Restou o Fed (e a Venezuela) #SP500

 


Em semana de Olimpíada, as notícias econômicas têm pouco espaço para proliferar. Fico com a sensação de que existe uma pausa para tanta coisa ruim que vem acontecendo. A equipe do Brasil não está indo bem nessa competição, o que não é de se estranhar, pois é um espelho do país em que vivemos. Somente notícias inadiáveis ganham destaque, como a decisão do Fed amanhã e o roubo descarado das eleições venezuelanas. Não vou tratar deste último assunto, que não merece uma linha de destaque, a posição do governo brasileiro é lamentável. Mas poderíamos esperar algo diferente?

Amanhã, o Fed e o BCB terminam os dois dias para dar o seu veredito: o primeiro, com poucas chances de baixar os juros – embora eu acredite que vá sinalizar essa ação para a reunião de setembro; e o segundo, que deve manter os juros no patamar atual de 10,5% — no que o mercado vai ficar de olho é se existirá alguma sinalização de alta — isso mesmo, alta. Confesso que gostaria de assistir a esse movimento ainda no mandato de Roberto Campos, que sairia com medalha de ouro em todas as categorias. Antes que eu seja bombardeado por um leitor, o motivo é o gráfico abaixo. Descontrole total das contas públicas, derivando para déficits crescentes se nada for feito.

 



John Authers comenta o movimento dos bancos centrais com uma espera desconfortável:

Exatamente um ano após seu último aumento de taxa, uma sequência positiva de dados econômicos coloca o Federal Reserve perto de seu primeiro corte desde março de 2020, mas ainda não está claro quando isso acontecerá. Os mercados estão mais de 100% certos de um corte de 0,25 % em setembro. No entanto, a coordenação entre os bancos centrais permanece arriscada. Em um período de 32 horas, entre quarta e quinta-feira, o Banco do Japão, o Federal Reserve e o Banco da Inglaterra se reunirão para decidir sobre a política monetária, e é bem possível que cada um se mova em direções diferentes. A história emergente das tentativas de outros bancos centrais globais de descer das taxas de juros máximas – que compilamos nesta última edição de "O Ano da Descida Perigosa" – mostra que o movimento será difícil.




A esperança de um afrouxamento iminente da política vem com um déjà vu. A descabida mudança do Fed para taxas mais baixas no final do ano passado e a subsequente re-aceleração da inflação servem como um aviso aos navegantes, e ele não quer se enganar novamente. À medida que o "Points of Return" acompanha a descida das altas taxas, a questão óbvia é se está finalmente à vista a chamada "maior confiança" do Fed necessária para afrouxar sua política. Vários discursos do Fed e múltiplas publicações de dados desde nossa última edição mostram um progresso claro em direção à meta de inflação do Fed. Isso reviveu as esperanças de cortes de taxas nos EUA e em mercados desenvolvidos. A forte crença em um corte da taxa de fundos federais em setembro está alinhada com as expectativas de pares desenvolvidos, incluindo Canadá, Suíça e Banco Central Europeu, conforme mostrado no gráfico:




Esses números vêm da função Probabilidades de Taxas de Juros Mundiais da Bloomberg, que deriva probabilidades implícitas de taxas de política a partir de preços de futuros e swaps. Com a aparentemente eterna exceção do Japão, cortes de taxas são esperados em todo o mundo desenvolvido, embora a direção do movimento seja diferente. No Reino Unido, na zona do euro e nos EUA, há menos otimismo sobre cortes do que em abril; na Suíça e no Canadá, onde os cortes estão em andamento, as expectativas foram reduzidas.

Essas diferenças se devem em grande parte aos dados econômicos ambíguos. O forte crescimento do produto interno bruto dos EUA no segundo trimestre veio em meio a temores de recessão. Embora o crescimento tenha superado as estimativas dos analistas, os dados permaneceram consistentes com uma desaceleração gradual. Outros enfrentam uma necessidade mais urgente de aliviar a política. O que fazer?

