Desafiando o FED
Está se criando um consenso no mercado que o FED vai seguir
com sua expectativa de alta de juros. O que não existe consenso é em relação a
velocidade desses aumentos, bem como o nível final. Observando-se a última ata
do FED, e considerando a média de opiniões de seus membros, existiriam mais 3
elevações de 25 pontos básicos esse ano e no próximo, o que totalizaria um
nível de 3%.
Acontece que os mercados embutem uma probabilidade de 30%
para 2018 e 15% para 2019. Em outras palavras, esperam que a alta seja muito
mais lenta e menor que o FED.
Qualquer mercado de renda fixa que é organizado se pode
extrair a estrutura das taxas no tempo, o que se denomina de curva de juros.
Assim, se a taxa do overnight americano estiver em 3%, e em condições normais
de temperatura e pressão, os juros dos títulos de 10 anos deveriam ser
superiores a esse nível.
Um artigo publicado pelo Wall Street Journal resolveu
“chutar o pau da barraca”, se perguntando se não seria o caso de ter quatro, ou
até cinco altas esse ano. Veja a seguir seus argumentos.
Majoritariamente me concentro nos dados de emprego dos EUA,
pois é um dos indicadores econômicos mais amplos e precisos sobre a saúde da
economia. Mas tem sido obscurecida em importância nesta fase do ciclo econômico
por todas as medidas disponíveis de pressões de inflação.
As taxas de juros podem permanecer baixas somente se os
dados da inflação continuarem benignos, mas isso não é mais provável. As
condições econômicas estão maduras - mesmo superadas - para a aceleração da
inflação. Está se tornando mais claro que o Federal Reserve precisa aumentar as
taxas de juros mais rapidamente agora para evitar ser forçado a recuperar o
atraso e arriscar um aumento nas taxas que ameaçam empurrar a economia para a
recessão. Quatro aumentos de taxas parecem prováveis este ano, mas são
possíveis e provavelmente desejáveis.
Em 4,1 %, a taxa de desemprego indica que a mão-de-obra se
tornou escassa. Esta conclusão é reforçada por todas as outras medidas do
mercado de trabalho que vão desde aberturas de emprego, taxas de abandono,
limitações semanais de seguro de desemprego e pesquisas que indicam que os
trabalhadores agora acreditam que os empregos são fáceis de encontrar. Se o
trabalho for escasso, há todos os motivos para se esperar uma inflação salarial
crescente. E como o trabalho representa a maior parte do custo do fornecimento
de bens e serviços, qualquer aumento significativo na inflação salarial
provavelmente será transmitido à inflação de preços. Apenas o momento deste processo
é incerto agora.
O aumento modesto da inflação de preços até o momento, que
ainda está abaixo do alvo de 2 % do FED, apenas implica que o processo de
transmissão está demorando um pouco mais do que alguns esperam. Embora a teoria
econômica seja incapaz de nos informar sobre o momento do processo de
transmissão, pensa-se que a inflação não vai piorar porque ainda não piorou. A
menos que as leis da oferta e da demanda tenham sido revogadas, o aperto do
mercado de trabalho inevitavelmente produzirá inflação mais rápida.
Apesar dos recentes aumentos, os rendimentos nos títulos do
Tesouro dos EUA fornecem um retorno negativo depois de ajustar os impostos e a
inflação. Os compradores de títulos do Tesouro não estão investindo, mas sim
fazem doações anuais para o governo dos EUA. Historicamente, os títulos do
Tesouro de 10 anos têm em média cerca de 250 pontos base acima da inflação, o
que implica um rendimento de 4,5%, dado o objetivo de inflação do FED. Assim,
mesmo após as consideráveis altas dos juros nas últimas semanas, que
impulsionaram os rendimentos até cerca de 2,90 %, os preços dos títulos
provavelmente cairão significativamente.
Tudo isso eleva a importância dos dados de inflação. Se
continuar a acelerar, como foi revelado apenas em janeiro pelos relatórios de
preços de consumidores e produtores, será mais claro que as taxas são muito
baixas e a política monetária é excessivamente acomodatícia. Se o FED, mover-se
lentamente em 2018, terá que acelerar em algum ponto, o que implica um aumento
mais acentuado nas taxas mais tarde, que poderia levar a economia para a
recessão. Uma vez que isso não é desejável, seria melhor para o FED acelerasse
o ritmo de seus aumentos para moderar o crescimento econômico e conter as pressões
de inflação.
“Nem tanto ao céu, nem tanto à terra”, talvez a ideia de
subir mais cinco vezes os juros seja exagerada, mas o que está precificado no
mercado parece bastante baixo. Tecnicamente os juros de 10 anos se aproximam de
um nível bastante importante de 3%, conforme mencionei no post pisando-em-ovos. Posso antever que, caso o FED cumpra o que vem projetando em suas
comunicações, haverá impacto nos mercados mais a frente.
Hoje o Credit Suisse publica um artigo onde busca calcular
qual seria o nível máximo dos juros de 10 anos para que não haja impacto na
bolsa. Para chegar nesse número elaborou uma correlação entre a performance do
SP500 em dias que os juros subiram, e chegou que até 3,5% a.a. a bolsa aguenta.
Acho difícil que alguém confie nessa estratégia inclusive o
analista que fez esse estudo! Mas publicou e teve alguma repercussão na mídia
financeira, afinal quem não quer acreditar numa dessa certeza.
No post bolsas-sem-folia, fiz os seguintes comentário
sobre o dólar: ...” Em relação ao dólar,
como vocês podem verificar acima, continua contido entre as retas do triângulo
em verde. O ponto de encontro cada vez mais se aproxima, e em algum momento
haverá a ruptura. Minha ideia é que será pela queda do dólar” ...
Poderia repetir o mesmo post acima hoje que tudo estaria
válido, o dólar subiu um tostão a R$ 3,2540. Quero frisar que, desde o início
de 2016, o dólar está contido num intervalo entre R$ 3,30 e R$ 3,10, com alguns
“espirros” para cima, estamos falando
num prazo de aproximadamente 2 anos. Certamente uma das moedas mais estáveis
nesse período.
Como continuo com minha ideia que em algum momento o dólar
vai cair abaixo do nível de R$ 3,10, tenho uma inclinação para sugerir uma
venda de dólares. Mas como tivemos um insucesso da última vez, a tendência
seria estabelecer um nível mais elevado ao redor de R$ 3,30, pois o stoploss
ficaria a nível de R$ 3,35. Por outro lado, já temos dois trades no Ibovespa,
assim estaria elevando o nosso risco Brasil. Mas para quem tem espaço poderia
se aventurar na venda.
O SP500 fechou a 2.701, com queda de 0,55%; o USDBRL a R$
3,2682, com alta de 0,39%; o EURUSD a € 1,2281, com queda de 0,45%; e o ouro
a U$ 1.324, com queda de 0,38%.
Fique ligado!
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