Pendurando uma melancia #SP500

 


Quando eu era jovem, a expressão "quer chamar a atenção, pendure uma melancia no pescoço" era usada quando algum amigo exagerava na vestimenta, fala ou em qualquer outra forma estranha de prender a atenção. Éramos muito jovens para entender o motivo real por trás. A primeira impressão era taxar como ridículo.

Em nosso meio financeiro, essa técnica de chamar a atenção é amplamente utilizada, desde previsões de quanto a bolsa pode subir ou cair, até por economistas que preveem recessões. Agora, se alguém quiser realmente chamar a atenção, deve fazer previsões de casos negativos. Mas por que somente esse tipo de previsão chama a atenção? Acredito que tem a ver com o trabalho acadêmico pelo qual Daniel Kahneman foi contemplado com o Prêmio Nobel de Economia. Ele demonstrou que as pessoas têm aversão à perda, o que significa que o impacto psicológico de uma perda é maior do que o impacto de um ganho de mesma magnitude.

Jonathan Levin comenta na Bloomberg sobre a suposição de recessão pelo mercado. Nesse contexto, chamou minha atenção uma meia-volta feita pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jan Hatzius. Esse banco trabalhava com a probabilidade de recessão em 15% até que, na semana em que foram publicados os dados do mercado de trabalho — e ocorreu a queda das bolsas —, aumentaram esse indicador para 25%. Na semana seguinte, com algumas publicações indicando que a economia estava em boa forma, retornaram aos 20%.

Esses eventos suscitaram mais receio com a elevação da probabilidade, mesmo com um nível ainda baixo, do que quando ocorreu o relaxamento na semana seguinte. Como eu pude medir isso? Pelo número de comentários da primeira situação, pois a segunda foi quase desapercebida.

O termo “recessão” voltou a ser destaque nas notícias e nas postagens de redes sociais neste mês. O economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc., Jan Hatzius, foi um dos que formalmente aumentou suas probabilidades de uma recessão, o que gerou bastante alvoroço na mídia. No entanto, na avaliação do Goldman, os riscos de recessão nunca foram particularmente elevados em relação ao normal — e agora estão caindo novamente.

Aqui está a última nota de Hatzius e sua equipe, publicada no fim de semana:

Após o relatório de empregos de julho, divulgado em 2 de agosto, ter acionado a "regra de Sahm", aumentamos nossa probabilidade de recessão nos EUA em 12 meses de 15% para 25%. Agora, a reduzimos para 20% porque os dados divulgados desde 2 de agosto — incluindo vendas no varejo e pedidos de auxílio-desemprego nesta semana — não mostram sinais de recessão.

Hatzius, é claro, estava se referindo à regularidade empírica descoberta por minha colega da Bloomberg Opinion, Claudia Sahm, que mostra que a economia dos EUA geralmente está em recessão quando a média móvel de 3 meses da taxa de desemprego aumenta 0,5 ponto percentual em relação ao seu ponto mais baixo nos 12 meses anteriores — como ocorreu no relatório do mercado de trabalho de julho, publicado em 2 de agosto.

Mas, como outras regras práticas sobre recessão, sempre houve uma boa possibilidade de que a utilidade da regra de Sahm encontrasse seu limite na bizarra economia pandêmica e pós-pandêmica de 2020-2024. E, de fato, os relatórios subsequentes publicados neste mês sobre os pedidos iniciais de auxílio-desemprego e as vendas no varejo acalmaram os nervos. Os pedidos iniciais de benefícios de desemprego nos EUA caíram pela segunda semana consecutiva, e um relatório separado mostrou que as vendas no varejo aumentaram em julho, o maior crescimento desde janeiro de 2023.

Os números do Goldman são inferiores à mediana dos analistas de uma pesquisa da Bloomberg, que coloca a probabilidade de uma recessão no próximo ano em cerca de 30%. Isso pode parecer preocupantemente alto até você considerar que está apenas ligeiramente acima da probabilidade média de 27% registrada pelos respondentes desde 2008 (ou 24%, excluindo recessões reais).

O respondente mediano de outra pesquisa do Federal Reserve Bank da Filadélfia colocou chances relativamente pequenas de uma contração econômica em 2024, mas vê cerca de 25% de probabilidade de que a economia encolha no primeiro trimestre de 2025 (os resultados da pesquisa foram recebidos em ou antes de 6 de agosto, o que significa que não levam em conta a recente sequência de desenvolvimentos tranquilizadores).

Sempre há algum risco não negligenciável de uma recessão na economia dos EUA devido a choques imprevistos, e muitas pessoas geralmente consideram que esse risco básico está em torno de 15%, o que é consistente com a proporção da história pós-Segunda Guerra Mundial em que a economia esteve em recessão. Qualquer que seja a pesquisa que você consulte, não estamos longe dessa normalidade.

