Fazer o quê! #SP500
O Brasil e o mundo ficaram encantados com a ginasta Rebeca
de Andrade. Sua conquista de medalhas a coloca como a maior ginasta brasileira
da história. Sua simplicidade e simpatia irradiam no pódio. A ginástica
olímpica é um esporte arriscado, pois depende de movimentos arrojados que
desafiam a lei da gravidade e demandam extrema coordenação. O equilíbrio entre
a razão e a emoção é fundamental para o sucesso. Dependendo de um processo de
repetição enorme, uma falha é mais que natural e pode comprometer sua
trajetória.
Achei uma frase dela de extrema utilidade para nós
investidores e pretendo usá-la daqui em diante. Quando em uma apresentação algo
saiu errado, ela disse: "Fazer o quê". À primeira vista, parece uma
frase derrotista, mas na verdade expressa que não existe controle sobre tudo e
algo pode dar errado. Para nós, equivale ao momento de um stop loss executado. Nessahora, posso quase garantir que um
sentimento de culpa floresce, com pensamentos do tipo: "sou burro, estava
na cara que não ia dar certo; devia ter deixado um stop loss mais largo" (principalmente se o mercado reverte
logo em seguida); entre outros. Considerando que não houve nenhum erro na
execução, sabemos que o trade é um evento probabilístico e, como tal, pode não acontecer
o mais provável. A atitude de "fazer o quê" é a melhor opção nesse
momento, pois implica esquecer o evento e partir para a próxima, como a Rebeca
fez e faz.
O último trade malsucedido foi com o Russell 2000, onde
fomos estopados. Tinha algo de errado? Nada. A configuração de alta era a mais
provável, mas ocorreu o inverso. O montante também, quando sugeri o tamanho de
1/3 do normal. Se subir, vamos entrar de novo? Agora, seguramente não (veja
explicações no segmento de análise técnica).
Essas últimas chacoalhadas nos mercados de risco criaram um
grau de insegurança por parte dos investidores, não que as quedas fossem
expressivas, mas a mudança de rumo precipitada acompanhada de forma como
ocorreu gera elevada expectativa. Para o Mosca, o que mais chamou atenção foi a
elevação da volatilidade medida pelo índice VIX. Como podem observar a seguir,
a alta foi da mesma magnitude das que ocorreram na Grande Recessão de 2008, na
Covid em 2020, e essa que classifiquei como "do nada".
Em momentos como esse, os analistas buscam explicações em ocorrências passadas para encontrar alguma semelhança e assim projetar o que pode ocorrer. John Authers comenta na Bloomberg que o que está ocorrendo é mais parecido com 1998 – quebra de um grande hedge fund que balançou Wall Street – do que 2007 – a Grande Recessão.
Quando o Gênio Falhou
Então, por que 1998 se desenrolou como aconteceu? A primeira metade foi consumida pela mania de fusões (como a união da Citicorp e da Travelers para formar o Citigroup), e a queda do verão foi desencadeada em grande parte por um default na Rússia, que havia atraído uma enxurrada de dinheiro nos anos anteriores e estava enfrentando sérios problemas sob Boris Yeltsin.
Aquele ano viu uma nova queda de agosto para setembro,
quando o Long-Term Capital Management, um enorme e fortemente alavancado fundo
de hedge, entrou em colapso e exigiu um resgate de seus bancos credores de Wall
Street em um movimento controversamente intermediado pelo Fed. Quando os
mercados de títulos permaneceram completamente calmos, o Fed jogou a toalha e
fez um corte de taxa de fundos federais muito incomum entre as reuniões
agendadas. Esse incidente deu origem à expressão "Fed Put", e a nova
liquidez do Fed impulsionou uma onda especulativa extraordinária quando as
pontocom chegaram ao mercado.
