Convivendo com o risco



Bons aqueles tempos em que, um investidor sem correr riscos, obtinha enorme retornos. Aplicando em títulos públicos com taxa de juros reais acima de 5% a.a. que mais poderia querer? Ainda é necessário observar que, isso aconteceu num mundo sem juros. Não havia necessidade nenhuma de enfrentar riscos de outros mercados como a bolsa de valores. Não é para menos que o mercado de ações apresentava resultados instáveis, períodos muito positivos alternado por grandes quedas.

Não vou entrar no mérito, as razões que foram amplamente discutidas no Mosca. Cabe agora aceitar essa nova realidade e reagir fazendo profundas alterações em seus portfolios. Também já comentei que, poderá acontecer uma bolha nos ativos de risco, tamanho é o volume de recursos que ainda estão indexados ao CDI.

Um dos locais mais lógicos para essa migração é a bolsa de valores, assunto que vou tratar hoje. Mas antes disso, queria complementar com alguns dados sobre a bolsa americana que de certa forma me surpreenderam.

A Bloomberg traz uma pesquisa sobre o rendimento da bolsa americana nos últimos 10 anos. Não por coincidência, esses anos completam uma década. O teor do artigo é para alertar que provavelmente a próxima década não terá retornos tão expressivos. Mas o que eu quero chamar a atenção é com os motivos que sustentaram esse retorno.

Existem 3 elementos que influenciam o resultado de bolsa: dividendos, crescimento de lucros e alteração do P/L da bolsa. No caso da bolsa americana nesse período, o retorno expressivo tem como crença algumas hipóteses: uma teoria popular é que o Federal Reserve entrou no mercado liberando uma montanha de dinheiro barato por meio de baixas taxas de juros e flexibilização quantitativa. Outra teoria é que os ganhos corporativos foram impulsionados por um punhado de empresas em rápido crescimento, como o Facebook Inc. e a Amazon.com Inc., e por uma onda de recompra de ações, as quais elevaram o mercado. A implicação é que, enquanto o Fed mantiver o dinheiro fluindo e as altas e recompras de ações continuarem a sobrecarregar os ganhos, a festa poderá continuar.

Mas nenhuma dessas teorias resiste ao escrutínio. Para entender por que, é útil dividir o retorno do mercado em suas partes componentes: dividendos, crescimento de lucros e alterações no P/L. Ben Carlson publicou recentemente números compilados pelo fundador do falecido Vanguard Group, Jack Bogle, para cada década desde 1900. Os números desde 1880 usando dados compilados pelo professor Robert Shiller, de Yale, se assemelham ao de Ben.

O que os números revelam sobre a última década? Do retorno anual de 13,3% do SP 500 desde 2010, 2,3% vieram de dividendos, 10,2% do crescimento dos lucros e 0,8% da mudança na avaliação do mercado, conforme medido pela relação preço / lucro de 12 meses. Em outras palavras, a grande maioria dos ganhos pode ser atribuída a um aumento nos lucros, e não à disposição dos investidores de pagar mais pelas ações. De fato, o crescimento dos ganhos da década foi o mais alto já registrado.

Alguns pré-conceitos precisam ser eliminados quando o assunto é bolsa de valores. O primeiro que se nota com frequência é associar que uma nova alta torna a bolsa cara. Isso não necessariamente é verdade, pois se os lucros estão crescendo de forma geral, porque a bolsa não deveria subir também? No caso da bolsa americana, vejam na ilustração a seguir como o crescimento dos lucros nesta última década foram expressivos, justificando a maior parte da alta do índice.

No caso da bolsa brasileira alguns fatores poderão explicar futuras altas do Ibovespa: crescimento da economia; queda dos juros; aumento da produtividade. Pode existir um motivo especial em função dos argumentos acima, pela excessiva concentração brasileira em ativos indexados ao CDI, não descarto uma alta ocasionada pela elevação do P/L.

No post do final de 2018, fiz os seguintes comentários sobre a bolsa brasileira ibovespa-last-kiss: ... “o índice Ibovespa teria um objetivo de 110 mil pontos (↑ 25%) - mais provável pelo fato de existir congruência de duas mediadas, veja o gráfico. Caso continue subindo um novo objetivo se traçaria entre 135 mil (↑ 53 %) e 150 mil (↑ 70 %). Após, um período longo de correção deverá se suceder, cuja sua extensão será melhor calculada no futuro... “

Se no ano passado, você tivesse desligado seu computador e passado um ano em Marte, investindo antes, seus recursos na bolsa, e voltando agora para passar o Natal e Ano Novo com seus familiares ficaria impressionado com a previsão do Mosca (também fiquei!).

Diferentemente de você eu tenho que levar em consideração alguns pontos: O fato do índice estar ultrapassando neste momento o primeiro objetivo é sorte, pois como sempre repito, o prazo é incerto na análise técnica; segundo que antes da alta se concretizar foi necessário eliminar o cenário alternativo traçado no post de 2018. Mas sem dúvida, funcionou!

Para 2020 antevejo continuidade da alta, conforme aponta o gráfico abaixo. O próximo objetivo seria ao redor de 120 mil (7%), que se ultrapassado levaria a bolsa ao intervalo entre 135 mil (20%) a 140 mil (24%). Depois disso, um período mais longo de correção deverá se suceder com queda prevista entre 95 mil a 105 mil.

É bem provável que a alta aconteça durante o ano de 2020. Supondo que exista a reversão num dos níveis citados acima, a correção que se sucederá deve avançar sobre 2021. Neste cenário básico, a bolsa pode terminar o ano de 2020 com rendimento negativo - aconselho ao leitor que foi a marte, não renovar sua viagem! Hahaha ...

Quero enfatizar que, não necessariamente a bolsa terá que reverter no nível máximo indicado acima (135 mil a 140 mil), somente que é mais provável. Antes que meu amigo pergunte, poderá continuar subindo após isso, e caso aconteça, acompanhe o Mosca para atualização de novos níveis de alta, bem como da correção.

O SP500 fechou a 3.192, sem variação; o USDBRL a R$ 4,0716, com alta de 0,22%; o EURUSD a 1,1148, sem variação; e o ouro a U$ 1.476, sem variação.

Fique ligado!

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