Senta que o Leão é manso #IBOVESPA
Ontem foi um dia de recuperação das bolsas depois de dias de
sufoco, principalmente na segunda-feira. Hoje, na abertura, os mercados parecem
mais serenos, com ganhos. A grande dúvida, depois de dias assim, é o que vai acontecer
nos próximos dias e meses: retorno ao movimento original de alta, ou podemos
esperar novas quedas? Se houvesse um gatilho apontado para essa liquidação que
ocorreu, fico com a ideia de um mercado muito otimista, com baixa liquidez.
Alguns analistas apontaram a relutância do Fed em diminuir
os juros e qualificaram os dados de emprego como horríveis. O Mosca não tem
essa interpretação: houve uma pequena diminuição nas contratações e a taxa de
desemprego subiu por motivos específicos, e não pelo principal motivo de
dispensa de funcionários.
Os dados referentes aos hedge
funds indicam que eles foram os maiores compradores na última
segunda-feira. Essa informação é interessante, uma vez que vinham diminuindo
suas posições há algum tempo. Isso por si só é um atrativo para comprar? Não,
apenas informativo.
Hoje se pode encontrar posições de analistas nos dois sentidos. Por exemplo, vou resumir os argumentos de dois deles, cada um com ideias diferentes:
John Authers acredita que a alta de ontem foi só um respiro
e existem novas quedas à frente. O mercado financeiro usa uma terminologia um
tanto negativa para eventos recentes, como o "dead cat bounce" (salto
do gato morto), que descreve uma recuperação de preços após uma grande queda.
Uma metáfora oceanográfica, como a de tsunamis, ajuda a entender melhor esses
eventos. Tsunamis são causados por terremotos submarinos que deslocam grandes
volumes de água, gerando ondas devastadoras. Quanto mais profundo o local do
terremoto, maior o tsunami resultante. Esse princípio se aplica aos mercados
financeiros: quanto mais profundo o dano econômico, maiores e mais persistentes
serão as ondas de venda. Recentemente, uma combinação de mudanças de sentimento
em relação à economia dos EUA, reversão no carry
trade japonês e a saída de grandes ações de tecnologia dos EUA causou uma
série de ondas no mercado, com intervalos de calma aparente.
A história mostra que, após uma grande queda, é comum haver
um rápido rebote no mercado, mas isso não significa que a crise acabou.
Análises como a de Harry Colvin da Longview Economics mostram que em 13 das 15
quedas do S&P 500 desde 1978, houve um novo teste das baixas iniciais após uma
alta de alívio. Além disso, Nicholas Colas da Datatrek International, usando o
índice de volatilidade VIX, observa que níveis extremos de volatilidade indicam
mais ondas à frente. Sem um catalisador específico, a história sugere um
período de 4-6 semanas antes de se atingir um ponto baixo realmente investível.
Se surgirem problemas maiores na economia, a espera pode ser mais longa.
Portanto, embora haja oportunidades de rally para traders ousados, a
instabilidade do mercado deve persistir enquanto a energia propulsora dessas
"placas tectônicas" financeiras se mantiver.
Já Nir Kaissar comenta na Bloomberg com uma pergunta: Quanto
mais pode a bolsa corrigir? Não muito. Vejamos um resumo de seus argumentos:
A recente queda nas ações está forçando os investidores a
reconsiderar se o mercado está sobrevalorizado e até que ponto pode cair. Uma
abordagem para responder a isso é verificar se as ações estão caras em relação
aos seus fundamentos e estimar as quedas necessárias para trazê-las a níveis
mais normais. Após uma queda de 3% no índice S&P 500, foi realizada uma
análise das previsões de crescimento dos lucros a longo prazo de cada empresa
do índice. Surpreendentemente, 63% das empresas estavam sendo negociadas a
menos de 18 vezes os lucros a longo prazo, indicando que muitas ações não estão
tão sobrevalorizadas quanto se pensava inicialmente. Se essas ações ajustassem
para um múltiplo de 18 vezes, o S&P 500 subiria 33%, já que muitas das
maiores empresas impulsionariam esse aumento.
Por outro lado, se as 165 empresas consideradas
sobrevalorizadas ajustassem para um múltiplo de 18 vezes, o S&P 500 cairia
apenas 9%. No entanto, se o mercado se tornar cético em relação às estimativas
de lucros, especialmente em setores como tecnologia, que dependem de
expectativas de crescimento ligadas à inteligência artificial, os analistas
podem ser forçados a revisar suas estimativas. Uma correção severa poderia
resultar em uma queda de até 27% no S&P 500, semelhante a um mercado em
baixa doloroso. Embora alguns preços ainda precisem ser reajustados, o mercado
como um todo pode não estar tão caro quanto parece, desde que os lucros se
mantenham conforme o esperado. O comportamento do mercado nas próximas semanas
determinará a qualidade dessas estimativas de lucros.
E o Mosca onde fica? Fica nos gráficos! Hahaha...
