Subprodutos do crescimento
Em relação a queda das bolsas na segunda-feira, gostaria de
enfatizar três pontos importantes, que são indicadores de potencias problemas
em mercados:
Longos períodos de calma no mercado criam as condições
técnicas para movimentos violentos.
Até a semana passada, a característica mais marcante de
muitos mercados era a baixa volatilidade, tanto implícita quanto realizada.
Apesar de várias razões econômicas e corporativas terem sido citadas de forma
liberal para esse desenvolvimento (incluindo a convergência das taxas de
inflação em todo o mundo, bancos centrais sustentados eternamente, além de
balanços saudáveis e crescimento sincronizado), um determinante importante
foi o condicionamento da base de investidores acreditando que a cada pequena
queda, uma oportunidade de compra surgia. Uma estratégia de investimento
simples que provou ser muito remuneradora nos últimos anos.
O economista Hyman Minsky estudou o fenômeno da complacência
prolongada como o precursor da instabilidade. Esse fenômeno é reforçado pelas
ideias das finanças comportamentais e pode levar os mercados a adotar
paradigmas que, em última instância, se tornam insustentáveis e prejudiciais
(como a ideia, há mais de uma década, que a formulação de políticas superou
totalmente o ciclo econômico, e a noção de que a volatilidade foi abolida do
sistema financeiro).
Os negócios que seguem um consenso generalizado, podem
ser muito mais instáveis do que a maioria dos investidores esperam.
Este foi o caso desta semana com os investimentos indexados
a baixa volatilidade, efetuados de várias formas.
Alguns eram explícitos, como a compra de produtos que
retornam o inverso de um índice de volatilidade como o VIX. Outros foram
construídos através de combinações de colocações e chamadas em mercados de
derivativos. Outros ainda estavam implícitos em um posicionamento extremo entre
os investidores institucionais, como a adoção de uma grande exposição fora de
referência em alto rendimento e certos segmentos de mercados emergentes.
Inicialmente, esses negócios se tornaram cada vez mais
estáveis e gratificantes, já que mais investidores o abraçaram. Isso fez que o
posicionamento oposto – apostar que a volatilidade vai subir – perdesse muito
dinheiro.
Durante a turbulência do mercado, a diferenciação dos
investidores dá lugar a ações indiscriminadas.
Conforme explicado pela teoria do "market for lemons" apresentada por George Akerlof, e pelo
trabalho dos Prêmios Nobel Michael Spence e Joseph Stiglitz, torna-se muito
difícil sinalizar "qualidade" quando o contexto é extremamente
conturbado e a volatilidade é perturbadora. Em quedas violentas de mercado, até
empresas sólidas são tratadas como "lemons"
inicialmente.
Num processo de liquidação generalizada de posições os
ativos mais líquidos são usados para gerar caixa e honrar resgates em massa dos
investidores. Isso torna indiferente se o gestor está vendendo algum ativo de
boa qualidade ou má qualidade. Naquele momento o que vale é liquidez.
Os três pontos acima constituíram relevantes para os
recentes movimentos do mercado, que foram impulsionados tecnicamente, e não por
fundamentos econômicos e corporativos. Na verdade, ocorreram no contexto da
melhoria e não da deterioração dos fundamentos. E eles serviram para fechar
parcialmente a diferença entre os preços elevados dos ativos e os fundamentos
mais lentos.
A normalização dos negócios ainda é uma incógnita, embora o
mercado tenha reagido positivamente ontem, os momentos da segunda-feira ainda
acarretarão calafrios aos investidores que se perguntarão se é hora de
continuar ou aproveitar essa recuperação para vender suas posições. Não
acredito que tudo terminou considerando aquele dia como um pesadelo.
Quando uma economia cresce é natural supor que as
importações cresçam mais que as exportações. Isso não necessariamente implica
numa diminuição do saldo comercial, pois depende do nível de cada uma delas e
suas acelerações. Vejamos o que ocorreu com o saldo comercial americano. Como
podem notar a seguir o déficit aumentou e vem aumentado recentemente.
Na próxima ilustração, se nota que as importações cresceram
mais aceleradamente que as importações, razão da alta do déficit notada no
gráfico acima.
Agora, com qual país essa troca se deu com maior
desvantagem? Nem preciso dizer a resposta. Acho que o Trump estremeceu na
cadeira e teve vontade de dar um soco na cara do Xi Jinping!
O subproduto de crescimento implica maiores importações. Se
todo o mundo tivesse crescimentos iguais e mantivessem a mesma composição de
produtos, ninguém perceberia qualquer mudança no saldo comercial, apenas o
volume aumentaria.
Acontece que o modelo Chinês foi construído em cima das
exportações, e uma mudança em favor de um consumo interno maior demora a
acontecer. Enquanto isso, Trump, que não tem a vida inteira para esperar, deve
estar traçando alguma estratégia para alterar essa trajetória.
No post ate-França, fiz os seguintes comentários sobre
o Ibovespa: ...” se o índice chegar nesse
nível (91.000), vamos reduzir nossa posição fechando uma delas, que se encontra
em aberto. Além disso, vou subir o stoploss para 80.000. Quero deixar claro que
essa é uma medida de redução de posição e não uma mudança de direção. Continuo
positivo na bolsa no longo prazo, mas acredito que em algum momento acontecerá
uma correção, só não sei quando e nem que preço” ...
A bolsa chegou a atingir a máxima de 86.800 e recuou, função
da queda observada no exterior, iniciando assim uma correção. Neste momento não
saberia dizer qual foi ou será sua extensão. Como sempre digo, pode ser uma correção
pequena, média ou grande. Pelo sim, pelo não, apontei 80.000 como stoploss, que
se atingido, não significa que a direção de longo prazo mudou.
No gráfico acima apontei os dois níveis que estava disposto
a aguentar caso isso seja uma correção pequena - verde. Agora se for maior,
caindo mais, prefiro esperar sem posição para entrar novamente no futuro.
Confesso que ao estudar o gráfico fiquei tentado a colocar o
stoploss mais abaixo, 79.000 ou 77.000. Uma sensação de culpa tomou conta de
mim, ao raciocinar que a bolsa poderia tocar em nosso stop e subir em seguida,
como dizendo “ trouxa comprei sua posição baratinho”. Mas logo em seguida vem o
racional e diz “ já vivencie queda maiores com seus respectivos prejuízos ao me
deixar levar por esse tipo de pensamento”. Prefiro ficar com o racional e
correr o risco de ser chamando de trouxa. A diferença é que estaremos com o
capital protegido. Comprar é fácil, basta dar a ordem. Vender com prejuízo,
quando começa a cair, cair, e bem pior!
O SP500 fechou a 2.681, com queda de 0,50%; o USDBRL a R$
3,2713, com alta de 1,13%; o EURUSD a € 1,2265, com queda de 0,90%; e o ouro
a U$ 1.317, com queda de 0,57%.
Fique ligado!
David, as suas 3 considerações são na verdade do Mohammed El Erian, acho que faltou o credito.
ResponderExcluirVocê tem razão, faltou comentar sobre a fonte, que no caso foi a Bloomberg.
ExcluirEm todo caso, se você notou, minhas conclusões divergem daquelas apontadas nesse artigo. Enquanto o mesmo diz que tudo voltará ao normal, eu acredito que haverá mais turbulência nos próximos dias.