensky." Não precisou muito tempo para ficar falando sozinho. E em inúmeras outras situações semelhantes seu resultado foi zero. Está quieto no curto prazo, mas não perdemos por esperar.

Mais recentemente, jogou querosene no fogo ao dizer que seu compromisso é com os mais necessitados e que o déficit público seria consequência, mas que os credores iriam compreender, pois ele jura que vai pagar as dívidas. Lógico que não foi da maneira que descrevo, mas é o que se pode concluir de suas atiutudes. Cortar despesas, nem pensar, pois é muito difícil e iria arrumar mais inimigos. Acontece que os credores locais e internacionais têm uma cartilha a seguir: se um país tem déficit crescente com nível de endividamento elevado e não corta gastos. Reagem vendendo os papéis, desembocando numa  elevação dos spreads. Sr. Lula, não tem papo, a regra é essa. Mas mesmo assim ele continuou tentando ludibriar o mercado. Aí vem a resposta, como Vinicius Andrade relata na Bloomberg.

Faz quase dois anos que Luiz Inácio Lula da Silva garantiu seu retorno ao poder no Brasil. Para os investidores, esses anos têm sido desanimadores. A moeda desvalorizou, os rendimentos dos títulos do governo aumentaram, e o mercado de ações só conseguiu metade dos ganhos registrados no restante dos mercados emergentes. Tudo isso contrasta fortemente com o primeiro mandato presidencial de Lula, duas décadas atrás. Naquela época, ele se tornou o mais improvável dos queridinhos de Wall Street — um líder sindical radical que surpreendeu analistas ao adotar rapidamente a austeridade fiscal — e supervisionou um furioso rali nos mercados do país. O principal índice de ações registrou ganhos anuais médios — em dólares — de 38% durante seus oito anos no cargo.

O cenário global era muito diferente naquela época. Os preços das matérias-primas produzidas pelo Brasil estavam em alta, trazendo um fluxo cada vez maior de dólares para o país, e as taxas de juros globais estavam em níveis baixíssimos, levando os investidores a buscar ativos de risco que pudessem gerar retornos mais altos em lugares como o Brasil. Agora, os preços das commodities estão no máximo estáveis, e as taxas de juros estão nos níveis mais altos em gerações nos EUA e em outros lugares.

O presidente parece não ter percebido — ou não se importar muito — com essa nova realidade. Os observadores do Brasil dizem que o Lula de 2024 tem pouca semelhança com o Lula de 2003, que estava determinado a provar que não era o gastador irresponsável que seus críticos diziam que arruinaria a economia brasileira. Ele tem resistido repetidamente a pedidos de cortes de gastos para conter um déficit orçamentário que cresceu para o equivalente a cerca de 10% do produto interno bruto do Brasil.

É uma cifra impressionante, muito maior do que qualquer déficit registrado em seu primeiro mandato e um dos maiores do mundo. E está afastando investidores que já estavam hesitantes em colocar dinheiro em uma economia de mercado emergente, quando podem ganhar mais de 5% em um título do Tesouro dos EUA ou, por exemplo, retornos de dois dígitos em ações impulsionadas pelo frenesi da IA gerado pelo Vale do Silício.

"Demorou um pouco para apreciarmos a magnitude da deterioração fiscal, mas agora reconhecemos totalmente e não estamos otimistas", disse Patrick Campbell, gestor de portfólio da Morgan Stanley Investment Management. "Tudo se resume a gastos. O desânimo é completamente generalizado."



Os mercados brasileiros se estabilizaram um pouco recentemente, com a moeda e o mercado de ações registrando ganhos nas últimas semanas. No entanto, as perdas deste ano ainda são profundas. O índice Ibovespa caiu 11% em termos de dólar; o real caiu 11% em relação ao dólar, mais do que qualquer outra moeda importante; e os rendimentos dos títulos de referência de taxa fixa subiram mais de 1,9 pontos percentuais.

Lula, é claro, não precisa atender aos investidores. Mas ao ignorar suas preocupações, ele corre o risco de estrangular ainda mais o fluxo de capital, aprofundando a queda da moeda e alimentando um novo surto de inflação que prejudicaria todos os brasileiros.

O banco central alertou que a deterioração das expectativas de inflação pode forçá-lo a começar a aumentar as taxas de juros de referência novamente já no próximo mês. A 10,5%, elas já estão entre as mais altas do mundo, comprimindo empresas altamente endividadas e restringindo o crescimento econômico.

"O Brasil tem estado incrivelmente barulhento", disse Patrick Esteruelas, chefe global de pesquisa da gestora de fundos hedge EMSO Asset Management em Miami. "É difícil desenvolver muita convicção em meio à constante interferência política na política fiscal e monetária."

Um porta-voz do governo disse que Lula deixou claro em recentes declarações públicas o quanto está comprometido com o controle dos gastos. Entre elas, estava uma entrevista no mês passado em que ele disse ser "mais sério sobre responsabilidade fiscal do que qualquer um que opina sobre isso no Brasil."

Um porta-voz do ministro das Finanças, Fernando Haddad, disse que a queda nas ações locais no primeiro semestre se deveu a uma venda generalizada de ativos de risco e que elas estão superando os pares desde que Lula voltou ao cargo. Os mercados estão ficando mais positivos sobre a perspectiva fiscal, disse o ministério, citando um relatório do governo de meados de agosto.