Outro culpado apontado para a bagunça vivida foi o Banco do
Japão, que resolveu ficar macho e dizer que iria subir os juros. Mas não se
engane, leitor: nada parecido à regra do Mosca. Se tem que subir, que suba já,
mas devagarzinho, sem pressa. Aí, as operações denominadas de carry trade foram
desmontadas sem dó, e em pouco mais de um mês, a queda foi de 12% entre a
máxima de ¥ 161 até a mínima de ¥ 141, ultrapassando o ganho de vários anos
obtidos nessa operação. Notem que essa queda é em relação ao dólar; se for
medida em outras moedas, como o peso mexicano, foi de 33%. Para que o leitor
entenda o resultado obtido nessas operações: o lucro é a diferença de juros da
moeda comprada menos o juro da moeda vendida, o yen, desde que a relação entre elas
fique estável; caso contrário, uma valorização desse par se acrescenta ao ganho
e uma desvalorização se subtrai, que foi o que aconteceu nesse caso.
Sabem há quanto tempo existe essa operação? Que eu me
lembre, mais de 20 anos. Mas mesmo nesse período, existiram momentos bons e
ruins, como selecionei no gráfico trimestral do yen. Quanto ao juro, nesse
período não precisava se preocupar, sempre foi zero no Japão.
Quanto à atitude do Banco do Japão em relação às intervenções feitas, não precisava se preocupar, pois como aponta a figura abaixo, quase sempre foi para desvalorizar o yen, poucas foram as situações em que atuou para fortalecer a moeda, como aconteceu recentemente.
O Banco do Japão se assustou com o movimento que ocorreu nesta semana e fez uma declaração ontem que acalmou os mercados. Megumi Fujikawa comentou no Wall Street Journal, do qual fiz um resumo:
Uma semana após o principal banqueiro central do Japão
abalar os mercados globais com comentários sobre o aumento das taxas de juros,
o vice-governador do Banco do Japão, Shinichi Uchida, retrocedeu e prometeu não
aumentar as taxas quando os mercados estiverem instáveis. Esse compromisso
levou a uma recuperação acentuada das ações em Tóquio e a uma queda no iene,
revertendo parcialmente os efeitos da coletiva de imprensa de 31 de julho, na
qual o governador Kazuo Ueda havia sugerido a continuação dos aumentos das
taxas, apesar do fraco consumo no Japão. Uchida, em discurso para líderes
empresariais, afirmou que o Japão não enfrenta uma inflação crescente como a
dos EUA e Europa nos últimos anos e que o banco central não elevará as taxas em
mercados instáveis. Ele destacou que a taxa de 0,25% é especialmente baixa em
termos reais após a inflação e que o Banco do Japão continuará apoiando a
economia com condições financeiras acomodatícias. Recentemente, o índice Nikkei
recuperou 12% e o iene enfraqueceu, demonstrando uma reação positiva dos
mercados à promessa de Uchida de estabilidade nas políticas monetárias.
Perspectivas Futuras
Fico abismado como o assunto juros é um problema para o
Japão. Naturalmente, entendo que com uma dívida sobre o PIB de deixar qualquer
Ministro das Finanças envergonhado, criou-se um monstrengo que não permite
ajustes. É notório que esse indicador está completamente errado; o Japão vem
apresentando níveis de inflação que se deslocaram do passado, onde eram zero ou
até negativos, criando um status quo por décadas.
Olhando para frente, podemos ver dois cenários: a inflação
retrocede aos níveis anteriores e o BOJ não precisa mexer muita coisa; ou a inflação
persiste. Neste caso, o BOJ enfrenta e sobe os juros para adequar com suas
consequências ou mantém muito baixo e implica uma perda de valor aos rentistas.
Agora, que o juro está errado, não precisa nenhum PHD em economia para
perceber.
No post novo-pirata fiz os seguintes comentários
sobre o IBOVESPA: ...” No cenário de alta apresentado acima, seria de se
esperar uma retração na onda (2) azul entre 124.0 / 123.7. Se houver uma
reversão daí, vamos sugerir trade de compra; essa retração pode se estender até
122.7 sem que haja alteração. Agora, entre 122.7 / 120.9 entramos na “Terra de
ninguém” onde pode acontecer a reversão ou não. Se essa situação ocorrer,
teremos uma pista pelo movimento da queda – seria razoavelmente íngreme. Abaixo
desse último patamar, vou mudar o cenário para queda valendo o que expus no
post citado acima” ...*
A mínima de 123.0 mil atingida na segunda-feira coloca a opção de alta apresentada acima como a melhor possibilidade no momento. Desde então, a recuperação vem se desenrolando de forma adequada, faltando ultrapassar o nível de 127.5 mil. Tudo isso é suficiente para uma sugestão de compra? Não ainda; vamos observar os próximos dias. Considero que existe uma relação com o que vai acontecer no exterior. Em todo caso, essa é uma ideia minha e eu não gosto dessas dependências entre mercados como argumento. Em todo caso, fiquem atentos ao Mosca para qualquer incursão.
O SP500 fechou a 5.199, com queda de 0,83%; o USDBRL a R$ 5,6228, com queda de 0,70%; o EURUSD a € 1,0922, sem variação; e o ouro a U$ 2.386, com queda de 0,13%.
Fique ligado!
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