Assim como escalar montanhas, a coordenação é vital na política monetária. Alpinistas encontram segurança ao se amarrarem juntos. Como o Fed ainda não começou sua descida, os pares que iniciaram a deles não podem se mover muito à frente. Caso contrário, correm o risco de uma corrida à sua moeda. Os rendimentos elevados dos títulos dos EUA têm pressionado particularmente as moedas dos mercados emergentes:




Muito embora a maioria dos bancos centrais emergentes gostaria de um corte na taxa de fundos federais nesta semana, o que é mais viável na quarta-feira é uma comunicação detalhada do caminho para um corte em setembro. No interim, haverá uma série de dados, incluindo a inflação de julho e agosto. O Fed pode ganhar mais tempo aguardando esses dados, sugerindo um caminho adicional para os preços, conforme Jeff Schulze, diretor-gerente e chefe de estratégia econômica e de mercado da ClearBridge Investments.

O que tudo isso significa para o FOMC esta semana? Está virtualmente além de qualquer dúvida que o próximo movimento do Fed será um corte. É um ponto que Powell continua a reiterar. No entanto, acertar o timing é de suma importância. Cortar muito cedo ou muito tarde pode impactar a inflação, fazendo-a disparar, ou ajudar a empurrar a economia para uma recessão.

Alguns defensores proeminentes de taxas "mais altas por mais tempo" recentemente mudaram de lado, com os dados indicando que as altas taxas tiveram resultado. Mohamed El-Erian, da Bloomberg Opinion, acredita que o Fed pode estar a duas reuniões de cometer um erro de política. Ele argumenta que reduzir a inflação de cerca de 9% para cerca de 3% em dois anos é um bom progresso, e adiar cortes de taxas pode ser prejudicial:

Outro colunista da Bloomberg Opinion, o ex-presidente do Fed de Nova York Bill Dudley, também mudou de falcão para pomba e defende um corte em julho. "Embora possa já ser tarde demais para evitar uma recessão cortando taxas", escreveu ele, "demorar agora aumenta desnecessariamente o risco".




No entanto, os mercados estão começando a achar que o ciclo de cortes do Fed está atrasado. Alguns traders estão até apostando em um corte de meio ponto em setembro. Tom Porcelli, da PGIM Fixed Income, não espera isso, mas descreve um cenário que poderia justificá-lo:

“Teria que ser uma reação a algum evento dramático. Teremos mais dois relatórios de inflação e dois relatórios de emprego antes da reunião de setembro. Seria necessário um dado próximo de zero para os próximos meses. Ou a inflação mês a mês desacelerando para zero… Estou simplesmente dizendo que seria necessário algum tipo de deterioração notável nos dados para que o Fed prepare um corte de 50”.

Chega uma hora que não dá para ficar em cima do muro, é necessária uma ação, e este é o momento em que o Mosca acredita que estamos. Authers fala dos economistas que “viraram a mão”, como Bill Dudley e Mohamed El-Erian, que comentamos aqui também na semana passada. Powell, corte os juros e seja o que Deus quiser – meio estranha essa citação para um economista raiz!

No post o-pé-frio, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: “Não tenho muita convicção na contagem de ondas como já comentei antes, mas não enxergo nada melhor no momento. Trouxe a onda iii verde para frente como se ela tivesse terminado e devemos estar na onda iv verde, cuja retração pode chegar a 5.407. O objetivo na onda v verde seria 5.479 / 5.778 ou mais acima a 5.935”. Notei que postei dois gráficos iguais, peço desculpas pelo erro.

Tudo indica que minha leitura estava correta e a onda iv verde pode ter terminado na última quinta-feira com a mínima em 5.390. O objetivo inicial para a onda (iii) azul seria 5.860, aproximadamente 7%. Vamos entrar? Vou esperar mais evidências no curto prazo e decidir. Fiquem atentos ao Mosca.




O SP500 fechou a 5.436, com queda de 0,50%; o USDBRL a R$ 5,6169, sem variação; o EURUSD a € 1,0809, sem variação; e o ouro a U$ 2.409, com alta de 1,07%.

Fique ligado!

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