Trocando seis por meia dúzia (ou menos!) #SP500

 


Quando a crise da Covid-19 eclodiu, e passados os primeiros dias, os mercados financeiros começaram a apostar que a inflação subiria. Para fazer essa aposta, existe um título emitido pelo governo americano que paga juros mais a inflação, um parente de nossa NTN-B.

Esses títulos denominados de TIPS entraram no campo de juro negativo e vêm atingindo níveis cada vez mais baixos.

Um artigo de Sam Goldfarb publicado no Wall Street Journal por comenta esse assunto.

Os investidores estão se agarrando a títulos que protegem contra a inflação, mesmo vendendo outros títulos do governo dos EUA, um sinal de que muitos confiam que o Federal Reserve irá manter as taxas de juros estáveis mesmo que a economia volte a esquentar.

O rendimento do título protegido pela inflação do Tesouro de 10 anos atingiu 1,05% negativo na quarta-feira, de acordo com a Tradeweb, em comparação com 1,03% negativo na terça-feira.

O rendimento do TIPS de 10 anos subiu ligeiramente de sua baixa recorde de menos 1,12% estabelecida em 4 de janeiro. Mas o rendimento da nota prefixada do Tesouro de 10 anos saltou de 0,92% em 4 de janeiro para 1,09%. Os juros sobem quando os preços dos títulos caem.

Juntos, esses movimentos sugerem que os investidores esperam cada vez mais inflação, mas não aumentos de taxas do Fed, disseram analistas.

Nos últimos meses, as medidas baseadas no mercado das expectativas de inflação dos investidores aumentaram, com base na crença de que uma combinação de fatores.

As expectativas de inflação e os rendimentos nominais do Tesouro ganharam um impulso extra há duas semanas, quando os democratas venceram duas eleições em segundo turno no Senado— dando-lhes um controle estreito sobre ambas as câmaras do Congresso, juntamente com a Casa Branca.

Esses resultados abriram a possibilidade de gastos do governo ainda maiores que o previsto pelos investidores. Enquanto isso, as autoridades do Fed indicaram que não estão perto de elevar as taxas de juros, tendo adotado um novo quadro político no ano passado que visa empurrar a inflação acima de sua meta de 2% por um período de tempo para que ela não caia abaixo desse nível.

Os rendimentos dos títulos protegidos pela inflação do Tesouro, ou TIPS, são um substituto para o que os investidores chamam de rendimentos reais do Tesouro — ou o retorno sobre os títulos normais do Tesouro após o ajuste pela inflação.

Os rendimentos reais negativos tendem a empurrar os investidores para ativos mais arriscados, como ações e títulos corporativos, em busca de retornos positivos. Eles também indicam que muitos investidores — mesmo que aumentem suas expectativas de inflação — não estão excessivamente preocupados com uma inflação descontrolada que forçaria o Fed a elevar as taxas.

"O Fed não se preocupará muito com taxas de juros nominais mais altas, desde que o movimento mais alto seja baseado em expectativas de inflação, porque isso significaria que as taxas de juros reais permanecem negativas e a política do Fed permanece complacente", disse Donald Ellenberger, gerente sênior de portfólio da Federated Hermes.

Ellenberger disse que seu fundo de títulos multissetorial, o Federated Hermes Total Return BondFund, aumentou suas participações de TIPS de 4,5% da carteira em maio passado para 7% devido ao risco crescente de inflação mais alta causado pelo que ele vê como uma nova era de maiores déficits orçamentários federais combinados com políticas do Fed de dinheiro fácil.

Na avaliação visual no gráfico acima, pode-se notar um descolamento entre os dois títulos do governo. Antes da pandemia, a diferença entre ambos se encontrava ao redor de 1,5% a.a., significando que, se o investidor acreditasse que a inflação seria superior a esse nível, deveria comprar o TIPS, caso contrário o título nominal. Depois dessa data, iniciou-se um alargamento entre ambas, aumentando esse diferencial. O gráfico a seguir, que calcula a inflação implícita entre esses dois títulos, já se encontra acima de 2% a.a. — observe que não se pode comparar diretamente esse gráfico com o anterior, pois esse último se refere a títulos de 5 anos.



