Vivendo num mundo sem juros


2019 foi o ano onde mais se discutiu o assunto juros, não é por menos que o Mosca escolheu como tema do ano. Naquele momento, a dúvida era em que nível o Fed iria parar seu movimento de alta. Mas não foi nesse sentido que os mercados caminharam, pois logo no início do ano, só se comentava sobre novas quedas.

Na Europa esse tema era ainda mais agudo. Como se estivesse acompanhando uma tragédia, os meios de comunicação, bem como os analistas, faziam publicações a cada vez que o total de bonds com juros negativos batia um recorde. Se não me falhe a memória esse número chegou a U$ 17 trilhões.

Com esse pânico instalado, um sem número de artigos enfatizavam que uma recessão se aproximava dos EUA. Os leitores menos especializados se depararam com assuntos do tipo: inversão de curva de juros; diferença entre os juros longo versus juros curtos, ciclo econômico, e todas evidencias que uma queda do PIB estava batendo na porta.

O presidente Trump que é uma raposa, percebeu o tema, e começou a “pressionar” - estou sendo bonzinho, pois xingou Powell diversas vezes, o Fed. Na sua avaliação, sendo o dólar a moeda de troca Universal, os EUA único país desenvolvido a crescer, então os juros teriam também que ser negativos. Lógico que os economistas não escutam suas palavras, pois seus argumentos não tem o menor sentido.

Mas foi a partir de começo de setembro que os mercados começaram a se acalmar e o juro do título de 10 anos saiu da mínima de 1,45% e encontra-se atualmente em 1,85%, além dos juros praticados na Europa ficarem menos negativos.

No post juros-quem-da-menos, fiz os seguintes comentários para 2019. Vou repetir um gráfico de muito longo prazo pois é importante sua uma visualização: ... “A partir dos anos 50, o juro iniciou uma trajetória ascendente que durou aproximadamente 40 anos, atingindo 16% em 1981 – ciclo de alta de juros. A partir daí, começou uma trajetória de queda, que também dura um prazo equivalente – ciclo de baixa de juros” ... ... “Notem que nesse último período, as taxas ficaram contidas entre as duas retas cinzas, e as diversas vezes que tentou romper, acabou retornando. É impressionante como o mercado respeitou essas limitantes por tanto tempo. Agora existe a possibilidade de que a ruptura aconteça, conforme minha marcação” ...

Meu cenário mais provável naquele momento era que os juros iriam subir substancialmente, o que acabou não acontecendo. Para quem acompanha o Mosca, soube que o outro cenário a seguir prevaleceu: ... “Nessa situação, o juro deverá cair, e ficar contido no retângulo traçado na figura abaixo – 2,40%/2,10%. Sendo assim, a alta dos juros poderia ser postergada, até que novamente busque romper 3%” ... ... “Mas a queda poderia se estender abaixo do intervalo apontado acima, o que aumenta a chance de testar a mínima atingida em 2016 de 1,35%, ou pior, abaixo dela” ...

Com essa visão não seria surpresa se o Mosca tivesse perdido dinheiro com trades nos juros. Ao consultar minha tabela notei que houve um pequeno ganho em uma única operação. Com esse resultado poderia me sentir orgulhoso, afinal, não perdi e até ganhei um troco! Mas essa visão somente visaria justificar o erro.

Para quem usa análise técnica o resultado foi muito ruim, pois esse mercado deu oportunidades ótimas, não aproveitadas por mim. Consigo até compreender os motivos, pois tinha receio que na pior das hipóteses os juros cairiam um pouco para depois subir. Fiquei com receio de ser pego de calças curtas.

Nada disso justifica, fiquei preso a suposições enraizadas na minha cabeça e não olhava o que o mercado me dizia. Mesmo repetindo sem cessar aqui que o importante é observar o que o mercado quer te dizer, falhei, e o querer “estar certo” acabou prevalecendo.

Essa situação me remete a um momento onde eu era bem ativo nos mercados cambias internacionais. No final de um determinado ano, resolvei contabilizar os lucros por moeda. Notei que meu maior ganho foi no AUDCAD (australiano x canadense) e o menor, até uma pequena perda, no EURUSD. Fiquei surpreso, afinal EURUSD era a moeda que eu “entendia” e o AUDCAD não tinha a menor ideia, apenas seguia os gráficos. Não preciso dizer que a análise técnica ganhou muitos pontos a partir desse momento.

Para 2020, também nos juros, existem dois cenários que podem prevalecer, na verdade 3. Neste ano, não vou arriscar dizer qual o mais provável. Eu denomino essas opções com os seguintes nomes: Trump feliz; Caixote; Problemas no futuro.

Trump Feliz – Nesta situação os juros deveriam ficar contido no curto prazo até 1,95%/2,10% e em seguida uma nova onda de queda levaria os juros a testar a mínima de 1,45%. Caso esse nível for rompido, o primeiro target seria 0,90% e caso não suporte 0,2%. Mas veja bem, todos ainda positivos! Hahaha ...

Caixote – Neste cenário os juros ficariam contidos no intervalo entre 1,45% e 3,0%, como ocorre desde 2012, por um período que provavelmente ultrapassaria 2020. Em outras palavras, sem romper definitivamente a reta de longo prazo conforme expus no início desse trabalho, mas também respeitaria a base testada em 2012, 2016 e mais recentemente 2019.

Problemas no futuro – Essa é uma situação mais preocupante, onde os juros romperiam o nível máximo anterior de 3,25%, acima do caixote, e em seguida retornaria para a parte interior como se fosse um retorno à normalidade. Porém, volataria a subir com um movimento forte de alta, rompendo a parte superior do caixote, buscaria seu primeiro objetivo de 5%. Esse seria o primeiro objetivo, os outros nem vou colocar pois seria chamado de louco ou terrorista.

- David, como você vai operar num mercado onde tudo é possível?
É exatamente da forma como você classificou, tudo é possível, com um detalhe, isso no longo prazo. Sendo assim, retire qualquer viés que você tenha, esteja preparado para apostar na alta ou na baixa.

A informação que eu vou me basear virá do curto prazo, e em função do desenrolar, bem como do shape do movimento, poderemos dizer qual cenário nos encontramos.

Sendo assim, no curto prazo a tendência ainda é de baixa conforme post problemas-na-cozinha: ... “A correção que acontece desde o início de setembro está se configurando mais longa e complexa. Abaixo tracei um cenário possível de acontecer, que levaria os juros a “tomar um folego” e voltar a cair mais adiante. Tracei uma região em vermelho que é bastante importante não ser ultrapassado, pois caso isso aconteça, aumentam as chances da opção mencionada acima “porta para alta”, caso os juros ultrapassem 2,3%” ...



O SP500 fechou a 3.168, sem variação; o USDBRL a R$ 4,1080, com alta de 0,43%; o EURUSD a € 1,1119, com queda de 0,08%; e o ouro a U$ 1.475, com alta de 0,42%.

Fique ligado!

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