O ping pong das bolsas



Parece que as explicações sobre a queda da bolsa que ocorreu na segunda-feira não foram suficientes para justificar os motivos de tamanha surpresa.  Um trabalho publicado pela Gavekal coloca em cheque os motivos de quedas ocorridas no passado.

A grande dúvida que surge aos investidores é se essa queda é o começo de um mercado de baixa, ou um espasmo que se dissipa no tempo. Como não existe uma campainha que dá esse aviso, esse trabalho elenca três tipos de situações:

Carestia - O primeiro caso emerge simplesmente porque as ações ficam muito caras: 1962, 1987 e até 2000 se enquadram nesse caso. As oscilações são violentas, mas de curta duração - O mais curto foi provavelmente a de 1987, o que, de fato, durou apenas alguns dias. Esses episódios não têm impacto na atividade econômica ou na inflação.

Queda nos lucros – Esse é o segundo tipo mais danoso, já que nasce de uma real contração em ganhos, em vez de, apenas um múltiplo de ganhos que diminui. O gatilho geralmente é uma recessão "inesperada" (todos elas são). Estes geralmente perduram entre 9 a 18 meses, muitas vezes têm manifestações violentas e tendem a ser prejudicial para o bem-estar dos gestores de recursos. A bolsa pós-1985, cuja queda foi ocasionada pelo mercado de energia, é um bom exemplo dessa variedade.

Barbeiragem – Este caso tende a emergir depois que os colegas do governo ou do banco central implantam uma política ruim de "fatal presunção ", pensando que são mais inteligentes do que os mercados. Tais crenças levam a coisas estúpidas, como taxas de câmbio fixas, uniões monetárias, controles de preços e a adoção de taxas de juros artificialmente baixas. Principais exemplos de tais barbeiragens foram vistos na União Soviética (1917-91), no Japão depois do Acordo do Louvre (1985 - bastante recentemente). Esses efeitos podem durar por décadas e tendem a ser profundamente deflacionário, pois, uma vez que, quando eliminados, os choques súbitos dos preços ditados pelos mercados, em vez de um monte de artificialidades, muitas vezes causam a implosão do sistema financeiro. Para qualquer gestor de portfólio, esta terceira variedade é terrível.

Em seu entendimento, nos EUA, os rendimentos dos títulos longos estão bem onde deveriam estar, de acordo com seu modelo. O dólar normalmente avaliado contra a maioria das moedas asiáticas, está sobrevalorizado versus o iene, e mais ou menos, a sua taxa de paridade de poder de compra contra China ou Alemanha. As ações americanas, no entanto, mesmo após a recente queda, permanecem dois desvios padrão acima de sua avaliação normalizada (veja o gráfico abaixo). Sua conclusão que o mercado americano estaria mais caracterizado no tipo Carestia.


Em contraste, no Japão, que tem uma moeda subvalorizada, uma dívida sobrevalorizada, e um mercado de ações de valor razoável. Seria lógico esperar um modelo Carestia, nos títulos do governo (embora o banco central por agora permaneça como um comprador comprometido). No resto da Ásia, as taxas de câmbio estão razoavelmente avaliadas, bem como, os mercados de títulos e mercados de ações. Desta forma, não haveria preocupações.

Onde existe o potencial de um modelo Barbeiragem, é na zona do euro. O mercado de títulos é o produto da imaginação de algumas pessoas do Banco Central Europeu. A taxa de câmbio não é determinada pelo mercado, o que em conjunto com as configurações de taxa de juros irreais, significa que os valores patrimoniais não têm base firme da realidade.

Por exemplo, desde 2008, o excedente da conta corrente da Alemanha aumentou de 3% do seu PIB para 9%, enquanto a taxa do euro em 2009 está no mesmo nível que a atual. Por isso, se o euro se valorizar a Itália irá sucumbir. E se o euro não apreciar, é provável que Donald Trump seja susceptível a impor tarifas pesadas, uma vez que, o superávit da Alemanha como os EUA excede 50 bilhões.

A Gavekal tem uma visão muito crítica em relação a Europa já de longa data, desta forma não me surpreende sua colocação. Por outro lado, fico imaginando como poderia ser a normalização da política monetária na região do euro, caso a Europa continue a crescer no ritmo atual.

Esse relatório nos leva a concluir, que o que ocorreu nos EUA nesta semana, segundo suas avaliações, deve ser de curta duração, não afetando o movimento da bolsa mais adiante. Agora, quando o Super Mini Mário, decidir agir, as coisas poderão ter repercussões bem mais profundas. Boa reflexão!

No post a-bolha-estourou, fiz os seguintes comentários sobre o ouro: ...” Com uma visão de mais curto prazo tenho dúvida se o mercado irá romper proximamente (1), no nível apontado abaixo – em verde no gráfico, ou ainda uma correção vai preceder levando o ouro ao redor de U$ 1.290, para em seguida voltar a subir (2)” ...

Na eventualidade do ouro seguir pela alternativa (1) sugeri o seguinte trade: ...” Quando se está em dúvida não se deve fazer nada, isso não significa deixar de acompanhar o mercado. Nesse caso especifico vou sugerir um trade, caso a proposta (1) prevaleça. Comprar ouro a U$ 1.385 com stoploss U$ 1.350” ...

Passados alguns dias, o ouro está dando indicações que a alternativa (2) poderá prevalecer, fazendo com que o trade acima seja cancelado. Naquele momento externei minhas dúvidas e frisei que em situações como essa não se deve fazer nada, estabeleça seus níveis e os obedeça, sem tentar “achar” que vai subir ou cair, em função dos movimentos de cada hora.

Na figura acima, enfatizei em preto o triângulo a que me refiro, que está se desenhando como no livro texto, e em verde o que eu espero. Caso o ouro atinja o nível ao redor de U$ 1.290 -1.280, vou sugerir um trade de compra. Se tudo isso acontecer, o que não é pouca coisa, só espero que daí em diante ele continue a se comportar como o livro texto!

O SP500 fechou a 2.581, com queda de 3,75%; o USDBRL a R$ 3,2857, com alta de 0,44%; o EURUSD a 1,2245, com queda de 0,16%; e o ouro a U$ 1.318, sem variação.

Fique ligado!

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