"Escadas de risco"
Os investidores demoram para efetuar mudanças estruturais em
seus investimentos, normalmente se acostumam com a oscilação de seu portfolio e
convivem bem desta forma. Em situações de elevação da volatilidade, alguns
pulam fora do barco, o que pode ser uma ação correta. O que acaba não acontecendo
na maioria das vezes, é que cessado o efeito, deveriam retornar.
O Mosca vem
enfatizando nos últimos dois anos que a moleza do ganho no CDI estava
terminando. Porém, principalmente em 2019, fui mais enfático sugerindo que
novos caminhos precisam ser enfrentados pelos investidores. Como comentou um
leitor do Mosca o retorno da renda
fixa caiu a 1/3 do que era no passado.
No passado mais longínquo ocorreram momentos semelhantes ao
atual, porém, depois de algum tempo, as taxas de juros voltaram a subir,
fazendo que não fosse necessárias grandes mudanças. Agora parece ser diferente,
com uma gestão voltada a resolver os problemas financeiros do governo, a equipe
econômica está no caminho de tornar esse novo momento mais definitivo. Sendo
assim, é desejável que uma reconstrução do portfólio seja executada, e para
tanto, os investidores terão que optar por novos caminhos.
Eu sugiro que cada um faça esse movimento de forma gradual
para que possa se aclimatar e conhecer as várias classes de investimento. A
esse movimento eu denomino a galgada da pirâmide do risco, onde da base (mais
conservador) siga-se por etapas, como se fossem “escadas do risco”. Cada perfil
deverá parar numa altura correspondente a sua tolerância a perda, é essa a
pergunta que você deve fazer ao profissional que acompanha seus investimentos.
Não se leve por quanto você pode ganhar, mas quanto pode perder.
Todo final de ano o Mosca
busca um Tema para o ano seguinte. Para 2020 não vou usar as grandes
questões do mercado das quais poderia enumerar: O que Fed vai fazer com os
juros?; quem será o novo Presidente dos EUA; A China e o EUA chegarão num
acordo? A Europa vai se recuperar? A tão temida recessão vai acontecer? A
economia brasileira vai crescer mais que 2%; A Argentina vai entrar em moratória?
O Irã vai atrapalhar nossas vidas? E diversos outros. Não que esses assuntos
nãos sejam importantes, são é muito, mas vamos trata-los conforme o ano
decorre. Minha dúvida em relação aos investimentos é se os mercados de risco
irão compensar o retorno, sendo assim, optei pelo Tema: O risco vai compensar?
O investimento de parte dos recursos na bolsa será
inevitável na carteira de todos os brasileiros, a dúvida é se a alocação será
de 1% ou 90%, que vai depender do perfil de cada um, e do tempo, pois, conforme
as condições econômicas e financeiras do país permanecem estáveis, maior essa
parcela.
Como alocar na bolsa será uma jornada, quanto mais
informações e vivencias acontecerem maior a chance de sucesso de cada um. O
mercado americano é bastante maduro, sendo assim, recomendo que os leitores
acompanhem o que acontece por lá, pois aqui, em algum momento irá ocorrer
também. Um artigo publicado pela Bloomberg aponta para resultados
impressionantes quando se compara o retorno da ação de uma empresa em relação
ao índice mais divulgado do mercado americano, o SP500.
Nos últimos dois anos, apenas uma em cada cinco ações
conseguiu superar o S&P 500. Esse gráfico foi elaborado pelo estrategista
chefe, Andrew Lapthorne, do Banco Societe Generale.
Isso deixa brutalmente claro as dificuldades dos gestores de
fundos ativos, julgados hoje em dia contra a crescente maré de dinheiro que
flui para os fundos de índice passivos. Como apontou Lapthorne, as ações do SP 500
têm a vantagem de poder ser protegido com facilidade usando derivativos, além da
proteção do Federal Reserve, que parece determinado a não permitir uma grande
queda.