Esse corte é geralmente condenado agora como um erro, por
causa da bolha das pontocom. Mas eu sugeriria que 1998 nos oferece um mapa
perfeito para navegar em 2024. A venda inicial impulsionada pela Rússia
desencadeou uma segunda queda porque deixou uma grande instituição financeira
(LTCM) em sérios apuros. O grande rebote veio porque o mercado efetivamente fez
pressão para o Fed cortar as taxas. Portanto, precisamos saber, primeiro, se
alguma instituição entrará em sérios apuros como resultado da queda atual, uma
questão que gira em torno da quantidade de alavancagem que assumiram. Em
segundo lugar, precisamos saber a chance de o Fed (e outros bancos centrais)
serem levados a resgatar a todos com cortes de taxas ou outras medidas para
fornecer liquidez.
A alavancagem tende a ser relegada hoje a mercados privados
onde não podemos vê-la e onde os detentores são menos propensos a ter que
atender chamadas de margem com urgência. Portanto, isso é extremamente difícil
de julgar. Mas o setor bancário regulamentado parece muito mais robusto do que
em 1998, ou mesmo do que na primavera passada, quando um aumento nos
rendimentos dos títulos causou a queda do Silicon Valley Bank. A última edição
da Pesquisa de Opinião dos Oficiais de Empréstimos Sêniores do Fed (SLOOS)
apareceu na segunda-feira e mostrou que os bancos mal estão apertando os
padrões para empréstimos comerciais. Isso não é o comportamento de instituições
em apuros, ou de uma economia em condições particularmente difíceis:
Nada disso significa que algum jogador sistemicamente importante não esteja sofrendo sérias perdas e se preparando para vendas forçadas. É apenas para dizer que, no momento, não há evidências claras de tal coisa. Se esta venda maciça não colocou uma grande instituição em risco, é menos provável que se desenvolva em uma queda auto-reforçada.
O que isso implica para o Fed? Como documentamos, as
expectativas mudaram radicalmente ao longo do último ano. Pouco antes do último
relatório do CPI, a função Bloomberg World Interest Rate Probabilities disse
que o mercado estava precificado para fundos federais estarem em 4,675% após a
reunião de janeiro de 2025. Em um ponto na manhã de segunda-feira, isso caiu
para 3,658%, uma mudança radical na forma como se esperava que o Fed se
comportasse. Sem um grande incidente financeiro, no entanto, é difícil ver por
que fariam isso.
Os diretores do Fed que fizeram comentários públicos na
segunda-feira estavam preocupados em afirmar que um corte de até 25 pontos base
na reunião do próximo mês não estava garantido. Austan Goolsbee, chefe do Fed
de Chicago e ex-conselheiro do presidente Obama, disse que o banco central era
**"menos reativo do que os mercados"** e não reagiria exageradamente,
enquanto Mary Daly, do Fed de São Francisco, admitiu que o mercado de trabalho
estava desacelerando, mas disse que os cortes dependeriam de novos dados e que
**"os mercados podem se mover demais em uma direção ou outra".
Eles não parecem estar prontos para um corte de emergência
entre as reuniões, à la Greenspan em 1998, apesar da ampla especulação no
mercado de que serão forçados a fazê-lo. Joseph Lavorgna, da SMBC Nikko, que
foi conselheiro econômico na administração Trump, explicou por que cortes de
emergência eram improváveis:
- Pareceria um movimento de pânico.
- O presidente Jerome Powell pode preparar os mercados para
um grande corte de taxa de pelo menos 50 pontos base em 23 de agosto em Jackson
Hole.
- Qualquer coisa que potencialmente enfraqueça ainda mais o dólar
poderia exacerbar a liquidação do carry trade de ienes.
É muito provável agora que o Fed comece a afrouxar as taxas.
Na ausência de um incidente para comparar com o LTCM, Lehman Brothers ou SVB, é
improvável que joguem a cautela ao vento e arrisquem desencadear um boom
especulativo como o de 1998. Portanto, mantenha a calma e lembre-se de que a
questão chave agora é se haverá algum problema com alguma instituição chave
para os mercados financeiros.
