Momento crítico #TSLA #OURO #GOLD
A profissão de médico está longe de ser uma ciência exata, isso todos nós sabemos. Na verdade, é uma ciência probabilística, o que nem todos sabem, inclusive alguns médicos! Não sei se no currículo da medicina eles aprendem estatística, e não deve ser a básica, pois seus conceitos seriam muito úteis na vida profissional. Com a IA, a pesquisa será mais simples; mesmo assim, eles devem entender de risco x retorno, e aqui a recompensa não é financeira, mas sim em vidas humanas.
O Fed está chegando a um momento crítico, no meu entender,
quando deve efetuar o corte, se é que deve, da taxa de juros. Para seu auxílio,
existem poucas experiências do passado que tornam a estatística menos
eficiente. Podem também usar os ensinamentos acadêmicos, mas cuja eficácia se
dá em condições “ideais”, o que foge da realidade específica do momento. Não
resta outra área a se apelar a não ser o bom senso. Com esse quadro, o risco de
erro ou acerto é grande; ex-post, fica fácil elogiar ou criticar.
As vozes estão clamando no mercado para que o Fed corte os
juros no máximo até setembro, tendo até economistas como relatei ontem, que
enxergam essa ação para a reunião da próxima semana. O mercado também está
criando esse consenso, que se pode verificar em dois indicadores que vão nesse
sentido. O gráfico a seguir já aponta uma chance de queda já em julho de 25
pontos e outra, ainda pequena, de outros 25 pontos em setembro.
Mas o indicador mais importante, e que se encontrava de certa forma “errado”, era o diferencial de juros entre os títulos de 2 anos e 10 anos, que ficou negativo por mais de 2 anos, desafiando o consenso de mercado de que sua ocorrência indicaria uma recessão próxima. Ainda não está positivo, mas muito próximo: -12 pontos. A forma como ocorreu também deve ser ressaltada, com a queda maior vinda do prazo mais curto, o que indica que o mercado espera uma normalização e não uma recessão.
Hoje, mais um analista veio ao público, Mohamed El-Erian, com um tipo de “ameaça” ao Fed pelo título de seu artigo na Bloomberg: “O Fed pode estar a duas reuniões antes de um erro de Política Monetária”. Não gostei e sugiro que leia esse post para ver que, de fora, é muito fácil ca*ar regra; quero ver por a bunda na cadeira e decidir! A seguir, um resumo de seus argumentos.
A taxa de inflação nos EUA, que havia disparado para mais de
9% há dois anos, agora está em torno de 3%. Com base nas tendências atuais,
deve estabilizar-se em 2,5%-3%, uma faixa que a maioria dos economistas
consideraria consistente com a estabilidade financeira, incluindo uma firme
ancoragem das expectativas inflacionárias. Normalmente, essa boa notícia
abriria uma janela para o banco central cortar as taxas de juros na reunião do
Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) na próxima semana, dada a indicação de
que a economia dos EUA está desacelerando mais rapidamente do que muitos
esperavam 1. No entanto, a mentalidade atual do Federal Reserve
indica que é mais provável que se limite a sinalizar a intenção de reduzir as
taxas quando o FOMC se reunir em 17-18 de setembro. Não aliviar a política em
julho ou setembro — um resultado que infelizmente não pode ser descartado —
constituiria outro erro de política para um Fed que busca restaurar sua
credibilidade após uma resposta inicial desastrosa às pressões inflacionárias
em 2021.
1. Comentário meu: desacelerando? Hoje foi
publicado o PIB do 2º trimestre em 2,8% a.a. Isso é ruim? É verdade que existem
sinais de desaceleração, mas será grande o suficiente?
Parte da hesitação do Fed em cortar as taxas é sua falta de
confiança de que a inflação continuará a diminuir até a meta de 2%, em vez de
se estabilizar em 2,5%-3%. Manter a política monetária em um nível restritivo
aumentaria a probabilidade de atingir esse número, mas com o risco
significativo de causar danos excessivos ao emprego e à economia. Na verdade,
não está claro se 2% é a meta correta. O que era considerado apropriado para um
mundo de demanda agregada deficiente e uma série de desenvolvimentos benéficos
do lado da oferta é menos adequado para um mundo de fragmentação global, onde
as cadeias de suprimentos estão sendo reestruturadas e onde vemos bolsões
persistentes de oferta doméstica menos flexível.
