A insurreição da mão de obra #SP500
O
principal risco inflacionário nos EUA reside na alta dos salários. Os leitores
podem estar preocupados com a alta das comodities, mas com exceção da gasolina,
que afeta de forma mais abrangente a economia, os outros têm pequeno efeito
inflacionário. Essa afirmação se baseia num estudo realizado há alguns anos que
aponta uma transmissão aos preços finais de 7% a 10%, ou seja, uma alta de 10%
nos preços das commodities implica numa elevação dos produtos diretos em 0,7% a
1%.
Mas
o mesmo não acontece com a mão de obra, cujo impacto é bem maior dependendo do
tipo de produto ou serviço.
Confesso
que fico surpreso com a escassez de mão de obra que ocorre principalmente nos
EUA. Se alguém me perguntasse ser isso possível alguns anos atrás, eu diria
impossível, tanto pela abundância de trabalhadores ao redor do mundo como pela
robotização que segue seu curso.
Mas
a pandemia acarretou algumas mudanças comportamentais que provocaram essa
escassez. No grupo dos mais idosos, a valorização dos ativos fez com que
antecipassem sua aposentadoria; outro grupo teve que abandonar seu trabalho
para cuidar dos filhos; outros ainda resolveram mudar de profissão e buscaram
abrir suas próprias empresas; e alguns estão buscando ganhar a vida apostando
nos mercados, como comentei ontem. Um outro fator é mais estrutural, qual seja,
a necessidade de pessoas mais qualificadas por conta do avanço da tecnologia.
Agregado
a todos esses fatores, o aumento de demanda por bens ao invés de serviços,
ocasionado pelo elevado nível de poupança obtido durante a pandemia, causou
falta de produtos e componentes. Tudo isso fez com que a lei de Murphy fosse
comprovada.
Nesse
ambiente, os salários estão subindo numa razão que pode afetar a inflação e
obrigar o Fed a subir os juros acima do que está implícito nos mercados
futuros. Um relatório do economista chefe da Goldman Sachs, Jan Hatzius, fala a
respeito.
O número mais importante no relatório de emprego dos EUA para janeiro não foi o surpreendente aumento de 467 mil na folha de pagamento não agrícola, mas o aumento de 0,7% nos ganhos médios por hora. Reforça a mensagem do nosso rastreador de salários, que acelerou para uma taxa anualizada de 6% nos últimos 2-3 trimestres. Com a inflação central do índice ao consumidor indicando cerca de 5% nos últimos 3, 6 e 12 meses, isso levanta a questão se já estamos no meio de uma espiral de preços salariais que precisará ser quebrada por aumentos agressivos das taxas do Fed e um grande aperto nas condições financeiras.
Até agora, não vemos uma espiral onde a inflação dos salários e dos preços se alimentam uns dos outros, com expectativas de alta desimpedida. Nosso indicador líder da pesquisa salarial permanece consistente com pouco menos de 4% de crescimento.
Há também razões para
esperar que melhore o equilíbrio oferta-demanda no mercado de trabalho. Do lado
da oferta, a participação da força de trabalho começou a aumentar nos últimos
meses, e esperamos mais ganhos à medida que as preocupações com a saúde recuem com
a melhoria da contagem de casos e melhores tratamentos. Do lado da demanda, o crescimento
do PIB e do emprego deve desacelerar este ano — pelo
menos assim que a recuperação de curto prazo da Omicron se encerrar — porque a política fiscal está se tornando mais restritiva,
o aumento do estoque do quarto trimestre está agora para trás, e o impulso das
condições financeiras passará de fortemente positivo em 2021 para (pelo menos)
modestamente negativo em 2022. Por essas razões, nossa previsão do PIB de 2022
de 2,25% em uma base do quarto trimestre/quarto está 0,8pp abaixo do último
consenso Bloomberg e 1,8pp abaixo da última previsão publicada do FOMC (a
partir da reunião de dezembro).
Isto
posto, colocamos uma quantidade significativa de peso na aceleração salarial.
Mesmo que o crescimento dos salários caia de 6% para 5%, como esperamos, isso
implicaria uma inflação de custo unitário de pelo menos 3%, supondo que a
produtividade não suba mais de 2%. Se persistir, esse ritmo seria muito alto
para atingir a meta de inflação de 2% do Fed. Isso aumenta o risco de que as
autoridades do Fed queiram ver uma desaceleração ainda maior na produção e no
crescimento do emprego do que estamos prevendo atualmente, a um ritmo não mais
rápido do que a tendência de longo prazo.
Quanto
mais aperto de política monetária seria necessário? Para obter uma resposta
ilustrativa, vamos supor que o Fed queira desacelerar o crescimento do PIB em mais
1/2-1pp. Com base em nossas regras básicas, isso exigiria um aperto
incremental de 50-100bp nos aumentos de taxa do Fed. É importante ressaltar que
o aperto adicional do Fed precisaria vir em cima do valor que atualmente é
descontado na curva de rendimento, e, portanto, em nosso FCI. Ficando o resto
igual, isso sugere que os mercados terão que revisar sua estimativa da taxa de
fundos final da atual previsão de 1,7% para cerca de 2,5%-2,75%, ou então o Fed
pode precisar entregar mais do que os cinco aumentos de 25bp que estão
atualmente precificados para 2022 (e incluídos em nossa própria previsão). Se
for o último, achamos que uma série ainda mais longa de até sete movimentos de 0,25%
este ano é mais provável do que uma opção por movimentos de 0,5%.
