Pênalti sem goleiro #10 year

 


Essa é uma expressão que uso desde que iniciei operar nos mercados financeiros. Ela por si só já diz tudo quando você quer enfatizar uma determinada ideia. Para 2021 a operação que mais se enquadra nessa frase é vender dólares contra as moedas de países desenvolvidos. Desafio o leitor a encontrar algum analista que acredita no contrário.

Em situações como essa sempre fico mais cauteloso — não que vá apostar contra, mas toda a torcida do Chelsea, LA Lakers e do Corinthians também já devem estar vendidos.

Um artigo de Marcus Ashworth na Bloomberg enfatiza uma recente melhora do dólar e conclui que a direção só pode ser para baixo.

Era para ser o trade óbvio de 2021: continuar vendendo o dólar em uma presidência Joe Biden de grandes gastos. A impressão de dinheiro necessária para financiar o estímulo dos EUA aumentaria a pressão sobre o dólar, reforçando uma dinâmica de mercado em ação desde março. Agora que a "onda azul" democrata aconteceu, por que o dólar de fato se recuperou ligeiramente?

O choque do Capitólio em 6 de janeiro deu uma puxada rápida no dólar: a moeda americana age como um porto seguro durante períodos de turbulência, mesmo quando eles estão acontecendo nos EUA. Isto posto, as ações permaneceram fortes e subiram para novas máximas sem ligar para a política. A alta nos juros dos títulos americanos em relação aos estrangeiros também pode estar criando demanda por dólares de compradores no exterior, notadamente fundos japoneses.

Mensagens contraditórias do Federal Reserve dos EUA também desempenharam um papel claro. Os vendidos no dólar provavelmente tiveram de se cobrir quando vários membros do Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed passaram recentemente a mostrar otimismo quanto à recuperação econômica pós-pandemia. Essa postura pode levá-los a votar pela redução da flexibilização quantitativa planejada ainda este ano, o que é uma certa mudança de humor em relação à reunião de dezembro do FOMC. Uma redução na emissão do Fed seria um suporte para o dólar.

A realidade é que virão maiores gastos fiscais, exigindo uma venda de títulos públicos proporcionalmente maior para financiá-los. O mercado vai ter que ingerir uma inédita dívida do Tesouro de US$ 1,8 trilhão em 2021, de acordo com analistas do JP Morgan Chase & Co. A impressora de dinheiro do Fed vai ter que rodar bem para ajudar na digestão.

Enquanto isso, os investidores estão cada vez mais atentos ao impacto da alta nos juros dos títulos — o que deve se refletir no recuo dos compradores para o excesso de oferta na dívida do Tesouro — e à expectativa de que o estímulo leve a uma pressão inflacionária. O Fed parece tranquilo em relação a isso até agora. Isso pode mudar se os rendimentos mais altos assustarem o mercado de ações, levando a movimentos para defender a estabilidade financeira, sendo a ferramenta óbvia um aumento no QE.

Assim que a administração Biden se instalar, e supondo-se o reinício de uma certa normalidade, há razões suficientes para acreditar numa confirmação da tendência predominante de queda para o dólar. Haverá muito mais dólares por aí - e isso tende a corroer o valor da moeda americana.

Já um debate dentro da Gavekal entre seus sócios propiciou opiniões divergentes:

O consenso de baixa do dólar que marcou o início de 2021 foi baseado em um número de crenças, incluindo: (i) o dólar parecia muito valorizado; (ii) a esperança de que vacinas iriam acabar rapidamente com a pandemia reduziria a demanda por dólar como moeda de refúgio seguro; (iii) o Federal Reserve permaneceria em modo ultra complacente; (iv) o aumento dos déficits gêmeos dos EUA indica fluxos de saída futuros e menor demanda externa para ativos em dólar a preços tão altos.

De maneira geral, acreditam que os aumentos nos estímulos e a predominância dos democratas devem ser positivos para o dólar pois implicam num crescimento mais forte. Além do mais, esses estímulos tendem a ir mais para os consumidores que para os produtores, e, se as expectativas de inflação subirem substancialmente, o Fed poderá moderar sua “frouxidão”, o que resultaria em maiores juros nos títulos de 10 anos.

O sócio mais antigo da Gavekal, “macaco velho”, usa um argumento simplista: imprimir dinheiro para financiar os gastos do governo nunca fortaleceu a moeda. Mas, como a Europa está na mesma toada que o Fed, essa desvalorização deveria acontecer contra as moedas da Ásia, pois estas não estão tendo a mesma postura.

A conclusão final é que a valorização do dólar dificilmente persistirá além dos próximos meses. Depois disso, o dólar deverá retornar à queda, especialmente em relação as moedas asiáticas.

No que acredita o Mosca? Usando o euro como referência, uma vez que representa quase 60% do DXY – dólar index, espero uma alta do euro a níveis de 1,25, para depois cair. Esse assunto será coberto na próxima semana.

No post quando-o-juro-nao-faz-diferenca-10-year, fiz os seguintes comentários sobre os juros de 01 anos: ...” Acredito que o nível ao redor de 1% será testado em algum momento, depois um movimento de baixa ganhará força, levando o juro de 10 anos muito perto de 0,20% a.a” ... ...” No sentido inverso, se ultrapassar 1%, e principalmente acima de 1,4%, aumenta muito a chance de término do movimento de queda e início de um novo ciclo de alta” ...


Quando da definição de Joe Biden para a presidência dos EUA, e principalmente com a maioria democrata no Senado, os juros ultrapassaram a barreira psicológica de 1% e encontram- se dentro dos limites “máximos” para que o cenário de queda se confirme.



Não tenho uma convicção forte o suficiente para sugerir um trade de venda de juros, pelo menos não por enquanto. A torcida do Chelsea, do Lakers — menos os Corintianos — aproveitaram a carona e fizeram um combo apostando na alta dos juros, como se pode verificar nos clientes do JPMorgan.



Desta forma, tanto as posições vendidas no dólar como as apostas na alta dos juros estão de certa forma extremadas, tornando possível uma frustração que levaria os preços ao sentido contrário. É isso que a análise técnica indica como mais provável no curto prazo.


O SP500 fechou a 3768, com queda de 0,72%; o USDBRL a R$ 5,2927, com alta de 1,85%; o EURUSD a 1,2078, com queda de 0,64%; e o ouro a U$ 1.826, com queda de 1,07%.

Fique ligado!

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