Apesar disso, é altamente improvável que os formuladores de
políticas revisem a meta numérica de inflação após um período tão prolongado de
erros de previsão e resultados bem acima de seu objetivo. Uma abordagem mais
provável seria o Fed visar um caminho muito gradual para reduzir a inflação a
partir daqui, deixando claro que suas ações políticas agora são altamente
sensíveis aos desenvolvimentos do mercado de trabalho. O risco de causar danos
excessivos à economia é ampliado pelo estresse e tensão já sentidos pelas
famílias de baixa renda e pequenas empresas, que viram suas reservas de caixa
da era pandêmica se esgotarem em um momento em que se tornou muito mais caro
para pagar dívidas mais pesadas. Eles não podem arcar com os efeitos de uma
política excessivamente restritiva do Fed — especialmente quando o impacto
retardado das taxas mais altas ainda não foi totalmente absorvido pela economia
e pelo sistema financeiro como um todo.
Por outro lado, John Authers tem uma visão mista em seu artigo na Bloomberg, comentando que o o consumidor americano mal pode esperar pelo corte de juros. Veja um resumo a seguir:
Tempos Difíceis
A saúde do consumidor nos EUA enfrenta um escrutínio
constante. As agressivas elevações das taxas de juros pelo Fed nos últimos anos
não abalaram a força dos consumidores, graças, em grande parte, aos cheques de
estímulo distribuídos durante a pandemia. À medida que esse amortecedor se
desgasta, os consumidores devem enfrentar um dinheiro mais apertado. Embora
seja difícil dizer quanto da riqueza do estímulo ainda resta, usar dados para
diagnosticar a saúde do consumidor diante dos padrões de empréstimo rígidos faz
sentido — e indica fraqueza.
A recente admissão de Jerome Powell sobre os riscos que a
política monetária restritiva representa para os empregos é uma evidência clara
das fissuras que estão se formando. Com dados apontando para uma inflação em
queda e um crescimento mais lento, o foco em saber se o consumidor pode
continuar gastando aumenta. Preocupantemente, a parcela dos saldos de cartões
de crédito em atraso subiu para o nível mais alto desde 2012, segundo dados do
Federal Reserve Bank of Philadelphia. A porcentagem de saldos vencidos há mais
de 60 dias subiu para 2,6%, em comparação com 1,1% em 2021, quando os
consumidores estavam repletos de programas de apoio pandêmico. (Apresentando no
post de ontem quando-bate-o-stop-loss)
Os lucros recentes das chamadas Instituições Financeiras
Sistemicamente Importantes (SIFI) mostraram que o crédito rotativo, incluindo
cartões de crédito, representou quase dois terços dos US$ 11,4 bilhões de
aumento no crédito registrado em maio. Dentro desse crescimento, há histórias
de estresse do consumidor. Doug Peta, da BCA Research, observa que um aumento
no crédito ao consumidor é notável quando o mercado de trabalho está
enfraquecendo e as economias excedentes estão diminuindo. Isso pode contribuir
mais para o crescimento do consumo. Um alívio por meio de um corte de taxas não
pode chegar rápido o suficiente para os consumidores que enfrentam altas taxas
de juros. Embora os dados recentes mostrem fraqueza no mercado de trabalho,
parece mais uma normalização dos recordes da era pós-pandemia. No entanto, a
chamada normalização corre o risco de degenerar se persistir por muito tempo
sem o apoio da política monetária.
Então, se você tivesse sentado na cadeira de Powell, o que faria? O Mosca estaria mais propenso a iniciar o ciclo de queda, não da forma como expressei no post melhor-usar-o-chutometro e derrubar de uma vez. Como é um evento de risco, se der errado não faltarão críticas. Não entro nessa, sei que é dificílimo operar sem a certeza (ou boa chance) de acerto. A estática não ajuda nesse caso.
Vamos dar uma fofocada e falar de Elon Musk, o empresário
visionário que está perdendo sua magia, provavelmente pelo seu ego. Acredito
que já disse que separo os empresários em dois tipos: os guerrilheiros e os
comandantes, os primeiros que sabem trabalhar em ambientes desorganizados e os
últimos que só sabem trabalhar em ambientes organizados. Não queira colocar um
executivo de um tipo em lugar trocado, vai dar errado. O Musk é do primeiro
tipo, mas se meteu a fazer o segundo.