Me recordo bem desse momento em 1998. O que o fundo
Long-Term Capital Management fez foi muito lógico, mas muito, muito arriscado.
Para entender sua estratégia, comprava bonds de vencimento em 29 ½ anos e
vendia os de 30 anos. Qual o motivo? Normalmente, tinha um diferencial de
retorno quando uma nova emissão era feita e o mercado preferia pagar um pouco
mais caro por esse bond pela liquidez, são chamados de on the run. O LTCM,
que tinha dois Prêmios Nobel em sua equipe, achava que em algum momento esse
prêmio iria desaparecer e embolsariam a diferença. Funcionou por muitos anos e
os retornos foram fantásticos, tanto que a maior parte dos bancos americanos
eram seus cotistas.
Com a crise da Rússia, o prêmio se elevou. Naquele momento,
era mais importante ter uma porta de saída caso algo muito ruim (ou bom)
acontecesse. Até aí, o fundo poderia aguentar esses momentos, a não ser pela
enorme alavancagem que usavam. As cotas foram despencando e surgiu um boato que
iriam quebrar, tornando todo o processo um círculo vicioso. Notem que excesso
de alavancagem pode ter o mesmo resultado que um crédito mal dado. O presidente
do Fed, Alan Greenspan, chamou os principais bancos dos EUA e "sugeriu"
que eles injetassem liquidez no fundo. Houve adesão em massa, o que evitou a
quebra. Para efeitos estatísticos, a cota do fundo, que valia US$ 100 um pouco
antes do evento, estabilizou a US$ 10, uma perda de 90% do valor.
John Authers sugeriu que o momento vivido é semelhante a
1998, acho muito pouco provável. O problema maior seria na bolsa de valores,
onde a alavancagem é seguramente inferior às 30 vezes do LTC, mesmo
considerando uma adequação às volatilidades entre esses ativos. Se tiver, é
peixe pequeno.
No post restou-o-fed-e-venezuela fiz os seguintes comentários
sobre o SP500: ... "Tudo indica que minha leitura estava correta e a
onda iv verde pode ter terminado na última quinta-feira com a mínima em 5.390.
O objetivo inicial para a onda (iii) azul seria 5.860, aproximadamente 7%.
Vamos entrar? Vou esperar mais evidências no curto prazo e decidir" ...
Que diferença faz uma semana! O meu tom há apenas uma semana era otimista. Eu quase sugeri um trade de compra no dia seguinte, mas decidi esperar e, na sequência, a bolsa caiu 8% da máxima.
Os leitores sabem bem que tenho dois cenários para o SP500 e
nas últimas semanas estava me inclinando para a opção mais altista. Como fica
agora? Da mesma forma, dois cenários válidos, embora a probabilidade tenha se
alterado. Veja a seguir o gráfico com janela semanal como poderiam ser os
próximos lances da bolsa.
A queda em curso levaria a bolsa até o nível aproximado de 5.000, para em seguida iniciar um movimento de alta cujo objetivo seria em 6.440. As outras opções vou deixar em stand by até que fique mais claro. Com a alta de hoje, é possível que o movimento de alta esteja em curso, não visitando o nível de 5.000. Pode!
Em relação ao Russell 2000, no post é-para-rasgar-carteirinha publiquei o gráfico a seguir que tinha uma visão de alta.
Com a queda impulsiva ocorrida nos últimos 3 dias, modificou completamente minha análise, originando uma nova opção que não contempla altas e talvez baixas mais adiante. Por essa razão, não há por que voltar a sugerir compra. Fazer o quê!
O SP500 fechou a 5.239, com alta de 1,03%; o USDBRL a R$ 5,6583, com queda de 1,16%; o EURUSD a € 1,0930, com queda de 0,20%; e o ouro a U$ 2.388, com queda de 0,80%.
Fique ligado!
Comentários
Postar um comentário