Pensamentos fora da realidade


Eu tenho de tempos em tempos, publicado sobre comportamento humano em finanças. Na minha opinião, é uma matéria imprescindível na área de investimentos. A análise técnica tem em sua raiz esse conceito, ao não se preocupar com análises fundamentalistas que podem ser úteis algumas vezes, mas desastrosas em outras.

O artigo a seguir foi elaborado por Joe Wiggins, publicado em seu blog Behavioural Investment, onde trata sobre o impulso de se agir, ocasionado pelas oscilações dos mercados.

"Nada na vida é tão importante quanto você pensa, o que não parece enquanto está pensando no assunto." Daniel Kahneman

Qual era o grande problema sobre investimento, em que você estava pensando, em 10 de junho de 2016? * Provavelmente não se lembra, embora na época parecesse extremamente importante. Enquanto a maioria de nós devesse investir no longo prazo, os mercados conspiram contra nós; oscilando de uma obsessão a outra, atraindo nosso olhar, e nos induzindo a agir.

À medida que as notícias sobre um determinado evento ou desenvolvimento tomam o centro do palco, e os especialistas insistem nos possíveis resultados, a noção de não fazer nada pode parecer ridícula. As questões são por definição: salientes, recentes e disponíveis; são os fatores que tornam muito difícil termos qualquer perspectiva razoável sobre seu significado a longo prazo.

Não é que questões como: a guerra ou paz na Península Coreana, se a Itália deixa o euro, ou quem será o próximo presidente do Brasil, não sejam significativas, mas do ponto de vista do investimento, há muito pouco que a maioria dos investidores pode fazer para se beneficiar. Cada ano há uma sucessão de tópicos nos quais desviam nossas atenções, onde a tentação de agir é forte; mas antes de fazê-lo, devemos tentar responder às três perguntas a seguir:

1)      Importa para os retornos? Dado que existe uma tendência a se exagerar a importância da questão em que estamos atualmente focados, é provável se presumir que, muito mais coisas importam para retornos de longo prazo do que realmente acontecem. É vital lembrar que os retornos históricos de longo prazo das principais classes de ativos inevitavelmente incluem períodos de tumulto pelo menos tão significativos quanto aquele que atualmente tem nossa atenção exaltada.

2)      O que vai acontecer? Mesmo que estamos confiantes na visão de que os retornos serão afetados, por um determinado problema, teríamos então prever qual seria o resultado. É suficientemente conhecido qual a nossa capacidade de prever tais resultados.


3)      Como isso afetará os mercados? No caso improvável de termos identificado um evento que altere materialmente os retornos da classe de ativos, e previsto o resultado com sucesso, precisamos entender como os mercados reagirão. Os mercados são reflexivos e imprevisíveis. Sabemos realmente como os outros investidores se comportarão, será que já está no preço?

Em termos simples, essa atividade é de acerto incrivelmente difícil, particularmente de forma consistente. Mesmo que apresentamos a visão de identificar quais eventos realmente importam em meio ao clamor – é preciso prever um resultado específico e a resposta dos mercados. Embora alguns investidores profissionais se especializem nessa atividade, a maioria deve evitar tais heroísmos.

Isto é mais fácil dizer do que fazer. Os mercados financeiros criam uma cacofonia de ruído e um fluxo de narrativas que consideramos irresistíveis; um círculo vicioso se forma onde mesmo se quisermos desconsiderar um problema, não podemos, porque é considerado inaceitável fazê-lo. Como você pode estar ignorando algo que é tão proeminente e material? A ação e a opinião são extremamente valorizadas, mesmo que seu verdadeiro valor seja muitas vezes negativo. Assim, acabamos numa situação em que os investidores gastam a maior parte do tempo em coisas que não importam.


Ter uma alocação de ativos adequada às suas necessidades, considerando as avaliações e pensando na melhor maneira de controlar seu comportamento, é a forma mais segura de obter resultados sólidos, evitando os erros mais comuns de investimento. Adotar uma abordagem de longo prazo não significa que você deve definir uma vez e esquecer, em vez disso, pense cuidadosamente em seu horizonte de tempo ao tomar decisões e não verifique seu portfólio com muita regularidade. Não fazer nada deve ser um padrão forte.

Investir no longo prazo parece fácil até você entender que é composto de muitos dias e muitas tentações. Os mercados financeiros farão o máximo para atraí-lo para o precipício, certifique-se de segurar-se ao mastro.

* Esta é uma data aleatória, não tenho ideia de quais problemas específicos eu estava sendo distraído naquele momento.

No post soros-com-o-dedo-no-gatilho, fiz os seguintes comentários sobre o Ibovespa: ...” No gráfico a seguir, anoto os pontos onde possivelmente poderá ocorrer uma reversão. Mas existem muitas variáveis que podem influenciar, e agora a pressão poderá vir de fora” ... ...” Nosso stoploss deveria nos proteger de uma eventual queda adicional, no curso do movimento em questão. Caso isso não ocorra, o próximo ponto seria ao redor de 69.000 e abaixo disso, vou ter que reestudar se minha sugestão de compra para o longo prazo continuará válida” ...

Como se pode notar a seguir o mercado reagiu a queda de acordo com o que eu havia imaginado no post acima. Acontece que, o Ibovespa está próximo de nosso stoploss, e a configuração anotada em verde indica uma proximidade de movimento. O que não se sabe é se será para cima ou para baixo.
Caso seja para baixo, nosso stoploss será acionado a 72.000, e como notado acima, o próximo ponto seria a 69.000. Caso esse último nível seja violado as coisas ficam muito complicadas. Numa análise superficial, esse caso indicaria uma mudança de direção na bolsa, de alta para baixa, no longo prazo. Mas prefiro esperar ao invés de deixar os leitores preocupados com hipóteses.

O SP500 fechou a 2.775 com queda de 0,40%; o USDBRL a R$ 3,72, sem alteração; o EURUSD a 1,1789, com alta de 0,415; o ouro a U$ 1.299, com alta de 0,31%.

Fique ligado!

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