Sem dúvida, a Tesla foi um marco no mercado automobilístico,
uma percursora, mas como todo negócio novo, depois de um tempo aparece a
concorrência, principalmente se as margens são elevadas. Nesse caso específico,
entrou num mercado que é enorme e já existe há bom tempo, como o
automobilístico. Essa empresa foi criada há pouco mais de 20 anos e seu
primeiro carro elétrico, o Modelo S, foi lançado em 2012. Eu acho que acreditou
que sua marca iria prevalecer perenemente e os outros brigariam pelo que sobrou.
Engano seu, surgiram dois problemas: primeiro, o consumidor americano está
preferindo os carros híbridos, pois é melhor ter a opção de continuar a viagem
do que ter que parar por falta de bateria em algum lugar; depois, surgiu um
concorrente de respeito: os chineses, que entraram com tudo no mercado,
oferecendo veículos de qualidade pela metade do preço.
Há pouco mais de um mês publiquei no post bonus-colossal sobre a votação pelos acionistas de um pacote de benefícios para ele de U$ 46 bilhões. Bem, ele foi aprovado e Musk embolsou essa quantia. Seria de se supor que ele defendesse os interesses da Tesla, porém essa semana garantiu apoio a Trump nas eleições e ofertou uma doação de U$ 45 milhões, o que é bem elevado para esses fins. Acredito que no mínimo deve ter lido o programa desse candidato; se sim, se deparou com a intenção de Trump de desenvolver a toda carga a indústria de petróleo. A gozação foi intensa na imprensa, veja o que John Authers publicou: "o estilo de Musk está começando a cansar" e não é de se admirar: "Os acionistas estão sendo solicitados a pagar um pacote executivo enorme para Musk e ele planeja doá-lo a um político cuja agenda prejudicaria diretamente sua empresa." A matemática não está batendo".
No post acima, eu publiquei um gráfico contendo minhas ideias para o preço das ações da Tesla do ponto de vista técnico. A seguir, encontra-se uma atualização. Fiz um ajuste na onda IV verde, que me parece estar formando um triângulo – menos mal para Musk, pois a queda pode ser menor do que eu estava imaginando. De agora seria mais 20% para baixo. Depois deve voltar a subir, mas isso é uma outra história; por enquanto, não é o que prevejo.
Vou comentar sobre o ouro porque o euro continua morto dentro de um range. No post melhor-usar-o-chutômetro fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ... “Antes, uma explicação sobre Elliott Wave. Vocês sabem que ondas (b) são terríveis e perigosas e às vezes se excedem mais do que devem, atingindo 127,2% do movimento da onda (a), para em seguida acontecer uma queda na onda (c). Vejam no gráfico abaixo que isso pode estar ocorrendo com as ondas (a), (b) e possivelmente (c) em laranja. Se esse for o caso, espero uma queda ao nível de US$ 2.249, diminuindo a moleza na compra” ...
Eu acabei destacando no texto acima a personalidade das ondas (b) e parece que no caso do ouro acabou se encaixando. Desta forma, estou trabalhando agora com essa hipótese. Se tudo sair de acordo, o ouro deveria chegar a U$ 2.249 / U$ 2.235 para depois voltar a subir. Mas não nos enganemos: o movimento é de alta mais à frente; o que estamos buscando é um ponto de entrada.
Hoje estou meio “salgado” (meio??? Hahah...) meus comentários foram mais provocativos que o usual. O motivo é que estou com uma virose chata que me faz tossir ininterruptamente durante o dia. Tudo bem, durante o dia, mas à noite complica o sono. Com o passar dos anos, consegui perceber que nesses momentos é melhor ter cuidado com o pavio curto; a chance de fazer besteira aumenta significativamente, procuro não operar. Desculpem se exagerei, espero que já, já estarei “normal”.
O SP500 fechou a 5.399 (on sale? não, in sale!), com queda de 0,51%%; o USDBRL a R$ 5,6470, com queda de 0,12%; o EURUSD a € 1,0843, sem alteração; e o ouro a U$ 2.361, com queda de 1,50%.
Fique ligado!
Concordo com você David. A economia ainda está forte pelo indicativo do PIB. Se estivesse no FED, eu manteria o Guidance. Não é 0,25 que vai salvar a economia de uma crise em 45 dias. Isso ai me parece desejo de quem tem posições na bolsa e quer ver suas posições se valorizando, do que uma posição de quem está preocupado com a economia real. Banco Central precisa ter cautela.
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