Essa arbitragem, ou troca de títulos, por parte do investidor tem um aspecto muito importante. Enquanto o volume de títulos nominais que circula no mercado é da ordem de U$ 14 trilhões, os indexados à inflação são de somente U$ 1,5 trilhão (10% do total), criando uma pressão que pode distorcer e tornar desinteressante essa arbitragem — o que já pode estar ocorrendo.

Mas por que tamanha preocupação com a inflação, se ainda uma boa parte da população economicamente ativa está sem trabalho? Eu elencaria os seguintes pontos: com a vacinação em curso, a economia poderia reagir mais fortemente; está ocorrendo uma elevação dos preços da commodities; um descompasso nos estoques em função da parada no ano passado; excesso de liquidez.

Sobre esses itens, o que mais preocupa é o último impactar o primeiro.

Os investidores também devem estar preparados para um índice de inflação elevado no próximo mês, em função de um problema estatístico mencionado no gráfico a seguir.



Mas não é só nos títulos do governo que o mercado busca proteção. Por exemplo, existem algumas ações que tem melhor desempenho quando a inflação sobe. A carteira elaborada pelo banco Citibank descolou muito do SP500 desde setembro.



Muito bem, vale todo esse esforço? Se a inflação disparar, e isso quero dizer acima de 3% / 4% a.a., de forma consistente, os TIPS terão um retorno melhor que os pré-fixados, mas abaixo de 3% a.a., o investidor vai trocar seis por meia dúzia, podendo até ser menos! O problema de raiz é que, enquanto o Fed tiver essa política frouxa, não tem onde se proteger nos títulos de renda fixa.

No post ações-baratinhas-sp500, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” Como podem notar no gráfico a seguir, o SP500 não se encontra muito distante da meta entre 3.920 - 3.940” ... ...” Embora já tenha comentado anteriormente não custa reforçar que esses objetivos são dinâmicos e evoluem em função da trajetória seguida e interpretação do analista, feita em prazos mais curtos” ...



A bolsa tem se mostrado bastante resiliente. Os últimos dados da Covid-19 não são muito encorajadores, e mesmo assim os investidores estão dispostos a apostar que a vida voltará ao normal brevemente.

Ontem participei de um call como o CEO da Moderna, Stéphane Bancel. Fiquei muito impressionado com seu carisma. Entrou em vários conceitos técnicos que não compreendi direito, porem poderia resumir sua fala aos seguintes pontos:

1.      O Vírus é muito violento e ataca idosos com mais força, o que ele considera logico. Fez analogia com um carro que perde eficiência com os quilômetros rodados.

2.      A indústria não estava preparada para esse volume de produção. Em consequência, ele acredita que os cronogramas de vacinação dificilmente serão cumpridos.

3.      Estatisticamente, ele não acredita que essa mutação que ocorreu vai tirar a eficiência dessas vacinas.

4.      Alertou que as pessoas vacinadas podem transmitir o vírus para outros numa taxa estimada de 60%. Sendo assim, vamos ter que usar máscara por muito mais tempo.

5.      Perguntado, sugeriu que as pessoas usem máscaras, não fiquem em locais fechados, evitem aglomeração e lavem as mãos. Nada de novo, mas vai ficar por mais tempo.

Estamos no aproximando dos objetivos traçados entre 3.900/3.940. Se tudo correr bem, ficarei num grande dilema, pois esta semana as altas da bolsa foram mais pujantes, o que deixa o cenário alternativo em cheque.

Também tenham em mente que a bolsa pode ultrapassar esses níveis acima sem que haja ainda uma definição clara.



De qualquer maneira, espero uma correção quando completado esse ciclo. Se vai ser pequena, levando o índice a 3.650, ou grande, a um intervalo mais amplo ao redor de 3.000, é a questão. Todos esses parâmetros são estimados, não levem a ferro e fogo, é apenas para dar uma ordem de grandeza.


O SP500 fechou a 3.841, com queda de 0,30%; o USDBRL a R$ 5,466, com alta de 2,17%; o EURUSD a 1,2168, sem alteração; e o ouro a U$ 1.852, com queda de 0,93%.

Fique ligado!

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