Cést la Folie #SP500
Eu trabalhei 11 anos no Banco Francês e Brasileiro e,
durante esse período, conheci melhor os franceses. Em minha experiência,
vivenciei situações em que era necessária uma decisão, mas esta não foi tomada.
Para exemplificar, a mesa de Renda Fixa e a de Câmbio eram separadas e, dada a
evolução dos mercados, não fazia mais sentido essa separação. O diretor geral
do banco resolveu fazer uma reunião com os responsáveis de cada área para ouvir
suas opiniões. Era lógico que cada um deles iria defender seu peixe, colocando
enormes riscos com os clientes caso houvesse a junção. Entretanto, essa reunião
não deveria ser para questionar a decisão que estava praticamente tomada, mas
sim para decidir quem seria o responsável pela nova área. Conclusão: "Je
réfléchirai" e demorou mais de um ano para acontecer.
A decisão do presidente Macron está sendo muito criticada e
deixou a França no limbo. Depois da derrota inicial para a direita de Le Pen na
primeira semana, um acordo entre os centristas e os comunistas fez a maioria do
Parlamento, que na verdade ficou dividida entre essas partes sem uma
predominância absoluta de nenhuma delas. Elaborei um resumo de dois artigos
publicados na Bloomberg e no Wall Street Journal com as principais
consequências.
As recentes eleições legislativas na França resultaram em um
parlamento fragmentado, onde nenhum partido conseguiu obter uma maioria clara.
A Aliança Nova Frente Popular de esquerda emergiu como a vencedora
surpreendente, coordenando-se com centristas em várias corridas locais para
evitar uma divisão do voto contra a extrema direita de Marine Le Pen. Esta
estratégia resultou em um impasse político que, paradoxalmente, foi bem
recebido pelos mercados financeiros, inicialmente preocupados com a possibilidade
de um governo da extrema direita desafiando a União Europeia com planos fiscais
expansivos.
Apesar disso, a ascensão da Nova Frente Popular levantou
novas preocupações devido às suas políticas, que incluem aumentos
significativos de gastos públicos e impostos. Essas incertezas levaram o índice
CAC 40 a registrar flutuações, refletindo as preocupações dos investidores
sobre a formação de um novo governo. Enquanto isso, a decisão de Macron de
convocar eleições logo após a votação expressiva da extrema direita nas
eleições europeias não resultou em um governo de direita, mas aumentou a
confusão política na França.
O empate tríplice entre a Nova Frente Popular, o Ensemble de Macron e o RN de Marine Le Pen destacou a dificuldade em formar um governo coeso com uma agenda clara. Embora o mercado tenha reagido com relativa calma após os resultados surpreendentes, a estabilidade política e econômica continua sob ameaça devido ao alto endividamento público e à falta de consenso sobre medidas de austeridade fiscal. A persistência desses desafios pode potencialmente colocar a França em rota de colisão com as novas regras fiscais da União Europeia, já que a Comissão Europeia iniciou um procedimento por déficit excessivo contra o país.
Enquanto isso, o crescimento do RN como o maior partido
individual na França sugere uma oposição persistente e desafiadora para a
estabilidade política. A falta de um programa governamental coerente entre os
potenciais parceiros de coalizão aumenta a incerteza sobre o futuro político e
econômico do país. A influência crescente da extrema direita continua a ser uma
preocupação de longo prazo para investidores e para a coesão da UE, apesar das
atuais expectativas de que um governo de esquerda moderado possa evitar os
piores cenários econômicos e políticos.
Este cenário reflete não apenas a fraqueza política contínua
de Macron, que inicialmente se elegeu em uma plataforma anti-Le Pen, mas também
a falta de apoio amplo para sua visão pró-negócios. Enquanto isso, o mercado
continua a avaliar o impacto de longo prazo dessas eleições sobre ativos de
risco, como bancos e empresas de infraestrutura, que enfrentam avaliações
reduzidas devido à incerteza política crescente na França.
Parece existir semelhança entre o que ocorreu comigo no
passado e essas eleições que deixam a França paralisada. A princípio, a colisão
entre a esquerda e o centro não permitiu a supremacia da direita, mas fico
imaginando como será o dia a dia nas decisões entre esses partidos com ideias
tão diferentes. Como no caso do banco, o certo seria o presidente Macron
renunciar e abrir novas eleições para presidente e definir uma única linha de
atuação, e não deixar a bola dividida. Usando a expressão que ouvia corriqueiramente
no banco: “C’est la folie”.
No post invariavelmente-sem-retorno fiz os seguintes
comentários sobre o SP500: ..."Como podem notar, o objetivo dessa alta
seria ao redor de 5.565 / 5.643 e, na sequência, uma queda razoável até os
níveis de ~4.200. Preciso enfatizar que no cenário mais altista também parece
existir uma queda, porém mais adiante."
Estamos perto de um momento de decisão: a correção que deveria acontecer em breve será grande ou pequena? Eu assumi a preferência de um cenário na semana passada, mas podem estar certos de que não banco até o fim se por algum motivo o mercado se comportar de forma a indicar o outro mudo! Para caminhar nesse momento perigoso, é fundamental estabelecer níveis apertados de stop loss. Bem, vejam o gráfico do cenário principal (retração menor). Em ambos, vou usar janela semanal para melhor visão a frente.
O mercado estaria próximo de completar a onda iii laranja (ou pode ir um pouco mais acima). Nessa condição, a correção da onda iv laranja deveria levar o SP500 para o nível ~ de 5.000 ao redor de outubro (não esqueçam que Elliot Wave não é muito preciso em datas). Já em relação ao cenário contemplando uma queda maior, a queda levaria a bolsa para algo compreendido no intervalo entre 4.660 / 4.415 / 4.170, com duração mais longa até o 1º semestre do próximo ano.
Como podem notar, eles são bemmmmm diferentes! Let The Market Speak e não se deixe levar pelo seu viés achando que “lógico” é o primeiro porque está posicionado ou “lógico” que é o segundo porque não está posicionado e está louco para comprar. Retórica para os dois, fica a vontade do freguês! Na dúvida estou subindo o stop loss na posição de nasdaq100 para o nível de entrada.
O SP500 fechou a 5.577, sem variação; o USDBRL a R$ 5,4140,
com queda de 1,01%; o EURUSD a € 1,0812, sem variação; e o ouro a U$ 2.363,
com alta de 0,21%.
Fique ligado
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