Estou ciente — como Dario Perkins, da TS Lombard, apontou esta semana — de que há uma precisão falsa em toda essa prática de calcular a probabilidade de recessão e que algumas das previsões se baseiam em preços de mercado voláteis e falíveis. Como Perkins escreveu pela primeira vez em seu post engraçado, mas verdadeiro, de 2020 "Regras para Ser um Economista do Sellside", há um risco adicional de que os previsores possam simplesmente ser motivados pela fama ou pelo avanço na carreira, concentrando-se em probabilidades que os tornem interessantes o suficiente, enquanto mantêm uma negação plausível se estiverem errados. Aqui está o trecho-chave de quatro anos atrás:

Como chamar a atenção: Se você quer ficar famoso por fazer grandes previsões fora do consenso, sem o perigo de parecer um bobo, você deve adotar a 'regra dos 40%'. Basicamente, você pode prever o que quiser com uma probabilidade de 40%. A Grécia vai sair do euro? Talvez! Trump vai demitir Powell e contratar sua filha como a nova presidente do Fed? Nunca diga nunca! 40% significam que as probabilidades serão maiores do que qualquer outra pessoa está dizendo, razão pela qual seus clientes precisam ouvir seu alerta, mas também que eles não devem ficar muito surpresos se, você sabe, o evento extremo não acontecer realmente.

Estou um pouco menos desiludido do que Perkins. Certamente, as probabilidades de recessão devem vir com avisos que dizem: “Perigo — isso raramente funcionou muito bem no passado.” Mas os economistas não são realmente Cassandras. A história geralmente mostra que eles são bastante conservadores e mais propensos a cometer o que são chamados de erros do Tipo 1 na previsão de recessões (falhar em prever uma recessão) do que erros do Tipo 2 (prever recessões que não se materializam). Essa foi uma das principais conclusões de um artigo do Fundo Monetário Internacional de 2018 intitulado "Quão Bem os Economistas Preveem Recessões?" que revisou 63 economias globais de 1992 a 2014.

Os anos pós-pandemia — com suas previsões mais frequentes de uma recessão nos EUA — são uma exceção notável a essa regra. As probabilidades de recessão em mudança neste ambiente imprevisível são um sinal da falta de visibilidade inerente às economias inflacionárias. Isso é um desafio para os economistas, mas também apresenta oportunidades para os participantes do mercado que conseguem navegar pelas oscilações de sentimento — como claramente visível neste mês. Para fazer isso, eles precisam ter uma visão de onde as probabilidades de recessão estão indo, se acreditam nelas ou não.

Com isso em mente, eu ainda vou prestar atenção quando os economistas fizerem alarde sobre os riscos de queda para a economia dos EUA, mas claramente não acho que estamos lá ainda. Pessoas razoáveis podem discordar sobre o número exato, mas a trajetória ainda parece importante, e há boas notícias nesse sentido — passamos de "bem baixo" para "um pouco mais alto" para "ops, não tão alto assim!" E, dada a tremenda incerteza implícita na previsão de recessão, ainda parece que estamos dentro da normalidade.

Eu gostei especialmente da descrição dos últimos acontecimentos nesse artigo, mas o que realmente chamou minha atenção foi a "regra dos 40%", que eu desconhecia. Se alguém quer ficar famoso, basta fazer uma previsão sobre qualquer coisa e quantificá-la em 40%, o que significa que não se pode desconsiderar. Se der certo, será considerado um visionário; se não, sua previsão será esquecida pela maioria. Mas não exagere, pois de cara será desacreditado, como a seguinte situação: "se o Santos continuar com essa equipe, tem 40% de chance de sair vitorioso do brasileirão no próximo ano". Essa ninguém vai acreditar — e olha que sou santista!  Hahaha ...

No post “é-para-comprar-ou-para-vender”, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ... “Neste momento, fiquei em dúvida se a onda (iv) laranja já terminou (destacada abaixo). Coloquei um aviso ao nível de 5.386. Porém, mais importante seria ultrapassar os níveis de 5.448 / 5.548” ...

 



A bolsa ultrapassou todos os níveis citados acima, o que me leva a concluir que a onda (IV) laranja terminou e o SP500 caminha para terminar a sequência de ondas ‑  (v) azul, (v) laranja e, principalmente, a 3 verde. Como deixei anotado no gráfico abaixo, esse topo deveria ocorrer entre 5.664/ 5.693 (+ 1.10%) ou 5.738 / 5.790 (+ 2.5%), tudo observado de hoje.




Como trabalho com probabilidade e avaliação de risco/retorno, e considerando que se pode estar terminando uma onda de grau mais elevado, não me parece satisfatório sugerir uma compra. Por quê? Primeiro, porque quando existe uma série de ondas 5 terminando, todo cuidado é pouco; segundo, porque o retorno esperado é bem baixo; terceiro, porque existe uma outra possibilidade, não mostrada aqui, que poderia levar a uma queda até ~5.000 a partir do nível que se encontra. Conclusão: vamos assistir a esta eventual alta.

O SP500 fechou a 5.597, com queda de 0,20%; o USDBRL a R$ 5,4787, com alta de 1,25%; o EURUSD a € 1,1126, com alta de 0,37%; e o ouro a U$ 2.515, com alta de 0,46%.

Fique ligado!

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