Herndrick Bessembinder, professor as Caery School of
Business, também publicou algumas pesquisas sobre as chances de ações
individuais vencerem o SP 500 e, a longo prazo, mostra que o fenômeno é ainda
mais agudo. Vencer o SP 500 é o menor dos problemas deles. Das ações
disponíveis para compra e, desde 1990, 56% das ações dos EUA e 61% das ações do
resto do mundo não conseguiram superar o retorno da renda fixa - como representado
pelo retorno dos títulos do Tesouro de um mês. Enquanto isso, os 1,3% de
empresas com melhor desempenho representaram todos os US $ 44,7 trilhões na
criação de riqueza no mercado de ações global de 1990 a 2018. Fora dos EUA,
menos de 1% das empresas representam US $ 16 trilhões em criação de riqueza
líquida durante esse período.
O fenômeno remonta ainda mais. Para os EUA, Bessembinder e
seus colegas analisaram quantas ações venceram as letras do tesouro ao longo da
vida, a partir de 1926. Eles descobriram que quatro em cada sete ações comuns
no banco de dados do Chicago Center for Research, desde 1926, não conseguem
ultrapassar o retorno do título americano, o equivalente ao nosso CDI. Em
outras palavras, os 4% com melhor desempenho das empresas listadas explicaram
todo o ganho líquido do mercado de ações dos EUA desde 1926. Todos os outros
entre eles não fizeram mais do que igualar a retorno das letras do tesouro (CDI
americano).
De uma maneira mais técnica, os gestores enfrentavam uma
distribuição clássica difícil, com caudas muito grossas - grandes proporções de
seus investimentos em potencial se saindo muito melhor ou muito pior do que a
média.
Peter Lynch, o lendário gestor de fundos, costumava falar em
procurar “ten-baggers” - empresas que
multiplicaram 10 vezes. Este gráfico mostra que foi sensato. Há um grande
número de “ten-baggers” a serem
encontrados, mesmo sendo uma pequena proporção do universo de oportunidades.
Mas não é tanto que encontrar uma “ten-baggers”
o fará rico, é que, a única maneira de obter um desempenho significativamente
melhor do que o dinheiro (CDI) é encontrar alguns “ten-baggers”.
Esses resultados sugerem que o investimento ativo é um
trabalho terrivelmente difícil.
Se pensássemos nos gestores ativos como jogando dardos para
escolher suas ações, muito mais de 90% daqueles que eles poderiam acertar
aleatoriamente deixariam de dar um retorno melhor do que os títulos do governo.
Gestores ativos que até conseguiram ganhar dinheiro com o tempo fizeram um
trabalho decente.
Não conheço nem trabalho semelhante da bolsa brasileira, mas
imagino que algo semelhante deve ter acontecido, ou irá acontecer no futuro.
O que podemos tirar de ensinamento deste estudo: Primeiro
que os gestores ativos dificilmente conseguem retornos com consistência superiores
ao seu benchmark; se você não entende muito de bolsa e quer ter exposição é
melhor investir num fundo passivo (ex: BOVA11), do que buscar a tacada da vida.
Se mesmo assim pretende ser ativo na bolsa, tenha em mente que para cada um
acerto, irão existir 9 erros. Desta forma, use stoploss para preservar seu
capital no longo prazo.
No post bom-para-os-dois fiz os seguintes comentários
sobre o Ibovespa: ... “Conforme indiquei acima, no intervalo contido entre 105.000 e
109.500, a bolsa pode estar negociando (corrigindo) para iniciar um novo
movimento de alta, é nesse cenário que estamos acreditando em nossa posição”
...
Na semana passada a bolsa rompeu o nível de 110 mil e agora
caminha para seu novo objetivo ao redor de 120 mil. Se tudo correr bem, isso
deverá ocorrer dentro de algumas semanas. De maneira preventiva, vamos subir o
stoploss para 105.500.
Amanhã tanto o Fed como o BCB se reúnem para definir sobre
taxa de juros. Nos EUA é aguardado uma manutenção dos níveis atuais enquanto
aqui no Brasil uma queda de 0,50% na taxa SELIC. Em ambos os casos, o comunicado
será aguardado com expectativa.
O SP500 fechou a 3.132, com queda de 0,10%; o USDBRL a R$
4,1467, com alta de 0,11%; o EURUSD a € 1,1094, com alta de 0,30%; e o ouro a
U$ 1.461, com alta de 0,17%.
Fique ligado!
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