O papel do Brasil nos mercados globais diminuiu muito desde os anos de boom, o que apenas aumenta os riscos para Lula. O peso do país, por exemplo, no principal índice de mercados emergentes da MSCI caiu pela metade nas últimas duas décadas, para 4%, refletindo sua participação decrescente na produção econômica global e nos mercados de capitais estagnados. Não houve uma única oferta pública inicial (IPO) no país nos últimos três anos. Esse peso da MSCI é apenas um terço do da Coreia do Sul e menos de um quarto do da Índia.

Em outras palavras, tornou-se fácil para os investidores ignorarem o Brasil. E eles têm feito isso. Hoje, as ações do país são negociadas com um desconto de 26% em relação à média de 10 anos.

"Quando comecei minha carreira em mercados emergentes, você precisava dedicar muito do seu pensamento à América Latina e ao Brasil", disse Ted Mann, analista sênior de mercados emergentes da Ariel Investments em Nova York, que começou a cobrir a região em 2013. "Agora, ficou muito, muito menor. E acho que essa tendência provavelmente continuará."




Aqueles que permanecem otimistas com o Brasil apontam, entre outras coisas, para o fato de que o Federal Reserve está prestes a começar a reduzir as taxas de juros, o que deve ajudar a trazer dinheiro de volta aos mercados emergentes. O otimismo de que esses cortes começarão no próximo mês ajudou a desencadear a recente recuperação dos ativos brasileiros.

"Provavelmente, este é o momento errado para ficar pessimista em relação ao Brasil", disse Geoffrey Dennis, um estrategista de Wall Street aposentado. Dennis começou a analisar os mercados brasileiros no início dos anos 1990 e os acompanha de perto até hoje. A única ressalva ao seu otimismo: "a menos que comecemos a ver muitas mais decisões fiscais ruins."

Por um tempo, parecia que Lula tomaria medidas para limpar as contas fiscais, assim como fez duas décadas antes. Ele impulsionou um novo teto de gastos e uma reforma tributária há muito aguardada no Congresso, e o país conquistou dois upgrades de classificação de crédito em seu primeiro ano no cargo.

Mas as rachaduras já começaram a aparecer. Lula criticou publicamente o banco central recém-independente do país, pressionando os formuladores de políticas repetidamente para reduzir as taxas mais rapidamente a fim de impulsionar o crescimento.



 

Então, em abril, sua administração alterou uma meta orçamentária chave, abrindo caminho para mais gastos. Os mercados registraram algumas das maiores perdas do ano nos dias que se seguiram. Os fundos hedge brasileiros permanecem pessimistas hoje. Eles têm apostado contra os ativos locais ou os têm evitado totalmente, de acordo com cartas mensais aos investidores, e estão alocando uma fatia crescente de dinheiro em ativos offshore.

"A perspectiva fiscal é o risco número um no país", disse Priscila Araújo, gestora de portfólio da O3 Capital em São Paulo. "O Brasil pode claramente se beneficiar de um cenário global mais favorável à medida que o Fed começa a cortar, mas algumas medidas adicionais precisam ser implementadas se quiser abordar as preocupações fiscais."

Essa ideia formada pelos investidores internacionais descrita nesse artigo está fazendo o Brasil perder a importância que merece pelo tamanho do país. Vão sobrando os especuladores que fazem entradas esporádicas e oportunistas. Infelizmente, a opinião do Mosca vislumbra o Brasil como um país cuja segunda derivada é negativa. O que isso significa é que a deterioração está em andamento, mas ainda tem inércia; não é perceptível de imediato, somente com o tempo.

A situação é tão escancarada que a quantidade de memes do Ministro da Economia, Fernando Haddad se proliferou de maneira geométrica. Esse memes versam sobre o mesmo pano de fundo: taxar, taxar, taxar, deixando claro a posição do mercado e investidores de que a forma usada de buscar mais imposto para diminuir o déficit, é uma piada. Afinal, taxar é tirar dinheiro de quem gasta bem para quem gasta mal.

No post erros-irreparáveis fiz os seguintes comentários sobre o dólar: "... Com a evolução da semana passada, ajustei a contagem de acordo com o gráfico. Nesse novo cenário, o stop loss seria em R$ 5,3696. Diria que, segundo essa visão, a onda 2 verde deveria reverter dos níveis próximos aos atingidos hoje pela manhã, mas abaixo abrem-se outras possibilidades...."

 



Se a onda 2 verde ainda está em voga – e só será eliminada abaixo de R$ 5,2911, mas a probabilidade de estar correta vai diminuindo. Em todo caso, o stop loss abaixo de R$ 5,2911 seria o trigger. Não vou tratar agora, por não ser o momento. Estou com meus recursos limitados até a próxima quarta-feira.




O SP500 fechou a 5.607, com alta de 0,97%; o USDBRL a R$ 5,4138, com queda de 1,15%; o EURUSD a € 1,1083, com alta de 0,50%; e o ouro a U$ 2.504, com queda de 0,10%.

Fique ligado!

Comentários

  1. Aparentemente o mercado não está muito preocupado com essas narrativas fiscais.

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