Esse relatório coloca um sinal amarelo na área de emprego, a continuar a pressão que se está verificando nesses últimos meses, e mostra o risco de mais aumentos de juros do que se espera. É importante frisar que, no contexto atual, os salários estão diminuindo em termos reais, pois os aumentos ocorridos não são suficientes para cobrir a inflação, como mostra o gráfico a seguir.
Esse gráfico poderia apresentar um falso alívio em relação a inflação, pois se poderia pensar que, a queda de salário real seria um amortecedor para a inflação. Mas não é dessa forma, pois a inflação é medida em termos nominais e se toda a inflação, ou parte dela, é repassada aos preços está criada a indexação, modelo bem conhecido por nós brasileiros.
O mercado financeiro não está preocupado com a inflação, até o momento a alta de juros é muito mais pelo bom motivo (a demanda) que pelo mau (a inflação). Isso pode ser claramente visto no gráfico a seguir, que mede a diferença entre os juros do overnight, chamado de OIS, entre os contratos de 10 anos e 2 anos. Notem que está perto de 0%, indicando que os juros estariam no mesmo nível depois de 2 anos.
Quero enfatizar que essa medida difere da mais vista nos relatórios, apontando a diferença entre os juros dos títulos de 10 anos contra o de 2 anos, pois outros fatores estabelecem os juros desses títulos.
Todas essas considerações me levam a buscar na análise técnica alguma luz. O gráfico a seguir aponta para um objetivo dos títulos de 10 anos americanos em 2,09% a 2,13%, o que no meu entender é mais do que razoável — até baixo, dado o cenário que pode se desenrolar.
Vocês já sabem que objetivo técnico é um parâmetro, mas não necessariamente o mercado fica lá, pode muito bem ultrapassar. Embora não possa ficar muito claro para o leitor, a reta paralela branca aponta para um nível de 2,3%. Observando um gráfico de mais longo prazo, a situação é um pouco mais preocupante. Como podem ver a seguir, o nível está muito perto da linha branca superior que, se rompida, assinala para uma mudança na tendência de longo prazo.
Tenho duas observações antes que os leitores entre em pânico: Primeiro, que mais dia menos dia essa reta tem que ser rompida, pois caso contrário entraríamos num cenário muito pior da deflação; mesmo se rompida, o movimento se dará no tempo, não necessariamente instantaneamente.
Porém,
acredito que podemos tirar uma conclusão: o mundo dos juros negativos está
morrendo!
No
post o-fed-panicou, fiz os seguintes comentários sobre o SP500: ...” A situação está resumida no gráfico acima:
1) Terra de ninguém – nesse intervalo [4.540 – 4.680]
tudo é possível, ou seja, os preços podem adentrar nesse intervalo e em seguida
voltar a cair até um nível que precisaria ser calculado.
2) Esperança – Se as cotações ultrapassarem o nível acima entrariam num novo intervalo [4.680 – 4.818] onde as chances de novas altas aumentam sensivelmente, mas só acima de 4.818 podemos ter confiança que a alta está em andamento....
Essa correção tem se prologado sem que exista ainda uma definição. Observando as premissas acima, elas não são mais validas, o motivo é que houve uma violação em um critério. A nova visão não difere muito para o leitor que não conhece Elliot Wave, permanecendo a indecisão de uma nova queda ou início do movimento de alta.
Vou modificar nesse caso a forma de colocar minha visão. Como existem 2 possibilidades de curto prazo, prefiro identificar regiões e associar chances dependendo de onde o mercado for:
Vamos definir os 2 cenários como: Alta Já ou Correção em Andamento.
No
intervalo compreendido entre 4.595 e 4.222, o jogo fica indefinido, com o
mercado atual acima do limite destacado no retângulo verde o Alta Já é
mais provável, por outro lado uma queda abaixo de 4.359 colocam as chances
maiores para Correção em Andamento.
Naturalmente,
acima de 4.595 ou abaixo de 4.222, as chances ficam maiores para cada um dos
cenários respectivamente.
Não
vou calcular quais são os objetivos em cada caso, pois não sei qual deles irá
prevalecer e, como não temos posições, só nos resta esperar.
Aproveito
para enfatizar a importância de respeitar momentos de indecisão do mercado; nessas
situações, fique fora sem posições. Por outro lado, não saberia dizer o número
de vezes em que eu estava pronto para sugerir um trade. É de certa forma
frustrante, pois no final de cada dia você sempre vai achar que perdeu uma
oportunidade — de comprar ou de vender.
Se
tivesse feito algo, seguramente teria sido estopado, pois não os pontos de stop
loss não seriam tão amplos como a situação pede.
Esse
período é mais um exemplo real do que sempre enfatizo sobre correções: nunca se
sabe por antecipação qual tipo o mercado vai seguir.
E,
por último, mas não menos importante, é que sem posições você pode analisar o
cenário de alta e de queda com imparcialidade.
O
SP500 fechou a 4.512, com alta de 0,84%; o USDBRL a R$ 5,2589, sem variação; o
EURUSD a € 1,1417, com queda de 0,20%; e o ouro a U$
1.826, com alta de 0,34%.
Fique
ligado!
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